No caminho Gabriela parecia distraída, fazia o trajeto em silêncio, estava lembrando do beijo no elevador.
— Gabi, está tudo bem? — Perguntou Gustavo.— É que você está quieta, parece perdida em seus pensamentos...— Ah, não é nada, só...— Só o que?— Eu não estava sozinha naquele elevador.— Você ficou presa com outra pessoa? Homem ou mulher?— Um homem e ele me beijou.— Peraí, você ficou presa no elevador com um homem e o beijou? Você já conhecia ele?— Na verdade não sei nem seu nome, e estava escuro, não consigo dizer exatamente quem era.— Nossa mana, você é louca, se o cara tentasse fazer algo com você?— Eu não pedi para ficar presa com ele.— Tá, vou descobrir quem é...— Valeu!— Você gostou do beijo?Gabriela sorriu e não respondeu, mas a cara dela já dizia que sim, o jeito forte que ele a segurou a fazia sentir um leve arrepio só de lembrar.No outro dia Gabriela deixou o irmão no trabalho e seguiu para faculdade.— Bom dia senhor Diniz!— Bom dia Gustavo. — Fábio passou pelo assistente e voltou, sabia que a moça petulante havia ido entregar algo na manhã do dia anterior.— Gustavo, quem faz as entregas de documentos, objetos aqui na empresa? É alguém nosso?— Na verdade depende de onde vem, cada empresa tem seu sistema.— Entendi, pegue um café para mim e venha até minha sala, preciso de algo.Gustavo pegou o café forte e sem açúcar como o chefe gosta e foi até a sala dele.— Aqui está senhor!— Preciso que recrute uma pessoa, minha filha vai sair do colégio interno que está, ficará comigo de agora em diante, preciso de alguém que cuide e a ajude nos deveres da escola. Minha filha estudará de manhã eu mesmo a levarei, mas a pessoa terá que buscá-la, e passará o dia com ela, em caso de alguma viagem ou reunião ficará a noite também, até dormirá em minha casa. Então preciso de alguém com essa disponibilidade e que seja inteligente o suficiente para ajudá-la.— Sim senhor, passarei a recomendação para o RH. — Gustavo pensou na irmã que estava em casa fazia alguns meses e se encaixaria na descrição, ele voltou ao chefe. — Senhor, me desculpe a pergunta, posso fazer uma recomendação pessoal?— Acha que conhece alguém que seja de acordo com essa descrição.— Eu tenho uma irmã, ela é um pouco mais nova que eu, tem 20 anos, cursa gastronomia de manhã e sempre foi muito inteligente, sabe cuidar de crianças, e tem disponibilidade. Acredito que se encaixe, além do mais me conhece faz tempo, acredito que queira uma pessoa de confiança em sua casa.A ideia lhe pareceu boa. Não era uma total desconhecida e se não fosse alguém de bem, despediria ela e Gustavo juntos, mesmo ele sendo muito útil e confiável.— Está bem, minha filha chega amanhã, mande a sua para minha casa assim que ela sair de onde estuda, depois verei com a minha filha o que achou dela.— Muito obrigado, minha irmã ficará muito feliz.— Ok, como se chama a moça?— Gabriela, esse é o nome dela.Gustavo passou uma mensagem para Gabriela imediatamente.Gustavo — Gabi, arrumei um trabalho pra você!Gabriela — Como assim? Onde é?Gustavo — Vai trabalhar para o senhor Fábio Diniz, cuidará da filha dele!Gabriela — Hum, blz! Valeu mano, depois me passa tudo.No dia seguinte Gabriela se arrumou e foi até o endereço indicado. Era uma casa enorme, haviam seguranças no portão, a chegada dela já era esperada. Caminhou até a entrada da casa e bateu na porta.Uma menina sorridente abriu.— Olá, você deve ser a Gabriela!— Sim e qual seu nome?— Sou Fabíola, mas pode me chamar de Fabi.— Prazer Fabi.— Entra, vou te mostrar a casa.A casa era tão imponente por dentro quanto por fora, nos fundos tinha uma churrasqueira e uma piscina enorme. Havia dois andares, na parte de baixo era a sala, cozinha e quartos dos empregados, na de cima havia uma biblioteca, e os quartos dos moradores, Fabíola mostrou o próprio quarto que era lindo e enorme, ela tinha até um banheiro privativo.