No vigésimo segundo andar de um luxuoso prédio no centro da cidade, ela observava a sala de Juliana Fraga. Aguardava um pouco aflita, mas não entendi o porquê de se sentir meio nervosa, estava ali para contratar um serviço, não havia nada demais nisso. Sentiu-se inquieta, levantou e olhou pelo vidro espelhado da sala a cidade pequena lá embaixo. O sol estava reluzente, como nos dias típicos do verão de Miami Beach.
Os carros pareciam miniaturas, assim como as pessoas que andavam para todos os lados no seu cotidiano corriqueiro. Annie adorava observar as paisagens e perdeu alguns minutos ali observando tudo do alto, com o pensamento longe. Ainda estranho para ela pensar que estaria se casando, é como quando você faz algo da sua vida que não estava programado nem nos seus melhores sonhos e a ficha demora a cair. Assim que ela se sentia, mas tentava não dar atenção a essa sensação, tinha convicção que ia passar depressa.
Andou pela sala, hesitou uns segundos, mas deu a volta na mesa de Juliana Fraga. Estava curiosa para ver as fotos dos dois porta-retratos em cima de sua mesa de vidro fumê. O primeiro era uma foto de Juliana na praia, sentada na areia sorridente com uma linda menina no colo. Observou bem as feições da menina e os olhos eram iguais ao dela, devia ter uns quatro ou cinco anos apenas, seria a filha dela? Provavelmente, pensou... na segunda foto ela segurava uma placa de mérito, mas não conseguiu ler o que estava escrito de cara. Seu óculos de grau não estava com ela, olhou ao redor e como não viu ninguém, segurou o porta retratos nas mãos e observou de perto. Por uns instantes esqueceu de ler o que havia na placa, seus olhos azuis filtraram a imagem de Juliana e o sorriso aberto que estava em seu rosto. Eram fotos felizes e em ambas ela estava realmente linda.
Adoro essa foto. Annie assustando-se colocou imediatamente o porta retratos de volta a sua mesa. Sua expressão era de surpresa, como de uma criança que havia sido flagrada aprontando – tudo bem, não me incomodo que vejam as fotos. Juliana sorriu percebendo o desconcerto de sua cliente.
Annie ficou vermelha na hora.
Desculpa. Não costumo ser intrometida assim. Justificou-se dando a volta e saindo onde estava.
Juliana segurava uma bandeja nas mãos, tinha um bule e uma jarra de porcelana branca com dourado, algumas geleias, torradas pequenas, açúcar e adoçante, duas xicaras de porcelana com pires embaixo e colheres de chá ao lado de casa uma, apoiou a bandeja na mesa e voltou seus olhos para Annie.
Aceita tomar café comigo? Disse simpática.
Acabamos de voltar da confeitaria... Annie sorriu meio sem jeito.
Eu vi que você não comeu nada, mal tomou seu chocolate. Disse apontando as jarras para que Annie indica-se o que queria.
Café com adoçante, por favor - continuou – achei que não estivesse prestando atenção em mais nada que não no catálogo. Você é uma ótima vendedora.
Juliana estendeu a xicara com café para Annie e ainda com o sorriso no rosto fitou-a alguns segundos. Percebeu quando Annie desviou os olhos e tomou um gole do seu café.
Que bom. Se eu não fosse não estaríamos aqui e você não teria um casamento inesquecível.
Gosto disso. Annie disse. Sem entender juliana inclinou a cabeça para o lado.
De café?
Não – uma leve gargalhada – de pessoas que amam o que fazem. Esclareceu.
Ah, sim – um leve rubor formou –se nas bochechas de Juliana - obrigada. Sente-se.
Então, diga me Annie, como é o casamento dos seus sonhos? Olhou-a por cima da xicara enquanto tomava um gole de café.
Annie ficou muda. Não fazia ideia de como responder aquela mulher intrigante a sua frente, ela nem se quer havia planejado se casar, nem quando era adolescente, alguma vez já viu alguma adolescente não sonhar com o casamento? Bom, isso a tornava diferente de todas as suas amigas, enquanto todas suspiravam com contos de fadas e príncipes encantados, Annie sempre almejou seu futuro, sonhando com as profissões que ia seguir e aonde queria chegar.
Independente sempre foi o sobrenome dela, ficou atônita. Talvez até meio pálida e tomou outro gole de café, aquela pergunta à queima roupa não estava em seus planos.
