Klaus mal conseguiu se conter em lhe dar uma expressão de "Você está louco?" Ao invés disso, ele olhou pelo canto dos olhos para Brayan. Brayan apenas deu de ombros, tentando não sorrir. Hélder viu onde ele estava olhando e olhou para Brayan, que imediatamente trouxe outro sorriso charmoso para os lábios. Dimitri e Wen eram autênticos anjos gêmeos que pareciam não ter ideia do que Hélder estava falando.
Hélder voltou-se para Klaus.
— Você tem certeza que gostaria de ficar em Bourbon?
— Não vejo por que não.
As tosses de Wen e Dimitri quase estragaram tudo, mas até Hélder parecia entender. Ele suspirou e olhou para Klaus.
— Tudo bem. Bourbon que seja. — Ele se virou para os outros três. — Vou manter os olhos nesse aqui, para ter certeza que vocês não o assustam muito. Depois que Mario Hoe fugiu de Bourbon para Canossa…
— Perda dele — zombou Dimitri.
— … Raul achou que ele estava doente e estava apenas tentando ajudar… — adicionou Wen.
— É por isso que ele jogou trinta e dois acolchoados sobre ele enquanto ele dormia?
— Gente! — exclamou Brayan.
Silêncio. Os três garotos olharam para sr. Hélder esperançosamente, e Hélder olhou de volta para o garoto novo, considerando. Klaus tomou a oportunidade para lançar sua melhor expressão de "Eu não ligo a mínima" para sr. Hélder.
— Então, quando eu posso me mudar?
Klaus tinha lido sobre as habitações escolares no panfleto que ele acabou usando para matar tempo durante a verdadeiramente incômoda viagem de uma hora e meia para Westerville com seu pai no primeiro dia de aula. Até onde ele conseguiu entender, os dormitórios eram desejáveis e extravagantes em padrões ordinários já que a maioria do seleto corpo estudantil de Dallacorte ficava neles. Tal como estava, a Casa Widnsor era de longe a mais desejada, com uma grande parte de ex-alunos honrosos se formando de lá e todos serem simplesmente entregados à mão para universidades da Ivy League.
Era assim que parecia no branco e preto. Quando Brayan, Wen e Dimitri trouxeram Klaus para Bourbon pela primeira vez, aquela gigante construção em forma de mansão com colunas antigas que poderia envergonhar algumas das melhores fraternidades universitárias do país, parecia que tudo seria como havia sido aclamado. E foi, de um jeito ou de outro.
— Vocês… todos moram aqui? — perguntou Klaus, observando alguns garotos entrarem no dormitório. Por dentro, além das portas de carvalho, o arqueado hall de entrada os acolheu. O chão era de mármore e além das enormes vigas de madeira acima que bloqueavam a luz do sol estava uma grande bandeira azul royal cortada por um raio dourado, as cores de Bourbon.
A arquitetura era requintada. Das ricas tiras de madeira aos tons elegantes nas paredes e às bem-escolhidas decorações, Bourbon poderia muito bem ser uma exibição de museu sobre elegância do velho mundo.
— Bom, sim… Wen costumava ficar em Orsini. — Brayan sorriu.
— Verdade? — perguntou Klaus, seguindo os outros pelo corredor. — Por que você mudou?
— Era mais interessante aqui.
— Certo, eu posso estar começando a ficar um pouco nervoso — disse Klaus, franzindo a testa para eles.
Brayan riu e colocou um braço sobre os ombros de Klaus. Enquanto Klaus tentava impedir seu coração se sair voando do seu peito com a repentina ação, Brayan tentou transparecer falsa tranquilidade.
— Certo, olhe, aquilo que a gente disse para o Hélder… Aqueles são casos extremos. Os garotos aqui são racionais… na sua maioria. Não se preocupe. Nós não colocaríamos você em perigo.
Algo no andar de cima explodiu, fazendo Klaus pular. Todos no corredor mal piscaram. Sem nem parar de andar, Wen pegou um extintor de incêndio que estava por perto e o entregou para um garoto que parecia ter chegado ao corredor especificamente para isso. Todos continuaram como se nada tivesse acontecido.
Antes que Klaus pudesse se maravilhar com isso, seu celular tocou. Ele o pegou no seu bolso e leu a mensagem.
“Oi, Klaus! Está em Dallacorte? Que você está aprontando? — M”
Klaus sorriu e respondeu rapidamente.
“Pensando em ser aluno interno. — K”
“Então… Você só vai estar por aqui nos finais de semana? — M”
Klaus sentiu um aperto no coração. Ele tinha visto a expressão de Marlene quando ele tinha anunciado suas intenções de partir. Ela devia ter sido a primeira pessoa com quem ele falara sobre isso, e, no final, ela tinha sido umas das últimas a saber. Mesmo ele tinha que admitir que depois de tudo que ele e Marlene tinham passado juntos, ela merecia mais que um anúncio de última hora sem nem consultar sua opinião sobre a decisão dele.
