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Após a separação do grupo, as famílias reais seguiram adentro do Palácio de Neve, este sem dúvida tão magnífico por dentro como era por fora. Enquanto, caminhavam pelos corredores, amplos e espaçosos, Daenor não conseguia deixar de reparar na majestade do local, as paredes eram tão altas que tornava difícil enxergar os detalhes do teto. As colunas que sustentavam o lugar eram ornamentadas em ouro. Algumas pinturas e relíquias estavam dispostos no local, formando uma espécie de museu particular da família Sonne.

A atenção dos olhos cinzentos de Daenor foram levadas para uma cimitarra feita toda em ouro, ele conhecia as lendas por trás dessa arma. Diziam que foi uma poderosa arma na Guerra pelo Sol, o próprio Alafar, o Gigante, a carregava, derrubando mais de 100 homens com seus golpes dourados. Para o garoto Mesiac parecia difícil acreditar nesta história, uma arma feita em ouro parecia pesada demais em combate, mesmo para um gigante. Apesar de nunca ter visto um gigante.

Ele percebeu que Lyliane também estava examinando a cimitarra com seus olhos grandes e escuros.

—   O que você acha? — perguntou Daenor curioso.

A única filha de Garen Mesiac, tinha cabelos longos, espessos e negros, assim como os outros de sua família. Diferente de seu irmão e pai, ela não tinha olhos cinzentos, suas pupilas eram de um castanho escuro facilmente confundido com preto. Garen dizia que ela tinha os mesmos olhos de sua mãe, enquanto Daenor tinha os seus. Seu rosto era fino, mas não delicado, pois seus olhos eram esguios e afiados como de uma águia. Seu sorriso era bonito e contagiante, e raramente ela não estava sorrindo, o que tornava sua presença agradável e leve, e com este mesmo sorriso estampado em seu rosto ela o respondeu.

—   Acho que um gigante conseguiria utilizá-la sem nenhum problema.

Elrom não resistiu a conversa — Não é possível que você duvide de Alafar, ele foi um dos últimos gigantes.

— Não é que eu duvide dele — respondeu Daenor calmamente — apenas não me parece que uma arma feita de ouro maciço seria realmente útil em uma batalha, ainda mais contra o Círculo de Magos Negros.

— Círculo de Magos. No final das contas não há distinção entre magos e magos negros. Foram todos derrotados pelo Homem. Como você deve bem lembrar.

Daenor concordou acenando com a cabeça.

— Você quer tocá-la? — perguntou Elrom.

A expressão de Daenor rapidamente iluminou-se. Apesar dele próprio não aprovar batalhas e guerras, assim como seu pai, o garoto Mesiac possuía um fascínio pela história, especialmente em relação as lendas dos tempos antigos. Antes da Magia ser expelida pelos Homens.

 Encostou nela com cuidado, sentindo o frio na pele, passou as mãos nas runas transcritas na lâmina, percebendo as gravuras e relevos feitos com cuidado por um mestre ferreiro. Entrelaçou os dedos no punho como se fosse levantá-la, mas optou por não arriscar, sabia que no máximo colocaria a si mesmo em uma situação embaraçosa. A arma dourada tinha quase duas vezes o tamanho de um alfanje normal e ele pode sentir ser ainda mais pesado do que imaginava. As histórias diziam que Alafar ainda carregava um escudo de bronze. Daenor imaginou o tamanho do guerreiro devia ser algo assustador. Não tinha dúvidas, aquela cimitarra só poderia ser empunhada por um gigante.

— Não sei se cortaria uma pessoa, mas sem dúvida amassaria um homem — comentou Gared. 

— Uma pena que nunca veremos a Foice da Alvorada em combate novamente — acrescentou Elrom. 

— Não sei quanto a isso — disse Vladimir misterioso — mas vamos prosseguir.

E assim eles fizeram, dobrando em mais dois corredores até serem levados à um salão amplo dentro do palácio. O formato do espaço era arredondado, sendo que acima deles uma cúpula contava a história de Arqueham através de desenhos com as mais diversas formas e cores. A cúpula era simplesmente enorme, a maior do palácio e dedicava-se a narrar em arte desde a descoberta da Luz, a ascensão de Syluvar e sua ordem, até A Queda dos Magos e a batalha contra os Homens. Mesmo Maegor Sonne que já deveria estar mais do que acostumado com as pinturas, parecia se deleitar diante da beleza da cúpula. No centro da figura estava Syluvar em sua armadura de ouro sentado em seu trono, rajadas de luz fluíam a sua volto e em sua cabeça utilizava uma coroa representando a própria Luz que criou os Homens e os capacitou a subjugar o mundo.

