Por mais que eu fizesse questão de atrasar alguns minutos, o brinco era o toque final para completar o look, o vestido vermelho de cetim ficou perfeito em meu corpo e eu estava pronta. O problema, é que não havia nenhum sinal de David.
Peguei o celular na escrivaninha, nenhuma mensagem. Ele já deveria ter chego do trabalho, ele já deveria estar pronto, combinamos às sete e já eram sete e vinte. Fui para a sala de estar e me sentei no sofá, foi uma quinta-feira exaustiva, nunca tive tantos relatórios para ler, essa noite deveria ser especial, mesmo cansada me arrumei para comemorar nosso aniversário de três anos de casamento.Nosso relacionamento de sete anos tem esfriado nos últimos meses, vivo atolada de trabalho para conseguir manter as contas em dia, enquanto David não consegue parar em nenhum serviço. Estamos tentando, apesar de tudo, terapia de casal, jantares românticos, fantasias sexuais; mas era como remar contra a maré.Honestamente, eu já não tinha certeza se o amava, mas o relacionamento dos meus pais me levava a acreditar que talvez fosse apenas brasas que precisavam ser acesas novamente. Ou talvez, segundo minha terapeuta, fosse apenas medo de ficar sozinha aos 26 anos. Fazendo as contas, estou com David desde os dezenove, ele foi meu porto seguro na faculdade, na pós graduação, no meu primeiro emprego que inclusive estou nele até hoje.Acho que estou lutando por esse relacionamento, porque é cômodo estar com ele, porque não sei o que eu faria sozinha e se restar uma fagulha de amor, talvez ainda haja chance de recomeçar.Olhei novamente para o relógio, oito horas. Decidi ligar, mas caiu na caixa postal, esperei alguns minutos e liguei novamente, dessa vez tocou, mas ele não atendeu. Minutos depois, no aplicativo de mensagens, recebi uma localização enviada por ele, entendi que ele queria me encontrar lá, então peguei minha bolsa e a chave do carro.Era o endereço de um bar a duas quadras do nosso prédio, David adorava ir no fim do expediente com os amigos e eu estava pronta para tirá-lo de lá e levá-lo até um restaurante decente, não me arrumei para frequentar um bar e comer as batatas fritas muchas e frias que serviam lá. Estacionei o carro na esquina e desci, haviam poucas pessoas na rua aquele horário, mas claro que todos olhavam para mim com estranhesa.Abri a porta do bar e logo o cheiro de cerveja e fritura invadiu minhas narinas e a música animada misturada com as risadas e conversas altas, os meus ouvidos. Era um bar rústico, com mesas de madeira e assentos acolchoados, mal iluminado de forma que seria considerado chique num restaurante caro.Avistei David, sentado num sofá booth arredondando, devia estar sozinho. Abri um sorriso tentando não parecer zangada por ele ter esquecido nosso aniversário de casamento e caminhei até lá, atraindo a atenção de todos os homens do local. Ele estava com a cabeça inclinada para trás e os olhos fechados, mas não parecia estar dormindo.— David. — chamei sorrindo, ele abriu os olhos arregalados, assustado com minha presença e logo uma cabeça loira levantou de debaixo da mesa.— Jade? E-eu posso explicar…Levei uns segundos para processar o que estava acontecendo. David correu para fechar a calça e a mulher ajeitava o cabelo como se nada estivesse acontecendo. Minha reação foi pegar a bolsa e começar a bater nele.— Seu idiota, cretino, lazarento… — comecei a xingar e bater nele com a bolsa, enquanto a loira de farmácia tentava defendê-lo dos meus ataques. — Não se mete nisso, loira falsificada.Ela se levantou e veio para cima de mim, começamos uma briga de t***s e puxão se cabelo, eu não queria brigar com ela, quem estava me pondo chifre era ele, mas precisava eliminar a loira para chegar no patife. Num momento de fúria, levei o punho para trás, peguei impulso e acertei exatamente a maçã do rosto da loira, ela cambaleou para trás, finalmente me deixando em paz.David foi ajudá-la, passei por eles cheia de ódio, mas se não fosse por isso eu já estaria chorando. Não sei o que houve atrás de mim, mas assim que cheguei lá fora, David me alcançou correndo.— Volte aqui! Estou ligando para a polícia, todos viram você agredindo ela.