Capítulo Cinco
Olá, caçadora
Foi Bia que me ajudou a lidar com Bianca quando retornei, no dia seguinte. Mostrei a ela o video que gravara de Marcelo dançando e tirando a roupa e depois de Bia ter se chocado, ficado vermelha e também ter soltado um comentário nada parecido com o comportamento dela, ela respirou fundo, passou o vídeo para o computador e anexou na resposta que escrevia para Bianca. Naquele ponto, estávamos usando o wifi da lanchonete enquanto aguardávamos Lisbela sair da fisioterapia. Ela tinha ficado bastante zangada por não ter conseguido tantos detalhes da noite anterior e eu prometi que não contaria para Bia enquanto ela não retornasse. Mas tinha feito o suficiente para que ela pudesse me ajudar ao que escrever para Bianca.
"Bom dia, Bianca.
A noite foi produtiva e
Capítulo SeisO Homem do Outro Lado da Linha“Ora, olá, Caçadora” uma voz masculina ecoou do alto-falante do celular. “Teve uma semana agitada, não?”Minha primeira reação aquilo foi começar a entrar em pânico. Alguém (um homem querendo se vingar de mim?) tinha descoberto quem eu era e tinha descoberto meu número de telefone. O telefone era fácil de resolver, porém, era só trocar de número. Não tinha ninguém na minha agenda, com quem eu gostaria de manter contato, que não pudesse lhe dar um número novo pessoalmente. Mas haviam outros problemas: se ele sabia meu número de celular e, talvez, meu nome, saberia meu endereço? E, se sim, talvez ele não tivesse com certeza de quem a caçadora era. Podia su
Capítulo SeteProblemas com fogo- Nós não vamos fazer isso – eu anunciei, no dia 19, quando Bia e Lisbela estavam reunidas no quarto da última, que tentava ensinar a primeira a como liberar o próximo mês para reservas, sem sucesso.Eram 23h da noite e Bia tinha planejado abrir as reservas às 0h do dia 20 para ver quanto tempo demoraria para não ter mais vaga. Ela e Lisbela tinham até apostado em minutos e horas. Eu estava nervosa, eu tinha dito para o Investidor Misterioso que iria pensar e não queria demonstrar que já havia decidido, então apenas deixei que elas continuassem com a preparação para a abertura do calendário e, ok, eu estava desistindo no último momento, mas nada justificava aqueles olhares acusatórios que as duas estavam me lançando bem naquele
Capítulo OitoTerceira Guerra MundialO dia já havia raiado quando eu acordei e estava definitivamente abafado e muito calor. Estava calor de um jeito insuportável. Rangi os dentes e reclamei da rigidez do meu corpo ao me mover e demorei alguns segundos para me recordar do que havia acontecido e mais ainda para perceber que eu ainda me encontrava em meu carro. Pior: eu me encontrava trancada em meu próprio veículo com as janelas fechadas e a luz do Sol de quase meio-dia esquentando.Eles haviam me arrastado para o carro e me trancado ali. Talvez para tentar uma morte acidental – como eles achavam que eu era jornalista, um assassinato chamaria a atenção e faria com que a polícia os perseguisse por meses a fio. Ou, então, ficaram com medo do que não compreendiam e, por conta disso, me deixaram lá. Talvez na esperança que eu m
Capítulo Nove Entre socos e pontapés Na segunda noite, meu celular deu sinal de vida.Estava encolhida em minha cama, sofrendo das minhas dores do corpo e da alma e chorando um pouquinho quando ele começou a vibrar. Encarei a tela, vendo I.M. escrito nela, mas ignorei sua ligação. Assim que parou de tocar, suspirei e desbloqueei o aparelho, abrindo sua conversa. Haviam várias mensagens ignoradas por mim daqueles últimos dois dias. “Como foi a empreitada? Caçadora? Caçadora, estou preocupado. O que aconteceu? Você está aí? O que houve com o site? Estou realmente preocupado, quando possível, por favor, entre em contato”. Suspirei pesadamente e segurei o aparelho nas duas mãos para digitar uma resposta com meus polegares. Não sabia nem como lhe contar tudo o qu
Capítulo DezTreino PesadoAs rotinas de treino se perduraram em formatos tão intensos que chegavam a ser quase abusivos, principalmente para o meu corpo que se recuperava de uma grande porrada ainda de minha última empreitada nas noites. Se eu achava que estava dolorida antes? Agora meu corpo doía em lugares que eu nem sabiam que eram capazes de doer.Eu tinha três professores: o de defesa pessoal e muay thai era o Estefano, um gay super afetado com problemas de controle de topete, mas apesar de ninguém poder encostar em seu cabelo (o que era meio impossível em uma luta), era um ótimo professor e muito competente; a de boxe e judô era a Antônia, que se olhada duas vezes, você não diria que ela conseguiria te deixar desacordado só com um soco, pois era baixinha e magrinha, mas a força dela era de assustar; e o Marcelo e
Capítulo Onze Pegando Fogo Aparentemente, a noite era sempre animada na sede dos cafetões. O puteiro era um entra e sai de gente, mulheres de roupas ousadas e homens de todos os tipos, alguns parecendo um pouco incertos, outros tomados pela bebida. Eu devia ter perguntado à Lis sobre um plano decente, mas a verdade era que gostava de fazer tudo em cima da hora e improvisar. Antes, esse luxo havia me custado caro, porém me sentia extremamente pronta para o ataque agora, então tentei respirar fundo e relaxar, pensando na melhor forma de abordagem. Poderia entrar e dizer que queria passar a noite com uma mulher, mas não estava ali para observar - não mais. Minhas perguntas principais estavam respondidas, sabia quem eram os culpados e eu queria acabar com a raça deles. Qual seria a melhor forma de entrar em contato com eles? Na minha mente, haviam duas opções. A primeira era procurar algué
Capítulo DozeEXSinceramente, não sei muito bem como fiz para sair do bordel sem ser pega. A adrenalina cuidou de mim até que eu estivesse na rua. Amaldiçoei terrivelmente a ideia de ter ido até ali de ônibus porque eu estava a mercê da sorte e da boa vontade para fugir de uma bala na cabeça. Mas, as vezes, a vida nos presenteia com sua boa vontade e tinha um táxi parado ali na esquina e eu entrei correndo, sem me importar com o homem que tinha um braço estendido para abrir a porta, o outro enrolado em uma prostituta.- Vai! - Gritei para o motorista.Ele não sabia para onde, mas acelerou. Olhei para trás e não vi nenhuma movimentação na porta do bordel. Respirei aliviada quando viramos a esquina e cortei o contato visual com a entrada do lugar. Só então percebi meu reflexo n
Capítulo Treze Filho do Meio Quando ouvia as pessoas dizendo que mentira tem perna curta, sempre achava engraçado. Mentira, propriamente dita, não tem perna, não tem corpo físico. Entendia, claro, que estavam dizendo que ela nunca ia muito longe, apenas de pessoas de perna curta terem a mesma habilidade de caminhar, só dão passadas menores. A questão é que nunca me preocupei muito. No orfanato, mentia na cara dura sobre todas as besteiras que aprontava, mas depois que saí das amarras daquele lugar e fiquei rodeada de pessoas que não me julgavam e em quem eu confiava ardentemente, a mentira simplesmente esvaiu-se de mim. Não que não contasse uma mentirinha aqui e outra ali, isso já fazia parte da minha formação porque havia passado a infância inventando historietas para não apanhar, mas nada muito complexo. A omissão, em contrapartida, acontecia com mais frequência; Lisbela e Bianca não precisav