It won't be easy, you'll think it strange (Não será fácil, você achará estranho)
When I try to explain how I feel (Enquanto eu tento explicar como sinto)
That I still need your love after all that I've done... (Que ainda preciso do seu amor depois de tudo que fiz)
Os dois professores de música se olharam surpreendidos e espiaram no outro corredor. Um garoto de estrutura média estava ali, segurando um celular no ouvido, úmidos olhos azuis observando a luz do sol no jardim aberto, e aquela voz — aquela impossível voz! — vinha dele.
Ele estava cantando uma música de Evita no telefone.
I had to let it happen, I had to change… (Tive que deixar acontecer, tive que mudar...)
Couldn't stay all my life down at heel… (Não podia continuar toda a minha vida debaixo do salto)
Looking out of the window, staying out of the sun… (Olhando para fora da janela, permanecendo longe do sol)
Stella permaneceu olhando, fascinada, vagamente perguntando-se se essa era uma daquelas aparições sobre as quais Duarte Hazel vivia comentando. Gael abaixou os olhos para o arquivo do aluno nas suas mãos, e então de volta para o garoto. Imediatamente, ele começou a sorrir e virou no corredor.
— Você é Klaus Henke?
Klaus quase pulou um metro no ar, abruptamente parando no meio de um verso, virando-se para a profunda voz que repentinamente chamava seu nome. Um professor estava ali, sorrindo bondosamente de um jeito imponente.
— Klaus? — chamou Marlene no celular, preocupada. — O que aconteceu?
Afobado, Klaus gaguejou para o professor:
— Sim... Eu sou... Eu sou Klaus Henke.
— Klaus, com quem você está falando? — demandou a voz de Rute no telefone.
O professor levantou as mãos como se para mostrar para Klaus que estava tudo bem. Cada movimento dele era quieto e calculado. Ele disse claramente, para o benefício dos que estavam escutando:
— Sr. Henke, acho que essa música ficaria ainda melhor com algum acompanhamento musical. Você se uniria e mim e a sra. Martini no Saguão, para que ela possa tocar o piano para você? — Ele indicou o celular. — Tenho certeza que quem quer que esteja te ouvindo apreciaria ainda mais assim.
Klaus manteve-se com os olhos arregalados, aturdido por essa completamente inesperada reação. Ele olhou para o celular e então de volta para o professor sorridente. Parada um pouco mais longe estava uma senhora vestida elegantemente — aquela saia tinha que ser uma Valentino, disse a parte do seu cérebro separada para moda — e ela também estava sorrindo.
— Diga sim, Klaus — ajudou Brenda prestativamente, provavelmente sem ter ideia do que estava acontecendo.
Klaus engoliu em seco e assentiu.
— Cla-Claro. Gente... me deem um segundo...
— Ah, cara, mal posso esperar para ver a cara dele quando ele ver! — exclamou Dimitri enquanto ele e os outros Hall’s Babbler corriam corredor abaixo, em direção ao Saguão. — Tem que ser um recorde, até para vocês.
— Não há nada que os garotos de Bourbon não consigam fazer para um de seus membros. — Wen sorriu, correndo ao lado dele. — Bom, para um de seus futuros membros. Mas que o crédito esteja com quem merece... — Ele olhou para os gêmeos. — Eu não tinha ideia que a gente tinha tudo aqui em Bourbon.
— Não eram exatamente nossos. — Eliel sorriu. — Pode ter sido do ano passado...
— Ou do anterior... — considerou Elói.
— Ou pode ser tudo antiguidades. — Elói deu de ombros.
— Mas dizem que há charme em antiguidades!
— Definitivamente.
— Se Duarte ouvir que vocês dois pegaram coisas do estoque "assombrado" no ático, ele vai mutilar e exorcizar vocês dois — replicou Brayan — e eu nem quero imaginar em que ordem ele faria.
— Ei, olhem. — Dimitri fez os outros garotos pararem, apontando para o final do corredor. — O que está acontecendo?
Havia uma pequena multidão de Hall’s Babbler na entrada do Saguão, sem exatamente entrar. Eles estavam todos apertando-se nas portas ligeiramente abertas, ouvindo intensamente e não fazendo nenhum som. Eles mal notaram quando os outros Hall’s Babbler se aproximaram.
