Capítulo Quatro
Um caso de stripper
Na quarta feira, Bia saía mais cedo do trabalho. Ela não tinha turma no curso, apenas aulas na escola, então ela chegava mais ou menos no meio da tarde, normalmente aproveitando após o almoço para fazer compras, ir ao médico ou qualquer outra coisa que ficara acumulada durante a semana. Então, foi uma grande surpresa quando ela parou à porta do meu quarto enquanto eu almoçava, o cabelo amarrado para cima e um filme de pancadaria passando no notebook na minha frente. Eu era o estado do caos, não que ela jamais tivesse me visto naquela situação, mas eu realmente podia evitar, se conseguisse. Principalmente porque eu me encontrava com uma coxa galinha na boca, as mãos e o rosto levemente engordurado.
Bia pareceu não notar, ou fingiu.
- Oi, Tatá, a gente pode conversar?
Eu tive que tomar um gole imenso de suco de laranja para digerir o pedaço de frango que eu mastigava a tempo de respondê-la antes que parecesse uma demora constrangedora.
- Aham, tudo bem – concordei, ainda com o copo nas mãos. Tomei outro gole para me assegurar de que tudo ficaria bem.
Pausei o filme enquanto Bia andava em minha direção e empurrei o computador e o prato com o pouco de comida que restara para o lado, achando que era melhor ignorar aquilo mesmo. Minhas mãos estavam sujas, mas não havia nenhuma chance que eu fosse lavá-las naquele momento, então eu só disfarcei e limpei-as em uma blusa suja que estava jogada ao meu lado da cama. Bia sentou-se à minha frente e eu sabia que seu olhar de águia descobriria a sujeira que eu estava fazendo em três segundos, mas não o fez. Ao me perguntar o motivo, percebi o olhar perdido em meu rosto e quase dei um pulo, me odiando por não ter notado a gravidade que ela carregava em seus ombros.
- Aconteceu alguma coisa? – Perguntei. Ao mesmo tempo, minha cabeça enumerou diversos motivos pelos quais bia poderia estar naquele nível de distração opaca e eu logo escolhi o mais provável. – Você e o Diego brigaram?
- Quê? – Bia perguntou-me, saindo de seu estado e virando-se para mim com urgência. – Não, não, estamos bem. Na verdade, queria conversar com você sobre... Hm... Sábado.
Ah, não. Choraminguei mentalmente. Eu já tinha enterrado aquilo bem profundamente em mim e eu não queria contar para ninguém. Na verdade... Não queria contar para Lis e seus olhos julgadores. Bia parecia estar estendendo compreensividade e preocupação. Mas, mesmo assim...
- Ah, não, Bia, isso de novo?
Eu já estava quase me levantando para procurar qualquer outro lugar que me permitisse fugir daquela conversa quando Bia envolveu uma de suas mãos em meu braço, sabendo que eu estava prestes a fugir, mas querendo me manter ali de qualquer forma. Olhei para a sua mão que me segurava, sentindo meu coração disparar com a lembrança cruel de Vitor me segurando e me arrastando para o beco, mas obriguei meu coração a se acalmar; a mão de Bia era muito menor, delicada e seus dedos eram mais finos e foi o suficiente para evitar a lembrança corporal do acontecimento.
- Tatá, eu não sei o que aconteceu – ela murmurou. – Mas sei que foi alguma coisa séria. Você dormiu por um dia inteiro, o cara apareceu no hospital e você não quer falar sobre isso. Se a gente precisar procurar um advogado... Ou a polícia.
- Não – interrompi-a imediatamente, levantando o olhar que eu ainda mantinha em sua mão no meu braço para encará-la. – Não acho que eu precise de um advogado. Nem de ir à polícia.
- Tatá... – Ela estava quase implorando.
Passei a mão pelos meus cabelos e me arrependi imediatamente porque eu tinha certeza que ela não estava livre dos restos do frango. Teria que adiantar o meu banho para assim que a conversa terminasse, com certeza. Suspirei, cedendo aos olhos implorativos de Bia.
- Ele me drogou. Não sei exatamente como fez isso, eu juro que só bebi um copo. Senti que tinha algo errado com ele em algum momento, sabe? Antes de sair de perto, vi uma foto de uma menina pelada no celular dele que parecia menor de idade e eu sai correndo da boate – as palavras saíam tão rapidamente da minha boca que parecia que eu tinha ensaiado aquele discurso muitas vezes, mas era apenas a quantidade de vezes que minha mente repetira aquela história, tentando identificar todas as coisas que eu poderia ter feito diferente e que não me levariam para aquele beco. – Não tinha nenhum táxi na porta da boate. Eu tentei correr para o ponto de ônibus, mas minhas pernas.... Meu corpo não estava respondendo muito bem. Ele me alcançou – Ouvi Bia arfar, em pânico. Tirou a mão de meu braço e tampou a boca, sua reação comum ao que lhe deixava assustada. – Ele começou a me beijar e me tocar e... – resolvi pular essa parte da história. – Consegui me desvencilhar dele depois que chutei ele. Acertei meu salto na virilha dele e saí correndo para o primeiro lugar lotado que encontrei.
- Tatá, isso é...
Ela não tinha palavras para demonstrar o horror que sentia, mas eu podia ver em seus olhos que ela estava tão apavorada com aquilo quanto eu havia ficado, e nem havia sido com ela. Suspirei fundo.
- Horrível, eu sei – Murmurou.