— Nossa até cansei, sua casa é linda e enorme. Já comeu? Quer almoçar?— Ainda não almocei, mas você terá que fazer, acho que não tem nada pronto...— Não tem problema, faço gastronomia, não há nada que eu não saiba fazer, vou dar uma olhada na cozinha e te falo.A dispensa estava cheia de enlatados, Gabriela odiava esse tipo de alimento, na geladeira havia poucas verduras, e ovos. Pensou que a pessoa que morava ali dificilmente comia em casa.Ela fez um risoto com o arroz que achou na dispensa e um omelete com legumes, a comida ficou realmente digna de um chefe.Passaram a tarde conversando e assistindo filme, Fabíola começaria na escola no dia seguinte.A noite Fábio ligou para a filha.— Oi Fabi, como foi hoje?— A Gabriela é gente boa, gostei dela.— Ok, diga que ela pode ir se quiser, estou quase chegando.Fabíola desligou e foi falar com Gabriela.— Meu pai disse que já pode ir, ele está quase aqui...Elas se despediram, Gabriela entrou no carro e saiu. Assim que ela virou a esquina, Fábio chegou, devem ter se cruzado no caminho, mas não sabiam disso.Ele chegou e a filha contou com era educada e meiga a tutora Gabriela.— Fico feliz que ela seja do seu agrado. Você quer jantar? Posso pedir uma pizza se quiser.— A Gabriela fez almoço, acho que ainda tem.Fábio esquentou a comida, era algo saudável e cheio de sabor. Gostou daquele tempero, já imaginava com seria aquela comida ainda fresca.No dia seguinte deixou a filha na escola e foi trabalhar.— Bom dia senhor Diniz.— Bom dia Gustavo. Avise sua irmã que ficará até tarde, eu tenho uma reunião depois do horário.— Senhor, sei de seus horários, ela já está ciente.Gabriela fez como o combinado, buscou Fabíola no colégio e seguiu para casa com ela, antes parou em um supermercado, comprou coisas que pudesse cozinhar, não deixaria a menina viver de enlatados.Gabriela fez uma macarronada para o almoço, com almôndegas e dois tipos de molho, um de tomate e outro branco com um toque de queijo, elas almoçaram e Gabriela ajudou a menina com o trabalho da escola.— Bom, acho que por hoje é só, ficarei aqui porque seu pai avisou que chegaria mais tarde.— Podemos cozinhar algo? — Perguntou Fabíola.— Claro, o que quer fazer?— Queria fazer um doce.— O que acha de uma torta de limão?— Acho ótimo.Ela se divertiram na cozinha, Fabíola amou colocar a mão na massa, fizeram uma bagunça.— Fabi, suba e tome um banho, pode deixar que eu termino e limpo tudo aqui.A menina subiu. Enquanto isso no escritório, Fábio já estava de saída, o representante da outra empresa teve que cancelar a reunião.— Gustavo, já vou! Se quiser pode ir também, a reunião ficou pra semana que vem.— Boa noite, senhor Diniz.— Boa noite, Gustavo.— Ah, senhor Diniz, posso lhe fazer uma pergunta?— Claro.— Anteontem o senhor ficou na empresa até tarde? Ou voltou?— Você controla minha agenda e não sabe?— Desculpe senhor. Tenha uma boa noite.Gustavo já havia questionado vários colegas e todos saíram no horário normal, então não havia mais ninguém quando Gabriela ficou presa no elevador. Ele não insistiu na pergunta, não era tão íntimo do chefe.Fábio chegou em casa cansado, assim que abriu a porta sentiu um cheiro bom, algo diferente estava acontecendo naquela casa.Fábio subiu as escadas e foi direto tomar um banho, encontrou a filha no corredor que estava descendo para jantar. — Boa noite papai, chegou na hora certa, a Gabi estava fazenda o jantar. Na cozinha Gabriela já havia deixado a mesa posta. — Fabi tenho que ir, ainda tenho que fazer algumas coisas para a faculdade, peça desculpas ao seu pai por não esperar ele descer. Ela estava indo até a porta e