⊶ 02 ⊷

Klaus mal conseguiu se conter em lhe dar uma expressão de "Você está louco?" Ao invés disso, ele olhou pelo canto dos olhos para Brayan. Brayan apenas deu de ombros, tentando não sorrir. Hélder viu onde ele estava olhando e olhou para Brayan, que imediatamente trouxe outro sorriso charmoso para os lábios. Dimitri e Wen eram autênticos anjos gêmeos que pareciam não ter ideia do que Hélder estava falando.

Hélder voltou-se para Klaus.

— Você tem certeza que gostaria de ficar em Bourbon?

— Não vejo por que não.

As tosses de Wen e Dimitri quase estragaram tudo, mas até Hélder parecia entender. Ele suspirou e olhou para Klaus.

— Tudo bem. Bourbon que seja. — Ele se virou para os outros três. — Vou manter os olhos nesse aqui, para ter certeza que vocês não o assustam muito. Depois que Mario Hoe fugiu de Bourbon para Canossa…

— Perda dele — zombou Dimitri.

— … Raul achou que ele estava doente e estava apenas tentando ajudar… — adicionou Wen.

— É por isso que ele jogou trinta e dois acolchoados sobre ele enquanto ele dormia?

— Gente! — exclamou Brayan.

Silêncio. Os três garotos olharam para sr. Hélder esperançosamente, e Hélder olhou de volta para o garoto novo, considerando. Klaus tomou a oportunidade para lançar sua melhor expressão de "Eu não ligo a mínima" para sr. Hélder.

— Então, quando eu posso me mudar?

Klaus tinha lido sobre as habitações escolares no panfleto que ele acabou usando para matar tempo durante a verdadeiramente incômoda viagem de uma hora e meia para Westerville com seu pai no primeiro dia de aula. Até onde ele conseguiu entender, os dormitórios eram desejáveis e extravagantes em padrões ordinários já que a maioria do seleto corpo estudantil de Dallacorte ficava neles. Tal como estava, a Casa Widnsor era de longe a mais desejada, com uma grande parte de ex-alunos honrosos se formando de lá e todos serem simplesmente entregados à mão para universidades da Ivy League.

Era assim que parecia no branco e preto. Quando Brayan, Wen e Dimitri trouxeram Klaus para Bourbon pela primeira vez, aquela gigante construção em forma de mansão com colunas antigas que poderia envergonhar algumas das melhores fraternidades universitárias do país, parecia que tudo seria como havia sido aclamado. E foi, de um jeito ou de outro.

— Vocês… todos moram aqui? — perguntou Klaus, observando alguns garotos entrarem no dormitório. Por dentro, além das portas de carvalho, o arqueado hall de entrada os acolheu. O chão era de mármore e além das enormes vigas de madeira acima que bloqueavam a luz do sol estava uma grande bandeira azul royal cortada por um raio dourado, as cores de Bourbon.

A arquitetura era requintada. Das ricas tiras de madeira aos tons elegantes nas paredes e às bem-escolhidas decorações, Bourbon poderia muito bem ser uma exibição de museu sobre elegância do velho mundo.

— Bom, sim… Wen costumava ficar em Orsini. — Brayan sorriu.

— Verdade? — perguntou Klaus, seguindo os outros pelo corredor. — Por que você mudou?

— Era mais interessante aqui.

— Certo, eu posso estar começando a ficar um pouco nervoso — disse Klaus, franzindo a testa para eles.

Brayan riu e colocou um braço sobre os ombros de Klaus. Enquanto Klaus tentava impedir seu coração se sair voando do seu peito com a repentina ação, Brayan tentou transparecer falsa tranquilidade.

— Certo, olhe, aquilo que a gente disse para o Hélder… Aqueles são casos extremos. Os garotos aqui são racionais… na sua maioria. Não se preocupe. Nós não colocaríamos você em perigo.

Algo no andar de cima explodiu, fazendo Klaus pular. Todos no corredor mal piscaram. Sem nem parar de andar, Wen pegou um extintor de incêndio que estava por perto e o entregou para um garoto que parecia ter chegado ao corredor especificamente para isso. Todos continuaram como se nada tivesse acontecido.