— Polícia? Você me traí no nosso aniversário de casamento e quer ligar para a polícia por causa da sua amante? Você realmente não preta, David! E eu pensando que nosso relacionamento tinha salvação. — nesse momento, com o sangue esfriando, veio a vontade de chorar.— Salvação? Você me trocou pelo trabalho, eu sou homem, acha que eu ficaria esperando você ter tempo ou estar menos cansada? — gritou batendo no peito.— Eu não precisaria trabalhar tanto se você fizesse sua parte! Mas é um vagabundo! Você e a loira se merecem. — respondi apontando o dedo para ele.O tempo da briga foi o suficiente para a polícia chegar, por causa da confusão, nós três fomos levados a delegacia para prestar depoimento. Depois de longos minutos, fui chamada na sala do delegado, expliquei toda a situação, inclusive que ela também me agrediu, mas por causa de um corte, graças ao anel que eu usava, ele me manteria sob custódia por até 24 horas.O problema é que era quinta, eu ficaria a sexta feira inteira lá e no sábado não daria para ter audiência com o juiz. Eu precisava sair antes disso. Então o delegado me deu a opção de pagar uma fiança de três mil dólares, eu tinha o dinheiro, mas precisava ir ao banco transferir.Eu tinha direito a uma ligação e precisava pensar bem para quem eu ligaria. Minha lista de amigas era muito limitada, a maioria do trabalho e nenhuma teria esse dinheiro para me emprestar mesmo eu pagando no dia seguinte. A melhor opção, era ligar para o meu chefe.Filipe Chevalier era a última pessoa que eu gostaria de falar naquele momento, mas era o único que teria o dinheiro para me ajudar e estaria acordado naquele horário. Se David era um idiota, Filipe era um idiota sênior, que traia a noiva com todas as mulheres possíveis. Ele atendeu no quinto toque, contei porque estava ansiosa demais para voltar para casa. Pelo tom de sua voz, não estava bêbado, apenas quase dormindo.— Oi, é a Jade, preciso da sua ajuda. — falei firme.— Jade? Ah, oi Jade. — ele deu uma risada sem graça, provavelmente não fazia ideia de quem eu era. — Olha, eu sinto muito, mas já tenho companhia essa noite, princesa, mas me liga amanhã.— Jade Smith — falei entredentes. —, sua secretária.— Jade? — ele mudou o tom de voz, voltando a falar com a comum voz grave que eu conhecia. — O que aconteceu?— Arrumei uma confusão e estou presa, quer dizer, sob custódia. Pode vir pagar minha fiança? Eu devolvo cada centavo amanhã mesmo.— Onde você está? — pelo som ao fundo percebi que ele já estava de pé. Dei o endereço da delegacia e enfim era só esperar.Depois de quase uma hora, eu fui liberada, mas com o compromisso de comparecer na audiência de custódia segunda feira. Filipe me aguardava na recepção e quase revirei os olhos ao ver ele de terno. Sério, não tinha outra roupa?— Obrigada Filipe, amanhã assim que o banco abrir eu transfiro o dinheiro. — falei assim que o encontrei.Filipe era loiro, de belos olhos azuis e um corpo fenomenal. O CEO mais jovem de toda Redford, um mulherengo inconfundível e noivo de uma das modelos mais bem sucedidas do país e estava numa delegacia ajudando a secretária. A verdade é que ele não chegou onde está sozinho, quando o senhor Rutenford, o proprietário da empresa, decidiu se aposentar, eu ajudei Filipe a conquistar a confiança do patrão e alcançar o cargo mais alto.— Não precisa me pagar, só quero que me dê um bom motivo para eu estar aqui a essa hora. — respondeu enquanto saíamos da delegacia.Respirei fundo, não é fácil assumir que foi traída.— Hoje era meu aniversário de casamento e peguei David no flagra ganhando um boquete de uma loira de farmácia, num bar de quinta categoria. — respondi expondo toda a minha frustração e respirei fundo mais uma vez. — Eu ia bater só nele, mas ela se intrometeu e acabei dando um soco nela com o anel no dedo.Olhei para o anel em minha mão, ganhei do meu pai, um presente de aniversário feito de ouro branco e diamante. Raramente o usava, era um lembrete da vida que deixei para trás e que por orgulho eu não voltava. O fato é que eu não deveria estar passando por nada disso, ser traída por um desocupado, trabalhar em excesso e viver uma vida mediana num apartamento alugado, sou herdeira de um império farmacêutico, mas após a morte da minha mãe, não consegui mais ficar lá.Ele riu, afastando meus pensamentos.