Houve um momento de silêncio, enquanto eu acalmava as batidas aceleradas do meu coração pela memória recente desenterrada e Bia pensava sobre o que havia acabado de descobrir e pesava os pontos da história. Soube que ela estava encarando o furo que eu havia deixado momentos antes da pergunta vir, porque eu a conhecia muito bem. Foram anos de convivência com ela devorando todos os livros que encontrava pela frente, reclamando dos pontos abertos que haviam sido deixados pelo caminho.
- Como ele se queimou? – Ela questionou, as sobrancelhas apertadas, quase querendo se juntar o meio de seu rosto.
Afastei meu olhar dela, não sabendo responder algo lógico nem querendo responder uma mentira. Demorei o suficiente para que ela entendesse que eu não iria falar nada sobre aquela parte.
- Você devia denunciar isso, Tatá...
- Pra quem, Bia? – Eu perguntei, porque aquilo já tinha passado diversas vezes na minha cabeça. – Pra ele mesmo? Pra algum amigo dele? Ah, deixe-me ver, parece uma ótima ideia.
- Não precisa ser debochada comigo, ok? – Ela reclamou, magoada.
Suspirei, rendida. Lis teria respondido aquilo com outra coisa ainda mais ferina, mas Bia só se retraía e ficava chateada. Na maior parte do tempo, era bem mais difícil de lidar.
- Desculpa, Bia – Murmurei. – É só que...
- Eu sei – ela murmurou. – Tudo bem.
Fez-se um momento de silêncio incômodo no quarto e Bia pegou minha mão, acariciando-a com carinho, tentando me passar alguma coisa que me tranquilizasse.
- O que você vai fazer se ele denunciar a agressão? – Bia questionou, em um sussurro, como se estivessemos conversando sobre um segredo. E, em parte, era.
Neguei com a cabeça, veemente. Não conseguia ver Vitor entregando sua masculinidade ao dizer que tinha apanhado de alguma garota, sem contar os outros problemas que acarretariam se ele me acusasse. Provavelmente contaria que fora assaltado ou que alguém o agredira por vingança por ele ser policial.
- Ele não vai, Bia – murmurei. – Se ele contar que eu bati nele, eu vou ter que apresentar que foi em legítima defesa. E aí seria muito maior, teria que rolar uma investigação e tudo mais. Ele se daria mais mal do que eu, na verdade. Ele vai ficar calado e eu prefiro ficar também, por enquanto. Queria denunciar ele, mas... Ele é policial. Tenho medo de fazer isso e algo pior acontecer, sabe? Eu não tenho ninguém...
- Que isso, Tatá? – Bia brigou comigo. – Você tem a mim. E a Lis, também.
Ela me abraçou e senti parte do peso de meus ombros saírem de cima de mim quando eu ri da sua doçura. Abracei-a de volta e quase comecei a chorar outra vez, mas não. Já tinha chorado o suficiente por aquela história.
- Além do mais, tenho quase certeza que o deixei meio eunuco – eu disse, lembrando-me do desmaio instantâneo ao meu chute e ao sangue escorrendo pelo meio de suas pernas. – Ou estéril.
Bia me surpreendeu totalmente respondendo, com um sorriso no rosto:
- Ao menos isso, né?
***
A dinâmica em casa, aos poucos, foi entrando nos eixos. Eu suspeitava que Bianca tinha conversado brevemente dom Lis porque, do nada, ela parou de me olhar esquisito e me dar cortadas ácidas quando eu procurava guiá-la pelos locais. Não era como se estivéssemos 100%, eu achava que ela estava magoada por eu não ter lhe dito o que houve, mas isso era coisa que o tempo curaria com facilidade.
Mais ou menos uma semana se passou desde a conversa que tive com Bia e nós já conseguíamos nos sentar na mesa do jantar e conversar sobre o que tinha acontecido em nosso dia sem parecer muito estranho. Prequiça estava em cima da pia da cozinha e encarava nossa comida com seus olhos pidões enquanto Lis estava contando alguma história engraçada sobre como ela tinha convencido seu chefe que tudo o que ela precisava para fazer trabalho de campo seria um capacete (não que houvesse muito trabalho de campo na area de investigação da DCI), o que era bem ridículo e ela achava que estava fazendo uma piada, mas ele levou a sério.
- Aí, quando eu fui perguntar ao Rogério o que tinha acontecido pro Gabriel acreditar na história do capacete, ele ainda finalizou dizendo que eu podia acompanhar a próxima apreensão. Acredita nisso? – Ela estava muito mais empolgada do que queria parecer.
Sorri, achando bonitinho e concordei com a cabeça, não querendo falar nada porque estava na dúvida se mostrar empolgação seria a melhor coisa naquela situação, já que ela estava fingindo não se importar. Porém, nós duas viramos com expectativa para Bia, esperando ouvi-la reclamar o quão perigoso aquilo era, mas Bia sequer estava prestando atenção na conversa, os olhos vidrados no celular. Nos entreolhamos e Lis, com um aceno de cabeça meu, esticou-se em direção à Bia e tirou o celular de sua mão rapidamente.
- Ei! – Bia reclamou.
- Vamos ver que putarias o Sr. Professor consegue di... – Lis parou de falar enquanto seu olhar corria na tela e eu estava curiosa o suficiente par ame curvar sobre Lis e ler quando Bia começou a corar.
Ela arrancou o celular da mão de Lis e colocou-o dentro da blusa antes que pudéssemos recuperar. Estava curiosa, pela escala de cores que tinha conseguido identificar antes do assalto acontecer, não era uma conversa privada com ninguém. Parecia um grupo ou página no f******k.
