Capítulo 5
Ponto de Vista de Arielle

Antes que eu pudesse liberar toda a minha fúria, a expressão de Jared endureceu. Sua voz adquiriu um tom cortante.

— Sofia, essas flores não são para você. — Ele pegou o buquê de volta das mãos dela com um gesto firme, entregando-o para mim.

— São para minha esposa. — Disse ele com ênfase, olhando diretamente nos meus olhos.

O rosto de Sofia ficou ruborizado. Enquanto isso, eu mal conseguia conter um sorriso de satisfação.

No entanto, nada me preparou para o que aconteceu em seguida. Sofia começou a lacrimejar e se virou para Jared.

— Jared, Jay-Jay. Me desculpe por interromper seu momento privado, mas... a flor é para mim, não é? Lembra que, no ensino médio, você costumava me trazer flores de lavanda, especialmente nas noites de baile?

Jared parecia indeciso, olhando de mim para Sofia. Sério? Ele estava cogitando isso? Aquela flor era minha, pelo amor de Deus. Ele simplesmente deveria pedir que ela me devolvesse, a legítima dona.

— Arielle. — Disse Jared calmamente. — Deixe que ela fique com isso esta noite. Amanhã, eu trago algo ainda mais especial para você, prometo.

Eu não podia acreditar no que estava ouvindo.

— Você é inacreditável, Jared! — Exclamei.

Sofia virou-se para mim, com um sorriso triunfante. Ela sabia exatamente como manipular a situação. Mas apenas eu vi aquele sorriso malicioso. — Jared permanecia alheio, preso em sua antiquada noção de responsabilidade cavalheiresca.

— Não aguento mais isso. — Falei, levantando as mãos em um gesto de rendição simulada. — Vocês dois podem ficar com a casa para vocês. Vou procurar um hotel para passar a noite.

Virei-me e fui para o lugar onde guardava minha bolsa, pronta para sair. Como esperado, Jared apareceu ao meu lado, com o rosto cheio de desculpas.

— Arielle, me desculpe. Você não precisa perder a paciência sempre. Ela está grávida, e ouvi dizer que os hormônios da gravidez afetam muito o comportamento das mulheres.

Eu quis gritar e perguntar: e quanto a mim? Eu não estava grávida também? E então, a amarga realidade caiu sobre mim. Mais uma vez, minha chance de contar a Jared sobre a minha gravidez havia sido arruinada.

— Não me importa qual é a desculpa desta vez. Eu vou embora. — Disse, com a voz quase num sussurro. Passei por ele, mas Jared rapidamente bloqueou meu caminho.

— Por favor, não vá, querida. Deixe-me compensar você. Que tal eu fazer o jantar hoje. Você odeia cozinhar tão tarde, e até lavarei as louças.

Suspirei enquanto considerava a oferta dele. Eu realmente odiava cozinhar tarde e também detestava comer fora. Se eu dormisse em um hotel naquela noite, certamente teria que comer fora.

Relutantemente, aceitei a proposta de Jared. Fazer o jantar seria a punição perfeita para ele, já que também teria que lavar as louças depois. E, além disso, eu não queria deixar meu marido sozinho com Sofia.

Antes que eu pudesse responder, a voz de Sofia veio de trás de mim.

— Por que você está se oferecendo para cozinhar, Jared? Cozinhar é uma tarefa doméstica e é coisa de mulher. Veja, eu estive trabalhando duro o dia todo, limpando esta casa inteira e guardando decorações que achei medievais e fora de moda. Estou tão cansada que não consigo levantar um alfinete, caso contrário, eu mesma teria oferecido cozinhar. Quanto a você, Jared, tenho certeza de que também está cansado. Ser um CEO bilionário não é fácil, e depois de um longo dia de trabalho, você merece descansar. Arielle aqui deveria cozinhar. Ela parece tão cheia de energia, quase pronta para brigar. Essa energia seria muito útil se ela a usasse para fazer o jantar para nós. Além disso, ela é uma trabalhadora doméstica e cozinha para viver.