— O que está acontecendo? — perguntou Brayan quando eles chegaram, e, em união, todos os garotos ouvindo sibilaram ou ergueram suas mãos para ele no gesto universal de "Cale a boca!".
— O que foi? — sussurrou Wen, olhando para eles incredulamente.
— Shh... — disse Elói, erguendo-se para olhar.
— Escutem... — Eliel, sendo consideravelmente alto, conseguia se erguer mais alto para olhar.
So I chose freedom... (Então eu escolhi liberdade...)
Running around, trying everything new (Correndo por aí, tentando tudo novo)
But nothing impressed me at all… (Mas nada chegou a me impressionar...)
I never expected it to… (Eu nunca esperei por isso...)
Música vinha do saguão, o som de acompanhamento musical para uma música que eles nunca tinham imaginado que seria tocada em uma sala de um coral só de garotos, já que nenhum deles conseguiria cantá-la. E ainda assim, conforme a música continuava, uma voz ergueu-se dentro da sala, preenchendo-a com notas elevadas e ecoando porta afora, fazendo todos permanecerem transfixados.
Don't cry for me Argentina… (Não chore por mim, Argentina...)
The truth is I never left you (A verdade é que eu nunca a deixei)
All through my wild days, my mad existence (Pelos meus dias selvagens, minha insana existência)
I kept my promise… (Eu mantive minha promessa...)
Don't keep your distance… (Não se mantenha distante...)
— Quem diabos é esse? — sibilou Wen, arregalando os olhos.
— Não sabemos — murmurou um dos outros Hall’s Babbler. — Quando chegamos aqui, Hideki e Martini já estavam lá dentro com ele.
— Tem um cara ali dentro? — perguntou Dimitri, horrorizado.
— Hmm... — Elói, na ponta dos pés, concordou de onde ele estava espiando dentro da sala. — Sim, eu consigo ver o blazer.
They are illusions… (São ilusões...)
They are not the solutions they promised to be (Não são as soluções que prometeram ser)
The answer was here all the time (A resposta estava aqui o tempo todo)
I love you and hope you love me (Eu te amo e espero que você me ame)
Don't cry for me Argentina… (Não chore por mim, Argentina...)
Conforme a música e a voz impressionavam ainda mais, Brayan ergueu-se em repentina realização, os olhos arregalando-se e caminhando para longe da porta como se tivesse sido atingido.
— Peraí, eu acho... é aquele...?
— Gente! Gente! — sibilou Eliel, pulando para cima e para baixo na ponta dos pés, descontrolado com animação. — É Alice! Alice está cantando ali!
— Eu pensei que você tinha dito que era um cara? Quem diabos é Alice? — demandou outro Warbler.
— Não, não Alice — exclamou Brayan, abrindo caminho entre os outros para conseguir olhar melhor. — Klaus! É Klaus Henke cantando ali.
— Nem vem! O novato? — Os garotos se apertaram ainda mais contra a porta, seu peso abrindo-a um pouco mais.
Gael, de onde permanecia do lado de dentro, assistia completamente divertido à porta abrir-se cada vez mais conforme os garotos a empurravam. Quando a cabeça de Dimitri apareceu dentro da sala, ele se inclinou em direção a multidão e disse calmamente:
— Vocês garotos gostariam de entrar?
Os Hall’s Babbler olharam surpresos para o diretor de coral, que sorria abertamente para eles. Embaraçado, o grupo se ajeitou, arrumando os blazers e fingindo compostura. Eles cuidadosamente abriram a porta, entrando e se espalhando pela sala.
No fundo da sala, Stella tocava o piano, quase incapaz de parar de sorrir enquanto Klaus, suas costas viradas para os garotos, continuava a cantar. Ele parecia feliz por receber o óbvio louvor silencioso dela, e estava cantando com tudo que tinha, obtuso aos olhos que o assistiam. Sobre o piano estava seu iPhone.
Quando a música lentamente acabou, uma explosão de aplauso alegre veio do iPhone.
— É isso aí, Klaus! Isso! Esse é o nosso garoto! — Gritos e assovios acompanhavam os aplausos do coral de Meliano.
