4. Glow Up

Jade Smith

Regina me abrigou em seu apartamento no dia do incêndio. Sendo divorciada, ela e o filho dividiam o lugar e tinham um quarto sobrando, eu não pretendia ficar por muito tempo, apenas o suficiente para me restabelecer e eu esperava não demorar muito.

Quando meu pai se opôs ao meu casamento com David, eu jurava que ele estava errado e nós brigamos feio. Mesmo assim, ele me presenteou com uma boa quantia em dinheiro e pediu que eu guardasse para uma emergência. Bom, tive muitas emergências e já não tinha mais a mesma quantia, mas junto com o dinheiro do seguro do carro, em breve conseguiria alugar um apartamento novo e comprar o que precisasse.

David foi preso em flagrante colocando fogo no apartamento. Por ter colocado a vida de outras pessoas em perigo, ele seguiria preso. Sinceramente, para mim era pouco. Ele merecia sofrer mais que alguns dias na prisão, mas eu acreditava que o carma o faria pagar todo o prejuízo que me causou, tanto monetário quanto emocional.

No sábado à tarde, eu e Regina aproveitamos que estava um belo dia, para comprar roupas novas. Afinal, todas as minhas roupas queimaram no incêndio, para minha sorte eu sempre carregava os documentos na bolsa e nisso eu não prejudicada.

— Ah meu Deus, Jade! Esse vestido é a sua cara e a cor combina com seu nome. — Regina disse quando passamos por uma vitrine e um vestido verde era exibido. O modelo midi era todo plissado, com gola canoa, uma fenda que vinha bem acima do joelho, mas um tecido fluído circundava toda a barra e escondia um pouco a abertura da fenda. — Você precisa experimentar.

Regina me arrastou para dentro da loja e enquanto eu provava o vestido, foi trazendo outras peças que segundo ela combinavam comigo. Eu não imaginei que gostaria tanto do vestido, principalmente por ele ser verde, mas ela estava certa, ficou ótimo, valorizou as curvas do meu corpo que eu nem me lembrava que tinha.

Saí para mostrar a Re e sua reação confirmou minha percepção.

— Onde você estava escondendo essas curvas, Jade? Você realmente precisava de um banho de loja. Agora vai, experimenta o restante.

Ela escolheu peças elegantes que eu nunca pensei que usaria, mas que ficaram lindas em mim. Alguns eram um pouco ousados, com seda, transparência ou renda. Fugia totalmente da minha tradicional calça social preta e camisa social branca. Re me fez comprar vestidos, saias, sandálias e acessórios, tudo que eu não costumava usar, por não achar necessário me arrumar tanto.

Quase estourei o cartão de crédito naquela loja, mas pelo menos comprei o necessário para ter o que vestir no trabalho.

— Bom, acho que terminamos. — falei saindo da loja cheia de sacolas e relembrando a adolescência, quando eu costumava fazer compras sem me preocupar com dinheiro.

— Tem mais um lugar que eu gostaria de ir, ou melhor, te levar. — pegamos um táxi e ela disse o endereço, não consegui ter uma ideia de onde poderia ser, mas confiei na mulher mais velha que estava sendo um anjo na minha vida. Minutos depois, paramos em frente a um salão de beleza. — Esse é um presente meu, para renovar sua autoestima e você se sentir mais confiante nesse recomeço.

— Nossa Re, não tenho nem palavras. — a abracei, sentindo meus olhos se encherem de lágrimas, pois de fato eu já não tinha autoestima e me sentia falta de um autocuidado. — Obrigada.

No salão eu fiz as unhas, as sobrancelhas e um tratamento capilar com corte, que deu outra vida ao meu cabelo. Além disso, conversei muito com as meninas do salão e fiz um lanchinho, elas foram muito atenciosas e me deram de brinde um kit para continuar cuidando do cabelo em casa. Foi realmente um dia incrível e eu me senti em dívida com a Regina, mas um dia eu teria a oportunidade de retribuir tudo que ela estava fazendo por mim. Graças a ela, eu nem tive tempo de chorar pela tragédia no meu apartamento.

— Agora eu quero te ver mais vezes com esse cabelo solto e esse sorriso no rosto. Você é jovem, não tem filhos e se livrou de um traste, tem mais é que ser livre.

— Obrigada, Re, você é uma mulher incrível.