— Se precisar de advogado, eu consigo para você, só que terá que pagar do seu bolso.— Só quero ir para casa agora, amanhã eu penso no que vou precisar.— Ótimo, eu te dou uma carona.Filipe me deixou em casa, estava tão cansada, que quase dormi no carro dele. O meu ficaria na esquina do bar, depois eu iria buscá-lo.No dia seguinte, acordei bem cedo apesar do cansaço e comecei as fazer as malas do David. Queria me livrar de tudo que pudesse me lembrar aquele homem, mas ao separar algumas peças, não consegui segurar as lágrimas, haviam muitas memórias boas, destruídas num único segundo. Eu acreditava naquele relacionamento, acreditei na promessa de "até que a morte nos separe". David me fez feliz por muito tempo, vivemos boas aventuras juntos e ao invés de ser honesto, ele preferiu me trair. Sequei as lágrimas, separei as fotos dos porta-retratos e os presentes, os coloquei numa caixa e levei ao banheiro, onde eu teria acesso rápido a água caso o fogo saísse do controle. Assisti a tudo queimar enquanto meu rosto era molhado pelas lágrimas, mas a lembrança da noite passada, que deveria ter sido feliz, me fez mais uma vez secar as lágrimas, erguer a cabeça e afirmar que eu iria superar isso. Apaguei o fogo e juntei tudo que restou numa sacola, olhei as horas e percebi que estava atrasada.Me olhei
Por Filipe ChevalierO trânsito estava caótico e eu estava atrasado, não que fosse um grande problema, afinal tudo que eu menos queria era ter que encontrar Ashley, mas seria muito mais fácil se ela não estivesse irritada. Quando finalmente consegui sair do congestionamento, descobri o motivo do problema, um incêndio num prédio fechou duas ruas e causou o caos. Demorei perceber que aquele era o prédio da Jade, pensei em parar e ver se estava tudo bem com ela, mas não podia esquecer o jantar com Ashley, já estava adiando a tempo demais e faltar poderia me dar muito mais dor de cabeça. Segui meu caminho para o renomado restaurante francês no centro da cidade. O restaurante ficava no último andar de um prédio e era necessário apresentar o nome na entrada, para que verificassem a reserva. No meu caso não era necessário, todos já me conheciam. Gostava daquele restaurante principalmente pela discrição, ninguém sairia falando por aí que levo minha noiva e minhas amantes no mesmo restaurante
Jade Smith Regina me abrigou em seu apartamento no dia do incêndio. Sendo divorciada, ela e o filho dividiam o lugar e tinham um quarto sobrando, eu não pretendia ficar por muito tempo, apenas o suficiente para me restabelecer e eu esperava não demorar muito. Quando meu pai se opôs ao meu casamento com David, eu jurava que ele estava errado e nós brigamos feio. Mesmo assim, ele me presenteou com uma boa quantia em dinheiro e pediu que eu guardasse para uma emergência. Bom, tive muitas emergências e já não tinha mais a mesma quantia, mas junto com o dinheiro do seguro do carro, em breve conseguiria alugar um apartamento novo e comprar o que precisasse.David foi preso em flagrante colocando fogo no apartamento. Por ter colocado a vida de outras pessoas em perigo, ele seguiria preso. Sinceramente, para mim era pouco. Ele merecia sofrer mais que alguns dias na prisão, mas eu acreditava que o carma o faria pagar todo o prejuízo que me causou, tanto monetário quanto emocional. No sábado
Segunda-feira, logo pela manhã fui ao tribunal resolver minhas pendências com a lei, por ter agredido a amante do meu ex marido. Expliquei a situação ao juíz, garanti que não era uma pessoa violenta, só estava chateada, e com razão, por descobrir uma traição. O juíz ouviu uma testemunha, que para minha sorte ficou do meu lado e contou que eu só estava batendo no David e a loira veio para cima de mim. A loira por sua vez, alegou ser tudo mentira, que eu fui bater nela e outras coisas, mas além da testemunha, tinham câmeras no bar e uma delas filmou a briga. Não havia dúvidas, eu só me defendi, não tive a intenção de machucá-la e não continuei com a briga. Caso encerrado. Perdi metade do dia por causa de dois indivíduos idiotas. Cheguei na empresa após o almoço, meu cabelo estava tão bonito que seria um crime prendê-lo, mas por não ser um costume, todos me olharam estranho. Mas também poderia ser minha escolha de roupa, coloquei a camisa branca de cetim, como tinha uma leve transparên
