Capítulo Vinte e Cinco
Outra Pessoa
Eu tinha um sorriso bobo no rosto enquanto vestia minhas roupas que ficaram perdidas pela casa. Parte de mim achava que eu tivera uma espécie de delírio e tinha apenas imaginado a noite com o Investidor, mas a sensação no entre minhas pernas e no interior do meu peito me diziam que não; e isso só aumentava o meu sorriso.
Minha cabeça estava fervilhando tanto com a parte final do bilhete, com a rosa e com as sensações da noite que demorei um tempo para perceber que havia algo de errado com o bilhete. Quando terminei de me vestir na entrada da casa, voltei até o quarto para buscar a rosa e li novamente o pequeno texto:
Se tem desejos em me ajudar a resolver essa bagunça, por favor, mande-me uma resposta sucinta. Se não puder, vou compreender.
Especialmente hoje, tome cuidado e evite
Posfácio “Amiga, estou com sérios problemas” enviei para Lisbela porque ela era a única que poderia me ajudar e era quem tinha me cinco vezes nas últimas horas. Estela tinha conseguido um quarto e estava adormecida em sua cama de hospital após o médico receitar um calmante para ela. Seu exame dera diversas alterações pequenas, mas que precisariam de cuidado. Também identificaram luxações em seu tornozelo e nos dois pulsos. Apesar de não ser exatamente grave, por conta do estado emocional e de seu corpo frágil, preferiram deixá-la em observação por alguns dias. Igor tinha me agradecido mais meia dúzia de vezes depois que ela adormeceu. Foi gentil ao me comprar um lanche e disse que tudo bem se eu quisesse ir para casa descansar - só que eu não fui. Deixei-o deitado no sofá, resolvendo problemas do trabalho em seu computador e me retirei para dar uma volta no hospital, dando de cara com
O que você já deixou de fazer por ser mulher?Você já deixou de falar palavrão?Você já foi impedida de sentar de forma confortável?Já deixou de ir a algum lugar porque iria voltar sozinha?Deixou de beber em uma festa por medo do “Boa noite, Cinderela”?Já evitou uma roupa que gosta por medo de assédio? Ou de falarem mal de você?Quantas vezes atravessou a rua por medo de alguma pessoa andando atrás de você? E quantas vezes ficou em casa por medo de sair à noite?Você já foi preterida em algum emprego por ser mulher?Eu já passei por todas essas situações. Qualquer mulher já passou por mais de uma dessas algumas vezes.E essa é a história de quando eu resolvi me vingar por todas nós.
Capítulo UmUma proposta inesperadaA crise na economia brasileira afetou todo o conglomerado de empresas privadas, causando cortes orçamentários e redução de pessoal, criando pânico em todos os pobres assalariados sem estabilidade.Eu trabalhava no escritório de uma grande empresa bancária na época. Dez anos de casa e um rendimento muito bom. Todas as agências da região que era de minha responsabilidade haviam batido a meta de vendas nos últimos dez meses e esse era um feito e tanto em anos normais, mas em era de crise... Era estupendo.Para falar a verdade, eu e meu ego estávamos esperando uma promoção a qualquer momento.Acho que nunca poderia ter previsto o que aconteceu, que aquilo estava vindo voando em direção à minha cabeça. Por alguns momentos, me
Capítulo DoisO papel chamuscadoSeguir as instruções de Bianca para encontrar Diego, o tal professor de inglês por quem ela estava interessada, foi uma das coisas mais ridículas que eu já fiz. Para começar, ela queria me avisar quando ele saísse do curso para que eu o seguisse e, então, ela queria que eu o seduzisse a ponto dele me convidar (ou eu convidá-lo) para um local mais discreto e, antes de irmos, contar para ele que eu era soropositiva.Ou seja, se ele topasse, o que eu faria? Bianca tinha tanta certeza que ele não toparia estar com alguém soropositivo (vide suas experiências anteriores) que nem se dignara a me oferecer um plano B para o caso dele aceitar e, por conta disso, eu me sentia prestes a furar o olho da minha irmã.Afinal, com todo o meu charme, que escolha ele teria alé
Capítulo TrêsTem alguém em casa?Na minha concepção, a melhor coisa que eu poderia fazer era entrar em um fast-food qualquer e esperar encontrar alguma movimentação ou conseguir um táxi para casa. Encontrei uma lanchonete aberta depois de correr desesperadamente por cinco minutos; eu gostava e estava acostumada a exercícios, mas aquela situação maluca, talvez pela droga ainda em meu sistema, talvez pela outra coisa que eu preferia não lembrar, fez minhas costelas arderem de cansaço e falta de ar.Pedi qualquer coisa apenas para enrolar. Também escolhi a promoção mais barata. Não estava exatamente com fome, embora soubesse que meu corpo podia se utilizar de alimento naquelas condições estranhas, mas o hambúrguer que eu escolhi era tão peq
Capítulo QuatroUm caso de stripperNa quarta feira, Bia saía mais cedo do trabalho. Ela não tinha turma no curso, apenas aulas na escola, então ela chegava mais ou menos no meio da tarde, normalmente aproveitando após o almoço para fazer compras, ir ao médico ou qualquer outra coisa que ficara acumulada durante a semana. Então, foi uma grande surpresa quando ela parou à porta do meu quarto enquanto eu almoçava, o cabelo amarrado para cima e um filme de pancadaria passando no notebook na minha frente. Eu era o estado do caos, não que ela jamais tivesse me visto naquela situação, mas eu realmente podia evitar, se conseguisse. Principalmente porque eu me encontrava com uma coxa galinha na boca, as mãos e o rosto levemente engordurado.Bia pareceu não notar, ou fingiu.- Oi, Tatá, a gente pode conv
Capítulo CincoOlá, caçadoraFoi Bia que me ajudou a lidar com Bianca quando retornei, no dia seguinte. Mostrei a ela o video que gravara de Marcelo dançando e tirando a roupa e depois de Bia ter se chocado, ficado vermelha e também ter soltado um comentário nada parecido com o comportamento dela, ela respirou fundo, passou o vídeo para o computador e anexou na resposta que escrevia para Bianca. Naquele ponto, estávamos usando o wifi da lanchonete enquanto aguardávamos Lisbela sair da fisioterapia. Ela tinha ficado bastante zangada por não ter conseguido tantos detalhes da noite anterior e eu prometi que não contaria para Bia enquanto ela não retornasse. Mas tinha feito o suficiente para que ela pudesse me ajudar ao que escrever para Bianca."Bom dia, Bianca.A noite foi produtiva e
Capítulo SeisO Homem do Outro Lado da Linha“Ora, olá, Caçadora” uma voz masculina ecoou do alto-falante do celular. “Teve uma semana agitada, não?”Minha primeira reação aquilo foi começar a entrar em pânico. Alguém (um homem querendo se vingar de mim?) tinha descoberto quem eu era e tinha descoberto meu número de telefone. O telefone era fácil de resolver, porém, era só trocar de número. Não tinha ninguém na minha agenda, com quem eu gostaria de manter contato, que não pudesse lhe dar um número novo pessoalmente. Mas haviam outros problemas: se ele sabia meu número de celular e, talvez, meu nome, saberia meu endereço? E, se sim, talvez ele não tivesse com certeza de quem a caçadora era. Podia su