- Bia, a Tatá vai te matar – Lisbela riu.
- OI? – Eu questionei, sem entender. – Por que? O que...? – Virei-me para Bia, vendo-a ficar mais vermelha que nossa toalha de mesa. – O que você fez?
Demorou quase um minuto para que Bia parasse de desviar o olhar para qualquer canto existente e conseguisse reunir coragem o suficiente para me contar:
- Eu meio que contei pra uma galera de um grupo...
- Um grupo de sacanagem de meninas certinhas da Baixada Santista – Lisbela a corrigiu, rapidamente.
- Não é bem assim... – Bia tentou apaziguar a situação.
- Pepekas em chamas da BS parece um nome bem apropriado para um grupo decente, na verdade. Como você nunca me colocou nele? Eu pertenço à essa família.
Naquele momento, eu não sabia se ria da vergonha de Bia, das piadas de Lisbela ou se me corrompia de curiosidade e nervoso com o quê Lis achava que eu mataria Bia por ter contado. Pelo teor do grupo, achava que deveria ser alguma história cabeluda de algum ficante meu e, bom, eu tinha algumas. Mas não me importava nem um pouco de compartilhar.
- Dá pra focarem em mim, por favor? – Pedi, nervosa. – O que você contou?
Estava claro e óbvio para mim que Bia queria tudo, menos contar o que ela tinha deixado escapar no grupo.
- Ela disse que você... - Lis começou, virando-se para mim, impaciente com a moleza de Bia.
- Eu conto! – Ela gritou, interrompendo. – Eu conto! – Repetiu. Lis cerrou os olhos, chateada que aquela oportunidade tinha sido tirada dela, mas concordou com a cabeça. – Algumas mulheres estavam reclamando que seus maridos e namorados as vezes agem estranhos e tal. E aí eu meio que mencionei o que você fez para mim e para Lis...
- Na verdade, pelo o que eu li rapidinho, ela disse que a gente tinha contratado uma detetive pra investigar os caras.
Bia poderia cair madura a qualquer momento e começar a apodrecer de tão vermelha que estava. E eu suspeitava que estava indo para o mesmo caminho.
- Eu meio que contei sobre a surra que você deu no Vitor, só que eu falei que você estava defendendo uma menina de 15 anos dele, eu meio que aumentei um pouco a história. Só um pouquinho – ela tentou me convencer.
Eu sentia que minhas narinas estavam infladas, tipo um touro quando iria atacar o toureiro. Bia engoliu a seco interrompendo a história, parecendo esperar a minha reação. Apesar de estar com um pouco de raiva, eu também tinha me lembrado do abraço que ela me deu e o apoio incondicional às minhas tremedeiras de medo por conta do que acontecera com Vitor e resolvi que eu poderia levar aquela pelo time. Daquela vez, só.
- Tudo bem, né? – Murmurei, surpreendendo-a. Lis também pareceu chocada. – Você só quis se vangloriar um pouco. Tudo bem.
Bia estava respirando aliviada, mas claro que Lisbela não deixaria barato. Eu já tinha dito anteriormente que elas eram minhas irmãs, só que não era só no sentido bom da coisa de companheirismo e família. A gente tinha tudo, desde as brigas bobas sobre quem tomou o último iogurte às implicâncias apenas para uma se ferrar um pouco mais. E, naquele momento, Lisbela estava ansiosa em me ver zangada com Bia porque estivemos a semana zangada uma com a outra.
- Você não entendeu, tatá – Lis riu. – Ela meio que ofereceu seus serviços pras mulheres daquele grupo. Vendeu seu peixe, na verdade. E tinha uma galera pedindo seu contato desesperadamente e perguntando quanto você cobrava.
- Como é que é? – Dessa vez, eu perdi a cabeça e gritei bem alto.
Bia se levantou da mesa, largando metade da comida ainda no prato, tencionando sair de perto de mim. Eu, porém, levantei-me logo a seguir.
- Eu pesquisei, Tatá – tentou se justificar, andando para trás, enquanto eu a seguia, com fúria em meus olhos. Lisbela rolou atrás de nós com um sorriso no rosto, claramente bem feliz em acompanhar uma confusão que não a envolvia. – Tem detetives que cobram 500 reais a diária! Eu disse a elas que você cobrava 200 mais despesas e... Tem umas 15 mulheres interessadas nisso. Você consegue ver quanto dinheiro ia fazer com isso?
- Ninguém vai pagar por isso, Bia, pelo amor de Deus – eu revirei os olhos, irritada. – E de que vai adiantar eu investigar se você contou pra cidade toda sobre mim?
- Na verdade – Lisbela interrompeu. – As pessoas pagam por isso. Eu já recebi umas propostas pra hackear uns facebooks e sites – Deu de ombros quando eu me virei para ela, zangada que ela tivesse virado de lado e também questionando se ela havia aceitado essas propostas, afinal, fora assim que ela acabara presa.
- Ninguém sabe que você é você – Bia garantiu. – Eu disse que contratei uma investigadora e ela fez um trabalho ótimo pra mim e pra uma amiga. Quem me conhece, pode até achar que a outra amiga que contratou é uma de vocês, mas não saberia qual. E nem saberia que, bom, você é a tal investigadora.
– E eu acho que pode ser bom, Tatá. Você... Tem essa coisa que eu não sei o que é. Esse negócio de confiança e de saber tudo de todo mundo na primeira olhada. Talvez seja uma boa maneira de fazer dinheiro agora que você tá desempregada.
