O amor é uma flor amarela
Encontrando liberdade na paixão.
Bela Dubois
Tudo saiu melhor do que eu esperava. Jamais imaginei que Cinderela encontraria o amor no baile dos Seven. Fico tão feliz por ela. Meu único objetivo era fugir do casamento e dar a chance dela mesma buscar sua liberdade. Afinal, ela ficaria diante de homens poderosos. Um deles teria que ajudar... E como ajudou.
Suspiro me lembrando.
Minha amiga brilhava enquanto estávamos passeando pelo shopping e escolhendo livros.
Não vejo a hora de chegar em casa e ler os que são da falecida Seven. Pelo quanto minha amiga falou deles, deve ser incrível.
Acaricio a capa de um.
Quando chegar em casa vou mandar mensagens com as atualizações das minhas leituras. Queria ter redes sociais, mas é melhor não. Vou manter esse celular muito bem escondido do meu pai. Depois que Cinderela tomou meu lugar, ele anda muito insuportável.
Por falar nele...
— Pai, onde estamos indo? — pergunto quando o carro para diante de um enorme portão de ferro escuro.
Posso não ser a mais viajada das criaturas, mas não lembro de precisar passar por nenhum portão para chegar até o castelo dos Seven, além do óbvio portão do castelo.
Ele só responde depois que o portão se abre e o carro entra conosco.
— Tenho que entregar algo aqui. Vai ser rápido.
— Ah sim — respondo sem dar muita atenção a ele.
Que lugar mais incrível. É o mais próximo de uma floresta que já cheguei.
Sorrio ao ver um pássaro colorido pular de um galho a outro.
Deve ser um sonho morar aqui.
— Esse lugar... — começo a dizer.
— É propriedade dos Seven. — Ele completa.
— Claro.
Só mesmo essa família para ter algo tão exótico.
Logo o carro para diante de uma casa deslumbrante onde se destaca preto e vidro.
Se eu morasse aqui certamente já teria enfiado a cara no vidro. Chega a parecer que não tem paredes externas em algumas partes.
— O senhor quer que eu espere no carro?
— Não. Você desce comigo.
Olho as coisas com vontade de não soltar as sacolas, mas as deixo. Meu celular vai na bota, como uma encomenda para um prisioneiro. Eu sei que ao chegar em casa ele vai olhar tudo para ver se é improprio. Eu não tenho um pai, tenho um carcereiro.
Saio do carro e espero perto da escada central enquanto ele conversa com o motorista.
— Bela...
Quando ele me chama, automaticamente estendo a mão para aparar o que ele j**a em minha direção.
É o meu diário.
— O que... Pai? — quando vou questionar o que ele faz com meu diário, meu pai está batendo a porta do carro que simplesmente faz a volta para ir embora... sem mim.
Fico parada diante dessa casa estranha, vendo o carro ir embora com meu pai.
Ele vai voltar. É só um castigo pelo que fiz com Cinderela. Só pode ser.
Levo meu olhar ao diário e vejo uma fita colada com as palavras: Leia a carta.
Abro o diário a procura da carta, indignada por meu pai ter invadido minha intimidade até em meu diário.
Leio a carta sentindo o vento do Rio de Janeiro se tornar gelado contra minha pele, ainda que a cada linha eu sue tanto que meu vestido amarelo começa a grudar na pele.
Sinto tontura quando termino de ler e descubro que meu pai me entregou como uma mercadoria para pagar a m*****a dívida que ele acha ter com os Seven.
— Calma, Bela! Você é uma pessoa. Só precisa... Meu Deus! — levo a mão ao peito para conter meu coração disparado diante da imagem que vejo quando olho em direção a entrada.
Há um homem, um homem enorme de jeans rasgado e uma camisa preta quem mal cabe em seus músculos, com uma máscara branca e segurando uma faca imensa.
Minhas pernas travam. Eu tenho duas opções: desmaiar ou correr.
