Por Filipe Chevalier
O trânsito estava caótico e eu estava atrasado, não que fosse um grande problema, afinal tudo que eu menos queria era ter que encontrar Ashley, mas seria muito mais fácil se ela não estivesse irritada. Quando finalmente consegui sair do congestionamento, descobri o motivo do problema, um incêndio num prédio fechou duas ruas e causou o caos.Demorei perceber que aquele era o prédio da Jade, pensei em parar e ver se estava tudo bem com ela, mas não podia esquecer o jantar com Ashley, já estava adiando a tempo demais e faltar poderia me dar muito mais dor de cabeça. Segui meu caminho para o renomado restaurante francês no centro da cidade.O restaurante ficava no último andar de um prédio e era necessário apresentar o nome na entrada, para que verificassem a reserva. No meu caso não era necessário, todos já me conheciam. Gostava daquele restaurante principalmente pela discrição, ninguém sairia falando por aí que levo minha noiva e minhas amantes no mesmo restaurante. E por algum motivo, todas se sentem muito especiais por isso.Ashley estava sentada na mesa ao canto, que eu sempre escolhia por ser a mais afastada e discreta. Ela tamborilava os dedos na mesa, visivelmente impaciente com meu atraso. Respirei fundo buscando toda a paciência possível para esse encontro. Ela definitivamente não era uma pessoa fácil de lidar.— Está atrasado! — reclamou em uma voz aguda e alta o suficiente para as pessoas perto ouvirem. — Sabe que detesto atrasos! Você me fez parecer uma idiota, todos estavam me olhando como se eu tivesse sido rejeitada, mas você só em si mesmo, não é? Até perdi o clima de jantar.— Sinto muito, Ashley. Houve um incêndio e as ruas estavam impedidas, não atrasei por querer. — expliquei e abri a carta de vinhos, sabendo que as reclamação não parariam tão cedo e seria bom estar minimamente embriagado para aguentar.— Não interessa, Filipe! Você deveria ter saído mais cedo ou algo assim, podia ter caído um meteoro no seu apartamento, ou qualquer coisa, mas você deveria estar aqui as sete! — continuou histérica, mas sem aumentar o tom de voz. Uma leve dor de cabeça ameaçou surgir enquanto eu avaliava o cardápio.— Vou querer uma entrada de foie gras com torradas, de principal épaule d’agneau e um vinho tinto. — avisei sem tirar os olhos do cardápio.— Eu estou sem fome.Chamei o garçom e fiz meu pedido, Ashley mudou de ideia e pediu uma salada. Todas elas pediam salada de entrada e um prato fit do cardápio, nunca vou entender essa obsessão pelo peso. Ashley era a pior de todas. O sommelier me indicou o melhor vinho para acompanhar o prato e me serviu uma taça, notei que minha noiva o encarava impaciente e assim que ele saiu, ela pegou um papel na bolsa e o colocou na mesa. Sem se importar que eu estava degustando o vinho, ela deu a notícia:— Estive no cartório hoje, para marcar a data do nosso casamento. Você estava me enrolando a tempo demais. — quase engasguei com o vinho e comecei a tossir.Não queria me casar. Muito menos com a Ashley. Eu e ela nos conhecíamos desde crianças, ela é filha da melhor amiga da minha mãe e crescemos ouvindo que faríamos um ótimo casal, mas toda essa aproximação me fez enxergá-la como uma irmã menor e não sinto a menor atração por ela. Por isso nunca a toquei. Mas numa manhã, após uma noite que eu acredito ter sido drogado, pois não me lembrava de nada, ela estava nua na minha cama. Depois disso inventou que estava grávida, nossas mães insistiram que devíamos nos casar, mas eu recusei por ser mentira, então ela "perdeu" o bebê. Ela e minha mãe ameaçaram me expor se eu não a pedisse em casamento. Isso já tem dois anos.— Ashley, sabe muito bem que não desejo me casar com você. — falei firme, após me recuperar.— Eu não vou ser uma noiva rejeitada! — respondeu entredentes.— Você não precisa! É só dizer que cancelou o noivado para se dedicar ao trabalho, você vive viajando, todos iriam acreditar. — ela jogou os longos fios loiros para trás e cobriu o rosto com as palmas das mãos. Não demorou para que eu ouvisse fungar, estava chorando. — Ashley…— Por que você me odeia tanto, Filipe?! — perguntou com a voz embargada. Não era a primeira vez que essa conversa sobre casamento terminava assim.