Rangi os dentes porque estava só tinha mais dois meses de seguro desemprego e não tinha conseguido nada sólido para me basear em sonhar com um emprego legal quando o seguro acabasse. Estava quase cogitando a ideia de tentar uma licenciatura o mais rápido possível para ensinar matemática na escola; Bia disse que conseguiria uma vaga para mim para o próximo ano, mas eu não tinha lá muito jeito com crianças e tinha certeza que a família tradicional brasileira não aprovaria meu guarda-roupas.
Porém, apesar de ser um trabalho ao qual eu poderia fazer, as investigações, a ideia me apavorada. Só de pensar em passar qualquer coisa perto de Vitor de novo... Eu sabia que conseguia dar uma surra em um cara se estivesse em minhas condições perfeitas, mas o medo estava me congelando na maior parte do tempo nos últimos dias.
- Se você fizer todas essas que querem, esse mês, juntando com o seguro, você vai ter quase a mesma renda de antes, não vai? – Bia perguntou-me. – Trabalhando menos.
- Isso não é bem um trabalho, Bia – eu fiz corpo duro.
- Ei! É assim que eu ganho a vida! – Lisbela brigou comigo. Olhei para ela duramente e ela suspirou. – Virtualmente, mas mesmo assim...
Eu já estava mais calma e Bia se aproximou, colocando a mão em meu ombro, esperando passar qualquer tipo de conforto que ela sempre tentava alcançar. Bia achava, na maior parte do tempo, que era nossa mãe e tentava fazer o papel com brigas e confortos. As vezes, descia para irmã, como com toda aquela história das pepekas em chamas, mas lá estava ela novamente.
- Faz pelo menos uma, Tatá – ela murmurou. – Pra ver se isso vai ser legal ou não, 200 reais a mais não vai ser algo ruim, vai?
- Não – murmurei, como uma criança contrariada em uma lógica inegável.
- Então! – Bia disse, como se estivesse resolvido.
Lisbela começou a rolar para longe da gente com um resmungo. Achei que estivesse deprimida que a briga acabara fácil daquele jeito, mas consegui entender suas palavras através dos seus gemidos irritados.
- E eu vou descobrir como receber dinheiro sem passar nada pelo nome de ninguém.
***
Naquela noite, Bia criou um tópico no grupo, avisando que a caçadora estava com alguns imprevistos e só podia aceitar pegar um caso por enquanto, e pediu para que as meninas que quisessem contratar os serviços dela imediatamente, pelo valor combinado, comentassem ali contando o porquê queriam contratá-la e o que ela deveria investigar no período combinado.
Eu não estava no grupo por motivos de segurança – Lis insistiu que eu me mantivesse afastada de qualquer menção à investigação para proteger minha identidade, mas Bia deixou que eu visualizasse seu f******k no dia seguinte, através do seu computador, com a promessa de que eu não comentaria nada em seu nome.
Demorei cerca de meia hora para entender que elas tinham me apelidado de Caçadora de Canalhas após Bia contar, brevemente e com um pouco de exagero e uma barra de ferro, minha história com Vitor. Ri do nome, mas gostei. Caçadora. Joguei caçadora na pesquisa do grupo e tinham diversos tópicos falando sobre mim e perguntando se alguém tinha o contato da caçadora porque todas pareciam ter um assunto urgente para tratar comigo. Bia estava se virando em 30 para tentar responder todas e vi que algumas tinham ficado sem resposta. Céus, como tantas mulheres podiam querer que alguém investigasse seus companheiros e pretendentes? A maioria queria saber se eles iam mesmo para determinados lugares quando diziam que iam, mas algumas tinham suspeitas mais específicas.
Decidi, enquanto lia algumas das propostas de trabalho, que eu não podia exigir que Bia atendesse toda aquela gente com tanta coisa que ela tinha para fazer, então criei um email para a caçadora, com um sorriso. Cacadoradecanalhas@g***l.com estava disponível e eu mandei para Bia divulgar no grupo, caso alguém quisesse o meu contato, já que eu não podia postar pelo f******k dela. Momentos depois, o email estava no site e também o aviso de que a caçadora estava escolhendo qual caso do grupo iria pegar.
Era tão engraçado pensar em mim em terceira pessoa. A caçadora, uma mulher poderosa que salvava outras mulheres de serem enganadas pelos canalhas com quem estavam ou pretendiam estar se relacionando. Parecia um pouco surreal, como se fôssemos duas pessoas diferentes, a voraz e imbatível caçadora e eu. Até fazia mais fácil encarar aquela situação e esquecer o que tinha acontecido com o Vitor. Quando eu estivera com ele, era apenas Tainá, mas, a partir de agora, quando estivesse em campo, eu seria a caçadora. Devia significar alguma coisa. Elas faziam com que a caçadora (que, estranhamente, era eu) parecer com uma deusa.
Vi que tinham duas mulheres no grupo que disseram que já haviam contratado a caçadora para serviços. Soltei uma grande gargalhada quanto aquilo, lendo os seus relatos sobre o meu desempenho positivo no caso e todos os comentários de mulheres que queriam muito aquilo.
Estava estranhando que nenhum homem tivesse comentado em algum canto reclamando, quando notei que era um grupo seguro. Um ambiente controlado por mulheres e apenas para mulheres conversarem, sobretudo, de sexo. Porém, contudo e todavia, a maior parte das mulheres era composta por seres ambíguos e falantes, então claro que o grupo jamais seguia o seu princípio de falar sobre sexo, era mais sobre todas as coisas do mundo que passasse na cabeça de cada uma delas.
