⊶ 03 ⊷

Adiante da sala circular estavam as camas, uma em cada canto do quarto, cada uma sobre um estrado de madeira que servia para separá-las da área coletiva. As camas eram de quarto colunas, antigas e bem conservadas com cortinas finas. Uma cama estava feita e a outra não (mas esta tinha roupas escolares jogadas sobre ela). Havia um terceiro estrado, diretamente na frente da porta, que poderia servir para sustentar outra cama, mas que, neste caso, servia como uma extensão da área coletiva.

— Ok! — disse um dos gêmeos, provavelmente Elói, puxando Klaus sem cerimônia para o luxuoso sofá branco. — É assim que um quarto Bourbon parece.

— Na verdade, é assim que todo quarto de dormitório parece — disse o gêmeo que provavelmente era Eliel.

— Nós já vimos os outros.

— Mas Bourbon ainda é melhor.

— É claro.

— Hum… Eu não quero ser rude, mas vocês poderiam falar um de cada vez, por favor? — pediu Klaus, confuso.

Eliel riu.

— Brayan diz que ajuda se você pensar na gente como uma pessoa só. Se você é novo, quer dizer. Você se acostuma com o tempo.

— Obrigado. — Klaus sorriu.

Elói continuou:

— Aqui em Bourbon tem três pessoas por quarto. A não ser que você seja especial, daí você pode pedir pelo seu próprio quarto. Como se você for capitão de algum time. Ou se você estiver acima de noventa e oito por cento do resto da turma.

— Mas isso é difícil — disse Eliel brandamente. — Porque todo mundo aqui ter notas incríveis.

— Todo mundo.

— Com certeza.

— Excelente é mediano aqui.

Klaus hesitou levemente, tentando apreender tudo isso. Enquanto ele procurava por "desafios" lá em Meliano, não era exatamente isso que ele estava esperando.

— Todo mundo. Tudo bem…

— Há três dormitórios: Bourbon, Orsini e Canossa, e o que menos gostamos é Canossa. — O outro gêmeo fez um sinal de negativo com o polegar e franziu a testa. — Por quê? — continuou ele antes que Klaus pudesse sequer abrir a boca para perguntar. — Porque eles são um bando de bajuladores de nariz-empinado e isso é basicamente tudo que você precisa saber.

— E você protege seu colega Bourbon até a morte, e nós faremos o mesmo por você. — O outro gêmeo assentiu sabiamente. — Bourbon é, sem dúvida alguma, a melhor casa… não se preocupe com Orsini, eles são inofensivos… mas Canossa está sempre tentando nos derrubar. Não confie neles.

Depois dessa frase, o brilho louco nos olhos deles desapareceu para o alívio de Klaus.

— O toque de recolher é dez nos dias de semana, onze nos finais de semana — disse Eliel. — Até então, você pode andar por aí fazendo o que quiser. Mas se você não chegar a tempo, fica fechado pra fora.

— O que torna útil nos ter como amigos. — Elói sorriu. — Porque nós podemos te colocar dentro de qualquer jeito e Hélder nunca saberia!

Eliel parecia orgulhoso.

— Nós podemos destrancar qualquer porta ou janela no campus. Ambos literal e figurativamente.

— Isso deve ser o de vocês. — Klaus ergueu uma sobrancelhas, perguntando-se se esses dois eram reais. Eles pareciam do tipo que poderiam estar enganando ele. — Disseram que todos aqui têm algo de errado neles.

— Bom… Não somente.— Elói sorriu suavemente e ofereceu uma das armas de brinquedo para Klaus.

Klaus considerou, e então sorriu e aceitou a arma.

— Boa escolha — disse Eliel. E então ele pegou a própria arma e atirou na testa de Klaus.

Quando Brayan entrou no quarto dos gêmeos não mais que dez minutos depois, ele estava lívido por algumas razões: uma, depois de gritar com os gêmeos por terem raptado Klaus sem avisar o resto deles onde ele estava; dois, por ter envolvido Klaus na sua batalha de armas de brinquedo semanal (que na verdade acontecia duas vezes por semana); e três, por terem atacado ele com as ditas armas de brinquedo no momento que ele chegara. Deixar o garoto novo sozinho na Casa Bourbon nunca foi uma boa ideia, mas pelo menos Klaus estava respirando quando ele o puxara para fora da guerra de armas de brinquedo que estava acontecendo. Escassamente, pelo menos.

