Capítulo 4
Enquanto Sofia fechava a boca, surpresa com a aparição repentina de Jared, eu me levantava devagar da cadeira, ainda atordoada com tudo o que tinha acabado de ouvir.

Meu coração doía.

Não era apenas o que Sofia tinha dito, mas o fato de que precisei ouvir dela, e não de Jared.

Caminhei em direção a Jared e o ignorei completamente ao passar por ele, mas ele tentou falar comigo.

— Arielle, por favor, escute... — Disse ele, tentando segurar minha mão.

Eu desviei a mão e subi as escadas, com os olhos marejados de lágrimas. Cheguei ao quarto e desabei na cama, entorpecida, exausta e decepcionada.

Logo depois, recebi uma mensagem no celular. Era de Jared. “Peço desculpa”, dizia o texto.

Fiquei olhando para a tela por um momento, depois desliguei o celular, incapaz de lidar com suas desculpas. O sono não veio facilmente e, quando finalmente veio, foi inquieto e cheio de tormento.

Na manhã seguinte, acordei em uma cama vazia.

Isso só podia significar uma coisa: ele não dormiu no nosso quarto na noite passada. Provavelmente tinha dormido no quarto de visitas ao lado do nosso, como sempre fazia quando brigávamos.

— Ou será que ele dormiu no mesmo quarto que Sofia? — Uma voz sussurrou em minha mente.

Parei por um momento para pensar nessa possibilidade, mas rapidamente descartei a ideia. Eu poderia estar duvidando de Jared por causa dos acontecimentos recentes, mas ainda sabia do que ele era capaz e do que não era.

Terminei de me arrumar e desci as escadas apenas para encontrar Jared me esperando no saguão.

— Bom dia. — Disse ele, dando um leve beijo em minha bochecha, como se nada tivesse acontecido.

— É, bom dia. — Respondi, tentando agir com indiferença também.

— Arielle, sobre ontem... — Sua voz era calma, quase calma demais. — Sofia está apenas lutando com a gravidez. É a primeira dela, e isso a deixa... carente. Por favor, não leve tudo o que ela disse a sério. Ela não quis fazer mal algum.

Em vez de amolecer meu coração, como as palavras dele pareciam tentar, aquilo só me deixou mais amarga. Meu marido estava defendendo outra mulher.

Falando em gravidez, será que ele sabia que eu também estava grávida? Claro que não. Ele tinha priorizado a ex dele em vez de mim no dia em que eu deveria dar a notícia a ele.

— Então? Eu devo simplesmente ignorar o fato de que meu marido mentiu para mim? Que você me deixou para consolar outra mulher no meio da noite?

Ele suspirou, sua compostura se desfazendo ligeiramente.

— Eu não menti. Passei a noite no escritório. Ir buscá-la foi só...

— Uma conveniência? — iInterrompi, com o tom gelado. — Eu não me importo com sua antiga paixão estúpida, Jared. Mas esconder coisas de mim? Isso é diferente! Eu nem sei mais quem você é.

Seus olhos escureceram.

— Arielle, você sabe que isso não é verdade. Estou aqui. Estou comprometido com você.

Eu balancei a cabeça, sentindo um nó se formar em minha garganta.

— Vou para o trabalho. E, quando eu voltar, não quero vê-la aqui de novo. Entendeu?

Meu dia no trabalho foi monótono, um borrão de cozinhar e limpar, e logo chegou a hora de fechar. Eu estava no meu escritório terminando as coisas quando uma batida ecoou na porta.

— Quem é? — Perguntei.

— Rebecca, chef. — Respondeu minha assistente. — Tem um homem lindo esperando lá fora com um buquê enorme, anunciou, e eu não pude deixar de notar a risadinha em sua voz.

Parei, confusa. Eu tinha algum compromisso? Rapidamente peguei minha bolsa.

— Já estou indo.

Quando saí, me deparei com uma figura familiar, Jared, parado na entrada, parecendo tão encantador quanto sempre, buquê nas mãos. Por um momento, fiquei surpresa. Sério? Pelo amor de Deus, ele estava tentando de novo o truque do “marido encantador”? Achando que ia me ganhar com aquele sorriso? Culpado.

Recuperei minha compostura rapidamente e me virei para Rebecca com um sorriso brincalhão.

— Desculpe decepcionar, mas não é um galã misterioso, é só meu marido. Eu sei, eu também sinto muito.

Os olhos de Rebecca se arregalaram. Não a culpava. Jared só tinha aparecido no meu novo local de trabalho no dia do drama com Sofia, então era razoável ninguém ali conhecê-lo.

Jared deu um passo à frente, seu sorriso caloroso, mas com um toque de desculpa.

— Olá, senhora Smith.

Ergui uma sobrancelha.

— O que está fazendo aqui, senhor Smith?

— Pedindo desculpas. — Disse ele suavemente, se aproximando mais. — Por ser um idiota. Arielle, eu devia ter contado sobre Sofia há muito tempo. Não tenho desculpa, eu sei que errei. Pode me perdoar?

Ele olhou para o buquê e depois para mim.

— Para me redimir, que tal um fim de semana fora? Só nós dois. Na nossa primeira casa.

A menção da nossa primeira casa, a cobertura aconchegante que escolhemos e decoramos juntos depois do casamento, fez meu coração se derreter instantaneamente. Aquele lugar guardava tantas memórias felizes. Fazia séculos desde a última vez que tínhamos ido, principalmente por causa da distância do meu trabalho.

Dizer que fiquei feliz seria pouco. Eu estava radiante. Finalmente, uma pausa para esquecer todo o drama dos últimos dias e, quem sabe, o lugar perfeito para contar a Jared sobre minha gravidez.