Fiquei boquiaberta enquanto ouvia as divagações de Sofia. Pela forma como ela falava, um estranho poderia facilmente confundi-la com a dona da casa.

Jared deve ter percebido que Sofia estava ultrapassando os limites, porque imediatamente interveio.

— Já chega, Sofia. Não fale com minha esposa desse jeito. Arielle não está aqui para nos servir. — Jared repreendeu.

Embora eu não estivesse completamente satisfeita com o tom dele, fiquei aliviada por Jared finalmente ter se pronunciado e colocado Sofia em seu lugar. Finalmente, era a minha vez de fazer caras e bocas para ela.

Sofia imediatamente assumiu uma expressão de mágoa.

— Não acredito nisso, Jared. Eu não fui rude com ela, só estava dizendo a verdade. Você mudou muito desde que se casou, Jared. Esqueceu o laço que costumávamos compartilhar.

— Sofia, as coisas são diferentes agora. Sinto muito se te magoei. Mas...

Não esperei Jared terminar. Afastei-me, deixando-os sozinhos. Estava decepcionada com ele. Um minuto ele a repreendia, no outro, tentava acalmá-la. Qual era o problema dele? Precisava diminuir o próprio QI sempre que encontrava sua “velha amiga”?

Cheguei à cozinha e comecei a separar os ingredientes que usaria para o jantar. Minha intenção era fazer macarrão com frango e queijo.

Alguns minutos depois, Jared apareceu na cozinha, com uma expressão arrependida.

— Quero ajudar com o jantar, Arielle.

Não respondi de imediato, mas ao notar sua expressão determinada, suspirei e acenei com a cabeça. Se ele queria ajudar, eu não iria impedi-lo.

— O que vamos comer? — Jared perguntou.

Eu sabia que ele estava tentando iniciar uma conversa, porque um simples olhar para os ingredientes no balcão já revelaria o que eu estava preparando. Meu humor estava complicado, e eu não tinha interesse algum em conversar com ele.

O silêncio entre nós se alongou, carregado de tensão. Então, sem aviso, senti sua presença me envolver, seu perfume, rico e masculino, tomou conta de mim como um feitiço. Seus braços rodearam minha cintura, puxando-me contra ele, enquanto seus lábios roçaram o lado do meu pescoço, quentes e provocantes.

— Olha só quem ainda está brava. — Murmurou ele, sua respiração quente contra minha pele.

— Jared, para. — Protestei, mas minha voz saiu mais suave do que eu pretendia. Seus lábios tocaram meu pescoço novamente, e senti minha resistência começar a enfraquecer. Meu corpo relaxou, traindo-me.

— Está... coçando. — Acrescentei, quase em um sussurro, as palavras sem convicção.

— Está mesmo? — Ele sussurrou de volta, sua voz baixa, cheia de travessura.

— Jared. — Falei novamente, desta vez com mais firmeza, embora meu corpo não refletisse essa firmeza. Ele sabia exatamente como mexer comigo, como me derreter com um simples toque.

Ele finalmente recuou, um sorriso no rosto, embora suas mãos tenham permanecido em minha cintura por mais alguns segundos, me causando um arrepio.

Virei-me de volta ao fogão, tentando recuperar a compostura. Depois de preparar os ingredientes e colocar o macarrão no fogo, encarei Jared, agora mais séria.

— Pela última vez, Jared. — Comecei olhando diretamente nos olhos dele. — O que exatamente está acontecendo entre você e a Sofia?

Jared suspirou, passando a mão pelos cabelos antes de segurar minhas mãos nas dele, traçando círculos gentis em minha pele.

— Eu te prometo, Arielle. Sofia e eu somos apenas amigos com uma história antiga.

— Não me venha com essa desculpa de novo. Tem mais alguma coisa. Me diga por que ela parece tão única para você.

— Ela não é única, meu amor. — Jared suspirou. — Mas, se você insiste, há só uma coisa.

Levantei uma sobrancelha.

— Continue.