falou de longe: — Fabi, me manda a receita que quer, para amanhã eu trazer tudo que for necessário. Fábio estava descendo as escadas, pensou ter reconhecido aquela voz, apressou o passo, mas ela já estava dentro do carro passando pelo portão. Ele voltou e foi até a cozinha, encontrou uma mesa cuidadosamente posta e uma refeição fresca. — A sua tutora acabou de sair, certo? — Sim, ela precisava fazer algumas coisas da faculdade, não tinha como ficar. Ele ficou cismado, era a mesma voz da moça petulante, mas seria muita coincidência. Na semana seguinte haveria uma pequena recepção para
Gabriela se trancou no quarto, ficava pensando no quanto era corajosa. Mandou uma mensagem para o irmão, avisando que já estava em casa. Não demorou muito e ele chegou. — Gabi, você ficou louca? Saiu com um desconhecido e me deixou lá. — Gu, não foi bem assim, encontrei o Otávio lá, ele trabalha como associado na sua empresa, me desesperei e corri dali. O mesmo homem que ficou preso comigo no elevador outro dia me trouxe pra casa, não era um total desconhecido. Gustavo suspirou, sabia o que a presença de Otávio significava. — Cuidado Gabriela, foi essa sua boa fé que te colocou em maus lençóis. Gabriela se sentia ofendida com o comentário, expulsou o irmão do quarto e foi dormir. Passou o fim de semana tranquila, cuidou da casa, da pequena horta que tem na entrada e estudou. Uma nova semana se inicia e muita coisa tinha que ser resolvida. — Bom dia senhor Diniz. — Bom dia Gustavo. Esse era o máximo de contato que eles tinham... Gustavo seguia sempre a mesma rotina, o chefe n
— Sabe que se não te encontrar novamente será um beijo de despedida. — Disse ele sorrindo. — Eu devo ser louca... Ela o beijou rapidamente. — Só isso? — Fábio reclamou. — Claro... Agora tire seu carro daí, estou realmente sem tempo hoje. Ele beijou o rosto dela e passou o nariz em seu pescoço. — Me diz pelo menos o nome do seu perfume. — Se nos encontrarmos novamente, te conto, mas esse sim um segredo antigo meu. — Gabriela disse e piscou para ele. Fábio tirou o carro e deixou Gabriela sair, tinha certeza que a encontraria novamente. Ele subiu ao escritório. — Bom dia senhor Diniz. — Bom dia Gustavo. Gustavo pegou o café e levou ao chefe. — Gustavo, que empresa passou por aqui hoje? — Nenhuma senhor. — Mas alguém veio fazer uma entrega, certo? — Não senhor, não tem nenhuma encomenda. Fábio riu, ele pensava que a moça era entregadora de alguma empresa, mas acaba de descobrir o engano. — Tá, Gustavo, marque uma reunião com o senhor Otávio Martins pra hoje ainda. — Senho
O coração de Gabriela falhou uma batida, ele não precisava fazer apresentações, sabia bem de quem era aquela voz, ela não se virou, não encontrava forças pra isso. Pensava que poderia estar sonhando ou o destino estava lhe pregando uma peça.Ele se aproximou sem fazer muito barulho. Colocou a mão na cintura dela e falou perto de seu ouvido.— Quem diria que nos encontraríamos aqui, na minha casa.Nessa hora Gabriela se virou, ficou de frente com Fábio, ele estava realmente perto, fez o mesmo do elevador, colocou as mãos uma de cada lado a impedindo de fugir, aproximou o nariz de seu pescoço e sentiu seu perfume.— Agora não tem como fugir... — Fábio falou no meio de um suspiro.Gabriela fechou os olhos e ele deu um passo para trás. Ela ficou sem entender o que aconteceu ali. Fabíola apareceu na porta.— O jantar estar pronto? Boa noite papai, agora já conhece a Gabi. Gabriela colocou a mesa para duas pessoas, enquanto Fabíola tagarelava a sobre o colégio, os olhos de Fábio