Klaus estava rindo tanto que ele estava tropeçando enquanto andava, a mão de Brayan segurando a sua firmemente, e ele olhou para o Warbler mais velho e embargou:

— O que aqueles dois querem?

— Nós queríamos saber. — Brayan sorriu, impressionado com como Klaus parecia estar se divertindo. Ele se inclinou um pouco para avaliar a testa escarlate de Klaus. — Eles te pegaram ali de jeito.

— Valeu a pena para assistir Elói ir todo matrix depois do meu primeiro tiro certeiro na direção dele — disse Klaus, seu sorriso tornando-se um pouco estranho com a proximidade de Brayan. Brayan, porém, parecia intrigado.

— Como você sabe que aquele era Elói?

— Eu não sei — admitiu Klaus. — Ele apenas… parecia Elói?

— Na verdade, era Eliel. — Brayan sorriu. — Ele é o mais alto.

— Ah, então eles têm diferenças. — Klaus riu.

— Poucas. — Brayan parou em frente a uma porta e a abriu. — Esse é o meu quarto.

Klaus olhou dentro e viu que apesar de ser completamente igual ao dos gêmeos na arquitetura, o quarto também era muito… Brayan. Os móveis na área coletiva eram diferentes, com cores e materiais confortáveis e acolhedores. Havia um espesso tapete na área coletiva, e apenas uma cama parecia usada. Como era cercada por uma área de estudo entupida de livros, canetas, papéis e um lustroso laptop e havia um álbum de fotos apresentando os Hall’s Babbler, Klaus assumiu que essa era a cama de Brayan. O outro estrado tinha uma cama, mas ela fora puxada para o lado e o espaço deixado era repleto de almofadas grandes o bastante para sentar. O estrado do meio, para a extrema fascinação de Klaus, tinha sido transformado em um pequeno teatro com uma tela de cinema.

— Como… como aquela tela chegou aqui? — admirou-se Klaus.

— Na verdade é bem velha… Costumava ficar em uma das salas de áudio-visual, mas quando eles se atualizaram, perguntei se podia ficar com ela.

— E eles deixaram?

Brayan sorriu.

— Não é só para mim. Muitos dos Hall’s Babbler vem aqui passar o tempo. Então nós puxamos alguns nós.

O coral de Meliano nem podia pagar transporte, imagine uma tela de cinema, maravilhou-se Klaus. Ele caminhou ao redor do quarto, olhando para a coleção de cartazes de teatro e parou ao lado do quadro de fotos, que, além dos Hall’s Babbler, mostrava outras pessoas que não estava usando o uniforme de Dallacorte. De repente ele percebeu que o quarto estava bem silencioso. E então ele olhou para cima.

— Espere… Você fica sozinho?

— Se uma pessoa tem em média dez garotos aparecendo a toda hora para harmonizar, fazer barulho e em geral causar confusão, colegas de quarto não duram muito.

Klaus sorriu e sentou-se no sofá com um suspiro, olhando ao redor.

— Então você fica aqui, só você… — Ele apreendeu a grandeza de tudo.

— Me ajuda a apreciar o silêncio melhor, quando os garotos não estão aqui — admitiu Brayan, sentando-se ao seu lado.

Um silêncio nem estranho nem tenso surgiu. Ambos pareciam cansados sem realmente ter conhecimento do porquê de estarem cansados. Ambos pareciam perdidos em pensamento por um momento. Brayan se moveu primeiro, e viu Klaus olhando para seu celular. A tela estava em branco.

Brayan o cutucou gentilmente.

— Ei.

Por um instante, Klaus o olhou em resposta antes de se inclinar contra seu ombro, nem tentando sorrir desta vez. Brayan olhou para ele, um pouco surpreso, mas acolheu a situação enquanto durasse. Ele colocou um forte braço sobre os ombros de Klaus, incerto se estava procurando por calor ou emprestando-o para o outro garoto. Embora não quisesse, Klaus virou seu rosto no ombro de Brayan e soltou um suspiro sofrido, e Brayan usou sua mão livre para segurar a de Klaus.

— … fica mais fácil — ele finalmente murmurou.

Uma pausa.

— …quando…? — sussurrou Klaus sem se mover, apertando sua mão com um pouco mais de força.