E de fato era. Regina se separou do marido pouco tempo após dar a luz ao primeiro filho deles. Ela abriu mão de sua vida para criar o filho sozinha, hoje aos 45 anos e com o filho já adulto e terminando a faculdade, ela diz que nunca esteve tão bem com a vida e que não se arrepende de nada, principalmente de sua separação. Ela se tornou uma grande inspiração de mulher forte para mim.

Ao voltar para casa, seu filho Andrew, estava na sala assistindo o jogo. Eu ainda não o tinha conhecido, pois ele ficou no quarto estudando na noite passado, Regina explicou que ele estava fazendo os exames finais da faculdade e que por isso quase não saía do quarto.

— Andrew, essa é minha amiga Jade, é ela que vai passar alguns dias com a gente. — ele se levantou e veio até nós.

— Muito prazer, querem ajuda com as sacolas? — ele era um rapaz muito bonito, tinha belos olhos azuis iguais aos da mãe o cabelo preto cacheado. Devia ser muito paquerado na faculdade.

— Ah, por favor, estamos realmente cansadas. — Re respondeu e levamos as sacolas para o meu quarto.

O apartamento dela era incrivelmente amplo e arejado, eu tive certeza que o senhor Rutenford a pagava muito bem e não estava errado, ela dedicou muitos anos de sua vida naquela empresa e merecia o reconhecimento.

Os dois me deixaram sozinha para organizar tudo, por mais que eu não ficaria muito tempo, era bom ter tudo em ordem, além disso, segunda-feira eu tinha audiência e depois trabalho, não gostava de me atrasar então definitivamente era bom ter tudo em ordem.

Mais tarde ajudei Regina com o jantar, mas não sabia preparar muita coisa, sempre foi David quem cozinhava. E depois de tudo pronto, comemos nós três na mesa de jantar, mas uma ligação interrompeu nossa conversa. Era um número desconhecido, desliguei, mas voltou a chamar, poderia ser algo importante, então decidi me levantar e atender.

— Jade… me desculpe eu… — era a voz de David do outro lado da linha. — Não sei onde eu estava com a cabeça, destruí nossa vida juntos, tudo que construímos. Por favor me perdoe… — não respondi, não havia palavra para expressar o ódio que eu sentia daquele indivíduo. — Eu-eu prometo que vou mudar, que vai ser diferente, vamos recomeçar nossas vidas juntos…

Desliguei a ligação e bloqueei o número, para mim David estava morto. Por sorte, com as novas leis eu só precisava de uma assinatura dele para por fim definitivo no casamento. Se ele se arrependeu, talvez não seria tão fácil, mas eu não ia mudar de ideia.

— Aconteceu alguma coisa? — Regina perguntou preocupada quando retornei à sala de jantar.

— Não… era só o indivíduo me ligando da cadeia pra dizer que se arrependeu. — respondi suspirando e me sentando à mesa.

— E você não acreditou, não é? — Andrew perguntou e neguei com a cabeça.

— Não tem perdão o que ele fez e honestamente eu me sinto uma idiota por ter acreditado que nosso relacionamento tinha salvação. Eu estava sendo muito cega.

— Quem sou eu para discordar. — Andrew falou baixando a cabeça e sua mãe lhe deu um tapa no braço.

— Não liga para ele, Andy nunca teve um relacionamento, não sabe como é estar nessa situação.

— E sou muito feliz sendo solteiro, relacionamentos são complicados demais. Se você quiser Jade, eu posso te levar numas festas universitárias.

— Acho que já estou velha para essas festas. — respondi, mas no fundo me senti tentada com a ideia. Passei quase todos os anos da faculdade namorando o David, mal aproveitei.

— Eu não acho, quantos anos tem? 24, 25?

— 26.

— Então, na flor da idade e solteira, deveria afogar às mágoas com um novinho universitário. Eu estou aqui quiser um caminho fácil. — Regina levou a mão ao rosto ao ouvir as insinuações do filho e eu soltei uma leve risada com sua reação.

— Obrigada Andrew, certamente irei pensar na sua proposta sobre as festas, mas definitivamente não quero o caminho fácil. — Re começou a rir.

— Eu nem consigo ficar brava com você depois desse fora, filho. — ele também riu da situação e eu também, então rapidamente esqueci da ligação, do apartamento, do David e do chifre.

Mas certamente tudo isso ainda iria me atormentar mais tarde.

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