Já tinha passado da hora do almoço quando eu finalmente cedi à curiosidade de descobrir tudo o que acontecia no grupo para realmente ler os relatos de mulheres que queriam me contratar, a caçadora, na verdade. Tinham muitos comentários no tópico, mas eram mais de 50 relatos, alguns bobos, algumas moças pedindo para que eu olhasse seus pais porque suas mães estavam infelizes, tinham dois relatos pedindo que seguisse outras mulheres – e eu concluí que as moças deveriam estar em um relacionamento homossexual – e mais um montão sobre maridos e namorados. Alguns vários me chamaram a atenção, mas foi uma xará de Bia que conseguiu pegar minha curiosidade de mão cheia.
“Bianca Novaes: Eu vou me casar no mês que vem. Está tudo organizado e pago, só faltam alguns ajustes no vestido, e vai ser um festão. Meu pai, que abandonou minha mãe quando eu tinha três anos, está pagando tudo como se fosse compensar e até me convidou para ir visitá-lo depois da lua de mel (ele mora na Alemanha). Tudo certo para parecer um conto de fadas, né? Errado! Meu noivo ficou desempregado uns três meses atrás e a gente precisou mexer em alguns planos por causa disso. Vendemos nossa moto e eu fiquei com medo de perdermos o consórcio do carro e atrasar o financiamento da casa. Meu salário não é muito bom e minha mãe resolveu ajudar enquanto ele não acha nada. Mas, de uns tempos pra cá, ele começou a aparecer com um dinheiro extra. Diz que está fazendo uns bicos e, sabe, ele não consegue trocar uma lâmpada sem que um acidente de quase morte aconteça. Eu não sei que bicos são esses, estou com medo que ele esteja fazendo algo ilegal. E se ele estiver roubando? Como vou me casar com um homem sem escrúpulos desse jeito. Mas ele também pode estar falando a verdade e... Eu posso acabar surtando e terminando o casamento por nada. Por favor, caçadora, me ajuda. Eu o amo, de verdade, mas estou com medo. O dinheiro está apertado, mas eu preciso da sua ajuda e chorei uns descontos com o dj, a iluminação e a pista de dança e consegui fazer sobrar um pouco de dinheiro pra cobrir seus custos. Por favor, você pode salvar meu casamento... Ou me salvar de me casar com um canalha.”
Tive que respirar fundo após a história dela. Acho que foi a ideia do casamento estar se aproximando que me pegou desprevenida e me fez escolhê-la, dentro todas as outras e todos os pedidos. Mandei uma mensagem para Bia, dizendo que tinha escolhido a Bianca e que eu gostaria de pegar o caso dela o mais rápido possível (porque minha curiosidade estava me consumindo). Estava super ansiosa para descobrir o que acontecia com o cara, tinha um pressentimento de que ele não estava roubando. Um rapaz com um emprego sólido, pego desprevenido pela crise e com casamento marcado podia até entrar em desespero e roubar, mas eu achava que não era bem por ali. Mas também, pelo relato de Bianca, não acreditava que ele estava fazendo bicos de conserto e construção. Talvez ele fosse só motorista de uber e estivesse com vergonha de falar, mas eu só descobriria quando assumisse o cargo.
Vi quando Bia comentou no tópico marcando a Bianca e pedindo para ela enviar um email para a caçadora. Fui logo para o email, animada e ansiosa e me deparei com 5 emails novos de mulheres com dúvidas sobre o meu trabalho e implorando que eu as ajudasse. Respondi todas com calma e atenção, tentando não dar muitas esperanças à elas. Apesar de estar muito mais disposta a aceitar mais casos, visto que a maioria deles parecia simples, eu ainda estava temerosa. Quando Lis pediu que eu investigasse Vitor... Também parecera simples.
Bianca me mandou o email enquanto ainda respondia o terceiro. Resolvi abrir o dela antes, porque estava escorrendo ansiedade de meus poros. Era um email sucinto, com uma foto dela e do noivo, algumas informações repetidas do seu comentário no tópico, além do endereço do rapaz e perguntas de quando eu poderia realizar a pesquisa e como ela podia pagar. Respondi-a dizendo que ela deveria combinar o pagamento com Bia, pois seria mas fácil. E que eu começaria no momento seguinte à confirmação do pagamento, além de ver a data que ela achava mais favorável. Ela respondeu que faria o pagamento agora mesmo e perguntou se eu poderia segui-lo aquela noite porque ele tinha acabado de desmarcar um jantar com ela e sua mãe, dizendo que tinha conseguido um bico de bartender, mesmo sem ter nenhum curso na área. Concordei.
Meia hora mais tarde, Bia me mandou um print de sua conta bancária com a transferência de 250 reais. Tinha ficado combinado com Bianca que 50 reais cobriria a gasolina e, caso houvessem mais custos, seria acertado ao final. Ela parecia satisfeita com aquilo e eu prometi que eu resolveria a situação para ela, mesmo que precisasse segui-lo outro dia, por conta da casa.
Já arrumada para a minha aventura noturna, estacionei em frente da delegacia para buscar Lisbela, pontualmente as 17h. Ela estava com uma expressão dura, apesar de ter demonstrado animação com aquilo, anteriormente. Ajudei-a a entrar no carro e, antes que eu desse a volta para me colocar no motorista, demorando um pouco para guardar a cadeira na parte de trás do carro, ela já tinha meu celular em mãos e mexia freneticamente.
