Matthew Fisher sempre foi cercado pelo luxo. Sua família, uma das mais tradicionais e ricas da região, proporcionava-lhe tudo o que um garoto poderia desejar. Carruagens de prata, festas elegantes e uma mansão imponente foram apenas alguns dos privilégios que ele nunca precisou conquistar. Desde cedo, soubera que não precisava lutar por nada — tudo o que queria estava ao seu alcance, sempre servido em bandejas douradas. Contudo, havia um vazio, uma sensação de algo incompleto que ele nunca soubera como preencher.
Esse vazio se tornava ainda mais agudo quando ele estava perto de Otto. Otto, com sua simplicidade desarmante, parecia ter tudo o que Matthew jamais teria — e de forma tão natural. Não eram as riquezas, nem os títulos, nem o poder que Otto possuía. Era algo mais profundo, algo que não podia ser comprado. Otto tinha uma confiança própria, um magnetismo sutil que atraía todos ao seu redor sem que ele sequer se desse conta disso. Ele era admirado por sua bondade genuíOtto também vinha de uma família rica e influente, mas isso nunca foi motivo para agir como se fosse melhor do que alguém. Na verdade, ele tinha um jeito simples desde menino; a riqueza da família e o ambiente que o cercava não lhe enchiam os olhos.Otto sempre foi carinhoso, meigo, brincalhão, bom ouvinte, obediente, sincero. Sempre preferiu falar a verdade e arcar com as consequências de seus atos. Ele também era muito estudioso, se preocupava com o mundo e sempre nutriu o desejo de ajudar as pessoas.Isso era motivo de orgulho para seus pais.— Otto, querido, aproveite que você pode estudar por paixão, e não por necessidade. Não são todos que têm essa sorte — disse sua mãe, certa vez, quando ele ainda era pequeno.— Mas as pessoas não fazem o que gostam? — perguntou ele, com ingenuidade.— Infelizmente, não. A maioria estuda para conseguir um emprego, pagar as contas. Muitos nem têm a oportunidade de fazer uma faculdade.— Mas
Otto sempre teve Matthew ao seu lado. Eles eram inseparáveis, não havia uma atividade que Otto não quisesse compartilhar com ele. Se fosse no parque, Matthew estava lá. Se tivesse algum novo hobby, era Matthew quem aprenderia com ele. Otto adorava dividir tudo com seu amigo. Para ele, a amizade era isso: a troca constante, a colaboração mútua, o fazer parte da vida do outro. — Você vai comigo, né, Matthew? — Otto perguntava com um sorriso, sempre esperando que o amigo estivesse ao seu lado para qualquer aventura.Matthew nunca hesitava. Ele sempre estava ali, seja para jogar futebol ou apenas para conversar sobre as coisas que vinham à cabeça dos dois. No entanto, enquanto Otto se sentia animado por ter um amigo tão presente, Matthew parecia mais calmo, talvez até um pouco distante em seus próprios pensamentos. Mas Otto nunca reparava nisso. Para ele, a amizade era natural, simples.Otto sempre foi o tipo de pessoa que queria incluir todo mundo nas suas i
Era noite, e a brisa soprava suave, fazendo algumas folhas se desprenderem do chão. Não combinava nada com a animação dos jovens barulhentos que decidiram se encontrar no parque de diversões que tinha chegado à cidade.Uma turma com mais de dez jovens havia combinado de se divertir naquela noite de sábado.Chegaram cedo ao parque, e o grupo barulhento se divertiu ao máximo. Brincaram na maioria dos brinquedos, sentaram-se para comer hambúrgueres e bater papo.Durante toda a noite, Matthew não conseguia tirar os olhos de uma garota de óculos e cabelos longos. Ela o encantou de imediato.Ela ria alto, se expressava com facilidade, brincava com todos sem a menor vergonha. Transbordava animação, era gentil e parecia ser extremamente inteligente.Matthew a desejou no instante em que a viu.A garota animada avistou um carrinho de sorvete e correu até a fila, onde parte dos amigos estava. No meio do caminho, escorregou e caiu. Otto, que estava por perto, d