Era a segunda vez de Daenor dentro da Sala de Syluvar, e sentia-se sob o mesmo encanto que a primeira quando ainda criança. Alguns bancos de ébano apontavam para o púlpito localizado na outra extremidade da porta e alguns poucos nobres, em maioria mulheres, faziam algum tipo de prece.

— Sejam bem vindos! Estava entusiasmado com a vinda de vocês! — Disse um homem vestido de uma longa túnica branca com alguns detalhes em vermelho. — Meu nome é Salazan, sou o sacerdote encarregado de Amabel. Fico feliz em recebê-los na sala de nossa Ordem. Sintam-se à vontade — apontou para os bancos, indicando para eles sentarem e acelerou o passo até o púlpito.

A Ordem acreditava na benção da Luz e surgiu com Syluvar, o primeiro Homem a levantar-se contra os perigos da Magia e outras criaturas. Defendendo a liberdade e a vida foi o herói da humanidade no momento de maior angústia da raça humana. Porém, para muitos a Ordem não passava de resquícios de tempos mais antigos. Apesar é claro, da festa anual de Syluvar ainda ser um grande sucesso. A verdade é que ainda havia muito poucas pessoas devotas à Ordem. Muitos inclusive diziam a favor da inexistência da Magia e todas essas lendas não passarem de contos para assustar crianças ou uma forma perspicaz de abocanhar dinheiro daqueles que temiam a volta de magos e dragões. Até mesmo a figura dos Inquisidores perdia credibilidade, antes considerados como grandes guerreiros abençoados pela Luz para proteger o mundo de criaturas mágicas, agora a maioria deles não passavam de beberrões com títulos. E não era por menos, fazia mais de 2000 anos que não se via um mago. 

Porém, a Ordem de Syluvar era uma das poucas coisas que Razalon e Aldebaran tinham de semelhante, relembrava uma época no qual os dois reinos lutaram ao mesmo lado contra um inimigo comum. Por isso, tanto Garen e Maegor valorizavam a Ordem em seus encontros, apesar de ambos não serem grandes apoiadores da mesma. 

Os minutos seguintes foram preenchidos com um impressionante truque com fogo realizado por Salazan enquanto ele lia um dos poemas do Livro de Syluvar. A apresentação com fogo era um tanto quanto interessante, Salazan abriu um vaso e deixou sua mão sobre ele e em segundos, de alguma forma, ele fez uma bola de fogo na mão direita e com a esquerda a manuseava. Daenor não conseguiu esconder os olhos surpresos quando viu as chamas, mas no final ficou um pouco frustrado quando Salazan explicou ter armazenado um tipo de gás inflamável e ao fechar a mão sob o gás o acumulou dentro de seu punho. Foi a forma dele ensinar como a Luz podia abençoa los com conhecimento para não se enganar pelos caminhos tentadores da Magia, desapontando um pouco o garoto Mesiac, sempre ouvia falar sobre o perigo da Magia, mas nunca a tinha visto.

Depois continuou com mais um poema, mas Maegor já impaciente fez um sinal com a mão ordenando Salazan aceler aquilo que tinha a dizer, o sacerdote empalideceu por um momento, mas fez assim como ordenado, impetrando a bênção da Luz e os despedindo, Sonnes e Mesiacs caminharam até o Salão de Festas. 

Como todo o palácio, o salão era enorme, parecia ter sido construída dentro de um bloco de mármore e modelada aos gostos da família. No centro daquele recinto havia uma mesa, igualmente grande e circular, coberta de todo o tipo de alimentos, de carne salgada a ovos, uma grande variedade de saladas, pimentas e outras especiarias, vinhos e cervejas. A fartura não estava expressa apenas na variedade de alimentos, mas como também pelo número quase que assustador de serviçais. Diversos empregados rondavam o salão oferecendo bebidas e petiscos aos nobres que se banqueteavam.