- Ei, o que está acontecendo? – Perguntei, girando a chave na ignição.
Ela apenas levantou um dedo no ar, pedindo um momento. Vi que estava na loja de aplicativos e defini que ela provavelmente estava baixando algum joguinho que queria que eu me viciasse para ter alguém com quem trocar experiências sobre, então deixei para lá. Ela só me entregou o aparelho no momento em que estacionei em frente de casa.
- Esse aplicativo vai enviar mensagem pra mim se você apertar qualquer um desses botões. – Ela avisou. – E um mapa de onde você está. Tente me m****r de tempos em tempos. Aperta o verde e segura um pouco e eu vou saber que você está bem e onde você está. O amarelo vai me dizer que algo deu errado e me m****r sua localização também. O vermelho vai direto pra polícia, entendeu? Esse aplicativo é seu melhor amigo agora e se você vai sair pra fazer essas coisas, ele vai ser sempre a primeira coisa a abrir quando você desbloquear sua tela. Foda-se se você não quiser que os outros vejam. Você entendeu?
Oh, eu tinha entendido muito bem e estava muito grata por aquilo. Joguei meus braços ao redor de Lisbela e abracei-a, enquanto ela socava meu ombro. Ela tinha jeitos muito brutos e estranhos de demonstrar que se importava, mas eu estava eternamente grata por aquilo. Jamais passaria pela minha cabeça que um negócio daqueles existia e eu peguei no meu celular, apertando o botão verde imediatamente. Lisbela revirou os olhos quando o seu próprio celular vibrou, demonstrando que funcionava. Ela desbloqueou sua tela e me mostrou a mensagem, informando que eu estava bem e com um link. Ela o abriu e o mapa exibiu um pontinho em frente ao nosso prédio.
- Ei, vocês vão ficar aí namorando para sempre? – Bia bateu no vidro de Lisbela.
Lis deu o dedo do meio pra ela e ela pareceu ofendida por três segundos, antes de soltar a gargalhada. Juntas, tiramos Lis do carro em 10 segundos e nos despedimos com mais algumas recomendações sobre os cuidados que eu deveria ter.
***
Ainda não tinha dado 18h quando estacionei na frente do endereço passado por Bianca. Eu sabia que o rapaz, Marcelo, morava no terceiro andar, mas não conseguia identificar qual das janelas era a dele. Ele disse para a noiva que pegaria no serviço às 21h, então, se não fosse fora da cidade, eu teria algumas horas de espera. Liguei a rádio e comecei a comer um saquinho de jujubas, esperando qualquer movimentação. Muita gente entrou no prédio, chegando do trabalho, e, por volta as 19h30, uma galera começou a sair, arrumada. Identifiquei Marcelo cerca de uma hora depois. Ele era negro, alto, porte musculoso. Tinha certeza que poderia tentar uma carreira de modelo porque ele era devidamente gato. Eu tinha certeza que pagaria algum dinheiro só para vê-lo desfilar na minha frente e invejei Bianca... Um pouco. Eu não queria casar, então deixei a inveja para lá e só defini que ela era uma garota de sorte.
Ele estava vestindo uma roupa social, mas casual. Era um tênis de camurça marrom amarelado, que combinava com o jeans de quase mesmo tom. Uma blusa azul listrada vinha por cima, as mangas longas dobradas na altura do cotovelo. Quase me esqueci de ligar o carro para segui-lo enquanto o via passar. Era, realmente, um belo espécime.
Ele parou no ponto de ônibus e eu procurei outro lugar para estacionar. Urg, seguir um ônibus seria uma coisa complicada a se fazer, eu achava. Nunca tinha feito nada assim. O ônibus dele chegou apenas dez minutos depois e eu me peguei dirigindo de volta à área central da cidade. Desceu em um ponto próximo ao lugar que eu estivera com Vitor e dirigi com uma distância considerável dele, fingindo olhar no celular, como se estivesse procurando um lugar no mapa. Marcelo andou por mais um quarteirão e entrou, realmente, em uma boate. Procurei um estacionamento e segui atrás dele. O lugar ainda não parecia aberto para visitantes, mas a segurança sorriu ao ver eu me aproximando e acenou.
- Você é a garota nova, não é? Entra, entra, está quase atrasada.
Ah, bem, entrei. Eu que não iria discutir sobre aquilo. Lá dentro, uma outra mulher arregalou os olhos em minha direção e bufou.
- Você está completamente atrasada! – Gritou comigo. Quase respondi a ela que, de acordo com a segurança, eu estava quase atrasada, embora nem estivesse sequer atrasada porque não havia sido contratada pra trabalhar ali, então, seja lá quem fosse, ou não viria ou uma merda muito grande estava para acontecer. – Tem duas despedidas de solteira chegando e alguém tem que assumir o workshop de pole. Você tem experiência com pole?
Pole? Pole dance?
Puta que pariu, aonde eu me enfiei?
- Ah, eu fiz algumas aulas uns anos atrás – eu respondi, mesmo assim, porque era verdade.
- Vai ter que servir. Nunca vou entender como eu deixei que a Juliana quebrasse a perna – ela passou a mão nos cabelos loiros e eu me perguntei se Juliana não teria quebrado a perna caso aquela mulher lhe proibisse. Pobre Juliana. – O que você está esperando? Vá trocar de roupa!
