(NARRATIVA DE ANABELA)Eu havia chegado na Itália e já estava me acomodando, embora a primeira semana tivesse sido um labirinto de orientações e espera pelos alunos que tiveram atrasos em suas chegadas. A academia oferecia acomodações, mas optei por ficar fora do campus devido à minha gravidez.Consegui um apartamento decente e passei a semana explorando a cidade, registrando-me para o pré-natal em um hospital e mantendo contato com minha mãe e Aline.Mas nada disso preenchia o vazio que me consumia por dentro. No silêncio da noite, a cidade parecia respirar devagar, mas dentro de mim havia uma tempestade. Pensar em Joaquim e no filho que perdi fazia o peso do vazio parecer insuportável. Tentava manter ocupada, mergulhando em atividades para não relembrar essas memórias dolorosas.As aulas finalmente começaram, e, durante um intervalo, saí para tomar um pouco de ar fresco. Enquanto caminhava pelo pátio, meu coração disparou.Uma figura familiar chamou minha atenção — ombros largos, por
(PONTO DE VISTA DE JOAQUIM)Oito meses—já se passaram oito meses, mas parece uma eternidade. Minha vida desmoronou de formas que eu nunca imaginei, e certamente não para melhor. Sofia e eu... nunca deveríamos ter ficado juntos. Agora eu vejo isso claramente.O que começou como uma fuga—talvez dos meus próprios demônios—se transformou em outra prisão, uma que eu mesmo construí. O arrependimento me consome, mas é tarde demais. Tarde demais para consertar o que destruí.O momento em que Sofia perdeu o bebê mudou tudo. Eu não estava pronto para isso—nem para a vida que ela carregava, nem para a perda. Mas enquanto o peso do luto afundava em mim, percebi que não era apenas o filho dela que eu lamentava.Era o filho que perdi com Anabela.O que eu poderia ter tido. O que não estive lá para proteger.Ainda posso ouvir a voz de Sofia daquele dia—aguda, desesperada. Ela ecoa nos meus ouvidos até agora, me assombrando nos momentos de silêncio.(Flashback)Eu estava mergulhado em papelada, tentan
(NARRATIVA DE JOAQUIM)Observei com horror enquanto a mão de Sofia apertava o laptop.— Sofia, por favor. — Implorei, tentando manter minha voz baixa para não agravar a situação. — Não faça isso. Esse laptop contém arquivos e contatos muito importantes.— Arquivos e contatos importantes? — Ela zombou. — Ou apenas contatos importantes?— Sofia, pare com isso. — Avisei, sentindo minha paciência se esgotar.— Eu paro quando você demitir aquela sua secretária. — Ela disparou.Cerrei os dentes, pausando para avaliar minhas opções. Não podia me dar ao luxo de perder aqueles arquivos.— Está bem, vou demiti-la.A expressão de Sofia mudou um pouco, um sorriso malicioso se espalhando pelo rosto.— Faça isso agora.Peguei o interfone, minhas mãos pesadas de relutância.— Bruna, você está demitida, com efeito imediato.A voz de Bruna veio pelo interfone.— Senhor, por favor... o que foi que eu fiz?Mas encerrei a ligação, incapaz de ouvir suas súplicas.— Satisfeita? — Perguntei a Sofia, meus olh
(PONTO DE VISTA DE JOAQUIM)Ao fim do expediente, arrumei minhas coisas, pronto para ir embora. Relutava em voltar para casa, mas sabia que, se não fosse, Sofia certamente causaria outra cena. Além disso, não podia continuar fugindo da minha própria casa.Ao chegar em casa, Sofia me recebeu com um abraço. Recuo ao seu toque, como tenho feito ultimamente. É incrível como ela consegue agir normalmente depois do que fez no meu escritório mais cedo.— Oi, como foi o dia? — Perguntou ela, com uma doçura falsa que era fácil de perceber.— Fantástico, tudo graças a você. — Respondi sarcasticamente enquanto subia as escadas.O sorriso dela vacilou, mas ela não disse nada.Entrei no meu quarto, ou melhor, no nosso quarto, porque Sofia insistiu em se mudar para cá desde que ficamos noivos e estávamos prestes a nos casar. Nesse momento, meu celular tocou. Era minha mãe.— Alô, mãe. — Atendi.— Meu querido, como você está? — A voz familiar e reconfortante dela ecoou.— Estou bem, mãe. Acabei de ch
