Adam Seven
Um tempo antes de Bela chegar a mansão...
— A que devo essa visita, irmão? — pergunto enquanto Henry se senta no sofá e cruza as pernas em sua atitude de dono do lugar.
O imito.
Com o passar dos anos, convenci o meu pai a me deixar viver sozinho. Só mantenho alguns empregados e me divirto nas noites, geralmente com prostitutas ou em baladas liberais, onde posso usar máscaras sem ser questionado, onde posso ser cruel sem ser questionado. Não são todas as mulheres que gostam de um sexo mais duro.
Para mim eram só feridas em cicatrização, mas para algumas pessoas eu me tornei assustador. Ainda mais que com o passar dos anos, meu corpo decidiu que eu seria o maior dos meus irmãos, e meus olhos foram afetados com a explosão, não tem mais o cinza dos Seven, agora é um dourado meio avermelhado. Pelo menos não perdi a visão.
Foi melhor me afastar, melhor para evitar desavenças entre meu pai e qualquer pessoa que olhasse demais para mim.
A visita do meu irmão atrapalhou minha pesquisa para uma nova droga. Quero inovar no mercado.
— Sabia que nosso pai e o doido do Dubois querem que eu me case com a Bela? — Ele questiona e não espera resposta. — Papai fez uma reunião para decidir quem de nós vai casar, eu fui o escolhido e o velho do nada ofereceu a filha.
Suspiro. Esse velho não para de surpreender. A dificuldade que tenho de manter ele longe da minha casa é tremenda. Agora isso.
Apoios os braços no encosto do sofá, encarando meu irmão.
— E ela quer casar com você?
— Duvido. Nem nos conhecemos. O que pretende fazer?
— Eu não tenho nada com isso. Se deixei aquele homem no castelo é porque ele estava me irritando com sua devoção louca.
Me lembro que vivia fugindo dele quando criança, até meus pés o cara queria lavar. Por sorte ordenei que ficasse ao dispor do meu pai e meus irmãos, e deu certo.
Henry sorri. Aquele sorriso que sugere o desejo de aprontar.
— Então, eu vou me casar com ela e me divertir.
— Você vai casar com ela, se ela quiser. Aquela garota não deve nada a nossa família.
Ele fica sério.
— Ela deve a você.
— Não. Eu a salvei porque quis. Irmão, eu te amo, mas se magoar uma pessoa inocente por sentimentos mesquinhos terei que usar seu pau como ingrediente de nossa próxima droga. Estou mesmo querendo algo inovador.
— Nossa! — Ele levanta os braços em rendição. — Você é mais assustador que o Raoul.
— Se ele ouvir isso, você pode acabar sem um dedo.
— Ou dois.
Rimos. E a empregada aparece com café a alguns petiscos.
— Aff! Devia me oferecer uma bebida de verdade.
— O bar está ali. Eu prefiro bebidas sem álcool, principalmente um café forte e sem açúcar, mas você sabe que tem quase de tudo ali para as visitas indesejadas.
Ele dispensa o café e me acompanha com um uísque.
Não vou brigar com meu irmão por ele se casar com Bela, desde que seja escolha dela e não por uma dívida imaginaria. Se alguém me deve alguma coisa é aquele velho ladrão, porém já estou cansado das suas tentativas de pagar.
Nos meus momentos de tédio, eu acompanho a vida de prisioneira da Bela. Talvez esteja na hora de libertá-la, mesmo que seja através de um casamento.
*
Henry vai embora e notícias do baile que ele vai fazer se espalham. Soube que ele encomendou roupas e sapatos especiais para Bela. Ele pretende conhecê-la pessoalmente no baile.
Até tive certa curiosidade, mas decidi não aparecer. É um baile de máscaras, ideal. Algo que foi escolhido para me dar a chance de participar, o que não me convenceu por um sentimento egoísta de que a noiva deveria ser minha. É uma bobagem, eu sei, porém é uma bobagem que não consigo evitar.
No dia seguinte, adivinha quem aparece na minha porta...
— O que faz aqui, senhor Dubois?
— Sinto muito pelo que minha filha fez.
— E o que ela fez?
Não faço ideia de como acabou o baile de apresentação da noiva de Henry. E nem esperava que a notícia viria assim.
— Aquela ingrata colocou outra pessoa no lugar dela no baile. — Ele ajoelha. — Sinto muito mesmo, senhor, mas vou resolver isso.
Oh homem que gosta de ajoelhar.
— Não há o que resolver. Sua filha vai se casar com quem ela quiser.
— O senhor é um homem justo. Bela seria uma sortuda tendo o senhor como marido.
Reviro os olhos.
— Sim, ela seria. Qualquer mulher que eu escolha será. — Balanço a mão na direção da saída. — Vá, Maurice. Olhar para você estraga meu dia.
— Sim senhor.
E ele se vai.