— Eu não te odeio, só não quero me casar com você. — respondi e nossas entradas chegaram. O garçom ficou nos olhando, mas não perguntou nada e logo se retirou.— Você está apaixonado por outra? É isso? — perguntou ainda em seu teatro.— Não, Ashley, essa é a questão, não sou capaz de amar ninguém. Não serei um bom marido e você não merece um homem que não te ama. Você é bonita, famosa, com certeza consegue alguém melhor. — tentei ao máximo ser convincente em minha palavras, pois se a atitude não partisse dela, minha mãe faria um inferno na minha vida até que eu assinasse o documento marcando a data do casamento.— Eu quero você, só você e eu sei que se nos casarmos vai se apaixonar por mim. Não vou abrir mão desse casamento, espero que assine o documento até amanhã de manhã, para não perdermos a data. — ela tentou me dar um ultimato, mas eu estava decidido a não seguir com esse casamento.Ashley se levantou e saiu da mesa, me deixando sozinho para jantar. Ela ia viajar no dia seguinte e me deixaria em paz por três meses, tempo suficiente para que eu pensasse em algo para anular de vez esse casamento. Peguei a folha do cartório, a data era para daqui 8 meses, com certeza escolheu todos esses meses para ter tempo de fazer uma festa grandiosa.Depois que comi, sozinho no restaurante, paguei a conta e voltei para casa. Não demorou muito para minha campainha tocar. Era minha mãe, dona de um gênio forte e controlador, eu sabia do que se tratava e estava preparado para ser firme em minha decisão.— Filipe! Ashley me ligou aos prantos dizendo que você quer terminar o noivado! Está ficando maluco? — ela disse adentrando meu apartamento claramente irritada, mas isso ela sempre estava.— Boa noite, mãe. Não, não estou maluco. Todos sabem que não quero esse casamento, será melhor para nós dois cancelar esse noivado. — expliquei esfregando o cenho, sentindo aquela mesma dor de cabeça voltar.— Eu não te criei para ser um irresponsável! Você engravidou a garota, foi o responsável pelo aborto dela e agora quer simplesmente dispensá-la? Não! Eu não vou permitir que faça isso!— Olha, sei que a senhora gosta muito da Ashley, mas eu não e isso nunca vai dar certo. — tentei manter a calma, para não explodir com esse assunto. Já tinha problemas demais na empresa.— Você nunca tentou conhecê-la melhor, nunca sequer se esforçou para sentir algo. Se fizesse isso, ia perceber a mulher linda e incrível que ela é. A nora perfeita. — ela se acalmou e se aproximou de mim, colocando a mão no meu braço e o acariciando, numa tentativa de me fazer mudar de idéia.— Está vendo? Isso é sobre você querer ela como nora, não sobre a tal gravidez que você sabe ser mentira. — falei me afastando, fui até a mesa com bebidas e me servi um gole de Whisky.— Isso é insulto a pessoa da Ashley! Acha que ela mentiria de tal forma? Ela sofreu e muito com você, merece um casamento digno e você vai honrar com sua palavra! Vai se casar com ela, ter filhos e uma família linda!— Ou então um casamento fracassado igual ao seu! O que acha? Me caso sem amor, arrumo uma amante bem mais nova e não escondo de ninguém, enquanto ela passa os dias em casa chorando, com um filho que ela trata como uma marionete!Com os nervos à flor da pele, expus a história do casamento dela, a única coisa capaz de causar o mínimo de dor naquela mulher. Mas ao ver seus olhos se encherem de lágrimas, me arrependi das palavras que lancei sem o mínimo de empatia. Eu estava nervoso, mas não precisava passar dos limites.— Desculpe mãe, eu não devia ter dito isso. — com uma postura durona, ela secou as lágrimas.