— Quando éramos pequenos. — Jared pausou por um instante antes de continuar, com a voz mais baixa. — Sofia me salvou uma vez. Eu estava sendo intimidado por alguns alunos mais velhos, e ela interveio. Eram o tipo de caras que tornavam a vida miserável para quem era mais fraco, e a Sofia... bem, ela não teve medo de enfrentá-los. Você viu o jeito dela hoje. Ela é desse tipo, sem medo, e faz uma bagunça onde passa.

Pisquei, absorvendo o peso das palavras dele. Era um lado de Jared que eu nunca conhecera.

Ele sorriu.

— Claro, no final, nós dois apanhamos e tivemos que nos apoiar para voltar para casa. Meu pai ficou furioso na época, e acabamos mudando de escola juntos.

— Eu nunca soube disso. — Disse suavemente. Havia uma pontada de ciúme no meu peito, mas também um novo entendimento.

O tom de Jared tornou-se sincero.

— Mas é só isso, Ari. Ela me ajudou uma vez, e sou grato por isso. Mas você é minha esposa. É isso que importa para mim agora.

Assenti lentamente.

— Tudo bem.

Jared sorriu, seu charme brilhando novamente.

— Agora, vamos terminar esse jantar. Eu cuido do resto, e você só relaxa. E, claro, vou lavar a louça, como prometido.

Não consegui evitar um leve sorriso, balançando a cabeça. Mesmo depois de tudo, ele ainda conseguia me fazer rir.

Depois de uma hora, o jantar finalmente ficou pronto. Arrumei a mesa enquanto Jared limpava a cozinha.

— Vou chamar a Sofia. — Disse Jared, enquanto eu me acomodava na sala de jantar para comer.

Assenti sem levantar o olhar, minha atenção completamente voltada para a comida. Segundos depois, ouvi passos se aproximando e soube que eram Sofia e Jared.

Recusei-me a erguer a cabeça, mantendo o foco no prato à minha frente. Ouvi Sofia puxar a cadeira oposta à minha e se acomodar nela.

— Isso está com um cheiro bom. Espero que o gosto seja tão bom quanto. — Comentou Sofia, enquanto descobria o prato.

Jared sentou-se na cadeira ao meu lado. Por um momento, todos comemos em silêncio, um silêncio tenso e desconfortável. Então, de repente, Sofia fez um som rouco, como se estivesse engasgando, seu rosto se contorcendo em uma expressão de dor. Ela se levantou de um salto, empurrando a cadeira que arranhou o chão de forma áspera, e correu para fora da sala de jantar.

— O que diabos...? — Comecei piscando em confusão enquanto Jared imediatamente se levantava e corria atrás dela.

Não precisei esperar muito para entender o que havia acontecido, pois Jared e Sofia voltaram minutos depois. Jared parecia preocupado, enquanto Sofia estava pálida.

— O que aconteceu? — Perguntei, olhando de Jared para Sofia.

— O que aconteceu é que você tentou me envenenar, e essa é a segunda vez. Primeiro foi no restaurante e agora, na sua casa. O que eu te fiz para merecer isso? — Acusou Sofia, fingindo lágrimas.

— Eu não entendo. Por que eu te envenenaria? Jared estava na cozinha comigo, e servi a mesma comida para todos. — Respondi defensivamente.

— Você adicionou leite ao macarrão, e eu sou alérgica a leite! — Gritou Sofia.

— É verdade, Arielle. Sofia é alérgica a leite. Você não deveria ter colocado isso na refeição. — Jared disse.

Eu o encarei, atônita.

— Jared. — Falei lentamente, forçando-me a manter a calma. — Você estava na cozinha comigo. Você viu tudo o que usei. Leite nunca fez parte da receita.

A expressão dele vacilou. Levantei-me, sem apetite algum.

— Só para constar, Sofia, eu não usei leite nesse prato. Na verdade, essa é a minha receita sem leite. Você pode perguntar a qualquer cliente do meu restaurante. Mas que diferença faz? Você já decidiu que eu te envenenei. Boa noite. — Disse, com um sorriso frio, antes de sair da sala de jantar.
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