— Rodei isso aqui tudo e nem sombra dela, Julia. Até eu tô ficando preocupado. — Matthew disse, olhando ao redor.— Ela não é de fazer isso... — Julia respondeu, a preocupação crescendo em sua voz.— Está ficando tarde, você precisa colocar gelo nesse pé. Vamos levar você para casa.— E a Lin? Eu não posso voltar para casa sem ela, minha tia vai surtar! — o desespero crescia em seu tom.Matthew e Otto não sabiam o que fazer. O parque estava esvaziando cada vez mais, e a garota sentada à frente deles precisava cuidar do pé machucado. No entanto, sua preocupação com a amiga só aumentava.— Se você aguenta andar, a gente pode dar mais uma volta, prestando mais atenção. O que acha? — perguntou Otto— Vamos fazer isso. — Julia respondeu, já tirando a bota do pé.— Agora, se a gente não encontrar ela, vamos todos para casa. Combinado?— Combinado.Julia estava determinada a encontrar a amiga. Toparia qualque
Julia continuava nos braços de Otto quando a polícia chegou. Sentada no chão, imóvel, apoiava a cabeça no braço dele, que a envolvia como um escudo. O corpo tremia em meio aos soluços, mas ela não se movia.— A gente precisa sair daqui, Julia — Otto murmurou, a voz baixa, quase um sussurro.Ele esperou uma resposta. Nada. Não sabia como fazê-la levantar, como tirá-la dali. Então permaneceu ao lado dela, imóvel, sentindo o peso daquele silêncio.Matthew, afastado, conversava com os policiais. Pediu que avisassem seus pais e também os de Otto e Julia. Com a voz firme, relatou tudo o que haviam feito naquela noite. O policial ouvia atentamente, anotando cada detalhe.O som distante de sirenes rompeu o silêncio. Pouco depois, uma ambulância chegou, acompanhada por duas viaturas.Os profissionais conseguiram retirar Julia do local. Ela estava completamente inerte, muda, deixando-se conduzir sem resistência. Mas, mesmo assim, seus olhos só proc
— Patrícia... Pelo que Otto contou, Julia vai precisar de ajuda — disse Grace, cabisbaixa após ouvir tudo.— Vai sim. E se quiser, posso te ajudar — respondeu Patrícia com gentileza.— Eu nem sei por onde começar...— Uma coisa de cada vez, Grace. Não precisa resolver tudo agora.Patrícia segurou a mão gelada de Grace e, nesse instante, ouviu sua barriga roncar.— Quando a Julia sair, vamos comer algo. Ela deve estar faminta... e você também — disse Patrícia com um sorriso.— Não precisa, não quero incomodar.— Imagina, não é incômodo nenhum.Apesar da noite difícil, a presença de Patrícia e Otto trazia uma sensação de leveza. Aos poucos, Grace foi se permitindo relaxar, e o peso que carregava parecia menos sufocante.Julia saiu da sala atordoada, completamente perdida nas imagens que se fixaram em sua mente. Estava exausta, o rosto ainda mais pálido, os olhos inchados de tanto chorar.Otto foi
Na casa dos Green, o cenário era de extrema tristeza.Julia se largou no sofá e voltou a chorar. Grace sentou-se ao lado dela, colocando os pés da filha em seu colo. Nada foi dito. O silêncio era cortado apenas pelos soluços de Julia, até que ela foi vencida pelo cansaço.Grace não dormiu, tampouco saiu de perto da filha. Além de ser impossível pregar os olhos com a mente fervendo, ela aguardava o retorno da irmã. Não sabia como recebê-la, o que dizer ou o que esperar.Cansada de esperar, e com a luz da manhã começando a invadir a casa, Grace finalmente se levantou. Sentia-se impotente, sufocada pelo peso da dor, mas a única coisa que conseguiu fazer com convicção foi acender uma vela para Santa Maria, Mãe de Deus.Permaneceu ali, em silêncio, as mãos trêmulas entrelaçadas em oração. Implorava à santa que trouxesse conforto para sua filha, que aliviasse aquela dor sufocante. E, num desespero mudo, tentava barganhar com o divino—como se sua fé pudesse reverter o destino, como se houves
Matthew se viu obrigado a seguir sua mãe. Ela sempre conseguia o que queria.Ele a acompanhava, transmitindo uma falsa calma, mas por dentro estava mergulhado em ira. Sabia que seu amigo passaria mais tempo com a mulher que ele desejava.“ Amanhã... Amanhã você vai vê-la. Amanhã você vai ficar ao lado dela…”Repetia esse pensamento, tentando se acalmar.— Já cansei de dizer à Patrícia que nem tudo é da nossa conta, principalmente quando pode prejudicar nossos filhos. Mas ela nunca aprende — disse Nancy, impaciente.— Mãe, você tem ideia do que aconteceu hoje? — Matthew a interrompeu, firme.— Eu sei que preciso proteger meu filho.— Pelo amor de Deus! Uma colega da faculdade foi assassinada brutalmente! A amiga dela encontrou o corpo e está em choque! — a voz de Matthew aumentava a cada palavra. — Eu estou bem, Otto está bem... Mas Julia e a família dela não estão!Ele respirou