POV DE ARIELLEO tempo passou como um borrão, com os dias se transformando em semanas e as semanas se estendendo por um mês. Eu tentei superar o último incidente na porta de casa, tentei me adaptar ao novo normal que, a contragosto, aceitei como minha vida. Acabei cedendo aos pedidos insistentes do Jared e do Davi para colaborar mais com os médicos. E assim minha rotina passou a ser tomada por idas e vindas a consultórios, exames quase todos os dias e mais remédios para conter os efeitos do veneno no meu corpo.A tosse desapareceu completamente, e eu consegui voltar a falar por mais tempo sem parecer uma velha doente à beira da morte. Mas nada podia ser feito para reverter a dormência nas minhas papilas gustativas ou a perda total do olfato.Soltei um suspiro e tentei afastar os pensamentos. Mas eles grudavam em mim como suor em dia de calor no verão. Acabei voltando mentalmente para dias atrás. Eu estava isolada do mundo havia quase duas semanas. Visitas eram o que menos importava. Nã
POV DE JAREDFiquei naquela posição, embalando Arielle suavemente, até que seus tremores cessaram e ela adormeceu em meus braços. Deitei-a cuidadosamente na cama, tomando o máximo de cuidado para não perturbá-la. Quando dei um passo para trás, a porta se abriu e dona Meyers entrou.— O que aconteceu? — ela perguntou, com olhar preocupado ao ver os restos espalhados do pacote de chá de ervas no chão.Hesitei, dividido sobre o que dizer.— Não foi nada — falei finalmente, tentando minimizar. — Apenas escorregou da minha mão.Eu não queria magoá-la contando a verdade.Seus olhos se estreitaram levemente, desconfiados, mas ela não insistiu. Apenas assentiu e disse:— Tudo bem, eu mandarei limpar.Tentei protestar, mas ela me dispensou com um gesto.— Houve algum progresso? — Seus olhos se voltaram para Arielle, que ainda dormia tranquilamente.Balancei a cabeça, sentindo-me mal por levar más notícias.— Quase nada.Ela assentiu, mas vi a decepção obscurecer seu olhar. A culpa me apertou o
Recuperando a compostura, troquei um olhar preocupado com dona Meyers e subimos atrás dele.O encontramos no quarto da Arielle, seus bracinhos envolvidos com força no corpo rígido dela. Mas Arielle não reagiu, não respondeu ao abraço do filho. Apenas permaneceu ali, em silêncio, com lágrimas escorrendo pelo rosto. E meu coração se quebrou em mais mil pedaços.Era exatamente isso que eu tentava evitar, mas parecia estar falhando terrivelmente. Fiquei ali parado, sentindo-me quase inútil, enquanto Maverick se agarrava à mãe. Eu não conseguia afastá-lo sem causar ainda mais sofrimento.Ainda estava tentando pensar no que fazer a seguir quando o som de um helicóptero se aproximando encheu o ar, e meu olhar se voltou, surpreso, para a janela. O que um helicóptero fazia por ali, tão longe de qualquer aeroporto?Troquei um olhar confuso com dona Meyers, e ela correu até a janela, abrindo as cortinas. Fui atrás dela e assistimos o helicóptero pousar bem em frente à casa, a vista pela janela se
POV DE ARIELLEEm Vila Flôr, uma pequena cidade do interior do Brasil, vivi o outono e o início do inverno mais tranquilos da minha vida. Quando cheguei com o Davi, o país vestia-se das cores do outono — o ar fresco, folhas douradas e um silêncio sereno que suavizava o peso da minha alma.Três meses se passaram. E quando o inverno finalmente chegou, a paisagem se transformou: a neve cobria o chão, e o ar trazia o perfume cortante da geada.Quanto ao Davi, ele não ficava o tempo todo ao meu lado. Na verdade, nossos momentos de verdadeira convivência podiam ser contados nos dedos de uma mão. Ele só aparecia nos finais de semana, sempre trazendo o Maverick com ele.— Tô meio que feliz que você tá melhorando, mamãe — Maverick sempre dizia, com o rostinho iluminado de alegria enquanto a gente construía um boneco de neve no quintal.— Eu também, meu amor — respondia com um sorriso, sentindo uma alegria que não experimentava há meses. — Estou muito feliz de estar aqui com você.Nos outros dia
