(PONTO DE VISTA DE JOAQUIM)O nome dela, escrito com sua caligrafia. Um diário? Isso é tão antiquado, algo que só Anabela faria. Como nunca percebi que ela tinha esse hábito? Meu coração disparou enquanto eu passava os olhos pelas próximas páginas, buscando qualquer coisa—qualquer pista que pudesse me levar a entender o que eu tinha perdido.Deparei-me com uma anotação, e as palavras na página pareciam saltar aos meus olhos."Descobri que estou grávida hoje. Tenho sentido os sintomas, então fui ao médico. Está confirmado, vou ser mãe! Mal posso esperar para contar ao Joaquim… ele vai ficar tão feliz."A empolgação em suas palavras me atingiu como um soco no estômago. Quase podia ouvir sua voz na minha cabeça, como ela costumava me olhar com aquele sorriso esperançoso. Minhas mãos apertaram o diário enquanto meu peito se contraía dolorosamente. Nosso filho.Virei para a próxima página, meus olhos percorrendo a próxima entrada."Eu ia dar a notícia ao Joaquim hoje à noite, no jantar de a
(NARRATIVA DE JOAQUIM)Minhas mãos tremiam ao fechar o diário, mal processando as palavras que ainda ecoavam na minha mente. Então, ouvi passos do lado de fora da porta, me arrancando do meu transe.A porta rangeu ao abrir, e Sofia entrou, com a expressão já habitual de desagrado. Ela parou ao me ver, os olhos se estreitando com suspeita.— Sofia. — Murmurei, com a garganta apertada. — Precisamos conversar.Ela hesitou, as sobrancelhas se arqueando. — Sobre o quê?Não respondi imediatamente. Em vez disso, levantei o diário. — Você reconhece isso?Os olhos dela vacilaram—reconhecimento, talvez medo—mas ela rapidamente disfarçou com indiferença. — Não. Porque eu reconheceria?— Acho que você reconhece. — Falei, minha voz baixa, mas firme. — Olhe mais de perto.Ela hesitou, pegando o diário das minhas mãos, os dedos passando pela capa desgastada. — É só um diário, Joaquim. — Ela empurrou-o de volta para mim, com desdém. — Onde você encontrou isso?Ignorei sua pergunta. — Você o escondeu?
(PONTO DE VISTA DE ANABELA)Entrei em casa, exausta depois de um longo dia na academia. Tudo o que eu queria naquele momento era um almoço leve e uma longa soneca. Mas, ao entrar na cozinha, uma dor repentina atingiu meu abdômen.— Ah! — Gemi, segurando meu estômago.O que foi isso? Pensei, de repente tomada pelo pânico. Era trabalho de parto? Eu sabia que estava no nono mês, mas a data prevista para o parto era só no final do mês, e hoje era apenas o dia 15.A dor voltou, mais intensa dessa vez, e eu me curvei. Oh, Deus, algo está errado.Cambaleei até a sala de estar, peguei minha bolsa e procurei meu celular. Meus dedos tremiam enquanto discava o número de Diego.— Por favor, atenda, por favor, atenda. — Murmurei.— Anabela! — exclamei, aliviada quando ele atendeu.— Anabela, o que houve? — Ele perguntou, com urgência na voz.— Eu... Estou com muita dor, não sei o que é, mas dói muito. Meu abdômen, minha cintura...— O quê? Onde você está? — Ele perguntou, visivelmente alarmado.— E
(PONTO DE VISTA DE ANABELA)— Eu não sabia como te contar. — Disse baixinho, minha voz carregada de hesitação. — Não foi algo que eu escondi de propósito. Tinha medo de como a academia poderia reagir se descobrissem que eu estava grávida. Não sabia se ainda me aceitariam, ou se minha carreira estaria arruinada.A expressão de Diego ficou sombria, seus olhos misturando compreensão e decepção.— Nem eu? — A voz dele era calma, mas o peso por trás dela era inconfundível. — Anabela, somos amigos. Você realmente achou que eu faria algo contra você? Que eu te deixaria lidar com isso sozinha? Eu jamais faria algo assim, você sabe disso.Olhei para baixo. — Desculpa. — Murmurei, as palavras saindo de forma quase inaudível. — Eu realmente pensei em te contar, mas... não sabia como você reagiria. E, para ser honesta, pensei que talvez não pudesse fazer nada. Você não é médico, e eu não sabia se você entenderia o que eu estava passando.Ele balançou a cabeça levemente, sua voz firme. — Você não m