No dia seguinte Fábio desceu e encontrou a filha tomando café com uma mesa farta, uma variedade de alimentos frescos tinham sido feitos, claro por Gabriela, até mesmo panquecas ela preparou a pedido de Fabíola, a menina viu o prato apenas na televisão e queria experimentar. Estava descobrindo o carinho de uma mãe em sua babá.— Bom dia, meninas!— Bom dia senhor Diniz.— Bom dia mano.Fábio sentou-se ao lado da filha e Gabriela colocou uma xícara de café para ele.— Assim ficarei mal acostumado, acordar e encontrar uma mesa dessa, comida caseira toda noite... Isso é bom demais pra ser verdade.— Isso foi só hoje, a Fabi sabe que o café só poderei fazer nos dias que passar a noite aqui, já o almoço dela e o jantar eu consigo deixar pronto.— Claro... Fabi pegue suas coisas já vamos sair e Gabriela eu te deixo na universidade, sei que aqui é mais longe que sua casa de lá.Fabíola subiu e Fábio aproveitou para puxar Gabriela para um beijo, ela não o repeliu, gostava dos beijos ousa
A noite Gabriela estava em casa, cansada, pois estava sem carro e o trajeto de ônibus era cansativo.— Boa noite Gu, como foi hoje?— Boa noite senhorita petulante!— Ai meu Deus! Ele falou com você? Estou morta de vergonha.Gustavo riu da reação da irmã, ela não imaginava que ele simplesmente contaria tudo para o irmão.— Agora eu quero saber de você, como foi na casa do senhor Diniz? Ele gostou de você, mesmo sendo desbocada.— Não fale assim, eu sou muito educada...— Fala logo! — Disse Gustavo rindo.— A filha dele, a Fabíola é encantadora e adora minha comida, aquela casa só tinha enlatados, acho que dificilmente comiam algo fresco. Ela é inteligente, ajudar nos deveres da escola é coisa simples, é uma menina falante e alegre, sempre arruma coisas para passar o dia e é obediente também, pensei que seria um problema pela idade, mas é uma menina tranquila.— Não é isso que quero saber.— Tá! Ontem eu estava na cozinha quando o Fábio chegou...— Fábio? Já o tra
No outro dia Gabriela não iria trabalhar, logo pela manhã mandou uma mensagem a Fábio.Gabriela — "Bom dia senhor Diniz, hoje me sinto indisposta, não posso cuidar da Fabíola."Ele teria que dar um jeito na menina por aquele dia.Fábio a levou para a escola e ele mesmo a buscaria na hora do almoço, assim que chegou no escritório chamou Gustavo para conversar.— Bom dia senhor Diniz. — O tom era diferente de outros dias, Fábio notou a frieza de Gustavo.— Bom dia Gustavo. Pegue meu café e venha a minha sala.Gustavo obedeceu, levou o café e pretendia sair em seguida.— Espere! Preciso falar com você.— Não, não vou ser a ponte entre você e minha irmã, não vou contar coisas que não cabe a mim, ela me disse que você não a machucou, que foi algo da cabeça dela, então não te perguntarei nada também.— Ela me disse que nunca esteve com um homem por vontade própria. O que ela quis dizer com isso?— Tem certeza que não entendeu? Eu lhe disse, ela já passou muita coisa, mas alg
Fábio a deixava na universidade todas as vezes que ela dormia lá, ele até tentava, mas ela nunca o deixou passar dos beijos.Na universidade passou a ser tratada diferente, algumas colegas que nunca falaram com ela, agora queria sentar ao seu lado e se consideravam amigas.— Estela do céu, isso está me enlouquecendo. Antes era só eu e você, agora as pessoas agem como se me conhecessem. — Disse Gabriela.— Daqui a pouco o povo esquece e tudo volta ao normal.Elas estavam no refeitório da universidade, sempre escolhiam uma mesa pequena para não dar chance de outras pessoas se aproximarem.— Que droga, a menina trocou meu sanduíche de novo, vou lá ver se resolvo. — Gabriela se levantou e foi até a atendente da lanchonete. — Com licença... Acho que houve um engano, eu pedi peito de peru e veio presunto, poderia trocar por favor?— Ah, senhora Diniz, que vergonha, me perdoe, eu não sei onde estava com a cabeça. — A atendente parecia nervosa, Gabriela não entendeu essa reação