6. Fofocas

Entrei no apartamento da Regina ainda sem entender o que aconteceu ou o que ele queria dizer. Filipe nunca agiu daquela maneira antes e o pior, eu nunca me senti assim perto dele antes. No fundo não importava, o que quer que fosse não iria se repetir e eu não deveria me iludir com… nada! Não era nada!

— Está tudo bem? Eu já estava preocupada, agora te vendo com essa cara fiquei ainda mais. — ela falou da cozinha, enquanto preparava o jantar.

— Tudo bem Re, só estou cansada, o dia foi longo. — respondi tirando a bolsa dos ombros para pegar o celular e verificar as mensagens.

— Tem certeza? Será que o chefe bonitão não está mexendo com você? — Re sugeriu acertando em cheio, mas eu não deixar ela saber disso.

— Não faz uma semana que me separei, Re. Que tipo de mulher acha que eu sou?

— Até onde eu sei, seu casamento já tinha acabado, o que você sentia era apenas medo de ficar sozinha ou uma necessidade de manter o casamento por algum motivo, mas amor já não existia. — ela picava cenouras e parou para olhar para mim. — E se Filipe ainda não deu em cima de você, pode ter certeza de que vai. Já notou os olhares dele?

— Não… — busquei em minha mente algum olhar diferente, mas eram todos iguais. Sempre me pareceu tudo profissional. — Mas não é de se admirar, Filipe não dispensa nenhuma mulher, só que eu não estou disponível.

Re deu um sorriso discreto, mas percebi.

— Fala a verdade, Jade! Se um homem como Filipe Chevalier te procurar você vai realmente conseguir dizer "não"?

— Vou! Ele é pior que o David quando se trata de traição.

— Ninguém está falando de relacionamento sério. Você, solteira, com uma oportunidade única de transar com o homem mais desejado de Redford, vai conseguir dizer não? — ela parou novamente seu trabalho com os legumes para me encarar.

— Ele é meu chefe, ele está noivo e ele é um canalha sênior. Eu estaria sendo muito burra de me envolver, principalmente por saber o quanto dói uma traição.

— Honestamente, sendo a Ashley, nem deveria ser considerado traição. Ela é insuportável. — e foi aí que tive a chance de mudar de assunto. Contei sobre a visita dela à tarde e nós, feito duas cobras fofoqueiras, começamos a falar sobre os absurdos que já passamos com ela.

— Eu não duvido nada que Filipe está sendo obrigado a ficar nesse relacionamento. — ela confessou.

— Sério? Por que acha isso? — eu nunca pensei nessa possibilidade, mas com ela falando fazia muito sentido.

— Ele claramente não ama ela, quero dizer, ele a trata com uma certa rispidez, parece que assim como nós apenas a tolera. E ele não faz questão de esconder que tem outras mulheres. — explicou e fazia muito sentido, ele ameaçou chamar a segurança para tirar ela do escritório.

— Ou ela é muito ingênua ou…

— Dependente emocional. — falamos juntas.

Continuamos a conversa, até a janta ficar quase pronta e eu ir tomar um banho. Quando voltei, Andrew estava na cozinha também.

— Acho que essa casa nunca esteve tão agitada. — ele comentou assim que entrei na cozinha e só então me lembrei que ele estava estudando e nossa conversa poderia tê-lo atrapalhado.

— Ah, desculpe, Andrew, me esqueci que você estava em casa estudando. — ele riu.

— Não se preocupe, eu acho bom que minha mãe tenha companhia, já que não estou podendo fazer isso no momento.

Após o jantar, me sentei no sofá com eles para assistir um filme e só então me lembrei que não conferi as mensagens. Estava tão atarefada que não consegui pegar o celular durante o dia e poderia ter mensagens importantes. E de fato tinha, um email na verdade, da seguradora do meu carro dizendo que, só poderiam pagar a indenização quando o veículo fosse encontrado, ou então eu teria que esperar uma certa data para receber.