Como de costume em Aldebaran, as pessoas mais importantes de uma festa deveriam chegar por último, por isso o salão já estava cheio de nobres locais deliciando-se com o banquete. Não apenas pessoas preenchiam o local, mas ouvia-se música por todos lados. Bardos contratados pela coroa cantavam alegremente enchendo a sala de música e histórias antigas. Apesar de que rapidamente suas histórias foram ofuscadas por Gared, em poucos minutos de festa uma pequena roda se formou ao seu redor enquanto ele contava histórias épicas  dos seus feitos nas guerras antigas, como também outras coisas não tão épicas ou importantes, como festas e mulheres com quem se encontrou. Inclusive Elrom e Arthur estavam nesse grupo, sendo este último um dos que ouvia mais atentamente.

— Ladros iria curtir essa festa — disse Daenor finalmente.

— Com certeza, mas não adianta ficar chorando pelo leite derramado, não é mesmo? Vamos aproveitar — pegou um dos petiscos posto na mesa — delicioso! — Lyliane disse tentando identificar pelo sabor o que estava comendo — deve ser noz-moscada…

A princesa Mesiac reparou que seu irmão pareceu não ter a ouvido por estar mais focado em outra pessoa.

— Você deveria falar com ela.

Daenor enrubesceu — como?

— Você deveria falar com ela. Naina. 

— Eu… ainda não. Vou esperar a decisão deles. — Moveu a cabeça apontando para seu pai, Maegor e Vladimir que conversavam em um canto da festa.

— Entendo.

Tanto Daenor e Lyliane foram ensinados desde pequeno acerca de política, postura e outras matérias importantes que bons governantes deveriam entender. Especialmente Daenor, seu pai sempre foi consciente da necessidade de passar o bastão, então o criou para ser um rei. Sabiam muito bem o porquê da expressão fechada de Garen e Maegor no canto da sala. Tentaram não pensar nisso e nas consequências que aquela conversa poderia acarretar. Se aproximou o suficiente para captar parte da conversa sem parecer que estava espionando.

Seu pai, Garen, o Bom ou Garen, o Grande como ficou conhecido por ter sido o homem responsável por ter posto um fim para a guerra que assolava dois dos três grandes reinos de Arqueham por séculos, possuía grande reputação e respeito por praticamente todos que dobravam seu caminho. Porém, naquela tarde, Daenor não deixou de notar que mesmo ele parecia um pouco mais nervoso do que o costume.

— A paz reina próspera entre nossos países por doze longos anos.  — Falou Garen num tom sereno, mas poderoso o suficiente para mostrar seriedade. — Temos vividos como nações um momento particularmente próspero em nossas histórias.

Maegor serviu-se de uma taça de vinho e bebeu um gole saboreando o sabor da uva — Isso é verdade. Nossas plantações estão maiores. Nossas finanças mais estáveis. Ainda temos dificuldades. Contudo, que não tem problemas, não é? — tomou outro gole — Até o vinho está melhor.

— Fico feliz de vossa majestade pensar assim, alegra meu coração. Tendo isso em vista, gostaria de fazer uma oferta para selar, de uma vez por todas, a paz definitiva entre todos nós. — ficou em silêncio por um segundo e voltou a falar, desta vez mais pausadamente — Eu peço a mão de vossa filha, Naina Sonne, princesa de Aldebaran, em casamento com meu filho, Daenor Mesiac, herdeiro do trono e o próximo rei de Razalon. — Seus olhos cinzas encararam os olhos do outro rei. — Esse seria um símbolo de que nossa paz ainda durará por anos e anos. 

— Paz, paz e paz. Será que os Mesiac só conhecem essa palavra? — foi Vladimir quem falou primeiro, no mesmo tom de deboche e desdém de sempre. Ele sorriu — Você busca a paz tão desesperadamente que me faz pensar: — seu sorriso se alargou ainda mais — Vocês deveriam estar muito próximos da derrota, não é mesmo? É a única explicação para você buscar tanto a sua “paz”, caso contrário os Mesiac seriam massacrados! 

Maegor sorriu, mas não disse nada. Garen franziu o cenho.

— Tolo. — falou em tom mais firme — Você abre a boca apenas para plantar a discórdia? Não se trata de uma família ser massacrada ou não, e sim de centenas e mais centenas de homens morrendo, dia após dia, no campo de batalha. Milhares de esposas esperam maridos que nunca voltam para casa. Milhares de filhos — ele fez questão de ressaltar essas palavras — esperam pais que nunca voltam para casa! Não se trata apenas de duas famílias em guerra, e sim de muitas outras famílias e pessoas! Muito sangue é perdido em guerra e nada é ganho. — suspirou, se aquietando e voltando para o tom amigável e sereno — olhe ao seu redor Vladimir. Como é bonito isso. Todos sorrindo e se divertindo, por que acabar com isso?