Não tenho nada exato de mente, disse quase num sussurro, constrangida. "Que mulher contrata uma organizadora sem ter ao menos um sonho idealizado de casamento? Que ridículo" pensou.
Juliana ficou em silencio tentando decifrar a expressão daquela mulher a sua frente, não conseguiu, se viu ainda mais intrigada a conhecê-la.
Tudo bem, estou aqui para isso não? Vou te apresentar alguns sonhos e você escolhe um para você. Sorriu. Annie sorriu de volta.
Para começar Senhorita C..... – Annie uma das sobrancelhas intuitivamente na direção de Juliana, como se a repreendesse – desculpe Annie. Riu. Vou lhe apresentar nossos melhores cerimonia lista e...
Annie cortou Juliana abruptamente, outro impulso que ela teve sem entender.
Desculpe, mas não quero conhece-los. Juliana arregalou os olhos, confusa, ela nunca tivera uma cliente tão decidida e tão enigmática, esperou que ela concluísse.
Fecharemos negócio se você produzir meu casamento, caso contrário, não.
Os olhos de Annie fitavam Juliana que permaneceu imóvel diante de sua segurança, por dentro, Annie não atendia porque tinha dito aquilo, mas tinha uma sensação que as coisas só dariam certo se fosse Juliana quem produzisse tudo. E além do mais fosse indicar alguma outra pessoa que já estava acordada com a sogra, os planos de Mary seria arruinado.
Eu sou a diretora da empresa, não produzo casamento há anos, não diretamente Juliana tentou se justificar. Ela nem teria tempo para aquilo ou teria? Pensou confusa.
Perdeu o jeito? Annie provocou-a impulsivamente de novo, nem ela entendia o porquê estava agindo daquela forma.
Claro que não! Juliana respondeu incisiva, o tom de voz levemente alterado.
Então, não aceito suas desculpas. Annie colocou a xicara sobre a mesa e olhou-a em silencio.
Não lhe dei desculpas, tenho excelentes profissionais e posso supervisionar tudo se preferir. Argumentou.
Annie levantou-se. Juliana levantou em seguida.
Senhorita Aguillar, esta é minha proposta. Fechamos negócio se você produzir o meu casamento, caso contrário, não.
Annie estendeu para ela seu cartão. Juliana pegou-o sem ação. Definitivamente não estava acostumada com esse tipo de situação.
Pense a respeito e me ligue caso decida aceitar minha proposta ou se preferir mande um e-mail, estou sempre olhando meu e-mail, sorriu.
Podemos falar mais a respeito... Juliana estava desconcertada visivelmente.
Não é necessário – o tom de Annie era mais ameno agora - desculpe minha praticidade, mas são ossos do oficio. Aguardarei sua resposta hoje, ou entenderei seu silencio como uma recusa. Preciso ir agora Senhora Aguillar.
Estendeu a mão para um cumprimento, Juliana ainda muda cumprimentou-a e não disse mais nada, ficou apenas olhando-a sair da sala em direção ao elevador. Seu coração acelerou de repente, quem era ela para intimidar-lhe daquela forma? Nem sequer ouviu suas propostas? Seria mais uma daquelas mulheres ricas que querem tudo ao seu modo? Ela já estava acostumada com isso, mas tinha outra impressão de Annie à primeira vista. Colocou o cartão sobre a mesa engoliu todo resto do café que havia em sua xicara em um só gole. Estava decidida a não aceitar a proposta, ela era presidente da empresa, não podia se ocupar com um casamento tão grande assim, ou será que podia?
Annie trabalhou o resto do dia com July, contou a amiga como foi tudo, mas ocultou a angustia e a impulsividade repentina que teve diante de Juliana. John ofereceu-se para busca-la na empresa e jantarem juntos, mas estava cansada e inquieta demais para sair. July entrou em sua sala.
Não vai embora amiga? Já é tarde. Disse.
Vou ficar mais alguns minutos e vou. Pode ir tranquila. Sorriu.
Está bem, abraçaram-se e July saio.
Apenas sua sala estava acesa, quase dez horas da noite, olhou novamente a caixa de e-mail, alguns novos, mas nenhum de Juliana, olhou o telefone e não havia nada, apenas uma mensagem de John dizendo que a amava. Respondeu e alguns minutos mais, estava inquieta, ela recusaria a proposta então? Ou será que estava reunida com Mary bolando uma nova estratégia? Viu-se incomodada, irritada, resolveu ir embora. Desligou tudo e apagou as luzes, pegou o elevador e entrou no carro, uma última olhada no celular, nada e desistiu.
