Adam Seven
Anos atrás...
— Droga! Onde está o livro?
Procuro em toda parte na biblioteca, até desistir e ir até a sala de segurança ver as imagens. Alguém tirou do lugar onde coloquei. Não estou louco.
É uma surpresa ver o empregado novo colocando o livro dentro do casaco e saindo do castelo com ele.
Ainda bem que as câmeras já estão instaladas, ou nunca saberíamos. Estamos há poucos meses aqui nesse castelo.
— Vem comigo — chamo um dos seguranças.
— Não é melhor avisar seu pai? — ele responde.
— Achei que ele pagava vocês para resolver essas coisas. Se não dão conta de um ladrãozinho barato, não podem trabalhar para os Seven.
— Vamos pegá-lo, senhor. — O homem literalmente b**e continência.
Senhor?
É engraçado um homem imenso chamar uma criança de dez anos de senhor. Mas não tenho tempo para pensar nisso. Esse livro foi presente da minha mãe e é muito importante para mim.
Vamos para o carro e o segurança dirige. Ele segue para o endereço que o livro aponta. É um objeto raro, obvio que meu pai colocaria um rastreador.
— Ele está em movimento — aviso quando estamos perto do local indicado no sinal do rastreador.
Nos aproximamos do carro onde o ladrão se encontra. Pela quantidade de coisas que carrega na parte traseira, seu intuito era fugir com meu livro, provavelmente venderia. Ele vale bem alguns milhões.
Nossos carros emparelham.
Abro o vidro da janela.
— ENCOSTA — grito.
Ele acelera.
Consigo ver uma mulher assustada e confusa sentada com ele e um cadeirinha com bebê na parte de trás.
Que homem imprudente.
— Encosta, porra! Devolve o livro.
— NÃO ESTOU COM LIVRO NENHUM. — Ele grita de volta.
— Olha pra frente, caralho.
Estou gastando o repertório de palavrão proibido em casa.
O carro dele faz um movimento perigoso, colocando em risco inocentes.
— Encosta ou vou atirar no seu pneu.
Não tenho arma — nem idade para meu pai permitir usar —, mas o segurança tem.
O homem olha para a mulher como se estivesse discutindo... É quando acontece. Ele entra na contra mão e antes que possa pegar o controle do carro já está rolando por um pequeno barranco.
A queda não é grande, mas devido a velocidade — ou sei lá o que — ele capota e roda duas vezes antes de parar.
— Inferno!
Saio do veículo sob os protestos do segurança. Tem um bebê ali, eu não posso simplesmente ficar olhando.
O maldito ladrão sai do carro tombado, está sangrando e desorientado. Ainda assim agarrado ao meu livro como se fosse seu bem mais precioso.
Sei que não devo mexer com pessoas vítimas de acidente. Assisto muitos programas de resgate e sei que mexer pode piorar a situação... mas esse cheiro. Isso é gasolina. Essa merda vai explodir.
Ignoro todos os alertas do meu corpo indicando perigo e me aproximo o bastante para ver a mulher inconsciente e a criança chorando. Dizem que mulheres e crianças devem ser salvas primeiro, mas nunca me perguntei a ordem.
A bebê parece prioridade.
— Senhor, se afaste, é perigoso. Vou ligar para a emergência.
— Ajuda a tirá-la — respondo para o segurança. — A emergência não vai chegar a tempo.
Ele balança a cabeça negando e repete que é perigoso.
É um incompetente mesmo. Não merece trabalhar para família.
Sei que é perigoso. Mas devo deixá-las morrer?
Não posso.
Puxo a porta solta. Acho que pelo impacto ela não trava mais.
Por um milagre a garotinha está intacta, como se uma bolha invisível a tivesse protegido. Só milagre explica isso.
É fácil tirá-la. A pequena para de chorar quando me vê e se ocupa de mexer no meu relógio.
— Vai ficar tudo bem — sussurro para ela.
Entrego ao segurança. Pelo menos para isso ele serve.
O pai ladrão está tentando subir o barranco, está fugindo.