Antes que Klaus pudesse se maravilhar com isso, seu celular tocou. Ele o pegou no seu bolso e leu a mensagem.

“Oi, Klaus! Está em Dallacorte? Que você está aprontando? — M”

Klaus sorriu e respondeu rapidamente.

“Pensando em ser aluno interno. — K”

“Então… Você só vai estar por aqui nos finais de semana? — M”

Klaus sentiu um aperto no coração. Ele tinha visto a expressão de Marlene quando ele tinha anunciado suas intenções de partir. Ela devia ter sido a primeira pessoa com quem ele falara sobre isso, e, no final, ela tinha sido umas das últimas a saber. Mesmo ele tinha que admitir que depois de tudo que ele e Marlene tinham passado juntos, ela merecia mais que um anúncio de última hora sem nem consultar sua opinião sobre a decisão dele.

“Me desculpe, M. Achei que ia ajudar o pai e Claudia se eu parasse de viajar tanto. — K”

“Eu entendo. Não se preocupe com isso. — M”

“Você sabe que eu chego aí em um segundo se você precisar, certo? — K”

“Klaus, relaxe. A gente entende. E não se preocupe, vamos recuperar o atraso nos finais de semana. — M”

Ali estava o "a gente" que Klaus temia. Não tinha sido apenas Marlene. Era todo o grupo. Ele tinha começado a se perguntar o que eles estavam fazendo agora. Era horário de almoço, então eles deviam estar no refeitório, ou talvez até na sala de música ensaiando para qualquer que fosse a performance que sr. Samir tivesse planejado agora. Matias, Tauane e Marlene estariam dançando a uma música que Pablo poderia estar tocando no violão, e Artur poderia estar tentando explicar para Brenda que faciais não eram coisas feitas por fascistas. Samira e Quezia poderiam estar discutindo alguma loucura que a treinadora Sartori fizera enquanto Sandro mantinha um braço ao redor de Quezia. Rute estaria desorientando Filipe ao ficar falando obsessivamente sobre ensaios, e desde que Klaus não estava mais por perto, ela poderia muito bem estar tomando o solo que supostamente seria dele.

Se ele não tivesse partido.

— Klaus?

Ele olhou para cima e viu os outros três o observando com preocupação. Ele piscou.

— O quê?

Wen olhou para Brayan, que tentara chamar a atenção de Klaus duas vezes e só agora teve sucesso. Como ele esperava, Brayan parecia apreensivo.

— Está tudo bem?

— Sim — suspirou Klaus, guardando o celular no bolso. — Tudo bem. Por quê?

Dimitri ergueu uma sobrancelha e olhou para Wen. Wen olhou para ele e então olhou para Brayan. Brayan manteve os olhos em Klaus ao andar para frente.

— Tem certeza…? — perguntou ele.

— Sim. — Klaus assentiu e sorriu adequadamente.

O problema em ter tanto em comum com Klaus era saber quando ele não estava contando tudo. Mas, por enquanto, Brayan decidiu deixar isso passar e segurou a mão de Klaus com um sorriso deslumbrante.

— Vamos lá, eu vou te mostrar os quartos.

Klaus, cego pelo sorriso, não pode fazer muito além de sorrir de volta e o seguir acima pela escada esculpida à mão. Dimitri e Wen se olharam e apenas sacudiram a cabeça com uma risada.

— Eu seriamente queria que eles se ajeitassem logo — reclamou Dimitri, soltando sua gravata. — Se eu ouvir ele resmungando sobre ele mais uma vez…

— Eu não sei. Da última vez que Brayan estava a fim de alguém, levou dois meses para ele dizer algo para ele… — disse Wen duvidosamente.

— Não vamos falar disso. Odeio lembrar do que a gente teve que enfrentar — estremeceu Dimitri. — Eu lembro quando ele ouviu aquela música e decidiu que era perfeita para a situação deles e era a única coisa tocando no seu quarto por uma semana.

— Eu evitei o quarto dele como uma praga.

