Era noite, e a brisa soprava suave, fazendo algumas folhas se desprenderem do chão. Não combinava nada com a animação dos jovens barulhentos que decidiram se encontrar no parque de diversões que tinha chegado à cidade.
Uma turma com mais de dez jovens havia combinado de se divertir naquela noite de sábado.Chegaram cedo ao parque, e o grupo barulhento se divertiu ao máximo. Brincaram na maioria dos brinquedos, sentaram-se para comer hambúrgueres e bater papo.Durante toda a noite, Matthew não conseguia tirar os olhos de uma garota de óculos e cabelos longos. Ela o encantou de imediato.Ela ria alto, se expressava com facilidade, brincava com todos sem a menor vergonha. Transbordava animação, era gentil e parecia ser extremamente inteligente.Matthew a desejou no instante em que a viu.A garota animada avistou um carrinho de sorvete e correu até a fila, onde parte dos amigos estava. No meio do caminho, escorregou e caiu. Otto, que estava por perto, d— Rodei isso aqui tudo e nem sombra dela, Julia. Até eu tô ficando preocupado. — Matthew disse, olhando ao redor.— Ela não é de fazer isso... — Julia respondeu, a preocupação crescendo em sua voz.— Está ficando tarde, você precisa colocar gelo nesse pé. Vamos levar você para casa.— E a Lin? Eu não posso voltar para casa sem ela, minha tia vai surtar! — o desespero crescia em seu tom.Matthew e Otto não sabiam o que fazer. O parque estava esvaziando cada vez mais, e a garota sentada à frente deles precisava cuidar do pé machucado. No entanto, sua preocupação com a amiga só aumentava.— Se você aguenta andar, a gente pode dar mais uma volta, prestando mais atenção. O que acha? — perguntou Otto— Vamos fazer isso. — Julia respondeu, já tirando a bota do pé.— Agora, se a gente não encontrar ela, vamos todos para casa. Combinado?— Combinado.Julia estava determinada a encontrar a amiga. Toparia qualque
Julia continuava nos braços de Otto quando a polícia chegou. Sentada no chão, imóvel, apoiava a cabeça no braço dele, que a envolvia como um escudo. O corpo tremia em meio aos soluços, mas ela não se movia.— A gente precisa sair daqui, Julia — Otto murmurou, a voz baixa, quase um sussurro.Ele esperou uma resposta. Nada. Não sabia como fazê-la levantar, como tirá-la dali. Então permaneceu ao lado dela, imóvel, sentindo o peso daquele silêncio.Matthew, afastado, conversava com os policiais. Pediu que avisassem seus pais e também os de Otto e Julia. Com a voz firme, relatou tudo o que haviam feito naquela noite. O policial ouvia atentamente, anotando cada detalhe.O som distante de sirenes rompeu o silêncio. Pouco depois, uma ambulância chegou, acompanhada por duas viaturas.Os profissionais conseguiram retirar Julia do local. Ela estava completamente inerte, muda, deixando-se conduzir sem resistência. Mas, mesmo assim, seus olhos só proc
— Patrícia... Pelo que Otto contou, Julia vai precisar de ajuda — disse Grace, cabisbaixa após ouvir tudo.— Vai sim. E se quiser, posso te ajudar — respondeu Patrícia com gentileza.— Eu nem sei por onde começar...— Uma coisa de cada vez, Grace. Não precisa resolver tudo agora.Patrícia segurou a mão gelada de Grace e, nesse instante, ouviu sua barriga roncar.— Quando a Julia sair, vamos comer algo. Ela deve estar faminta... e você também — disse Patrícia com um sorriso.— Não precisa, não quero incomodar.— Imagina, não é incômodo nenhum.Apesar da noite difícil, a presença de Patrícia e Otto trazia uma sensação de leveza. Aos poucos, Grace foi se permitindo relaxar, e o peso que carregava parecia menos sufocante.Julia saiu da sala atordoada, completamente perdida nas imagens que se fixaram em sua mente. Estava exausta, o rosto ainda mais pálido, os olhos inchados de tanto chorar.Otto foi
Na casa dos Green, o cenário era de extrema tristeza.Julia se largou no sofá e voltou a chorar. Grace sentou-se ao lado dela, colocando os pés da filha em seu colo. Nada foi dito. O silêncio era cortado apenas pelos soluços de Julia, até que ela foi vencida pelo cansaço.Grace não dormiu, tampouco saiu de perto da filha. Além de ser impossível pregar os olhos com a mente fervendo, ela aguardava o retorno da irmã. Não sabia como recebê-la, o que dizer ou o que esperar.Cansada de esperar, e com a luz da manhã começando a invadir a casa, Grace finalmente se levantou. Sentia-se impotente, sufocada pelo peso da dor, mas a única coisa que conseguiu fazer com convicção foi acender uma vela para Santa Maria, Mãe de Deus.Permaneceu ali, em silêncio, as mãos trêmulas entrelaçadas em oração. Implorava à santa que trouxesse conforto para sua filha, que aliviasse aquela dor sufocante. E, num desespero mudo, tentava barganhar com o divino—como se sua fé pudesse reverter o destino, como se houves
