Ponto de Vista de Arielle

Eu me retirei para o quarto no andar de cima, com a cabeça latejando devido a uma enxaqueca.

Eu não conseguia acreditar no que havia acabado de acontecer na sala de jantar. Jared nem sequer repreendeu Sofia por insinuar que eu a havia envenenado. Ele me conhecia bem demais para acreditar que não machucaria nem uma mosca, quanto mais um ser humano.

Eu não gostava de Sofia, tudo bem, mas a última coisa que eu faria seria machucá-la. Eu nem sequer sabia que ela era alérgica a leite, quanto mais colocá-lo na comida dela com a intenção de causar-lhe dano.

Ela devia estar regozijando agora, sabendo que seu plano para causar uma ruptura entre mim e Jared havia funcionado. Nós sequer conseguimos ter um jantar em paz. A presença dela sempre perturbava a harmonia do meu casamento.

Suspirei e me joguei na cama, tentando imaginar o que fazer para tirar Sofia da minha vida e da de Jared.

Percebendo que estava começando a ficar sonolenta, levantei-me da cama e fui até o banheiro para tomar meu banho noturno. Depois de terminar, vesti um robe confortável e me deixei cair na cama, exausta.

Eu não sabia por quanto tempo havia dormido, mas acordei com a garganta seca e a língua implorando por água. Levantei-me da cama, calcei meus chinelos e desci até a cozinha.

Eu havia acabado de descer as escadas e estava prestes a pegar o corredor que levava à cozinha quando ouvi vozes. Aproximando-me, percebi que eram Jared e Sofia conversando.

Franzi o rosto em desaprovação ao olhar para o relógio de pêndulo no canto distante, que marcava 11 horas da noite. Por que diabos, Jared estava acordado a essa hora e falando com ela? Ele deveria estar na cama comigo.

Decidindo não me envolver, continuei minha caminhada até a cozinha. Mas, então, as palavras de Sofia chegaram aos meus ouvidos. Não era apenas a voz dela, mas o que dizia. Parei no meio do caminho para escutá-la.

— O que você estava pensando quando se casou com uma mulher tão dura como Arielle, Jared? Ela é cruel e não tem compaixão. Você não viu como ela não se importou em me jogar para fora à noite? Ela não é apenas cruel, mas também insensível, por fazer você buscá-la tarde do trabalho. Você deveria estar descansando após um dia estressante, não fazendo papel de motorista para ela.

— Ela não me pediu, Sofia. Eu fiz isso de bom grado. Ela é minha esposa, então escolha bem suas palavras. — Ouvi Jared responder.

Dei um pequeno riso de escárnio. Pelo menos dessa vez ele disse algo em minha defesa.

— Você mudou, Jared. Este não é você. O que essa mulher fez com você? — Gritou Sofia com sua voz estridente.

— Pare com isso, Sofia. Você não tem o direito de falar sobre o passado. Deixe o passado onde ele pertence. Além disso, para alguém com um casamento fracassado, você não tem moral para dar opiniões sobre o meu. Nosso passado acabou, deixe-o lá.

— Mas eu me divorciei do meu marido por sua causa, Jared.

Meus olhos se arregalaram. O que Sofia quis dizer com isso?

— Não, você não se divorciou por minha causa! Não me envolva na sua história de divórcio! — Jared retrucou, com a voz carregada de fúria. Eu podia sentir o calor da sua raiva, não aliviava o peso em meu peito. Nunca o tinha visto agir assim, tão cheio de emoção bruta.

Ouvi um soluço escapar da garganta de Sofia. Lá estava ela novamente, com sua chantagem emocional, e eu rezava para que Jared não caísse nessa.

Logo o soluço dela se transformou em choro. Fui até mais perto. Para meu desgosto, vi Sofia se enroscar nos braços de Jared, chorando enquanto o abraçava apertado.

Eu fiquei furiosa e enojada ao ver Jared envolver os braços em torno dela, consolando-a.

Com raiva e esquecendo momentaneamente minha sede, corri de volta para o andar de cima e comecei a arrumar minhas coisas. Eu precisava ir embora, porque já tinha aguentado o suficiente das atitudes de Jared e Sofia.

Depois de arrumar tudo, tirei o robe e vesti roupas mais apropriadas antes de pegar minha bolsa e sair.

Caminhei em direção às escadas e, ao chegar à entrada, vi Sofia, obviamente me esperando. Havia um sorriso debochado em seu rosto e um brilho malicioso em seus olhos.

Decidi controlar minhas emoções e manter a compostura. Eu evitaria ao máximo qualquer confronto com Sofia. Meu único objetivo era sair dali.

Comecei a descer as escadas, e, como esperado, Sofia bloqueou meu caminho.

— Não tenho forças para isso, Sofia. Por favor, saia do caminho. — Falei, firme.

— E se eu não sair? Você acha que pode tentar me matar e sair impune? — Retrucou Sofia, com as mãos na cintura.

— Deixe de ser ridícula. Jared não está aqui, então pode largar o teatro. Não havia leite na comida, e o que você fez lá na sala de jantar foi apenas um espetáculo para atrair a atenção de Jared, como a gata carente que você é. Agora, saia do meu caminho. Não tenho tempo para o seu drama.

— Você continua se negando a enxergar a realidade, não é? Tudo bem, pode passar. — Disse Sofia, saindo do meu caminho.

Dei um sorriso de desdém e passei direto por ela.

— Se estivéssemos as duas em perigo, quem você acha que Jared salvaria primeiro? — Perguntou Sofia, de repente.

— O quê?

Eu não tive tempo de processar o que ela queria dizer, porque, no instante seguinte, senti um empurrão nas minhas costas e perdi o equilíbrio, escorregando pelos degraus até cair no chão.

Soltei um grito gutural, e Sofia deve ter ouvido os passos de Jared se aproximando, porque rapidamente correu para mim e se deitou ao meu lado, gemendo como se também tivesse caído.

Deus, essa mulher era desprezível! Eu queria gritar, expô-la, mas a dor era intensa, especialmente no abdômen. Meu Deus, o bebê!

O pânico tomou conta de mim, e outro grito escapou. Sofia ecoou meu grito, mais alto, tentando roubar a atenção de Jared.

Jared apareceu correndo. Seus olhos alternavam entre nós, confusos. Eu não conseguia falar, mas meus olhos imploravam por ele.

Por favor, me ajude. Ajude nosso bebê.

Por um momento, achei que ele tinha entendido. Ele veio direto para mim, mas, quando eu esperava que me carregasse, ele parou e se voltou para Sofia.