Klaus riu em alívio e pura felicidade, algo que ele não tinha sentido em muito tempo. Era como se um grande peso tivesse sido tirado do seu peito. Ele pegou o seu celular e sorriu para ele.
— … obrigado, gente. E não se preocupem, eu me viro daqui.
Uma mistura de alegria e confusão agora saía do celular.
— Você foi incrível! Foi... Droga, gente, Samir está vindo! Droga! Rápido, escondam! Klaus, você foi ótimo! Pablo, saí daí! Corram! A gente te ama, Klaus! Te vemos nas Seccionais! Tchau! Tchau, Klaus!
— Tchau — riu-se Klaus, desligando. Ao fazê-lo, ele soltou um grande suspiro de alívio.
E o inteiro Saguão dos Hall’s Babbler explodiu em aplausos e vivas.
Klaus virou-se com enormes olhos para ver os Hall’s Babbler sorrindo e aplaudindo para ele.
— Isso aí! — gritou Dimitri, sorrindo. — Foi incrível!
— Eu não acredito que era você! — disse Wen, aplaudindo enquanto sacudia a cabeça em descrença. Os gêmeos estavam aplaudindo também, os atrasados que só tinham conseguido escutar o final da música batendo palmas atrás deles.
Klaus olhou para eles, chocado e de certa forma encantado. Seus olhos pousaram sobre os quentes de Brayan, e ele retribuiu o sorriso que Brayan lhe mandou enquanto aplaudia com um olhar conhecedor, como se soubesse o tempo todo que Klaus conquistaria os Hall’s Babbler.Sobre o barulho, Gael ergueu a voz para chamar atenção:— Muito bem, muito bem agora... — Ele estava sorrindo para os garotos. — Se acalmem, se acalmem...— Eu devo dizer, isso foi bem renovador — disse Stella, apertando a mão de Klaus com um sorriso enquanto os garotos se ajeitavam na sala, sentando-se nas cadeiras e divãs. — Faz um bom tempo que não tenho um contratenor entre os Hall’s Babbler, sr. Henke... o último foi de vinte anos atrás. Eu estava prestes a desistir de esperar que um aparecesse, ainda mais um com uma voz como a sua.— Pe-Peraí... — Klaus olhou dela para G
O fato de que ele podia empacotar sua vida em algumas caixas era de certa forma deprimente. Pelo menos os garotos estavam lá. Dimitri e Wen estavam procurando por uma razão, qualquer razão, para faltar Química Avançada e os gêmeos nunca precisavam de uma razão, enquanto Brayan tinha insistido resolutamente em estar lá. Filipe também insistira em ajudar — aturdido como estava com o grupo de garotos de blazers invadindo a casa dos Hudson-Henke — mas vê-lo levantando e carregando as caixas que continham tudo que era aparentemente "essencial" para Klaus viver apenas fez a transição de casa para o internato ainda mais estranha. Mas o fato de que Filipe lhe lançou um sorriso encorajador ajudou.Com esse sorriso, Klaus lembrou-se do Alvorada cantando para ele, e assentiu em resposta para seu novíssimos meio-irmão, como se lhe garantindo que ficaria bem.E ent&ati
Amizade é bom...Klaus tentou dizer para si mesmo. Quer dizer, é bom por enquanto. Claro, Filipe não era gay e Sandro... bem, eu ainda não tenho certeza sobre ele, mesmo que ele esteja com a Quezia... mas Brayan é... incrível, e ele realmente é gay e... nós somos realmente próximos. E nos damos tão bem... Se eu arruinar isso agora...— Oi, Klaus!Ele olhou para um pequeno garoto com uma juba encaracolada loiro-avermelhada sentado ao seu lado, oferecendo-o uma coca diet. O garoto pequeno parecia como uma versão mais velha e estranha de um querubim de uma pintura renascentista. Klaus pegou o refrigerando agradecidamente e o garoto disse, com um grande sorriso:— Meu nome é Raul. Eu moro algumas portas depois da sua.— Oi. — Klaus sorriu, e então piscou. Ele olhou mais perto para a roupa de Raul. — … esses são... os pijamas Do