— Pois é… — Brayan suspirou, olhando para Klaus de novo. Ele estava sempre tão perto daqueles sedutores lábios que o tinham hipnotizado pela primeira vez naquela tarde na úmida escada em Meliano. E nesse instante, ele afastou-se antes que fizesse algo de que fosse se arrepender depois.

Ele queria contar tudo para Klaus terrivelmente, mas embora ele pensasse sobre isso dia após dia, simplesmente não havia palavras no presente que explicassem como ele se sentia. Ele não entendia nem ele mesmo como um garoto tinha, em um dia, conquistado suas atenções sem nem ao menos saber que o tinha feito.

E com tudo que tinha acontecido, ele simplesmente machucaria Klaus agora; ele tinha certeza de que Klaus não precisava dessa nova complicação. Em seu estado atual, qualquer ação dele seria vista como tomar vantagem da situação. E ele nunca se perdoaria se desse um jeito de ser adicionado à lista de problemas de Klaus agora.

Por enquanto… Eu vou te proteger. De tudo… até de mim.

Brayan sorriu para Klaus.

— … quando você confiar em si mesmo para ser você mesmo de novo.

Klaus levantou os olhos para ele. O sorriso de Brayan aumentou.

— Você deve ser uma pessoa incrível, Klaus, para ter sobrevivido tudo aquilo por tanto tempo. — Ele desviou os olhar, pousando-o sobre o quadro de fotografias. — … eu não durei tanto.

— Brayan…? — Klaus sentou-se reto, olhando-o, a testa franzida em preocupação.

Mas Brayan apenas olhou para ele com a mesma expressão acolhedora.

— Você realmente é muito mais forte do que pensa. Klaus… Coragem também pode ser acreditar em si mesmo para superar tudo e tornar-se quem você quer ser de novo, num momento em que tudo parece estar arruinado. — Ele pegou ambas as mãos de Klaus. — Mas, desta vez… Eu estou com você. Sempre. Como eu disse antes, vou cuidar de você.

Tudo bem?

Klaus abaixou os olhos para suas mãos, e então os levantou de volta para o sorriso de Brayan. Ele sentiu os olhos arderem ao se encherem de lágrimas, mas seu orgulho as impediu de sair, piscando até que elas sumissem. Ele riu através da névoa nos seus olhos e assentiu.

— É. Tudo bem.

Brayan riu e sorriu para ele.

— Aguente firme.

Klaus apenas riu, secou os olhos e assentiu.

— É quase algo saído de um filme da Julia Roberts — resmungou Wen, revirando os olhos de bom humor lá no corredor, tendo assistido a toda a cena.

Dimitri sorriu para ele e então olhou de volta para os dois no quarto de Brayan.

— Vou ter que concordar. Mas eles são quase repugnantemente adoráveis.

— Brayan até que parece feliz. — Elói sorriu, e Eliel adicionou:

— O que é melhor que assistir ele olhando para seu Blackberry esperando por uma mensagem do seu belo belo ninfo.

— Já é oficialmente o belo belo ninfo dele? — perguntou Dimitri.

— Não ainda, se o jeito inquieto que eles agem um com o outro serve de dica. E você sabe tão bem quando eu que se Brayan nunca tivesse estado oficialmente "com" alguém, bem… — Wen revirou os olhos. — Ele não estaria tão preocupado agora. — Ele indicou os dois conversando amigavelmente dentro do quarto.

— Ele canta? — perguntou Eliel curiosamente. — Vocês mencionaram que ele era do coral de Meliano.

— O único vídeo que temos de Meliano é daquela garota baixinha de vozeirão cantando solo — comentou Elói. — E o ninfo de Brayan era parte do vocal de apoio.

— Bem, Brayan insiste que ele pode cantar… Eu não sei como ele sabe, sendo que até o Klaus diz que ele nunca ouviu ele cantar. — Dimitri deu de ombros.

— Vamos descobrir logo. — Wen assentiu, cruzando os braços, mantendo os olhos no casal no sofá. — Ele vai ter que cantar para Hideki e Martini. Eles decidem.

— Ele vai se dar bem — disseram os gêmeos em coro.

— E como vocês sabem disso? — Dimitri ergueu uma sobrancelha.

Elói — ou seria Eliel? — sorriu ao estudar o brilhante sorriso de Klaus ao olhar para Brayan.

— Apenas um pressentimento.

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