Quando chegou em casa esforçou-se para jantar com a Bel, contou para sua irmã sobre o café, mas ocultou o fato de que provavelmente não tinha mais uma organizadora. Não contara a ninguém de sua proposta intimidante a Juliana e andou pelo quarto pensando em como justificaria o rompimento com a empresa assim do nada. Algum momento depois acabou pegando no sono e o som do celular lentamente a tirou de seu estado de sonolência. Atendeu sem olhar o visor.
Alô? Disse com voz de quem acabara de acordar abruptamente.
Annie? Desculpe, te acordei? Já é tarde não é mesmo? Eu ligo amanhã!
Olhou rapidamente no relógio. Onze e meia da noite, pensou uns segundos, seu raciocínio voltou e reconheceu a voz ao telefone.
Juliana? Disse.
Sim, desculpe a hora, eu retorno a ligação amanhã. Boa noite! Annie percebeu que a respiração da mulher se distanciar de seus ouvidos.
Espera! Disse. O respirar de Juliana voltou a ficar forte – pode falar! Não se preocupe com a hora. Se viu ansiosa.
Bom, eu pensei bem e... aceito sua proposta. Vou produzir seu casamento!
Annie sorriu do outro lado da linha. Um misto de vitória com alivio.
Excelente! Disse ainda sorrindo. Alguns segundos em silêncio.
Quando começarmos? Annie continuou.
Bem, devo dizer que tenho uma maneira diferente de organizar meus casamentos. E como você não idealizou nada, acho que vou ter que usar meus métodos antigos de trabalho.
E como seria isso? Annie estava curiosa.
Nossas reuniões serão em locais de sua escolha, que sejam agradáveis para você, podemos ir a lugares que vocês dois vão com frequência, ou apenas lugares que você goste de ir. Lá discutiremos as coisas, sem formalidade, pela minha experiência é a melhor maneira de você ter suas ideias naturalmente, pode parecer estranho, mas sempre deu certo.
Se concordar, podemos fazer assim, Juliana tomou fôlego. Esperou alguns segundos o silêncio.
Annie do outro lado da linha.
Eu aceito.
Excelente! Sorriu aliviada.
Começamos no sábado. Pode ser? Annie convidou.
Em que local?
Ainda não pensei em nada... disse.
Posso sugerir o primeiro? Juliana parecia animada e Annie gostou do tom de sua voz.
Sim.
Boa noite Annie! E desculpe a hora mais uma vez...
Não se desculpe. Boa noite!
Annie olhou o telefone alguns instantes, juntos ao alivio, a sensação que tinha ainda era a mesma que teve mais cedo, só daria certo com ela organizando, mas porquê?
Adormeceu sem resposta.
A semana para mim foi como de costume, quando eu entrava na imersa, ficaria imersa em todas as responsabilidades diárias. Eram tantos os compromissos que tinha a sensação que não conseguiria resolver metade do que estava programado na agenda quePaty, minha secretaria, me entregava todas as manhas. Era bom, apesar de ser desgastantes. Sempre fui apaixonada pelo meu trabalho, mas não tão apaixonada como era por esse. Não apenas pela satisfação de dirigir minha própria empresa, mas porque essa atribuição preenchia todas as minhas necessidades de realização pessoal. Na quinta feira, almocei com John num restaurante pertinho da empresa, ele estava tão carinhoso comigo que até me deu vários beijos em públicos, coisa que não era muito a praia dele fazer, eu nunca o culpei, sabia que era a criação da minha amada sogra. E quando digo amada, acreditem, estou no máximo grau
O sol ainda nem havia nascido quando John se despediu de Annie. Haviam feito amor na noite anterior e para ele foi perfeito como sempre. Olhou para ela dormindo tranquila e sorriu. Era muito linda e apesar do jeito meio frio ás vezes, ele estava feliz e ansioso para casar logo, deu um beijo em sua testa, pegou as malas e saiu. Foi para Florianópolis, uma viagem de quatro dias a trabalho. Deixou um bilhete desejando bom dia e boa sorte a noiva. Deu uma última olhada para ela antes de fechar a porta do quarto e o sorriso surgiu novamente. Duas horas depois Annie despertou. Ainda era sete da manhã viu o bilhete deJohne mandou uma mensagem para ele. A noite anterior havia sido boa, ele sempre era muito carinhoso, mas havia algo em seu íntimo que buscava algo a
