Capítulo 4

Adam Seven

Um tempo antes de Bela chegar a mansão...

— A que devo essa visita, irmão? — pergunto enquanto Henry se senta no sofá e cruza as pernas em sua atitude de dono do lugar.

O imito.

Com o passar dos anos, convenci o meu pai a me deixar viver sozinho. Só mantenho alguns empregados e me divirto nas noites, geralmente com prostitutas ou em baladas liberais, onde posso usar máscaras sem ser questionado, onde posso ser cruel sem ser questionado. Não são todas as mulheres que gostam de um sexo mais duro.

Para mim eram só feridas em cicatrização, mas para algumas pessoas eu me tornei assustador. Ainda mais que com o passar dos anos, meu corpo decidiu que eu seria o maior dos meus irmãos, e meus olhos foram afetados com a explosão, não tem mais o cinza dos Seven, agora é um dourado meio avermelhado. Pelo menos não perdi a visão.

Foi melhor me afastar, melhor para evitar desavenças entre meu pai e qualquer pessoa que olhasse demais para mim.

A visita do meu irmão atrapalhou minha pesquisa para uma nova droga. Quero inovar no mercado.

— Sabia que nosso pai e o doido do Dubois querem que eu me case com a Bela? — Ele questiona e não espera resposta. — Papai fez uma reunião para decidir quem de nós vai casar, eu fui o escolhido e o velho do nada ofereceu a filha.

Suspiro. Esse velho não para de surpreender. A dificuldade que tenho de manter ele longe da minha casa é tremenda. Agora isso.

Apoios os braços no encosto do sofá, encarando meu irmão.

— E ela quer casar com você?

— Duvido. Nem nos conhecemos. O que pretende fazer?

— Eu não tenho nada com isso. Se deixei aquele homem no castelo é porque ele estava me irritando com sua devoção louca.

Me lembro que vivia fugindo dele quando criança, até meus pés o cara queria lavar. Por sorte ordenei que ficasse ao dispor do meu pai e meus irmãos, e deu certo.

Henry sorri. Aquele sorriso que sugere o desejo de aprontar.

— Então, eu vou me casar com ela e me divertir.

— Você vai casar com ela, se ela quiser. Aquela garota não deve nada a nossa família.

Ele fica sério.

— Ela deve a você.

— Não. Eu a salvei porque quis. Irmão, eu te amo, mas se magoar uma pessoa inocente por sentimentos mesquinhos terei que usar seu pau como ingrediente de nossa próxima droga. Estou mesmo querendo algo inovador.

— Nossa! — Ele levanta os braços em rendição. — Você é mais assustador que o Raoul.

— Se ele ouvir isso, você pode acabar sem um dedo.

— Ou dois.

Rimos. E a empregada aparece com café a alguns petiscos.

— Aff! Devia me oferecer uma bebida de verdade.

— O bar está ali. Eu prefiro bebidas sem álcool, principalmente um café forte e sem açúcar, mas você sabe que tem quase de tudo ali para as visitas indesejadas.

Ele dispensa o café e me acompanha com um uísque.

Não vou brigar com meu irmão por ele se casar com Bela, desde que seja escolha dela e não por uma dívida imaginaria. Se alguém me deve alguma coisa é aquele velho ladrão, porém já estou cansado das suas tentativas de pagar.

Nos meus momentos de tédio, eu acompanho a vida de prisioneira da Bela. Talvez esteja na hora de libertá-la, mesmo que seja através de um casamento.

*

Henry vai embora e notícias do baile que ele vai fazer se espalham. Soube que ele encomendou roupas e sapatos especiais para Bela. Ele pretende conhecê-la pessoalmente no baile.

Até tive certa curiosidade, mas decidi não aparecer. É um baile de máscaras, ideal. Algo que foi escolhido para me dar a chance de participar, o que não me convenceu por um sentimento egoísta de que a noiva deveria ser minha. É uma bobagem, eu sei, porém é uma bobagem que não consigo evitar.

No dia seguinte, adivinha quem aparece na minha porta...

— O que faz aqui, senhor Dubois?

— Sinto muito pelo que minha filha fez.

— E o que ela fez?

Não faço ideia de como acabou o baile de apresentação da noiva de Henry. E nem esperava que a notícia viria assim.

— Aquela ingrata colocou outra pessoa no lugar dela no baile. — Ele ajoelha. — Sinto muito mesmo, senhor, mas vou resolver isso.

Oh homem que gosta de ajoelhar.

— Não há o que resolver. Sua filha vai se casar com quem ela quiser.

— O senhor é um homem justo. Bela seria uma sortuda tendo o senhor como marido.

Reviro os olhos.

— Sim, ela seria. Qualquer mulher que eu escolha será. — Balanço a mão na direção da saída. — Vá, Maurice. Olhar para você estraga meu dia.

— Sim senhor.

E ele se vai.

No mesmo dia recebo uma ligação do meu pai. Depois dos cumprimentos e de perguntar sobre minha vida, ele fala:

— Parece que a Bela mudou de noivo. Não sabia que queria se casar com ela, meu filho.

E nem eu. Nunca sequer mencionei isso.

— Como assim? Pai, estamos comercializando mulheres agora? Eu não quero uma noiva como nos séculos passados.

— Agora sou eu que não estou entendendo. Soube sobre a oferta do Dubois e que você aceitou.

Passo a mão no rosto.

— Estou começando a ter certeza que devia ter matado esse velho.

— Vou desfazer tudo. Esquece isso.

— Não, pai. Eu vou me casar com ela. Talvez assim aquele traste se sinta livre da dívida.

É o que falo para ele, mas na verdade tenho outros planos. Pois pensando bem, eu é que estou em dívida com essa garota que não pode ter uma vida normal por minha causa.

Daria a liberdade a ela, em troca de me divertir um pouco. Quem sabe brincar de atuar no conto de fadas que originou seu nome... Claro que sem o romance. Me apaixonar por ela está fora de cogitação.

— Pode dizer ao Maurice que traga sua filha — digo encerrando o assunto.  

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