Meu apartamento teria que esperar.

Não quis contar a eles naquele momento, aliás, eu nem sabia como dizer. Prometi ficar poucos dias, mas pelo visto ia durar mais tempo. Eu realmente gostaria de ter outro lugar para ir, mas me dediquei demais aquele relacionamento e não tinha muitas amizades e me afastei do meu pai. Ele certamente não se importaria em me receber, mas para mim seria como procurar o caminho mais fácil e admitir o quanto eu estava errada. Um dia, certamente eu voltaria.

No dia seguinte, eu e Regina dividimos um táxi para o trabalho. Quando cheguei, Filipe e o senhor Rutenford estavam em reunião. Olhei a agenda e não tinha nada marcado, achei estranho, pois Rutenford gostava de deixar tudo organizado. Minutos depois, Filipe saiu bufando de raiva, passou por mim sem sequer desejar um bom dia e se trancou em sua sala.

Minha curiosidade quase me fez levantar e ir até a sala Regina perguntar se ela sabia o que aconteceu, mas esperei alguns minutos para me certificar que Filipe não ia sair e corri para a sala dela.

— Está sabendo de algo? Filipe estava furioso. — perguntei num sussurro.

— Ainda não, mas quando souber eu te aviso. — respondeu e corri de volta para a minha sala, mas esbarrei em Filipe na porta.

— O que estava fazendo? — perguntou sisudo.

— E-eu fui ao banheiro.

— Eu vi você saindo, não deu tempo nem de você chegar lá. — Droga!

— Está certo, eu fui até a sala da Regina perguntar se ela sabia algo sobre essa reunião. — respondi com uma segurança que nunca tive antes.

— Sem fofocas nesse andar, Jade. Não me dê motivos para te demitir. — ele estava realmente irritado e passou por mim.

— Demitir? Você não seria louco! — retruquei, perdendo totalmente a noção do perigo, mas não suportaria ameaças. Não esperei uma resposta e voltei para a minha mesa.

Filipe voltou, apoiou as mãos na minha mesa e se inclinou para frente, seu rosto ficou a poucos centímetros do meu e sem perceber eu prendi a respiração e senti minhas pernas ficarem moles. Não foi o melhor momento para dizer o que penso.

— Eu ainda sou seu chefe e ainda posso te demitir.

Ainda?

Engoli em seco e molhei os lábios pensando numa resposta.

— Então me demita, esse emprego é a única coisa que me segura nessa cidade. — eu não larguei tudo para ouvir desaforo de patrão.

— Você ainda é útil. — ele se levantou e seguiu para o corredor novamente.

Eu precisava saber o que estava acontecendo, o que houve naquela reunião para ele ficar tão estranho.

Na hora do almoço procurei Regina e ela conseguiu descobrir o que aconteceu.

— O filho do Rutenford, o Oliver, voltou depois de anos viajando pelo mundo, ele não tinha interesse na empresa, mas agora que retornou quer assumir o posto como herdeiro, ou seja, quer a vaga de CEO. Rutenford não vai tirar o Chevalier, mas decidiu se aposentar de vez e deixar a empresa na mãos dos dois, sendo o Oliver um sub-CEO ou algo assim. — ela suspirou. — Estou prevendo que isso vai dar ruim.

— Com certeza, se Oliver quer o lugar do Filipe, vai fazer de tudo para se livrar dele.

— Não só isso, Oliver não sabe nada sobre a empresa, talvez sequer saiba gerenciar. Filipe vai ter que ser pulso firme e provavelmente esse escritório vai ferver. Bem que eu gostaria de me aposentar agora. — rimos de sua última frase, eu também preferia me aposentar. — O que podemos fazer agora é torcer para que dê tudo certo.

— Tem que dar, Rê. Já estou com problemas demais para ter que lidar com rixa de patrão.

— Eu também!

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