“Me desculpe, M. Achei que ia ajudar o pai e Claudia se eu parasse de viajar tanto. — K”
“Eu entendo. Não se preocupe com isso. — M”
“Você sabe que eu chego aí em um segundo se você precisar, certo? — K”
“Klaus, relaxe. A gente entende. E não se preocupe, vamos recuperar o atraso nos finais de semana. — M”
Ali estava o "a gente" que Klaus temia. Não tinha sido apenas Marlene. Era todo o grupo. Ele tinha começado a se perguntar o que eles estavam fazendo agora. Era horário de almoço, então eles deviam estar no refeitório, ou talvez até na sala de música ensaiando para qualquer que fosse a performance que sr. Samir tivesse planejado agora. Matias, Tauane e Marlene estariam dançando a uma música que Pablo poderia estar tocando no violão, e Artur poderia estar tentando explicar para Brenda que faciais não eram coisas feitas por fascistas. Samira e Quezia poderiam estar discutindo alguma loucura que a treinadora Sartori fizera enquanto Sandro mantinha um braço ao redor de Quezia. Rute estaria desorientando Filipe ao ficar falando obsessivamente sobre ensaios, e desde que Klaus não estava mais por perto, ela poderia muito bem estar tomando o solo que supostamente seria dele.
Se ele não tivesse partido.
— Klaus?
Ele olhou para cima e viu os outros três o observando com preocupação. Ele piscou.
— O quê?
Wen olhou para Brayan, que tentara chamar a atenção de Klaus duas vezes e só agora teve sucesso. Como ele esperava, Brayan parecia apreensivo.
— Está tudo bem?
— Sim — suspirou Klaus, guardando o celular no bolso. — Tudo bem. Por quê?
Dimitri ergueu uma sobrancelha e olhou para Wen. Wen olhou para ele e então olhou para Brayan. Brayan manteve os olhos em Klaus ao andar para frente.
— Tem certeza…? — perguntou ele.
— Sim. — Klaus assentiu e sorriu adequadamente.
O problema em ter tanto em comum com Klaus era saber quando ele não estava contando tudo. Mas, por enquanto, Brayan decidiu deixar isso passar e segurou a mão de Klaus com um sorriso deslumbrante.
— Vamos lá, eu vou te mostrar os quartos.
Klaus, cego pelo sorriso, não pode fazer muito além de sorrir de volta e o seguir acima pela escada esculpida à mão. Dimitri e Wen se olharam e apenas sacudiram a cabeça com uma risada.
— Eu seriamente queria que eles se ajeitassem logo — reclamou Dimitri, soltando sua gravata. — Se eu ouvir ele resmungando sobre ele mais uma vez…
— Eu não sei. Da última vez que Brayan estava a fim de alguém, levou dois meses para ele dizer algo para ele… — disse Wen duvidosamente.
— Não vamos falar disso. Odeio lembrar do que a gente teve que enfrentar — estremeceu Dimitri. — Eu lembro quando ele ouviu aquela música e decidiu que era perfeita para a situação deles e era a única coisa tocando no seu quarto por uma semana.
— Eu evitei o quarto dele como uma praga.
— Eu realmente tive que viver com isso; a gente dividia um quarto, Wen. A GENTE DIVIDIA UM QUARTO. Eu mantinha protetores de ouvido ao lado da minha cama!
— E agora aqui estamos nós de novo… — Wen suspirou, acenando para as escapas por onde Brayan e Klaus tinham desaparecido. Dimitri soltou o mesmo sofrido suspiro.
— O que não fazemos pelo bem da amizade…
Klaus tinha certeza que Brayan tinha ido por aquele caminho pelo corredor, mas depois que ele tinha soltado sua mão por um momento para falar com um Warbler em um dos quartos, Klaus se encontrou perdido. Certamente ele não podia ser tão problemático em navegação, mas os corredores de Bourbon não apenas pareciam idênticos, mas eram iguais em qualquer andar. Klaus tinha simplesmente caminhando despreocupadamente por um momento, observando as pinturas penduradas nas paredes, os móveis, o fato de que o chão era acarpetado e que os móveis de madeira pareciam como aqueles que trariam um infarto para vendedores de antiguidades se eles os vissem.
E agora ele não tinha ideia de onde estava.
E ele tinha a sensação de que estava sendo observado.
E agora eu lembro aquela coisa que disse para a treinadora Sartori… sobre me sentir como se estivesse num filme de terror… Klaus olhou ao redor preocupadamente. Ele achou que tinha ouvido movimento às suas costas, mas não havia nada ali quando ele olhou. Ele quase pulou para fora da sua própria pele quando voltou a olhar para sua frente e encontrou um garoto loiro ali parado com um sorriso típico do Gato de Cheshire.