Matthew se viu obrigado a seguir sua mãe. Ela sempre conseguia o que queria.Ele a acompanhava, transmitindo uma falsa calma, mas por dentro estava mergulhado em ira. Sabia que seu amigo passaria mais tempo com a mulher que ele desejava.“ Amanhã... Amanhã você vai vê-la. Amanhã você vai ficar ao lado dela…”Repetia esse pensamento, tentando se acalmar.— Já cansei de dizer à Patrícia que nem tudo é da nossa conta, principalmente quando pode prejudicar nossos filhos. Mas ela nunca aprende — disse Nancy, impaciente.— Mãe, você tem ideia do que aconteceu hoje? — Matthew a interrompeu, firme.— Eu sei que preciso proteger meu filho.— Pelo amor de Deus! Uma colega da faculdade foi assassinada brutalmente! A amiga dela encontrou o corpo e está em choque! — a voz de Matthew aumentava a cada palavra. — Eu estou bem, Otto está bem... Mas Julia e a família dela não estão!Ele respirou
Era noite, e a chuva caía forte quando uma mulher foi trazida ao hospital. Seu estado era grave. Passou por várias cirurgias, mas estava demorando para acordar.Por sorte, seu marido também havia dado entrada no hospital e pôde contar um pouco do que aconteceu.— A gente bateu o carro, ela saiu de um lado e eu de outro. Quando vi, já tinha acontecido. Foi muito rápido — disse ele, visivelmente abalado.Dias se passaram até que, finalmente, ela abriu os olhos, com muito esforço. Olhou o ambiente com calma: quarto branco, janelas grandes com persianas. Lá fora, a chuva caía forte. Um trovão a fez levar um susto, e ela fechou os olhos por um instante, antes de abri-los lentamente novamente.Começou a observar o local com mais atenção, tentando reconhecer onde estava. Viu uma porta. À frente da cama, uma cômoda. Acima, na parede, uma TV estava ligada, exibindo algum programa infantil. Virando-se um pouco, notou outra porta, desta vez aberta. Lá fora, algumas pessoas passavam — pareciam mé
A noite estava escura, e a chuva caía forte, como se nunca fosse parar.Raios e trovões cortavam o céu, enquanto os galhos das árvores balançavam violentamente com a força do vento. A natureza exibia toda a sua fúria de maneira incansável.Julia estava acordada, sozinha no quarto, observando a tempestade implacável pela janela. Deitada em sua cama no quarto de hospital, sentia-se pequena diante da força da natureza.De repente, um raio caiu lá fora, iluminando todo o quarto. O clarão fez Julia sentir um arrepio subir pela nuca.— Que sensação estranha... — falou Julia, pensativa. — Parece que já vi isso antes...— Déjà vu. — Disse uma voz doce e feminina. — Quando temos a sensação de já ter visto ou vivido algo, chamamos de déjà vu. — concluiu.A mulher entrou no quarto, verificou se a janela estava bem fechada e, em seguida, virou-se para Julia com um sorriso amigável no rosto.— Eu sou a Pérola, sou nova aqui. Sou a enfermeira do turno da noite.Pérola tinha cabelos longos, loiros c
Era a primeira noite de Pérola como enfermeira no hospital, e coincidentemente, Julia havia dado entrada naquela mesma noite chuvosa. A tempestade era semelhante à de agora: muita chuva e ventos fortes.No hospital, o clima era de expectativa. Com temporais assim, era comum o registro de várias ocorrências. Árvores caíam, a pista ficava cheia de poças e a visibilidade nas estradas era quase zero, criando condições perfeitas para acidentes.Apesar disso, o hospital estava calmo no início da noite. Durante o dia, vários pacientes haviam recebido alta ou sido transferidos. Sendo um hospital especializado em traumas, ele era sempre a primeira opção para socorros emergenciais.Pérola havia acabado de verificar alguns pacientes ao lado da enfermeira-chefe, que fazia questão de lhe apresentar o hospital e os colegas atarefados. A apresentação foi breve, pois, ao chegarem à emergência, notaram que o espaço começava a se encher de médicos e equipes aguardando a movimentação que o temporal prom