— Eu realmente tive que viver com isso; a gente dividia um quarto, Wen. A GENTE DIVIDIA UM QUARTO. Eu mantinha protetores de ouvido ao lado da minha cama!

— E agora aqui estamos nós de novo… — Wen suspirou, acenando para as escapas por onde Brayan e Klaus tinham desaparecido. Dimitri soltou o mesmo sofrido suspiro.

— O que não fazemos pelo bem da amizade…

Klaus tinha certeza que Brayan tinha ido por aquele caminho pelo corredor, mas depois que ele tinha soltado sua mão por um momento para falar com um Warbler em um dos quartos, Klaus se encontrou perdido. Certamente ele não podia ser tão problemático em navegação, mas os corredores de Bourbon não apenas pareciam idênticos, mas eram iguais em qualquer andar. Klaus tinha simplesmente caminhando despreocupadamente por um momento, observando as pinturas penduradas nas paredes, os móveis, o fato de que o chão era acarpetado e que os móveis de madeira pareciam como aqueles que trariam um infarto para vendedores de antiguidades se eles os vissem.

E agora ele não tinha ideia de onde estava.

E ele tinha a sensação de que estava sendo observado.

E agora eu lembro aquela coisa que disse para a treinadora Sartori… sobre me sentir como se estivesse num filme de terror… Klaus olhou ao redor preocupadamente. Ele achou que tinha ouvido movimento às suas costas, mas não havia nada ali quando ele olhou. Ele quase pulou para fora da sua própria pele quando voltou a olhar para sua frente e encontrou um garoto loiro ali parado com um sorriso típico do Gato de Cheshire.

— Olá, Alice — disse ele, os olhos azul-gelo brilhando.

— Desculpe? — disse Klaus.

— Bem-vindo ao País das Maravilhas — disse uma voz idêntica às suas costas. Klaus se virou rapidamente e encontrou o mesmo garoto, com o mesmo sorriso, parado do mesmo jeito. Ou… pelo menos era assim que parecia.

— Certo… — Klaus olhou para frente e para trás entre os dois garotos.

O gêmeo às suas costas deu um passo suave com sua longa perna e agora estava parado ao lado do seu irmão. O par de belos gêmeos estava sorrindo.

— Você parece perdido, Alice — disse um deles. — Caiu pelo buraco do coelho e bateu a cabeça?

— Porque, se você estiver perdido, podemos indicar o caminho certo — disse o outro.

Klaus decidiu que até as alucinações de Brenda faziam mais sentido que isso, mas sacudiu a cabeça, tentando clarear a mente, e lançou um sorriso nervoso para os gêmeos.

— Meu nome é Klaus. Eu sou…

— Novo — os gêmeos disseram em coro. — A gente sabe.

— E… vocês são…?

O gêmeo da esquerda levantou uma mão.

— Sou Eliel.

— Sou Elói — disse o outro gêmeo.

E, em união, cada um segurou uma mão de Klaus.

— Vamos lá, Alice! — disseram em coro. — Nós vamos te ajudar!

Não tendo a energia para protestar e incapaz de escapar do aperto dos gêmeos que no momento puxavam seus braços com força suficiente para amputá-los, Klaus afobou-se:

— Na verdade, eu estava com o Brayan…?

— Brayan?

— A gente sabe onde ele está.

— Ele está lá em baixo!

— Procurando por você!

— Ele não vai se importar se a gente emprestar você por um instante!

E Klaus era jogado sem cerimônia dentro de um quarto Bourbon pela primeira vez.

Os corredores apenas o haviam preparado parcialmente para o que um quarto de Dallacorte realmente era. Era como pisar dentro do set de filmagens de The Tudors. Não parecia muito de fora, mas por dentro era do tamanho de um apartamento grande, sem paredes separando a área coletiva das camas. Havia uma área central onde móveis confortáveis estavam. No caso dos gêmeos, havia um luxuoso sofá branco, uma mesa de café de vidro, com uma larga televisão. A mesa de café estava ocupada por gigantes armas de brinquedo Nerf que pareciam extremamente fora do lugar ao lado de uma pilha de livros escolares.

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