Os gêmeos correram atrás de Klaus, que estava com a testa sobre uma mão.— Você está... bem...? — perguntou Elói em um suave, assustado sussurro.Klaus, que parara no meio da área, grunhiu silenciosamente ao deitar a cabeça na mão, o rosto corado.— … preciso de café. Muito e muito café, por favor.Eliel correu para a cozinha imediatamente.— Teresa! — ofegou Wen do topo das escadas, correndo para baixo e amarrando seu robe atropeladamente. Ele correu até a garota na sala de estar que ainda estava encarando, branca como um fantasma, Klaus. — Baby, o que você está fazendo aqui? Droga, eu disse que você não pode vir aqui... só, só vá, ok? Vamos lá...— Ele... Ele... Ele acabou de... — Teresa conseguiu dizer, tremendo, apontado para Klaus.— Si
Klaus, surpreso, olhou para o papel nas suas mãos e então de volta para Lorenzo.— … você precisa de um parceiro para esse dueto. Para cantar a parte de Christina Grimmie.— Por isso que eu estava pensando em desistir — admitiu Lorenzo. — Inferno, nem sei se conseguiria cantar. — Ele tocou mais algumas notas. Klaus o assistiu e então cuidadosamente disse:— Bom... você sabe que soou muito bem. Para treino.— Sério. — Lorenzo parecia divertido. Klaus ainda não tinha certeza se estava confortável com o jeito com que Lorenzo o olhava, como se estivesse tentando ver através dele. Mas o sorriso era amigável. — Quer cantar comigo? — Ele se endireitou e pôs as mãos no teclado de novo, começando a melodia de entrada. — Apenas a primeira parte. Eu só preciso que alguém harmonize comigo. Se eu
Pela primeira vez desde que ele chegou à Bourbon, Klaus realmente acordou certa manhã com o seu despertador e não por qualquer outra razão maluca — e isso era incrível. Ele bocejou e jogou o acolchoado longe e sentou-se na cama, piscando para a luz matinal. Partículas de poeira brilhavam pelos raios de sol que entravam pelas janelas. Ele suspirou e coçou o rosto, e então se levantou e virou-se apropriadamente para seu quarto...… e soltou um profundo, exasperado suspiro.Como ontem, seu quarto estava, mais uma vez, repleto pelo que deviam ser dúzias e mais dúzias de copos de café deixados em cima de qualquer superfície — de canecas a xícaras para garrafas térmicas e de copos de isopor.Klaus grunhiu para esse exagero todo (o qual levou um século para limpar ontem), virou-se para sua porta fechada e gritou:— Vocês tê
— E nós só estamos garantindo disso! — exclamou Raul com um sorriso. Ele riu e colocou o pacote nas mãos de Klaus. — Aqui. Meu presente de boas-vindas.— Oh... — Klaus parecia aturdido. — Não precisava... — Mas Raul, depois de checar o sofá cuidadosamente por coisas estranhas, jogou-se nele e gesticulou para que Klaus abrisse.Klaus desfez o laço de fita, e isso revelou a marca impressa no pacote. Seus olhos se arregalaram ao limite e ele rasgou a caixa para levantar uma suave estola Hermés em cashmere.— Oh... — Ele apenas ficou olhando, sem saber o que dizer.— Você gostou? — disse Raul, um pouco preocupado.— Você é maluco... Isso é incrível! — Klaus abraçou a estola e então abraçou Raul também. Com a situação financeira existente em Hill City, el
— Sim, entregamos para ele — disse Dimitri com outro sorriso educado que parecia um pouco forçado. — Mas você deveria trazer o próximo você mesmo, porque seus amigos Canossa são verdadeiros pés no saco.Ao invés de ficar irritado, Lorenzo apenas riu.— Peço desculpas por Darci, então. Você sabe como ele fica rabugento.Brayan tirou os olhos de Lorenzo e encontrou os de Klaus. Sem qualquer alerta, a mão de Klaus fechou-se sobre a dele no topo da barricada — ele estava apenas olhando para ele.Brayan estava um pouco surpreso, mas sorriu. Klaus apenas sorriu de volta — e isso era uma conversa por si só.— Boa sorte. Sério.— Obrigado.Lorenzo, que não perdeu a ação, sorriu para Klaus, que agora olhou para ele também assentiu.— É, recebi o seu presente, aqu