— Olá, Alice — disse ele, os olhos azul-gelo brilhando.
— Desculpe? — disse Klaus.
— Bem-vindo ao País das Maravilhas — disse uma voz idêntica às suas costas. Klaus se virou rapidamente e encontrou o mesmo garoto, com o mesmo sorriso, parado do mesmo jeito. Ou… pelo menos era assim que parecia.
— Certo… — Klaus olhou para frente e para trás entre os dois garotos.
O gêmeo às suas costas deu um passo suave com sua longa perna e agora estava parado ao lado do seu irmão. O par de belos gêmeos estava sorrindo.
— Você parece perdido, Alice — disse um deles. — Caiu pelo buraco do coelho e bateu a cabeça?
— Porque, se você estiver perdido, podemos indicar o caminho certo — disse o outro.
Klaus decidiu que até as alucinações de Brenda faziam mais sentido que isso, mas sacudiu a cabeça, tentando clarear a mente, e lançou um sorriso nervoso para os gêmeos.
— Meu nome é Klaus. Eu sou…
— Novo — os gêmeos disseram em coro. — A gente sabe.
— E… vocês são…?
O gêmeo da esquerda levantou uma mão.
— Sou Eliel.
— Sou Elói — disse o outro gêmeo.
E, em união, cada um segurou uma mão de Klaus.
— Vamos lá, Alice! — disseram em coro. — Nós vamos te ajudar!
Não tendo a energia para protestar e incapaz de escapar do aperto dos gêmeos que no momento puxavam seus braços com força suficiente para amputá-los, Klaus afobou-se:
— Na verdade, eu estava com o Brayan…?
— Brayan?
— A gente sabe onde ele está.
— Ele está lá em baixo!
— Procurando por você!
— Ele não vai se importar se a gente emprestar você por um instante!
E Klaus era jogado sem cerimônia dentro de um quarto Bourbon pela primeira vez.
Os corredores apenas o haviam preparado parcialmente para o que um quarto de Dallacorte realmente era. Era como pisar dentro do set de filmagens de The Tudors. Não parecia muito de fora, mas por dentro era do tamanho de um apartamento grande, sem paredes separando a área coletiva das camas. Havia uma área central onde móveis confortáveis estavam. No caso dos gêmeos, havia um luxuoso sofá branco, uma mesa de café de vidro, com uma larga televisão. A mesa de café estava ocupada por gigantes armas de brinquedo Nerf que pareciam extremamente fora do lugar ao lado de uma pilha de livros escolares.
Adiante da sala circular estavam as camas, uma em cada canto do quarto, cada uma sobre um estrado de madeira que servia para separá-las da área coletiva. As camas eram de quarto colunas, antigas e bem conservadas com cortinas finas. Uma cama estava feita e a outra não (mas esta tinha roupas escolares jogadas sobre ela). Havia um terceiro estrado, diretamente na frente da porta, que poderia servir para sustentar outra cama, mas que, neste caso, servia como uma extensão da área coletiva.— Ok! — disse um dos gêmeos, provavelmente Elói, puxando Klaus sem cerimônia para o luxuoso sofá branco. — É assim que um quarto Bourbon parece.— Na verdade, é assim que todo quarto de dormitório parece — disse o gêmeo que provavelmente era Eliel.— Nós já vimos os outros.— Mas Bourbon ainda é melhor.— É
Brayan, olhando para o livro que tinha acabado de tirar da prateleira, virou a esquina entre as estantes e colidiu com uma pessoa que estivera esperando pela oportunidade de encontrá-lo sozinho. Ele olhou para cima, assustado, e então imediatamente revirou os olhos.— Duarte! Eu já disse umas mil vezes para não ficar se escondendo entre as estantes.— Brayan — sibilou o garoto um pouco mais alto e magro, tão pálido que era quase translúcido, a única cor nele estando em seus lábios (vermelhos do perpétuo morder nervoso) e o curto cabelo preto contrastando poderosamente com sua pele. Ele estava abraçando uma enorme enciclopédia com um pentagrama na capa. — Eu preciso falar com você!— Eu achei que você estava proibido de entrar na biblioteca. — Brayan piscou. Ele imaginou que alguém jogando sal grosso nas estantes era o tipo de
I've heard it said (Eu ouvi dizer)That people come into our lives for a reason (Que as pessoas entram em nossas vidas por uma razão)Bringing something we must learn (Trazendo algo que devemos aprender)And we are led to those who help us most to grow (E que somos guiados a aqueles que mais nos ajudam a crescer)If we let them, and we help them in return (Se os deixarmos, e os ajudarmos em retorno)Well, I don't know if I believe that's true (Bom, eu não sei se acredito que isso é verdade)But I know I'm who I am today (Mas eu sei que sou quem sou hoje)Because I knew you… (Porque eu conheci você...)Eles estavam cantando uma versão modificada para grupo de "For Good", de Wicked. Ele podia ouvir a poderosa voz de Rute soando acima de todas, tomando controle, os ardentes vocais de Marlene, os puros tons