Annieestava ansiosa, mas ao mesmo tempo tranquila, conversando com aJulianano caminho e teve uma afinidade instantânea com ela. Vocês estão juntos há dois anos então? Sim. Legal! Vejo muitas pessoas que casam muito cedo. Acho arriscado, ás vezes dá certo e as vezes não. Annieriu.Julianaolhou apara ela confusa. Seu pensamento não tem lógica. Explicou. Como não? Riu divertida. Não creio que sucesso no casamento tenha haver com o tempo de relacionamento, é meio fantasioso, ma
Já passava do meio dia quando terminaram de preencher as fichas queJulianatinha levado, acabaram demorando demais porque as dúvidas deAnniefaziam Juliana rir e elas acabavam brincando uma com a outra, depois de um tempoAnnieolhava-a diferente, achando sua competência incrível. Ela foi sensível o suficiente para perceber o quão era ela fechada e sugeriu esse método não convencional de reunião para organizar o casamento,Anniese sentia à vontade com ela, diante de toda aquela paisagem e do vento fresco, comeram fruta e tomaram água de coco queJulianatinha levado na sua mochila, foram algumas horas extremamente prazerosas para ambas. Sabe uma coisa que eu amo fazer?Anniedisse sentada na pedra e com o corpo apoiado em se
Maria e Lívia eram muito simpáticas, a finalidade entre as quatro foi instantânea, comiam e conversavam sobra a vida, maria era morena, tinha os olhos castanhos escuros, cabelo enrolado até os ombros, corpo normal, nem magra e nem gorda, e muito, muito extrovertida. Lívia era branca, tinha os cabelos loiros e mais curtos, era magra e meiga, bem mais tímida que sua esposa. Annie nunca tinha conhecido um casal gay tão perto, o máximo que conheceu foi à primeira namoradinha de Bel, mas aquelas duas eram casadas e muito felizes, ficou contente diante delas, tinham gestos sutis uma com a outra, se conheciam apenas pelo olhar e via-se quanto eram apaixonadas, pensou que não tinha essa intimidade com John mesmo estando dois anos com ele.
Juliana andava na sala de seu escritório de um lado para o outro, agitada, ora passava as mãos nos cabelos, ora bufava angustiada, ora soltava o corpo na sua cadeira e fitava o teto branco da sala. Sua inquietude tinha nome: Annie Calil. Desde do dia que ela decidiu levar ela naquele passeio e Annie deitou a cabeça em seu ombro ela não conseguia para de pensar no cheiro que ela tinha, na maciez de seus cabelos negros, no contato do rosto dela em seu ombro e os arrepios que sentiu diante disso. Sonhara com Annie na noite seguintes, já quase fim de semana e ela não tinha coragem de falar com Annie, sequer conseguiu começar a montar seu perfil de noiva, com base em todas as perguntas que fez a ela enquanto riam de suas dúvidas no passeio. Juliana se lembrou de tudo, lembrou-se dela dizendo que sua cor favorita era verde, que adorava o mar e o pôr do sol, que queria apre
As panquecas eram divinas e o almoço rolava descontraído, as três conversavam e risadas rolavam soltas entre uma garfada e outra. Lívia levantou para retirar a mês, Juliana tentou ajuda-la, mas foi impedida por Maria, que a chamou para sala de estar, afim de conversarem. Lívia combinou isso com a esposa, pois pensava que Juliana ficaria mais a vontade de falar com a Maria. Então, Ju, conte me tudo e não me esconda nada! Maria falou rindo com sua sinceridade de sempre, sempre direta ao ponto. Não é nada.... Deixa para lá. Juliana de repente ficou insegura em falar no assunto. Ah pa
July entrou na sala de Annie com a cara de poucos amigos, parecendo que tentava avisa a amiga da tempestade que vinha. Amiga, sua sogra está aí fora para falar com você! Como? Mary nem deu tempo de Annie raciocinar, invadiu a sala, andando altiva como sempre fazia, vestia blusa de onça - usava uma bolsa da mesma estampa - calça social vermelha e sapatos e acessórios amarelos. Annie arregalou os olhos diante da imensidão de cores a sua frente, os cabelos da sogra eram curtos e loiros acesos, o rosto era totalmente esticado com Botox e a maquiagem pesada demais para as nove da manhã. Annie pensou que se o inferno existia talvez a imagem da inoportuna sogra refletia a moda de lá. Bom