Vladimir pareceu não se incomodar com a resposta. 

— Você arranca uma filha de seu pai de sua casa, para ganhar uma rainha para o seu filho e sua tão desejada paz — Maegor respondeu num tom não tão amigável quanto o de Garen — Mas e eu? Não fico com nada? Não me parece muito justo... — ele parou, esperando uma resposta, embora nenhuma tenha vindo. E então continuou: — Se quer casar Daenor com minha Naina, ótimo! Que assim seja, nós os casaremos! Mas que tal você me dar uma nova filha em troca? Vamos casar meu Elrom com sua Lilyane também! Você estaria disposto a isso por esta preciosa paz? 

O rosto de Garen permanecia indecifrável como uma rocha enquanto observava Maegor em silêncio. Ele imaginava que esses termos poderiam ser trazidos à mesa, mas isso não diminuía a dor em fazê-lo. Com um movimento afirmativo de cabeça, o novo acordo foi selado. 

Daenor suspirou de alívio ao ver a expressão mais leve de seu pai ao se afastar de Maegor.

— Então?

Garen sorriu para o filho — Você está noivo.

Daenor abriu um pequeno sorriso tímido — Espero que ela fique contente com isso.

O rei deu um tapinha nas costas do filho — Qual mulher nos três reinos não ficaria contente em casar com um garoto bonito desse! Cara do pai, não é mesmo?

— Cara do pai… Todos dizem que eu pareço a mamãe.

— Para sua sorte, parece mesmo — brincou com o filho — Sinto saudades dela — deu um longo suspiro, terminando em um sorriso melancólico.

— Eu também sinto — olhou para irmã que estava conversando com alguns nobres da cidade — e quanto a ela? 

Garen respondeu com tristeza na voz — Vai ser rainha de Aldebaran. 

— Ela vai gostar disso. Ela é uma rainha nata, sempre foi. — Respondeu tentando animar o pai.

Garen, o Bom, sorriu para o filho.

Tim. Tim.

O som do talher se chocando contra a taça de ferro ressoou pela sala, fazendo todos os olhares se concentrarem em Maegor. A sala ficou em um completo silêncio. A música parou. Vestido em seu traje dourado e preto, com sua coroa de chamas de ouro e sua postura austera e real, mostravam que ele não apenas parecia um rei, mas ser rei fazia parte de quem ele era, de sua própria essência.

— Peço a atenção de vocês por um instante. Tenho grandes notícias para dar a todos! Vamos, Garen, aproxima-se — fez um gesto com a mão o chamando — Aldebaran e Razalon tem vivido grandes anos de prosperidade e paz, graças a sabedoria concedida pela Luz temos vivido um momento histórico em nossos reinos. E hoje continuaremos fazendo história! Eu, Maegor Sonne, rei de Aldebaran e senhor de Amabel e Garen Mesiac, rei de Razalon e senhor de Idalon, fechamos um acordo de paz definitivo através de não uma, mas de duas uniões entre nossas famílias através do casamento. Meu filho, princípe Elrom Sonne se unirá com a princesa Lyliane Mesiac, assim como Daenor Mesiac e Naina sonne! Hoje é um dia de celebração! 

Palmas e gritos de euforia seguiram o discurso de Maegor Sonne. A música voltou mais animada que antes. O rei Sonne levantou sua taça e a bebeu em um brinde aos casamentos, os outros nobres o seguiram entusiasmados.

Lyliane deu um soco amigável em Elrom — Há. Então você é meu noivo agora é?

Um rubor subiu por seu rosto — É o que parece…

Os cantos da boca da garota Mesiac curvaram-se em sorriso, em seguida alargando até se transformar em uma risada gostosa de ouvir — Parece que você foi pego de surpresa, não é mesmo? 

— Você sabia? — Respondeu o garoto Sonne ainda ruborizado.

— Imaginava.. 

— E como você se sente com isso?

Colocou um dedo sob os lábios tomando um tempo para pensar — Animada! Mas vai ser difícil acostumar-se com esse calor — Com uma piscadela se afastou de seu futuro esposo. 