— Cuida dela, inútil. Se acontecer alguma coisa eu te mato. — Ameaço o segurança inútil.
Volto correndo para o carro. Ainda escuto a bebê de vestido amarelo chorando no colo do segurança.
Diferente da porta de trás, a do passageiro na frente está travada.
Vou dar a volta para tentar tirá-la por onde o motorista saiu... é quando acontece. Mal toco a maçaneta e tudo explode. Sou jogado longe.
De onde estou ainda consigo ver as luzes de socorristas ao longe antes de apagar.
Eles são mais rápidos que imaginei. Pena que não o suficiente.
Amaymon Seven
Não importa onde eu vá ou o tempo que demore chegar, o sorriso que me recebe é tudo que preciso.
— Finalmente o meu mafioso favorito chegou. — A mulher da minha vida diz, levantando de perto do nosso filho caçula e vindo em minha direção. Seu vestido branco molda suas curvas enquanto caminha.
Agarro sua cintura e beijo seus lábios antes de dizer sequer uma palavra. Ela sabe que o que faço é ilegal, porém me apoia em tudo. Não sou santo, minha mulher muito menos.
— Ficar longe de você é uma tortura — resmungo afastando nossos lábios.
— Eu sei. Essas poucas horas pareceram meses.
— Onde estão o Felipe, o Adam e o Henri?
— Sala de jogos e biblioteca. O vídeo game foi instalado e os pequenos estão grudados ali.
— Já o nosso mais velho prefere livros — completo por ela.
— Como sempre.
Ando com ela até Florian e ajoelho para observar ele brincar com peças de plástico de algo montável.
— Que tal um banho, garotão? — pego ele no colo.
Quando levanto, a porta se abre e meu segurança particular avisa:
— Senhor, algo aconteceu com Adam. Ele está no hospital.
É como se o chão se abrisse, só me mantenho firme porque Florian está no meu colo e a mulher da minha vida segura meu braço para se amparar.
— Meu filho ... — ouço sua voz fraca.
— Vamos até lá. Nosso filho vai ficar bem. Ele é um Seven. — Engulo o medo.
Saímos depois de deixar os meninos com as babás e logo chegamos ao hospital.
Pelo caminho, o segurança contou o que aconteceu.
Logo na entrada nos disseram que Adam está em cirurgia para tirar pequenos pedaços do veículo que foram mais fundo durante a explosão.
— Tire esse homem da minha frente! — minha mulher grita ao ver o responsável pelo acidente logo perto da porta onde ocorre a cirurgia, segurando uma bebê e o livro que Adam tanto ama.
Olho o miserável com desprezo.
— Sinto muito, senhor. — Ele se ajoelha diante de nós. — Estarei em dívida eterna com sua família.
O rancor some dos olhos da minha esposa quando ela os direciona a criança.
— Levanta. Vai cuidar dessa menina. Ela não tem culpa dos seus erros.
Ele levanta devagar e entrega o livro a ela, sempre repetindo que sente muito.
Assim que vira as costas para partir, eu digo:
— Se o meu filho morrer, você vai desejar ter ido no lugar dele.
Enquanto isso meu coração sangra e implora ao universo que permita que meu filho sobreviva e tenha a vida que ele merece.
É melhor que aconteça, ou não vai sobrar uma pedra nesse mundo sem o sangue de um Dubois.