Então... acorda pernas!
Não penso duas vezes, corro pelo mesmo caminho pelo qual o carro passou. Não olho para trás. Sempre que alguém olha para trás nos filmes acabam caindo e sendo esfaqueada.
Na carta dizia para eu fazer o que o dono da casa ordenar.
Não acredito que meu pai me mandou mesmo para um maldito sacrifício humano.
Estou quase chegando no portão quando travo diante de uma fera imensa.
Isso não é um cão. É um monstro. O doberman me olha como se eu fosse uma suculenta refeição. E finalmente vem em minha direção, latindo e correndo.
Olho para trás e o homem ainda vem caminhando lentamente com sua máscara e a faca brilhando.
Qual dói mais, morrer atacada por um cão imenso ou esfaqueada por um louco imenso?
Eles estão chegando perto.
Isso deve ser um pesadelo.
Afinal, por que o meu pai me entregaria a morte se tudo que ele quer é pagar a dívida para quem me salvou?
Não faz sentido.
Você é inteligente, Bela. Pense.
Dou meia volta e corro em direção ao homem.
Com ele é possível barganhar. Com o cão não.
O cão e eu chegamos praticamente juntos e eu simplesmente me escondo atrás dos músculos do gigante com a faca, que assobia e o cachorro senta na sua frente.
— Fifi, vai! — ele aponta e o cão corre como se eu não existisse mais.
Fifi? Só pode estar de brincadeira.
— Agora, você... — fala e se vira na minha direção, ou pelo menos tenta, porque eu não solto sua camisa. Não sei bem o que pretendo, mas não solto. — Garota, me larga.
— Não.
— O cão já foi.
— Não.
— Tira essa garota de cima de mim.
Não entendo para quem ele fala, até que duas pessoas se aproximam e agarram meus braços. Na luta para me soltarem, caio no chão.
— Agora nós dois vamos ter uma conversa.
Engulo em seco olhando a faca.
— Se vai me matar, mata de uma vez. — O desafio.
Se faz quase um minuto de silêncio até que ele cai em uma gargalhada rouca.
Nessa hora aparece uma mulher baixinha e rechonchuda.
— Eu falei para não vir assim — fala tirando a faca da mão dele. — Está assustando a menina.
Ele continua rindo enquanto tira a máscara e releva o que só pode ser o rosto mais lindo do mundo. Cabelos castanhos curtos, bagunçados pela máscara que puxou para cima, olhos de uma cor que não sei definir, como se ele estivesse indeciso entre castanho, vermelho ou dourado, e seus traços... tudo perfeito, nariz, boca, queixo... Tudo tão másculo.
Foda-se as cicatrizes. É preciso bem mais que isso para deixar esse homem feio. O material do qual foi feito é antierros.
— Eu não vou te matar, garota, mas posso garantir que talvez chegue a desejar isso.
E o encanto evapora diante do gelo em suas palavras.
Meu pai me trouxe para o inferno? É aqui a porta para o meu inferno?