— Parabéns pelo noivado — disse Vladimir à Daenor. 

— Obrigado — respondeu com um sorriso. 

O conselheiro do rei tomou um pedaço de queijo azul que estava sendo servido por um dos empregados. Examinou-o com seus olhos verdes e decidiu provar mesmo que um pouco receoso. — Nada mal. Não tão bom quanto os de Atalar, mas dá para o gosto.

Daenor não sentia muita simpatia por Vladimir, em sua opinião ele era um homem ácido e difícil de se lidar, sabia que ele era ambicioso e pelas histórias que ouvia, era alguém capaz de fazer aquilo que fosse necessário para alcançar seus objetivos. Características que faziam Daeeor o considerar como alguém perigoso. Porém, não fazia parte de sua índole tratar de forma desrespeitosa ou julgar precipitadamente, então optou por tentar o conhecê-lo melhor.

— Você é de Atalar, não é? De qual região?

Vladimir pareceu surpreso — Sim, eu nasci no Norte. Uma vila pequena qualquer, você não conheceria. Cuidava de uma fazenda como todos os outros. Ansioso pelos duelos hoje?  — Respondeu desviando o assunto sobre seu passado — Ouvi muito a respeito de suas habilidades manuseando uma espada. 

— Tenho certeza as histórias fazem eu parecer muito melhor do que realmente sou. Não espere muito de mim e assim, talvez, será surpreendido. Confesso, estar mais ansioso pelo festival. Ladros falou muitas coisas boas a respeito das tradições da Festa de Syluvar em Amabel. Estou realmente animado para ver e participar dos jogos! — Desta vez seu rosto mostrou uma expressão mais leve e seus olhos brilharam de uma expectativa sincera.

Em contrapartida, Vladimir pareceu um pouco desapontado — Oh sim, os jogos. É uma época bonita para estar aqui. As luzes roxas. As fantasias — abriu um pequeno sorriso provocativo — apenas não sei se Syluvar mereça isso. 

Daenor piscou curioso — Você não acredita nas histórias sobre Syluvar?

Um canto da boca do estrangeiro elevou-se — Se eu acredito em Syluvar? Diria que acredito tanto em Syluvar quanto em qualquer outra coisa. A Ordem apenas está interpretando a realidade.  

— Vladimir pegou uma pequena tâmara castanha e a mostrou para o príncipe para o Mesiac. — O que é isso em minhas mãos?

Daenor pousou seus olhos cinzas sob a fruta por um instante a examinando. 

— Uma tâmara. — Respondeu por fim.

Vladimir arqueou uma sobrancelha — Por que você pensa assim?

— Tem todas as características de uma tâmara, formato, cor — tomou a fruta para si — textura e — mastigou a fruta depois a engolindo — sabor — complementou com um sorriso.

— Conte-me mais sobre as tâmaras.

— São frutas. Brotam das tamareiras, árvores típicas de Aldebaran por seu clima árido.

— Ótimo. O único problema é que esta fruta não é uma tâmara. É uma tizinia.

Franziu a testa — Tizinia? Nunca ouvi falar disso. O que é uma tizinia?

Pegou outra tâmara sob a mesa —  Tizinia é isto. São pedaços de armas antigas de divindades anteriores que caíram na terra e brotaram, multiplicando-se em uma espécie de alimento que não deveria ser comido, apenas ofertado a essas divindades. Eu examinei e conclui ser uma tizinia. Aliás, fico ofendido de você ter se alimentado de algo exclusivo para divindades — o conselheiro parecia se divertir com a confusão do jovem — Veja só, você interpretou a sua realidade e concluiu se tratar de uma tâmara vinda de plantações. Eu fiz o mesmo e conclui ser um alimento divino. 

 — Ou seja, você apenas inventou tudo isso.

— E a tâmara não foi uma invenção de alguém também? Estamos apenas interpretando a realidade. Syluvar, tâmaras, tudo isso são explicações para uma realidade possível. Talvez estejam todos certos, talvez todos errados. Quem teria a autoridade para afirmar uma verdade, não é? A Luz? A Magia? Não seria elas também uma interpretação no final das contas?

Daenor contraiu sua mandíbula incomodado — Este é um pensamento perigoso. 

Vladimir comeu a tâmara e com um sorriso largo respondeu — Sem dúvidas. Perigoso.

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