— Então, o que me diz, senhora Smith? — Jared perguntou, me olhando com expectativa.

— O senhor Smith sabe como agradar uma mulher. — Pisquei.

Jared riu baixinho, seu olhar derretendo no meu antes de se inclinar e me beijar profundamente, com ternura.

— Obrigado, meu amor, por me perdoar. — Murmurou, com os lábios ainda nos meus. — E por aceitar a oferta.

Ele me entregou o buquê, os olhos brilhando.

Respirei fundo, saboreando o aroma de lavanda.

— Meu favorito.

— Obrigada. — Sussurrei, sentindo finalmente a tensão entre nós se dissipar.

Jared me conduziu até o carro, abrindo a porta para mim com sua usual elegância. Enquanto dirigíamos rumo à cobertura, o ar entre nós estava leve e cheio de esperança, um alívio muito necessário após os últimos dias.

Olhei para ele, brincalhona.

— Então... sério, vinte anos apaixonado pela Sofia? Tenho que admitir, seu gosto melhorou muito quando se casou comigo, maridinho.

Jared me lançou um olhar de soslaio, sua expressão divertida, mas em tom de alerta.

— Cuidado. — Disse ele naquele tom baixo e suave. — Ou você vai acabar sendo punida hoje à noite.

Não pude evitar o rubor que subiu às minhas bochechas, desviando o olhar enquanto um sorriso escapava de meus lábios.

Uma hora depois, estacionamos no condomínio onde ficava a casa. Mas, ao sair do carro, algo não parecia certo.

Tentei identificar o que era e, após alguns segundos, percebi. Uma luz estava acesa em um dos quartos, o que era estranho.

— Jared, acho que tem alguém na casa. — Avisei, enquanto nos aproximávamos da porta.

Jared parou, me olhando confuso.

— O que você quer dizer?

— Olhe. — Disse, apontando para o quarto com a luz acesa.

— Vamos, Arielle. Você está sendo paranoica. Provavelmente esqueceu de apagar a luz na última vez que viemos aqui. — Jared disse, descartando minha observação com um gesto.

Abri a boca para argumentar, mas, para meu choque, a porta da frente se abriu. Lá, parada no batente, com um sorriso brilhante e satisfeito no rosto, estava Sofia.

Jared e eu congelamos, trocando olhares atônitos.

— Que diabos? O que você está fazendo aqui? — Rosnou, incapaz de conter minha fúria.

— Relaxa, Arielle. Consegui o endereço com a mãe do Jared. Ela pediu para eu ficar aqui enquanto procuro um lugar para mim. Disse que seria bom para a minha gravidez, já que o ambiente é acolhedor. — Explicou Sofia com a maior naturalidade.

— Você não tem o direito de estar aqui! — Minha voz subiu, tremendo de raiva. — Este lugar é nosso, meu e do Jared. Como você ousa aparecer aqui como se fosse dona?

Por que, diabos, essa mulher aparece em todos os lugares para onde eu vou?

— Ah, foi mal. Não sabia que vocês dois viriam aqui tão cedo... Sinto muito mesmo, vou embora agora. — Disse Sofia, inclinando a cabeça, com os olhos arregalados. Lá estava de novo, aquela expressão de “desculpa” tão ensaiada.

Jared pigarreou suavemente, dando um passo à frente.

— Arielle, vamos entrar primeiro. — Disse ele, colocando a mão gentilmente nas minhas costas, tentando me afastar da tensão.

Lancei um último olhar fulminante para Sofia antes de passar por ela, entrando com passos pesados.

Assim que estávamos dentro, Jared se virou para Sofia, seu tom medido, mas firme.

— Sofia, este lugar tem muitas memórias para mim e para Arielle. É especial para nós. Ter outra pessoa aqui, especialmente sem o nosso conhecimento, não é apropriado.

— Eu entendo completamente. Não foi minha intenção incomodar. — Disse ela, pausando dramaticamente com a mão na barriga. — Eu vou embora agora mesmo...

Jared suspirou.

— Já está tarde, Sofia. Você está grávida. Não podemos deixá-la na rua hoje à noite. — Ele disse, olhando para mim como se buscasse minha aprovação. — Você pode passar a noite, e resolvemos tudo amanhã.

Sofia assumiu sua expressão mais lamentável, com a voz suave e trêmula.

— Não, eu realmente não deveria. Não quero causar tensão entre você e a Arielle.

— Isso seria muito apreciado. — Respondi secamente, sem sentir um pingo de pena dela.

Jared balançou a cabeça, olhando para Sofia com paciência.

— Você não está causando tensão. Discutimos tudo pela manhã.

Ele começou a acariciar minhas costas de novo, em um gesto que parecia tentar me acalmar.

— Certo, Arielle?

Eu não me dei ao trabalho de responder, sentindo o peso das palavras dele piorar ainda mais a situação. Em vez disso, me afastei sem dizer nada, indo para os fundos da casa para tentar me acalmar.

Enquanto caminhava pelos cômodos familiares, algo chamou minha atenção, mudanças. As decorações que Jared e eu havíamos escolhido e colocado juntos haviam sido substituídas! Os móveis tinham sido rearranjados, e peças estranhas tomavam seus lugares. Meu coração disparou enquanto a raiva crescia dentro de mim.

Ela esteve aqui tempo suficiente para se sentir em casa. Eu sabia, sem sombra de dúvida, que Sofia era a responsável por isso.

Fervendo de raiva, voltei para a sala, determinada a confrontá-la. Quando me aproximei, ouvi o grito de alegria de Sofia. Ela correu até Jared, arrancando o buquê das mãos dele.

— Jared! — Exclamou, os olhos brilhando com uma gratidão falsa. — Não acredito que você se lembrou das minhas flores favoritas...
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