— Não tem problema, Filipe. Se você me ama não vai agir igual ao seu pai. — ela caminhou para a porta e colocou a mão na maçaneta, mas não abriu. — Se case com Ashley, seja um bom marido e você verá o quanto é bom ser amado e o quão valioso é ter uma família.Assim que ela saiu, arremessei o copo de whisky contra a parede para aliviar a raiva que sentia. Minha mãe era uma mulher manipuladora e não me admirava meu pai a ter trocado por outras no mínimo 20 anos mais novas, mas eu sendo filho, não conseguia escapar tão facilmente de suas garras. E talvez nem mesmo desse casamento. Ao menos as duas sabem bem onde estão se metendo.Jade Smith Regina me abrigou em seu apartamento no dia do incêndio. Sendo divorciada, ela e o filho dividiam o lugar e tinham um quarto sobrando, eu não pretendia ficar por muito tempo, apenas o suficiente para me restabelecer e eu esperava não demorar muito. Quando meu pai se opôs ao meu casamento com David, eu jurava que ele estava errado e nós brigamos feio. Mesmo assim, ele me presenteou com uma boa quantia em dinheiro e pediu que eu guardasse para uma emergência. Bom, tive muitas emergências e já não tinha mais a mesma quantia, mas junto com o dinheiro do seguro do carro, em breve conseguiria alugar um apartamento novo e comprar o que precisasse.David foi preso em flagrante colocando fogo no apartamento. Por ter colocado a vida de outras pessoas em perigo, ele seguiria preso. Sinceramente, para mim era pouco. Ele merecia sofrer mais que alguns dias na prisão, mas eu acreditava que o carma o faria pagar todo o prejuízo que me causou, tanto monetário quanto emocional. No sábado
Segunda-feira, logo pela manhã fui ao tribunal resolver minhas pendências com a lei, por ter agredido a amante do meu ex marido. Expliquei a situação ao juíz, garanti que não era uma pessoa violenta, só estava chateada, e com razão, por descobrir uma traição. O juíz ouviu uma testemunha, que para minha sorte ficou do meu lado e contou que eu só estava batendo no David e a loira veio para cima de mim. A loira por sua vez, alegou ser tudo mentira, que eu fui bater nela e outras coisas, mas além da testemunha, tinham câmeras no bar e uma delas filmou a briga. Não havia dúvidas, eu só me defendi, não tive a intenção de machucá-la e não continuei com a briga. Caso encerrado. Perdi metade do dia por causa de dois indivíduos idiotas. Cheguei na empresa após o almoço, meu cabelo estava tão bonito que seria um crime prendê-lo, mas por não ser um costume, todos me olharam estranho. Mas também poderia ser minha escolha de roupa, coloquei a camisa branca de cetim, como tinha uma leve transparên
Entrei no apartamento da Regina ainda sem entender o que aconteceu ou o que ele queria dizer. Filipe nunca agiu daquela maneira antes e o pior, eu nunca me senti assim perto dele antes. No fundo não importava, o que quer que fosse não iria se repetir e eu não deveria me iludir com… nada! Não era nada! — Está tudo bem? Eu já estava preocupada, agora te vendo com essa cara fiquei ainda mais. — ela falou da cozinha, enquanto preparava o jantar. — Tudo bem Re, só estou cansada, o dia foi longo. — respondi tirando a bolsa dos ombros para pegar o celular e verificar as mensagens. — Tem certeza? Será que o chefe bonitão não está mexendo com você? — Re sugeriu acertando em cheio, mas eu não deixar ela saber disso. — Não faz uma semana que me separei, Re. Que tipo de mulher acha que eu sou? — Até onde eu sei, seu casamento já tinha acabado, o que você sentia era apenas medo de ficar sozinha ou uma necessidade de manter o casamento por algum motivo, mas amor já não existia. — ela picava ce
Filipe ChevalierQuando pensei que teria um pouco de paz com a viagem da Ashley, me aparece outro problema. Oliver Rutenford, o filho mimado do dono da empresa, que se importava tão pouco com a Prime que seu pai me nomeou o CEO, claro que eu já era dono de parte da empresa para isso, mas enquanto Oliver se mantesse longe, nunca teríamos problemas.Meu humor já não estava nada bom, Jade conseguiu piorar, mas ela estava certa, não seria louco de demiti-la, era uma peça fundamental na empresa, mas eu me preocupava com ela, estava passando por um momento delicado demais para ter que conviver com um babaca no escritório. Ela estava diferente e não digo somente por suas roupas, parecia mais leve, livre e não era difícil constatar que a separação fez bem a ela. Jade sempre foi bonita, agora estava ainda mais linda e o fato de estar solteira complicava as coisas para mim, ela era proibida por ser casada e já não é mais, porém, depois de quatro anos, não parecia ser fácil convencê-la a ter al