(Do ponto de vista de Arielle)O aroma do jantar espalhava-se pelo ambiente, enquanto eu mantinha meus olhos fixos em meu marido, Jared. Seu cabelo escuro caía perfeitamente, emoldurando o nariz reto e a mandíbula marcada. Mesmo em roupas casuais, ele tinha uma presença inegável —ombros largos, um peito esculpido. Parecia ter saído de uma revista, mas ali estava ele, comigo.Era nosso aniversário, e, para comemorar, eu havia sugerido um jantar em casa, apenas nós dois.Apesar de seu habitual comportamento reservado, Jared tinha reservado um tempo em sua agenda de trabalho sempre cheia, algo que considerei adorável. Especialmente quando ele me olhava com aqueles olhos intensos, era difícil continuar irritada.Escolhi sentar-me de frente para ele, em vez da posição habitual ao seu lado, porque queria observar todas as suas reações quando finalmente lhe contasse a grande notícia.Veja bem, descobri ontem, no consultório do médico da família, que estou grávida. Guardei a notícia para
Ponto de Vista de ArielleBem, que surpresa!Pisquei várias vezes para ter certeza de que não estava vendo errado. Meus olhos se arregalaram de choque, minha mente tentando processar a cena diante de mim. Meu marido, Jared, estava ao lado de outra mulher, uma mulher grávida que afirmava ser sua esposa, em um restaurante onde eu trabalhava.As palavras da mulher mais cedo reverberavam nos meus ouvidos: “Meu marido vai fazer você ser demitida!” Meu coração disparou, a respiração ficou subitamente difícil.Senti como se tivesse acabado de levar um soco no estômago. Dei um passo à frente, minha voz rouca e quase um sussurro: — Jared?Jared encontrou meu olhar, sua compostura inabalável. — Oi, Arielle. — Disse ele em um tom casual, como se ser visto no restaurante em que sua esposa trabalhava, ao lado de outra mulher que afirmava ser sua esposa, fosse algo normal.Meus olhos se estreitaram, esperando que ele me desse uma explicação.Antes que Jared pudesse responder, Sofia deu um
Ponto de Vista de Arielle— Ashley, eu preciso ir. Obrigada pela informação. Eu te ligo mais tarde.Depois de desligar o celular com Ashley, fiz o possível para lidar com meus pensamentos confusos.Jared sempre fora elegante, atencioso e até meticuloso. Eu achava que conhecia esse homem depois de três anos de casamento. No entanto, nunca o vira defender alguém na minha frente, muito menos quebrar uma promessa duas vezes.Suspirei enquanto descia do carro.Ao chegar em casa, nada poderia ter me preparado para o que encontrei. Sofia estava confortavelmente sentada na sala, e ela não estava sozinha. Jared estava em uma poltrona isolada, enquanto Sofia conversava e ria alegremente com a mãe dele.— O que está acontecendo aqui? — Perguntei, sentindo um nó na garganta.Enquanto eu me aproximava, Jared se levantou suavemente e estendeu a mão para pegar meu casaco.— Trouxe Sofia porque mamãe queria vê-la. — Explicou ele, com um tom controlado.— Você poderia ter me avisado antes. — M
Enquanto Sofia fechava a boca, surpresa com a aparição repentina de Jared, eu me levantava devagar da cadeira, ainda atordoada com tudo o que tinha acabado de ouvir.Meu coração doía. Não era apenas o que Sofia tinha dito, mas o fato de que precisei ouvir dela, e não de Jared.Caminhei em direção a Jared e o ignorei completamente ao passar por ele, mas ele tentou falar comigo.— Arielle, por favor, escute... — Disse ele, tentando segurar minha mão.Eu desviei a mão e subi as escadas, com os olhos marejados de lágrimas. Cheguei ao quarto e desabei na cama, entorpecida, exausta e decepcionada.Logo depois, recebi uma mensagem no celular. Era de Jared. “Peço desculpa”, dizia o texto.Fiquei olhando para a tela por um momento, depois desliguei o celular, incapaz de lidar com suas desculpas. O sono não veio facilmente e, quando finalmente veio, foi inquieto e cheio de tormento.Na manhã seguinte, acordei em uma cama vazia.Isso só podia significar uma coisa: ele não dormiu no nosso