It won't be easy, you'll think it strange (Não será fácil, você achará estranho)When I try to explain how I feel (Enquanto eu tento explicar como sinto)That I still need your love after all that I've done... (Que ainda preciso do seu amor depois de tudo que fiz)Os dois professores de música se olharam surpreendidos e espiaram no outro corredor. Um garoto de estrutura média estava ali, segurando um celular no ouvido, úmidos olhos azuis observando a luz do sol no jardim aberto, e aquela voz — aquela impossível voz! — vinha dele.Ele estava cantando uma música de Evita no telefone.I had to let it happen, I had to change… (Tive que deixar acontecer, tive que mudar...)Couldn't stay all my life down at heel… (Não podia continuar toda a minha vida debaixo do salto)
Klaus olhou para eles, chocado e de certa forma encantado. Seus olhos pousaram sobre os quentes de Brayan, e ele retribuiu o sorriso que Brayan lhe mandou enquanto aplaudia com um olhar conhecedor, como se soubesse o tempo todo que Klaus conquistaria os Hall’s Babbler.Sobre o barulho, Gael ergueu a voz para chamar atenção:— Muito bem, muito bem agora... — Ele estava sorrindo para os garotos. — Se acalmem, se acalmem...— Eu devo dizer, isso foi bem renovador — disse Stella, apertando a mão de Klaus com um sorriso enquanto os garotos se ajeitavam na sala, sentando-se nas cadeiras e divãs. — Faz um bom tempo que não tenho um contratenor entre os Hall’s Babbler, sr. Henke... o último foi de vinte anos atrás. Eu estava prestes a desistir de esperar que um aparecesse, ainda mais um com uma voz como a sua.— Pe-Peraí... — Klaus olhou dela para G
O fato de que ele podia empacotar sua vida em algumas caixas era de certa forma deprimente. Pelo menos os garotos estavam lá. Dimitri e Wen estavam procurando por uma razão, qualquer razão, para faltar Química Avançada e os gêmeos nunca precisavam de uma razão, enquanto Brayan tinha insistido resolutamente em estar lá. Filipe também insistira em ajudar — aturdido como estava com o grupo de garotos de blazers invadindo a casa dos Hudson-Henke — mas vê-lo levantando e carregando as caixas que continham tudo que era aparentemente "essencial" para Klaus viver apenas fez a transição de casa para o internato ainda mais estranha. Mas o fato de que Filipe lhe lançou um sorriso encorajador ajudou.Com esse sorriso, Klaus lembrou-se do Alvorada cantando para ele, e assentiu em resposta para seu novíssimos meio-irmão, como se lhe garantindo que ficaria bem.E ent&ati
Amizade é bom...Klaus tentou dizer para si mesmo. Quer dizer, é bom por enquanto. Claro, Filipe não era gay e Sandro... bem, eu ainda não tenho certeza sobre ele, mesmo que ele esteja com a Quezia... mas Brayan é... incrível, e ele realmente é gay e... nós somos realmente próximos. E nos damos tão bem... Se eu arruinar isso agora...— Oi, Klaus!Ele olhou para um pequeno garoto com uma juba encaracolada loiro-avermelhada sentado ao seu lado, oferecendo-o uma coca diet. O garoto pequeno parecia como uma versão mais velha e estranha de um querubim de uma pintura renascentista. Klaus pegou o refrigerando agradecidamente e o garoto disse, com um grande sorriso:— Meu nome é Raul. Eu moro algumas portas depois da sua.— Oi. — Klaus sorriu, e então piscou. Ele olhou mais perto para a roupa de Raul. — … esses são... os pijamas Do
Os gêmeos correram atrás de Klaus, que estava com a testa sobre uma mão.— Você está... bem...? — perguntou Elói em um suave, assustado sussurro.Klaus, que parara no meio da área, grunhiu silenciosamente ao deitar a cabeça na mão, o rosto corado.— … preciso de café. Muito e muito café, por favor.Eliel correu para a cozinha imediatamente.— Teresa! — ofegou Wen do topo das escadas, correndo para baixo e amarrando seu robe atropeladamente. Ele correu até a garota na sala de estar que ainda estava encarando, branca como um fantasma, Klaus. — Baby, o que você está fazendo aqui? Droga, eu disse que você não pode vir aqui... só, só vá, ok? Vamos lá...— Ele... Ele... Ele acabou de... — Teresa conseguiu dizer, tremendo, apontado para Klaus.— Si