Jade SmithCom a cirurgia de correção de grau, eu me sentia livre, era maravilhoso poder enxergar bem a qualquer momento, sem ajuda de nada e nem ninguém. Parecia que nada podia estragar meu dia, até eu encontrar um babaca no elevador. Oliver Rutenford tinha um charme, olhos azuis cintilantes que contrastava com a pele bronzeada e o cabelo escuro, ele dispensou a gravata e usava uma camisa social com dois botões abertos exibindo a pele bronzeada e os músculos. Não parecia alguém que chegou para trabalhar.Ele me encarou todo o tempo que ficamos no elevador, antes de chegar no último andar, me irritei com seu olhar abusado e o encarei de volta.— Qual o seu problema?! — perguntei irritada, ele abriu um sorriso de lado, gostando da minha atenção.— Problema nenhum, não posso te olhar? — a porta do elevador se abriu e eu sai. — Quer saber? Pode! Admire muito o que você não pode tocar! — respondi sem olhar para trás. — Babaca. — Você sabe quem eu sou?! — sei, um idiota júnior, ainda não
Todos os meus neurônios paralisaram, esse homem seria capaz de arrancar tudo de mim se quisesse, com um apenas um toque. Seu polegar deslizou no tecido fino da minha camisa, usava a mesma de cetim de outro dia, meu coração disparou e meus olhos se encontraram com os dele. Minha mente logo fantasiou ele me puxando pela cintura para sentar em seu colo enquanto nos beijamos loucamente e minhas mãos deslizam por seu peitoral sarado e delicioso, mas… — Obrigado… pela ajuda. — sua voz me tirou do transe e chacoalhei a cabeça. — Não é nada, eu que agradeço por… me defender. — ele me lançou um sorriso e tirou a mão da minha cintura. Voltei para a minha sala tentando parecer calma, mas cada célula do meu corpo pedia mais um pouco dele. Aquilo era loucura, talvez fosse a carência da separação, apesar que eu e David já não fazíamos amor há tanto tempo que até a carência passou. O que ficou claro, é que como sempre desconfiei, Filipe não se sentia atraído por mim.Toda a confusão significava
O canalha sênior nem mesmo me beijou! Era só nisso que eu conseguia pensar enquanto andava de um lado para o outro no quarto de hóspedes da Regina. Outra coisa na minha vida que eu precisava resolver. Eu fui completamente imatura, irracional e inconsequente. Como eu iria olhar na cara dele no dia seguinte? Onde eu estava com a cabeça? Com certeza faltou sangue no cérebro após aquele aperto no meu pulso, só isso explicaria minha insanidade em transar com meu chefe no elevador do prédio. Regina bateu à porta, sabia que era ela pois também me chamou. Deixei ela entrar, mas não contaria a verdade, estava com muita vergonha de mim mesma pelo o que aconteceu e guardaria isso à sete chaves. — E então? Ficaram presos no elevador, não me diga que nada aconteceu. — Nada aconteceu. Filipe não me vê dessa maneira, trabalho para ele há quatro anos. — me levantei para não ter que olhar para ela enquanto mentia. — O que aconteceu hoje foi mera consideração. E eu realmente acreditava nisso. —
Filipe já estava me esperando na portaria conforme combinamos, encostado em seu carro usando uma camisa social branca com as mangas dobradas e calça azul marinho, como sempre impecável. Eu sabia que em algum momento me arrependeria amargamente dessa escolha, mas naquele momento, eu estava convencida de que era apenas um jantar para por um fim naquela história. Respirei fundo e caminhei até ele. — Sempre me impressiono com sua beleza. — ele estendeu a mão e coloquei a minha sobre ela, ele me fez dar um giro e sorri por não ter percebido sua intenção. — Sempre? Até quando eu prendia o cabelo, usava óculos e roupas largas? — perguntei realmente curiosa, pois me parece que seu interesse começou apenas quando mudei o visual. Filipe deu um sorriso envergonhado e virou o rosto para algum ponto da calçada. Desse jeito, ele parecia ainda mais sexy.— Tenho uma imaginação muito boa. — respondeu voltando a olhar para mim. Dei alguns passos à frente. — Estava tendo fantasias sexuais com uma m