Adam SevenAcordo com o barulho ao meu redor. Pelo que posso ouvir, meu pai está decidido a matar alguém.— Pai — chamo.Imediatamente se faz um silêncio pesado na sala. Até parece que imaginei as vozes.— Meu filho. — Me viro para o lado e o vejo, assim como minha mãe ao seu lado e meus irmãos dormindo em um sofá. Até mesmo o pequeno Florian.Mamãe leva a mão para tocar meu rosto, mas recolhe. Isso me faz levar a mão ao meu próprio rosto. Está enfaixado.— O que houve? E a bebê? E a mãe? — questiono me agitando.— Calma. Não pode se agitar assim. A mulher morreu. A criança, o pai e o segurança de merda estão no castelo. Ainda não decidi o que fazer com eles. Você se cortou com as porcarias que voaram do carro na explosão e nas costas quando caiu. Se queimou em alguns lugares, mas os cortes são mais graves.Droga! Eu queria ter salvado a mulher.— Não precisa fazer nada se ele devolver o livro.— Meu filho, você quase morreu.— Eu sei, mas foi escolha minha. Eu sabia dos riscos quando
Bela DuboisAlguns anos após a explosão...— Tia May, por que só podemos ir no postinho? Eu vi um monte de coisa da janela. Quero ir naquele chospin. — Reclamo outra vez. Não aguento mais ficar em casa o tempo todo.Minha tia ri. — Você quer dizer shopping?— É.— Seu pai não gosta que você saia. Mas fique tranquila que isso vai mudar quando você for para a escolinha semana que vem. Pulo na cama, empolgada. Meus cabelos balançam para cima e para baixo.— Vou brincar com outras crianças.— Vai.— Vou aprender a ler igual a tia.— Vai sim.— Semana que vem tá demorando. — Caio sentada no colchão.— Paciência, querida. Tudo tem o tempo certo de ser.Não vejo por que tenho que esperar. Faço bico e fico emburrada, até tia May pegar o livro de contos de fadas. É sua arma secreta para me deixar feliz.Me deito ao lado dela e fico enrolando seu cabelo em meus dedos enquanto ela lê vários, até que acabo dormindo.*No dia seguinte, papai também não vem para casa e nem nos próximos. Ele pass
Adam SevenUm tempo antes de Bela chegar a mansão...— A que devo essa visita, irmão? — pergunto enquanto Henry se senta no sofá e cruza as pernas em sua atitude de dono do lugar.O imito.Com o passar dos anos, convenci o meu pai a me deixar viver sozinho. Só mantenho alguns empregados e me divirto nas noites, geralmente com prostitutas ou em baladas liberais, onde posso usar máscaras sem ser questionado, onde posso ser cruel sem ser questionado. Não são todas as mulheres que gostam de um sexo mais duro.Para mim eram só feridas em cicatrização, mas para algumas pessoas eu me tornei assustador. Ainda mais que com o passar dos anos, meu corpo decidiu que eu seria o maior dos meus irmãos, e meus olhos foram afetados com a explosão, não tem mais o cinza dos Seven, agora é um dourado meio avermelhado. Pelo menos não perdi a visão.Foi melhor me afastar, melhor para evitar desavenças entre meu pai e qualquer pessoa que olhasse demais para mim.A visita do meu irmão atrapalhou minha pesqui
Adam SevenTempos atuais...— O senhor Dubois ligou para avisar que está trazendo a filha. Por que está fazendo isso, meu menino?Deixo as coisas do experimento de lado e olho para ela. Sabia que ela questionaria meu ato, afinal tudo nessa casa acaba no conhecimento dessa senhora, mesmo que eu tenha ordenado a outro empregado que arrumasse um dos quartos para Bela.— Só porque eu posso, madame Pilar.Ela sorri. Quando faz isso seu rosto todo se modifica, deixando-a com mais rugas, ainda assim ela quase sempre está sorrindo. É estranho. Não vejo toda essa graça nas coisas simples que ela enxerga.— Sei que está mentindo. Você sempre tem um propósito em seu coração doce.Reviro os olhos. Essa mulher baixinha e enrugada, que eu não me lembro de ter visto sem um avental, me faz parecer um menino levado.— Eu não sou doce.— Não é? Então por que dá ouvidos a uma velha como eu?— Me pergunto isso sempre.A risada dela enche meu corpo de energia. A mulher é espontânea em tudo que faz, nunca