Estava meio perdida, mas segui uma moça que parecia também precisar trocar de roupa e logo encontrei os camarins. Tinha um colant do meu tamanho, graças a Deus. Mas por que eu estava fazendo isso mesmo? Ainda não tinha visto Marcelo por ali, mas sabia que ele tinha entrado. Parei para pensar por um momento e aproveitei para pegar o celular. Planejava m****r uma mensagem em pânico para as meninas, mas o celular desbloqueou na tela do aplicativo e eu encarei os botões coloridos. Apertei o verde, contrariada. Apesar de ser algo estranho e nada usual, eu estava bem. Voltei a bloquear o celular e coloquei-o entre os meus seios, analisando minha situação. Pensei que deveria ser uma boate para homens e estava me sentindo um pouco estranha, mas voltei às palavras da louca loira e repeti-as. Workshop de pole. Despedidas de solteiras. Solteiras, não solteiro.
Oh, céus, era um clube para mulheres! Meu sorriso se intensificou quando as peças se encaixaram. Marcelo era um gato, ele estava fazendo um bico... Em um clube para mulheres. Não sabia se Bianca iria gostar de saber disso, mas... Eu estava satisfeita com a minha descoberta. Peguei o celular e apertei o botão verde mais uma vez, dessa, porém, resoluta de que estava tudo bem mesmo.
A festa começou por volta das 22h. Eu fui colocada em um pole, no canto da boate, enquanto a mulherada, cerca de 30 delas, se reunia no centro. O palco ficava do outro lado, mas não tinha nenhuma atração ainda. Enquanto elas estavam conversando e pedindo bebidas, distraídas, testei alguns dos meus antigos movimentos no pole e, bom, com meu condicionamento físico razoavel, não foi difícil. Mais fácil que na época, quando meus braços não eram tão firmes. Quase cogitei a hipótese de retornar às aulas de pole, mas eu estava sem grana. Não tão sem grana quanto antes de aceitar a investigação para Bianca, mas sem grana.
Tinham 10 mulheres me encarando com olhos brilhando quando eu me dei por satisfeita, arfando.
- Alguém gostaria de tentar? – Perguntei.
Duas mais abusadas se aproximaram e eu repeti as regras básicas que haviam me passado quando eu comecei. Ajudei uma delas a dar uma volta completa no pole e ela deu um grito de satisfação que as outras comemoraram embaixo. Percebi, então, que eu estava era com as duas noivas. A segunda, porém, ficou com medo de tirar os pés do chão, então tentei lhe mostrar algo mais simples e ela também pareceu satisfeita. Ajudei-as a descerem quando as luzes do palco se acenderam e as do ambiente se apagaram. A loira passou por mim naquele momento e fez um legal, parecendo satisfeita com o meu trabalho, enquanto eu estava apenas me divertindo. Mal sabia ela qual era o meu trabalho naquela noite.
As cortinas se abriram e eu arregalei meus olhos ao ver Marcelo com uma roupa apertada e suja de graxa. Ele, obviamente, estava fazendo papel de borracheiro. Segurava até uma chave inglesa na mão, que logo jogou em algum canto do palco. Rasgou a camisa e a mulherada gritou, empolgada, enquanto eu continuava impressionada. Desbloqueei o celular direto na câmera e filmei um pouco sua performance e a empolgação das mulheres. Algumas colocaram notas de 10 e 20 quando ele arrancou a calça. Ele ainda tirou a cueca, de costas, deixando-as verem sua bunda e gritarem ainda mais.
Parei a filmagem e guardei o celular de volta no meio do meus peitos, fingindo que nada havia acontecido. Algumas outras apresentações se seguiram com o mesmo furor. A noite de festa acabou por volta das 2 da manhã com as duas noivas quase em coma alcóolico e muitas mulheres descalças porque o sapato dificilmente as ajudaria com o tanto de bebida que elas haviam ingerido. Ainda ajudei-as a chamarem os táxis, separando-as em grupos animados. Elas acenaram e agradeceram e eu voltei para dentro para trocar de roupa. No caminho do camarim, a loira me empurrou um envelope.
- Nós vamos precisar de você na quinta que vem – anunciou.
Abri o envelope e encontrei 150 reais. Ah, bem... Acho que seria uma boa voltar para as minhas aulas de pole.