No mesmo dia recebo uma ligação do meu pai. Depois dos cumprimentos e de perguntar sobre minha vida, ele fala:
— Parece que a Bela mudou de noivo. Não sabia que queria se casar com ela, meu filho.
E nem eu. Nunca sequer mencionei isso.
— Como assim? Pai, estamos comercializando mulheres agora? Eu não quero uma noiva como nos séculos passados.
— Agora sou eu que não estou entendendo. Soube sobre a oferta do Dubois e que você aceitou.
Passo a mão no rosto.
— Estou começando a ter certeza que devia ter matado esse velho.
— Vou desfazer tudo. Esquece isso.
— Não, pai. Eu vou me casar com ela. Talvez assim aquele traste se sinta livre da dívida.
É o que falo para ele, mas na verdade tenho outros planos. Pois pensando bem, eu é que estou em dívida com essa garota que não pode ter uma vida normal por minha causa.
Daria a liberdade a ela, em troca de me divertir um pouco. Quem sabe brincar de atuar no conto de fadas que originou seu nome... Claro que sem o romance. Me apaixonar por ela está fora de cogitação.
— Pode dizer ao Maurice que traga sua filha — digo encerrando o assunto.
Adam SevenTempos atuais...— O senhor Dubois ligou para avisar que está trazendo a filha. Por que está fazendo isso, meu menino?Deixo as coisas do experimento de lado e olho para ela. Sabia que ela questionaria meu ato, afinal tudo nessa casa acaba no conhecimento dessa senhora, mesmo que eu tenha ordenado a outro empregado que arrumasse um dos quartos para Bela.— Só porque eu posso, madame Pilar.Ela sorri. Quando faz isso seu rosto todo se modifica, deixando-a com mais rugas, ainda assim ela quase sempre está sorrindo. É estranho. Não vejo toda essa graça nas coisas simples que ela enxerga.— Sei que está mentindo. Você sempre tem um propósito em seu coração doce.Reviro os olhos. Essa mulher baixinha e enrugada, que eu não me lembro de ter visto sem um avental, me faz parecer um menino levado.— Eu não sou doce.— Não é? Então por que dá ouvidos a uma velha como eu?— Me pergunto isso sempre.A risada dela enche meu corpo de energia. A mulher é espontânea em tudo que faz, nunca
Bela Dubois— Me acompanhe.Sei que não é a primeira vez que ele diz isso, posso ver sua expressão impaciente. Mesmo que ele esteja na porta e eu ainda parada na frente da casa.Continuo imóvel.— Não.— Como se você tivesse escolha. — Não sei porque olhei para o rosto dele, posso tê-lo conhecido hoje, mas sei que o sorriso que entorta sua boca para o lado é indicio de crueldade, sinto em meus ossos. E confirmo com sua próxima ação. — Fifi! — Ele assobia e vejo o cão imenso vindo em minha direção, enquanto e ele vira as costas e entra na casa.— Maldito! — resmungo e corro atrás dele. A senhora que vi o desafiando parece ser uma boa pessoa, mas tive medo de contar com isso e acabar toda marcada de mordidas de cachorro.Quando entro na casa, me surpreendo, mesmo podendo ver muito dela por fora. É tudo tão organizado, mesclando tons de madeira escura e preto.O sofá convida a sentar, mas não me arrisco. Melhor enfrentar a fera de pé.— O que você quer de mim?— O que quero de você? — el
Bela Dubois— Pronto. Quando posso sair dessa casa? — digo entregando o último papel assinado.— Primeiro vamos conhecer seu quarto. Não está curiosa?— Você disse que é um porão. Não deve ser grande coisa, e eu não ligo desde que possa ser livre.— Me siga. — O homem levanta em todos os seus músculos e altura. É realmente lindo. Se fosse em outra ocasião...Não pense besteiras, Bela Dubois. Me recrimino.Também levanto e o sigo escada acima. Enquanto uma voz chata questiona: Agora que assinou os papéis é Bela Seven.Balanço a cabeça para espantar o pensamento inconveniente e Adam me olha com a sobrancelha arqueada. Deve me achar louca. Mas foda-se!Ele me leva até o fim do corredor e abre uma porta que mostra uma escada, exatamente como nos filmes de terror em que a gente grita para o personagem não descer. O porão é estranho, se desce para ele do segundo andar.Por um momento a idiota aqui confundiu porão com sótão. Imaginei algo mais iluminado. Que idiota!— Que lugar é esse? — per
