Capítulo 5

Adam Seven

Tempos atuais...

— O senhor Dubois ligou para avisar que está trazendo a filha. Por que está fazendo isso, meu menino?

Deixo as coisas do experimento de lado e olho para ela. Sabia que ela questionaria meu ato, afinal tudo nessa casa acaba no conhecimento dessa senhora, mesmo que eu tenha ordenado a outro empregado que arrumasse um dos quartos para Bela.

— Só porque eu posso, madame Pilar.

Ela sorri. Quando faz isso seu rosto todo se modifica, deixando-a com mais rugas, ainda assim ela quase sempre está sorrindo. É estranho. Não vejo toda essa graça nas coisas simples que ela enxerga.

— Sei que está mentindo. Você sempre tem um propósito em seu coração doce.

Reviro os olhos. Essa mulher baixinha e enrugada, que eu não me lembro de ter visto sem um avental, me faz parecer um menino levado.

— Eu não sou doce.

— Não é? Então por que dá ouvidos a uma velha como eu?

— Me pergunto isso sempre.

A risada dela enche meu corpo de energia. A mulher é espontânea em tudo que faz, nunca senti necessidade de máscaras ou fingimento em sua presença, assim como só sinto com minha família.

— Não é certo obrigar alguém a se casar. — Ela insiste.

— Madame Pilar, até parece que não conhece a situação daquela garota. Ela já está condenada.

Ela me olha intensamente.

— Eu espero que vocês se salvem.

— Não é esse o meu objetivo. Só quero me livrar daquele Maurice. É assim, ou matando de vez. Já dei moral demais para aquele homem.

— Credo, meu filho!

Ela passa longos segundos me olhando, antes de anunciar:

— Vou preparar um jantar especial para ela.

— Não. Só me avise quando ela chegar.

Ainda não me decidi sobre como Bela será tratada por mim, tudo vai depender dela.

A mulher balança a cabeça e sai resmungando sobre homens cabeça dura. Mas antes, olha para trás e diz:

— Não use isso.

Sei exatamente do que está falando.

Volto ao meu trabalho, até ouvir a batida na porta e a palavra “chegaram”.

— Hora do show.

Pego minha máscara, que madame Pilar falou para não usar, passo na cozinha e pego a maior faca que encontro.

Pensei nessa brincadeira enquanto esperava. Madame Pilar não pode me julgar, estou entediado. Faz tempo que não saio de casa. Um pouco de diversão vai ser bom.

Vou até a entrada da casa e a vejo. Ela é linda, como eu já sabia. E meio maluquinha, por estar falando sozinha.

Seus olhos arregalam quando me vê.

Para minha surpresa, ou nem tanto, ela corre em direção ao portão.

Vou caminhando lentamente atrás dela. Sei que não poderá fugir sem a minha permissão.

A cena é tão engraçada quando ela topa com o doberman que acabo rindo. Só paro quando ela se vira para trás.

Imóvel, é assim que ela fica. Aposto que está decidindo a sua melhor opção diante do cenário.

Minha surpresa aumenta quando ela corre em minha direção, chegando junto com o cachorro curioso que a segue.

Ela se esconde atrás de mim.

Assobio e ordeno apontando para longe:

— Fifi, vai!

Fifi corre, obediente. Só vou poder usar isso enquanto ela não souber que Fifi é uma medrosa.

— Agora, você... — falo para a doida que está agarrada a minha camisa. — Garota, me larga.

— Não.

— O cão já foi — digo impaciente. A brincadeira não saiu engraçada como eu pretendia. Ela escolheu fugir do cão. Eu que devia correr atrás dela, como nos filmes de terror. Estraga prazeres.

— Não — insiste.

— Tira essa garota de cima de mim — ordeno ao ver uma empregada e Gaston, meu segurança, se aproximando. Não que eu precise de um, mas meu pai exige, para garantir o status. Coisa de Seven.

Como que ensaiados, cada um segura um braço da maluquinha e a afasta de mim. E ela acaba caindo de bunda no chão.

Ai, deve ter doido.

— Agora nós dois vamos ter uma conversa — aviso indicando que ela deve entrar comigo, porém a mulher só tem olhos para a faca em minha mão.

— Se vai me matar, mata de uma vez. — Se faz de corajosa enquanto levanta.

Eu até tento me manter sério, mas é impossível não rir ao ponto de gargalhar.

Nessa hora madame Pilar aparece com seu avental.

— Eu falei para não vir assim. Está assustando a menina.

Ela tira a faca da minha mão sem nenhuma cerimônia. Sei que preciso agir para não perder a autoridade, mas continuo rindo enquanto tiro a máscara.

Ela está me encarando, parece... admirada? Isso é estranho. Sei que as cicatrizes não me deixaram feio, mas as primeiras reações são sempre de pena ou medo. Ninguém nunca me encarou assim de primeira.

Espanto os pensamentos e continuo meus planos.

— Eu não vou te matar, garota, mas posso garantir que talvez chegue a  desejar isso.

Bela cruza os braços em uma atitude ao mesmo tempo protetora e desafiadora, empina o nariz e diz o que eu menos acreditaria ouvir.

— Pois pode adiantar o serviço se acha que vai me usar ou se casar comigo. Eu prefiro mil vezes a morte que me casar com um monstro horroroso como você.

Qualquer resquício de riso some do meu rosto. Seguro seu braço, sem me importar que esteja cruzado ou no tom de advertência quando madame Pilar diz o meu nome.

Me curvo o bastante para falar ao seu ouvido:

— Casar com você é tudo que menos quero, mas eu vou te usar da forma que eu quiser.

Sinto ela estremecer de medo.

— Leva-a ao porão. A partir de hoje, ali será o seu quarto — aviso a madame Pilar.

— Mas o quarto...

— Faça o que ordenei e arrume suas malas. Você está de férias a partir de hoje, assim como todos os empregados sob o seu comando.

— Quem vai cuidar dos afazeres dessa casa?

— Bela — respondo simplesmente.

Solto o braço da garota e me viro para entrar na casa.

— Não ouse me desobedecer — aviso antes de entrar.

Essa garota merece aprender uma lição.

Olhar de admiração... Fui idiota, isso sim. Quase me deixei levar pela delicadeza daqueles olhos castanhos brilhantes e a beleza de sua dona.

Monstro horroroso? Vou mostrar a ela o que é ser um monstro.

Combina com o apelido que me deram, combina com o nome dela.... Vamos brincar de a Bela e a Fera. Só que no final não haverá danças e casamento, haverá uma Bela de joelhos, implorando por esse monstro horroroso.

E talvez, só talvez... eu realmente a use um pouquinho.

Afinal, ninguém pode negar que a garota é mesmo... bela.

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