Bela Dubois— Me acompanhe.Sei que não é a primeira vez que ele diz isso, posso ver sua expressão impaciente. Mesmo que ele esteja na porta e eu ainda parada na frente da casa.Continuo imóvel.— Não.— Como se você tivesse escolha. — Não sei porque olhei para o rosto dele, posso tê-lo conhecido hoje, mas sei que o sorriso que entorta sua boca para o lado é indicio de crueldade, sinto em meus ossos. E confirmo com sua próxima ação. — Fifi! — Ele assobia e vejo o cão imenso vindo em minha direção, enquanto e ele vira as costas e entra na casa.— Maldito! — resmungo e corro atrás dele. A senhora que vi o desafiando parece ser uma boa pessoa, mas tive medo de contar com isso e acabar toda marcada de mordidas de cachorro.Quando entro na casa, me surpreendo, mesmo podendo ver muito dela por fora. É tudo tão organizado, mesclando tons de madeira escura e preto.O sofá convida a sentar, mas não me arrisco. Melhor enfrentar a fera de pé.— O que você quer de mim?— O que quero de você? — el
Bela Dubois— Pronto. Quando posso sair dessa casa? — digo entregando o último papel assinado.— Primeiro vamos conhecer seu quarto. Não está curiosa?— Você disse que é um porão. Não deve ser grande coisa, e eu não ligo desde que possa ser livre.— Me siga. — O homem levanta em todos os seus músculos e altura. É realmente lindo. Se fosse em outra ocasião...Não pense besteiras, Bela Dubois. Me recrimino.Também levanto e o sigo escada acima. Enquanto uma voz chata questiona: Agora que assinou os papéis é Bela Seven.Balanço a cabeça para espantar o pensamento inconveniente e Adam me olha com a sobrancelha arqueada. Deve me achar louca. Mas foda-se!Ele me leva até o fim do corredor e abre uma porta que mostra uma escada, exatamente como nos filmes de terror em que a gente grita para o personagem não descer. O porão é estranho, se desce para ele do segundo andar.Por um momento a idiota aqui confundiu porão com sótão. Imaginei algo mais iluminado. Que idiota!— Que lugar é esse? — per
Adam SevenBela aceitou mais rápido que eu esperava. Ela nem mesmo leu os papéis que assinou. Se tivesse lido, tenho dúvidas que aceitaria.Passei tudo para que meu advogado providencie a certidão de casamento, e assim que ele saiu madame Pilar parou na minha frente com as mãos na cintura.Um minuto inteiro se passou sem que falasse nada, apenas me olhava.— O que foi? Já devia estar curtindo suas férias.— O que o senhor pretende com aquela menina? Sabe muito bem que ela não dá conta de manter essa casa limpa e organizada sozinha. Tem nove quartos aqui, meu filho.— Mas apenas um é usado.— Você entendeu o que eu quis dizer.Bufo.— Achei que eu não era um monstro aos seus olhos.— E espero que continue assim, porque se eu souber que machucou essa menina, ficarei extremamente magoada com você.— Eu não vou machucar essa garota.— Existe muitas formas de machucar, e nem todas são físicas.— Mulher, some daqui! — Me levanto e seguro seu braço gentilmente. — Não vou machucar essa menina
Bela DuboisDeu tudo errado.Jogo o pano enxarcado no chão e caminho para longe da bagunça que fiz.— Que porra! — resmungo. Não quero falar alto e levar outra bronca.Eu demorei quase uma hora só para achar o local onde ficava vassoura e as coisas de limpeza. O acordo de fazer limpeza pela minha liberdade estava mais que bom para mim, afinal conheço os empregados lá de casa e sei que isso é um trabalho como qualquer outro. Não sei o que meu pai achou que aconteceria quando me jogou aqui, mas farei com que se arrependa, vou fazer dar certo.Pego uma vassoura e começo a dançar pela casa antes de começar o trabalho em si. Canto e danço devagar.Mesmo com raiva do meu pai é a música que ele cantava quando estava em casa que me vem à mente. Um sonho a dois, de Roupa Nova. Ele dizia que era a música favorita da mamãe, então eu quis que fosse a minha também.Ao fim da música, a vassoura volta ao seu uso padrão. Mãos à obra.Achei que estava arrasando quando joguei água no chão e comecei a e