Adam SevenBela aceitou mais rápido que eu esperava. Ela nem mesmo leu os papéis que assinou. Se tivesse lido, tenho dúvidas que aceitaria.Passei tudo para que meu advogado providencie a certidão de casamento, e assim que ele saiu madame Pilar parou na minha frente com as mãos na cintura.Um minuto inteiro se passou sem que falasse nada, apenas me olhava.— O que foi? Já devia estar curtindo suas férias.— O que o senhor pretende com aquela menina? Sabe muito bem que ela não dá conta de manter essa casa limpa e organizada sozinha. Tem nove quartos aqui, meu filho.— Mas apenas um é usado.— Você entendeu o que eu quis dizer.Bufo.— Achei que eu não era um monstro aos seus olhos.— E espero que continue assim, porque se eu souber que machucou essa menina, ficarei extremamente magoada com você.— Eu não vou machucar essa garota.— Existe muitas formas de machucar, e nem todas são físicas.— Mulher, some daqui! — Me levanto e seguro seu braço gentilmente. — Não vou machucar essa menina
Bela DuboisDeu tudo errado.Jogo o pano enxarcado no chão e caminho para longe da bagunça que fiz.— Que porra! — resmungo. Não quero falar alto e levar outra bronca.Eu demorei quase uma hora só para achar o local onde ficava vassoura e as coisas de limpeza. O acordo de fazer limpeza pela minha liberdade estava mais que bom para mim, afinal conheço os empregados lá de casa e sei que isso é um trabalho como qualquer outro. Não sei o que meu pai achou que aconteceria quando me jogou aqui, mas farei com que se arrependa, vou fazer dar certo.Pego uma vassoura e começo a dançar pela casa antes de começar o trabalho em si. Canto e danço devagar.Mesmo com raiva do meu pai é a música que ele cantava quando estava em casa que me vem à mente. Um sonho a dois, de Roupa Nova. Ele dizia que era a música favorita da mamãe, então eu quis que fosse a minha também.Ao fim da música, a vassoura volta ao seu uso padrão. Mãos à obra.Achei que estava arrasando quando joguei água no chão e comecei a e
O amor é uma flor amarela Encontrando liberdade na paixão.Bela DuboisTudo saiu melhor do que eu esperava. Jamais imaginei que Cinderela encontraria o amor no baile dos Seven. Fico tão feliz por ela. Meu único objetivo era fugir do casamento e dar a chance dela mesma buscar sua liberdade. Afinal, ela ficaria diante de homens poderosos. Um deles teria que ajudar... E como ajudou.Suspiro me lembrando.Minha amiga brilhava enquanto estávamos passeando pelo shopping e escolhendo livros.Não vejo a hora de chegar em casa e ler os que são da falecida Seven. Pelo quanto minha amiga falou deles, deve ser incrível.Acaricio a capa de um.Quando chegar em casa vou mandar mensagens com as atualizações das minhas leituras. Queria ter redes sociais, mas é melhor não. Vou manter esse celular muito bem escondido do meu pai. Depois que Cinderela tomou meu lugar, ele anda muito insuportável.Por falar nele...— Pai, onde estamos indo? — pergunto quando o carro para diante de um enorme portão de fer
Adam SevenAnos atrás...— Droga! Onde está o livro?Procuro em toda parte na biblioteca, até desistir e ir até a sala de segurança ver as imagens. Alguém tirou do lugar onde coloquei. Não estou louco.É uma surpresa ver o empregado novo colocando o livro dentro do casaco e saindo do castelo com ele.Ainda bem que as câmeras já estão instaladas, ou nunca saberíamos. Estamos há poucos meses aqui nesse castelo.— Vem comigo — chamo um dos seguranças.— Não é melhor avisar seu pai? — ele responde.— Achei que ele pagava vocês para resolver essas coisas. Se não dão conta de um ladrãozinho barato, não podem trabalhar para os Seven.— Vamos pegá-lo, senhor. — O homem literalmente bate continência.Senhor?É engraçado um homem imenso chamar uma criança de dez anos de senhor. Mas não tenho tempo para pensar nisso. Esse livro foi presente da minha mãe e é muito importante para mim.Vamos para o carro e o segurança dirige. Ele segue para o endereço que o livro aponta. É um objeto raro, obvio qu
Adam SevenAcordo com o barulho ao meu redor. Pelo que posso ouvir, meu pai está decidido a matar alguém.— Pai — chamo.Imediatamente se faz um silêncio pesado na sala. Até parece que imaginei as vozes.— Meu filho. — Me viro para o lado e o vejo, assim como minha mãe ao seu lado e meus irmãos dormindo em um sofá. Até mesmo o pequeno Florian.Mamãe leva a mão para tocar meu rosto, mas recolhe. Isso me faz levar a mão ao meu próprio rosto. Está enfaixado.— O que houve? E a bebê? E a mãe? — questiono me agitando.— Calma. Não pode se agitar assim. A mulher morreu. A criança, o pai e o segurança de merda estão no castelo. Ainda não decidi o que fazer com eles. Você se cortou com as porcarias que voaram do carro na explosão e nas costas quando caiu. Se queimou em alguns lugares, mas os cortes são mais graves.Droga! Eu queria ter salvado a mulher.— Não precisa fazer nada se ele devolver o livro.— Meu filho, você quase morreu.— Eu sei, mas foi escolha minha. Eu sabia dos riscos quando