Adam SevenAnos atrás...— Droga! Onde está o livro?Procuro em toda parte na biblioteca, até desistir e ir até a sala de segurança ver as imagens. Alguém tirou do lugar onde coloquei. Não estou louco.É uma surpresa ver o empregado novo colocando o livro dentro do casaco e saindo do castelo com ele.Ainda bem que as câmeras já estão instaladas, ou nunca saberíamos. Estamos há poucos meses aqui nesse castelo.— Vem comigo — chamo um dos seguranças.— Não é melhor avisar seu pai? — ele responde.— Achei que ele pagava vocês para resolver essas coisas. Se não dão conta de um ladrãozinho barato, não podem trabalhar para os Seven.— Vamos pegá-lo, senhor. — O homem literalmente bate continência.Senhor?É engraçado um homem imenso chamar uma criança de dez anos de senhor. Mas não tenho tempo para pensar nisso. Esse livro foi presente da minha mãe e é muito importante para mim.Vamos para o carro e o segurança dirige. Ele segue para o endereço que o livro aponta. É um objeto raro, obvio qu
Adam SevenAcordo com o barulho ao meu redor. Pelo que posso ouvir, meu pai está decidido a matar alguém.— Pai — chamo.Imediatamente se faz um silêncio pesado na sala. Até parece que imaginei as vozes.— Meu filho. — Me viro para o lado e o vejo, assim como minha mãe ao seu lado e meus irmãos dormindo em um sofá. Até mesmo o pequeno Florian.Mamãe leva a mão para tocar meu rosto, mas recolhe. Isso me faz levar a mão ao meu próprio rosto. Está enfaixado.— O que houve? E a bebê? E a mãe? — questiono me agitando.— Calma. Não pode se agitar assim. A mulher morreu. A criança, o pai e o segurança de merda estão no castelo. Ainda não decidi o que fazer com eles. Você se cortou com as porcarias que voaram do carro na explosão e nas costas quando caiu. Se queimou em alguns lugares, mas os cortes são mais graves.Droga! Eu queria ter salvado a mulher.— Não precisa fazer nada se ele devolver o livro.— Meu filho, você quase morreu.— Eu sei, mas foi escolha minha. Eu sabia dos riscos quando
Bela DuboisAlguns anos após a explosão...— Tia May, por que só podemos ir no postinho? Eu vi um monte de coisa da janela. Quero ir naquele chospin. — Reclamo outra vez. Não aguento mais ficar em casa o tempo todo.Minha tia ri. — Você quer dizer shopping?— É.— Seu pai não gosta que você saia. Mas fique tranquila que isso vai mudar quando você for para a escolinha semana que vem. Pulo na cama, empolgada. Meus cabelos balançam para cima e para baixo.— Vou brincar com outras crianças.— Vai.— Vou aprender a ler igual a tia.— Vai sim.— Semana que vem tá demorando. — Caio sentada no colchão.— Paciência, querida. Tudo tem o tempo certo de ser.Não vejo por que tenho que esperar. Faço bico e fico emburrada, até tia May pegar o livro de contos de fadas. É sua arma secreta para me deixar feliz.Me deito ao lado dela e fico enrolando seu cabelo em meus dedos enquanto ela lê vários, até que acabo dormindo.*No dia seguinte, papai também não vem para casa e nem nos próximos. Ele pass
Adam SevenUm tempo antes de Bela chegar a mansão...— A que devo essa visita, irmão? — pergunto enquanto Henry se senta no sofá e cruza as pernas em sua atitude de dono do lugar.O imito.Com o passar dos anos, convenci o meu pai a me deixar viver sozinho. Só mantenho alguns empregados e me divirto nas noites, geralmente com prostitutas ou em baladas liberais, onde posso usar máscaras sem ser questionado, onde posso ser cruel sem ser questionado. Não são todas as mulheres que gostam de um sexo mais duro.Para mim eram só feridas em cicatrização, mas para algumas pessoas eu me tornei assustador. Ainda mais que com o passar dos anos, meu corpo decidiu que eu seria o maior dos meus irmãos, e meus olhos foram afetados com a explosão, não tem mais o cinza dos Seven, agora é um dourado meio avermelhado. Pelo menos não perdi a visão.Foi melhor me afastar, melhor para evitar desavenças entre meu pai e qualquer pessoa que olhasse demais para mim.A visita do meu irmão atrapalhou minha pesqui