(PONTO DE VISTA DE JOAQUIM)O nome dela, escrito com sua caligrafia. Um diário? Isso é tão antiquado, algo que só Anabela faria. Como nunca percebi que ela tinha esse hábito? Meu coração disparou enquanto eu passava os olhos pelas próximas páginas, buscando qualquer coisa—qualquer pista que pudesse me levar a entender o que eu tinha perdido.Deparei-me com uma anotação, e as palavras na página pareciam saltar aos meus olhos."Descobri que estou grávida hoje. Tenho sentido os sintomas, então fui ao médico. Está confirmado, vou ser mãe! Mal posso esperar para contar ao Joaquim… ele vai ficar tão feliz."A empolgação em suas palavras me atingiu como um soco no estômago. Quase podia ouvir sua voz na minha cabeça, como ela costumava me olhar com aquele sorriso esperançoso. Minhas mãos apertaram o diário enquanto meu peito se contraía dolorosamente. Nosso filho.Virei para a próxima página, meus olhos percorrendo a próxima entrada."Eu ia dar a notícia ao Joaquim hoje à noite, no jantar de a
(NARRATIVA DE JOAQUIM)Minhas mãos tremiam ao fechar o diário, mal processando as palavras que ainda ecoavam na minha mente. Então, ouvi passos do lado de fora da porta, me arrancando do meu transe.A porta rangeu ao abrir, e Sofia entrou, com a expressão já habitual de desagrado. Ela parou ao me ver, os olhos se estreitando com suspeita.— Sofia. — Murmurei, com a garganta apertada. — Precisamos conversar.Ela hesitou, as sobrancelhas se arqueando. — Sobre o quê?Não respondi imediatamente. Em vez disso, levantei o diário. — Você reconhece isso?Os olhos dela vacilaram—reconhecimento, talvez medo—mas ela rapidamente disfarçou com indiferença. — Não. Porque eu reconheceria?— Acho que você reconhece. — Falei, minha voz baixa, mas firme. — Olhe mais de perto.Ela hesitou, pegando o diário das minhas mãos, os dedos passando pela capa desgastada. — É só um diário, Joaquim. — Ela empurrou-o de volta para mim, com desdém. — Onde você encontrou isso?Ignorei sua pergunta. — Você o escondeu?
(PONTO DE VISTA DE ANABELA)Entrei em casa, exausta depois de um longo dia na academia. Tudo o que eu queria naquele momento era um almoço leve e uma longa soneca. Mas, ao entrar na cozinha, uma dor repentina atingiu meu abdômen.— Ah! — Gemi, segurando meu estômago.O que foi isso? Pensei, de repente tomada pelo pânico. Era trabalho de parto? Eu sabia que estava no nono mês, mas a data prevista para o parto era só no final do mês, e hoje era apenas o dia 15.A dor voltou, mais intensa dessa vez, e eu me curvei. Oh, Deus, algo está errado.Cambaleei até a sala de estar, peguei minha bolsa e procurei meu celular. Meus dedos tremiam enquanto discava o número de Diego.— Por favor, atenda, por favor, atenda. — Murmurei.— Anabela! — exclamei, aliviada quando ele atendeu.— Anabela, o que houve? — Ele perguntou, com urgência na voz.— Eu... Estou com muita dor, não sei o que é, mas dói muito. Meu abdômen, minha cintura...— O quê? Onde você está? — Ele perguntou, visivelmente alarmado.— E
(Do ponto de vista de Arielle)O aroma do jantar espalhava-se pelo ambiente, enquanto eu mantinha meus olhos fixos em meu marido, Jared. Seu cabelo escuro caía perfeitamente, emoldurando o nariz reto e a mandíbula marcada. Mesmo em roupas casuais, ele tinha uma presença inegável —ombros largos, um peito esculpido. Parecia ter saído de uma revista, mas ali estava ele, comigo.Era nosso aniversário, e, para comemorar, eu havia sugerido um jantar em casa, apenas nós dois.Apesar de seu habitual comportamento reservado, Jared tinha reservado um tempo em sua agenda de trabalho sempre cheia, algo que considerei adorável. Especialmente quando ele me olhava com aqueles olhos intensos, era difícil continuar irritada.Escolhi sentar-me de frente para ele, em vez da posição habitual ao seu lado, porque queria observar todas as suas reações quando finalmente lhe contasse a grande notícia.Veja bem, descobri ontem, no consultório do médico da família, que estou grávida. Guardei a notícia para