Entrei no apartamento da Regina ainda sem entender o que aconteceu ou o que ele queria dizer. Filipe nunca agiu daquela maneira antes e o pior, eu nunca me senti assim perto dele antes. No fundo não importava, o que quer que fosse não iria se repetir e eu não deveria me iludir com… nada! Não era nada! — Está tudo bem? Eu já estava preocupada, agora te vendo com essa cara fiquei ainda mais. — ela falou da cozinha, enquanto preparava o jantar. — Tudo bem Re, só estou cansada, o dia foi longo. — respondi tirando a bolsa dos ombros para pegar o celular e verificar as mensagens. — Tem certeza? Será que o chefe bonitão não está mexendo com você? — Re sugeriu acertando em cheio, mas eu não deixar ela saber disso. — Não faz uma semana que me separei, Re. Que tipo de mulher acha que eu sou? — Até onde eu sei, seu casamento já tinha acabado, o que você sentia era apenas medo de ficar sozinha ou uma necessidade de manter o casamento por algum motivo, mas amor já não existia. — ela picava ce
Filipe ChevalierQuando pensei que teria um pouco de paz com a viagem da Ashley, me aparece outro problema. Oliver Rutenford, o filho mimado do dono da empresa, que se importava tão pouco com a Prime que seu pai me nomeou o CEO, claro que eu já era dono de parte da empresa para isso, mas enquanto Oliver se mantesse longe, nunca teríamos problemas.Meu humor já não estava nada bom, Jade conseguiu piorar, mas ela estava certa, não seria louco de demiti-la, era uma peça fundamental na empresa, mas eu me preocupava com ela, estava passando por um momento delicado demais para ter que conviver com um babaca no escritório. Ela estava diferente e não digo somente por suas roupas, parecia mais leve, livre e não era difícil constatar que a separação fez bem a ela. Jade sempre foi bonita, agora estava ainda mais linda e o fato de estar solteira complicava as coisas para mim, ela era proibida por ser casada e já não é mais, porém, depois de quatro anos, não parecia ser fácil convencê-la a ter al
Jade SmithCom a cirurgia de correção de grau, eu me sentia livre, era maravilhoso poder enxergar bem a qualquer momento, sem ajuda de nada e nem ninguém. Parecia que nada podia estragar meu dia, até eu encontrar um babaca no elevador. Oliver Rutenford tinha um charme, olhos azuis cintilantes que contrastava com a pele bronzeada e o cabelo escuro, ele dispensou a gravata e usava uma camisa social com dois botões abertos exibindo a pele bronzeada e os músculos. Não parecia alguém que chegou para trabalhar.Ele me encarou todo o tempo que ficamos no elevador, antes de chegar no último andar, me irritei com seu olhar abusado e o encarei de volta.— Qual o seu problema?! — perguntei irritada, ele abriu um sorriso de lado, gostando da minha atenção.— Problema nenhum, não posso te olhar? — a porta do elevador se abriu e eu sai. — Quer saber? Pode! Admire muito o que você não pode tocar! — respondi sem olhar para trás. — Babaca. — Você sabe quem eu sou?! — sei, um idiota júnior, ainda não
Todos os meus neurônios paralisaram, esse homem seria capaz de arrancar tudo de mim se quisesse, com um apenas um toque. Seu polegar deslizou no tecido fino da minha camisa, usava a mesma de cetim de outro dia, meu coração disparou e meus olhos se encontraram com os dele. Minha mente logo fantasiou ele me puxando pela cintura para sentar em seu colo enquanto nos beijamos loucamente e minhas mãos deslizam por seu peitoral sarado e delicioso, mas… — Obrigado… pela ajuda. — sua voz me tirou do transe e chacoalhei a cabeça. — Não é nada, eu que agradeço por… me defender. — ele me lançou um sorriso e tirou a mão da minha cintura. Voltei para a minha sala tentando parecer calma, mas cada célula do meu corpo pedia mais um pouco dele. Aquilo era loucura, talvez fosse a carência da separação, apesar que eu e David já não fazíamos amor há tanto tempo que até a carência passou. O que ficou claro, é que como sempre desconfiei, Filipe não se sentia atraído por mim.Toda a confusão significava