Adam SevenTempos atuais...— O senhor Dubois ligou para avisar que está trazendo a filha. Por que está fazendo isso, meu menino?Deixo as coisas do experimento de lado e olho para ela. Sabia que ela questionaria meu ato, afinal tudo nessa casa acaba no conhecimento dessa senhora, mesmo que eu tenha ordenado a outro empregado que arrumasse um dos quartos para Bela.— Só porque eu posso, madame Pilar.Ela sorri. Quando faz isso seu rosto todo se modifica, deixando-a com mais rugas, ainda assim ela quase sempre está sorrindo. É estranho. Não vejo toda essa graça nas coisas simples que ela enxerga.— Sei que está mentindo. Você sempre tem um propósito em seu coração doce.Reviro os olhos. Essa mulher baixinha e enrugada, que eu não me lembro de ter visto sem um avental, me faz parecer um menino levado.— Eu não sou doce.— Não é? Então por que dá ouvidos a uma velha como eu?— Me pergunto isso sempre.A risada dela enche meu corpo de energia. A mulher é espontânea em tudo que faz, nunca
Bela Dubois— Me acompanhe.Sei que não é a primeira vez que ele diz isso, posso ver sua expressão impaciente. Mesmo que ele esteja na porta e eu ainda parada na frente da casa.Continuo imóvel.— Não.— Como se você tivesse escolha. — Não sei porque olhei para o rosto dele, posso tê-lo conhecido hoje, mas sei que o sorriso que entorta sua boca para o lado é indicio de crueldade, sinto em meus ossos. E confirmo com sua próxima ação. — Fifi! — Ele assobia e vejo o cão imenso vindo em minha direção, enquanto e ele vira as costas e entra na casa.— Maldito! — resmungo e corro atrás dele. A senhora que vi o desafiando parece ser uma boa pessoa, mas tive medo de contar com isso e acabar toda marcada de mordidas de cachorro.Quando entro na casa, me surpreendo, mesmo podendo ver muito dela por fora. É tudo tão organizado, mesclando tons de madeira escura e preto.O sofá convida a sentar, mas não me arrisco. Melhor enfrentar a fera de pé.— O que você quer de mim?— O que quero de você? — el
Bela Dubois— Pronto. Quando posso sair dessa casa? — digo entregando o último papel assinado.— Primeiro vamos conhecer seu quarto. Não está curiosa?— Você disse que é um porão. Não deve ser grande coisa, e eu não ligo desde que possa ser livre.— Me siga. — O homem levanta em todos os seus músculos e altura. É realmente lindo. Se fosse em outra ocasião...Não pense besteiras, Bela Dubois. Me recrimino.Também levanto e o sigo escada acima. Enquanto uma voz chata questiona: Agora que assinou os papéis é Bela Seven.Balanço a cabeça para espantar o pensamento inconveniente e Adam me olha com a sobrancelha arqueada. Deve me achar louca. Mas foda-se!Ele me leva até o fim do corredor e abre uma porta que mostra uma escada, exatamente como nos filmes de terror em que a gente grita para o personagem não descer. O porão é estranho, se desce para ele do segundo andar.Por um momento a idiota aqui confundiu porão com sótão. Imaginei algo mais iluminado. Que idiota!— Que lugar é esse? — per
Adam SevenBela aceitou mais rápido que eu esperava. Ela nem mesmo leu os papéis que assinou. Se tivesse lido, tenho dúvidas que aceitaria.Passei tudo para que meu advogado providencie a certidão de casamento, e assim que ele saiu madame Pilar parou na minha frente com as mãos na cintura.Um minuto inteiro se passou sem que falasse nada, apenas me olhava.— O que foi? Já devia estar curtindo suas férias.— O que o senhor pretende com aquela menina? Sabe muito bem que ela não dá conta de manter essa casa limpa e organizada sozinha. Tem nove quartos aqui, meu filho.— Mas apenas um é usado.— Você entendeu o que eu quis dizer.Bufo.— Achei que eu não era um monstro aos seus olhos.— E espero que continue assim, porque se eu souber que machucou essa menina, ficarei extremamente magoada com você.— Eu não vou machucar essa garota.— Existe muitas formas de machucar, e nem todas são físicas.— Mulher, some daqui! — Me levanto e seguro seu braço gentilmente. — Não vou machucar essa menina