Capítulo CincoOlá, caçadoraFoi Bia que me ajudou a lidar com Bianca quando retornei, no dia seguinte. Mostrei a ela o video que gravara de Marcelo dançando e tirando a roupa e depois de Bia ter se chocado, ficado vermelha e também ter soltado um comentário nada parecido com o comportamento dela, ela respirou fundo, passou o vídeo para o computador e anexou na resposta que escrevia para Bianca. Naquele ponto, estávamos usando o wifi da lanchonete enquanto aguardávamos Lisbela sair da fisioterapia. Ela tinha ficado bastante zangada por não ter conseguido tantos detalhes da noite anterior e eu prometi que não contaria para Bia enquanto ela não retornasse. Mas tinha feito o suficiente para que ela pudesse me ajudar ao que escrever para Bianca."Bom dia, Bianca.A noite foi produtiva e
Capítulo SeisO Homem do Outro Lado da Linha“Ora, olá, Caçadora” uma voz masculina ecoou do alto-falante do celular. “Teve uma semana agitada, não?”Minha primeira reação aquilo foi começar a entrar em pânico. Alguém (um homem querendo se vingar de mim?) tinha descoberto quem eu era e tinha descoberto meu número de telefone. O telefone era fácil de resolver, porém, era só trocar de número. Não tinha ninguém na minha agenda, com quem eu gostaria de manter contato, que não pudesse lhe dar um número novo pessoalmente. Mas haviam outros problemas: se ele sabia meu número de celular e, talvez, meu nome, saberia meu endereço? E, se sim, talvez ele não tivesse com certeza de quem a caçadora era. Podia su
Capítulo SeteProblemas com fogo- Nós não vamos fazer isso – eu anunciei, no dia 19, quando Bia e Lisbela estavam reunidas no quarto da última, que tentava ensinar a primeira a como liberar o próximo mês para reservas, sem sucesso.Eram 23h da noite e Bia tinha planejado abrir as reservas às 0h do dia 20 para ver quanto tempo demoraria para não ter mais vaga. Ela e Lisbela tinham até apostado em minutos e horas. Eu estava nervosa, eu tinha dito para o Investidor Misterioso que iria pensar e não queria demonstrar que já havia decidido, então apenas deixei que elas continuassem com a preparação para a abertura do calendário e, ok, eu estava desistindo no último momento, mas nada justificava aqueles olhares acusatórios que as duas estavam me lançando bem naquele
Capítulo OitoTerceira Guerra MundialO dia já havia raiado quando eu acordei e estava definitivamente abafado e muito calor. Estava calor de um jeito insuportável. Rangi os dentes e reclamei da rigidez do meu corpo ao me mover e demorei alguns segundos para me recordar do que havia acontecido e mais ainda para perceber que eu ainda me encontrava em meu carro. Pior: eu me encontrava trancada em meu próprio veículo com as janelas fechadas e a luz do Sol de quase meio-dia esquentando.Eles haviam me arrastado para o carro e me trancado ali. Talvez para tentar uma morte acidental – como eles achavam que eu era jornalista, um assassinato chamaria a atenção e faria com que a polícia os perseguisse por meses a fio. Ou, então, ficaram com medo do que não compreendiam e, por conta disso, me deixaram lá. Talvez na esperança que eu m
Capítulo Nove Entre socos e pontapés Na segunda noite, meu celular deu sinal de vida.Estava encolhida em minha cama, sofrendo das minhas dores do corpo e da alma e chorando um pouquinho quando ele começou a vibrar. Encarei a tela, vendo I.M. escrito nela, mas ignorei sua ligação. Assim que parou de tocar, suspirei e desbloqueei o aparelho, abrindo sua conversa. Haviam várias mensagens ignoradas por mim daqueles últimos dois dias. “Como foi a empreitada? Caçadora? Caçadora, estou preocupado. O que aconteceu? Você está aí? O que houve com o site? Estou realmente preocupado, quando possível, por favor, entre em contato”. Suspirei pesadamente e segurei o aparelho nas duas mãos para digitar uma resposta com meus polegares. Não sabia nem como lhe contar tudo o qu
Capítulo DezTreino PesadoAs rotinas de treino se perduraram em formatos tão intensos que chegavam a ser quase abusivos, principalmente para o meu corpo que se recuperava de uma grande porrada ainda de minha última empreitada nas noites. Se eu achava que estava dolorida antes? Agora meu corpo doía em lugares que eu nem sabiam que eram capazes de doer.Eu tinha três professores: o de defesa pessoal e muay thai era o Estefano, um gay super afetado com problemas de controle de topete, mas apesar de ninguém poder encostar em seu cabelo (o que era meio impossível em uma luta), era um ótimo professor e muito competente; a de boxe e judô era a Antônia, que se olhada duas vezes, você não diria que ela conseguiria te deixar desacordado só com um soco, pois era baixinha e magrinha, mas a força dela era de assustar; e o Marcelo e
Capítulo Onze Pegando Fogo Aparentemente, a noite era sempre animada na sede dos cafetões. O puteiro era um entra e sai de gente, mulheres de roupas ousadas e homens de todos os tipos, alguns parecendo um pouco incertos, outros tomados pela bebida. Eu devia ter perguntado à Lis sobre um plano decente, mas a verdade era que gostava de fazer tudo em cima da hora e improvisar. Antes, esse luxo havia me custado caro, porém me sentia extremamente pronta para o ataque agora, então tentei respirar fundo e relaxar, pensando na melhor forma de abordagem. Poderia entrar e dizer que queria passar a noite com uma mulher, mas não estava ali para observar - não mais. Minhas perguntas principais estavam respondidas, sabia quem eram os culpados e eu queria acabar com a raça deles. Qual seria a melhor forma de entrar em contato com eles? Na minha mente, haviam duas opções. A primeira era procurar algué
Capítulo DozeEXSinceramente, não sei muito bem como fiz para sair do bordel sem ser pega. A adrenalina cuidou de mim até que eu estivesse na rua. Amaldiçoei terrivelmente a ideia de ter ido até ali de ônibus porque eu estava a mercê da sorte e da boa vontade para fugir de uma bala na cabeça. Mas, as vezes, a vida nos presenteia com sua boa vontade e tinha um táxi parado ali na esquina e eu entrei correndo, sem me importar com o homem que tinha um braço estendido para abrir a porta, o outro enrolado em uma prostituta.- Vai! - Gritei para o motorista.Ele não sabia para onde, mas acelerou. Olhei para trás e não vi nenhuma movimentação na porta do bordel. Respirei aliviada quando viramos a esquina e cortei o contato visual com a entrada do lugar. Só então percebi meu reflexo n