(TRÊS ANOS DEPOIS)— E o melhor aluno geral e vencedor da bolsa de estudos de R$ 500.000 deste ano é... Anabela Meirelles!Eu ofeguei ao ouvir o anúncio, incapaz de acreditar nas palavras do apresentador. Foi só depois que o auditório explodiu em aplausos e os olhares se voltaram para mim que percebi que, de fato, era o meu nome que tinham chamado.Levantei-me do meu assento, meu coração disparando de emoção enquanto caminhava pelos corredores entre as cadeiras, rumo ao palco elevado.Quando alcancei o palco, fui recebida com um sorriso caloroso pelo organizador, que me entregou o prêmio e apertou minha mão. — Parabéns, Anabela!Olhei para a plateia, encontrando os olhos da minha mãe e de Aline, que sorriam amplamente. Elas tinham chegado no dia anterior para assistir à minha formatura. Sorri de volta para elas, desviando o olhar para meu filho de três anos, Renan, que acenava animado no colo de sua babá.— A mamãe ganhou! — Murmurei, acenando para ele.Quando voltei a atenção para o p
(PONTO DE VISTA DE ANABELA)Senti meu rosto corar de vergonha, e quando olhei para Diego, ele já estava me observando, um brilho divertido dançando em seus olhos verdes. Seu sorriso foi lento, quase provocante, como se estivesse gostando de me ver tão desconcertada.— Hm... — Murmurei, tentando recuperar um pouco de compostura. — Renan, meu amor, pode voltar para o seu quarto? Mamãe precisa conversar um pouquinho com o tio Diego.— Tá bom, mamãe. — Ele respondeu, saindo do colo de Diego antes de correr para o quarto.Virei-me para Diego, ainda tentando superar a vergonha. — Não leve a sério o que ele disse. Ele só está sendo uma criança curiosa.Diego riu baixo, sua voz rica e suave. — Não me importo. Nem um pouco.Soltei um suspiro de alívio. — Obrigada.Mas então sua expressão mudou, seu olhar ficou firme, quase sério demais para o momento. — Você sabia que isso era só uma questão de tempo, certo?Franzi a testa, confusa. — O quê?— A pergunta de Renan. — Disse ele, inclinando-se lig
(PONTO DE VISTA DE JOAQUIM)— Anda logo, Sofia, vamos nos atrasar. — Chamei.Era uma noite de domingo, e estávamos nos preparando para ir à casa da minha mãe para o jantar. Desde o retorno dos pais de Sofia, minha mãe tornara isso um ritual: todos jantávamos juntos com a família Gomes na casa dela aos domingos.Por mais que eu preferisse estar em qualquer outro lugar, não tinha muita escolha. Minha mãe não aceitava de bom grado a ausência no que ela chamava de "pequena reunião de família".Olhei para o relógio no pulso quando Sofia não apareceu, decidindo dar-lhe mais alguns minutos. Não entendia por que tanto alarde com maquiagem; era só um jantar.Alguns minutos depois, ela subiu as escadas. — Como estou? — Perguntou, fazendo uma pose.Honestamente, ela estava deslumbrante, mas sua aparência já não me impressionava mais. — Você está linda. — Respondi, rapidamente acrescentando, — Podemos ir agora?— Claro. — Ela respondeu.Saímos para o carro, e eu dirigi até a casa da minha mãe. Ass
(Do ponto de vista de Arielle)O aroma do jantar espalhava-se pelo ambiente, enquanto eu mantinha meus olhos fixos em meu marido, Jared. Seu cabelo escuro caía perfeitamente, emoldurando o nariz reto e a mandíbula marcada. Mesmo em roupas casuais, ele tinha uma presença inegável —ombros largos, um peito esculpido. Parecia ter saído de uma revista, mas ali estava ele, comigo.Era nosso aniversário, e, para comemorar, eu havia sugerido um jantar em casa, apenas nós dois.Apesar de seu habitual comportamento reservado, Jared tinha reservado um tempo em sua agenda de trabalho sempre cheia, algo que considerei adorável. Especialmente quando ele me olhava com aqueles olhos intensos, era difícil continuar irritada.Escolhi sentar-me de frente para ele, em vez da posição habitual ao seu lado, porque queria observar todas as suas reações quando finalmente lhe contasse a grande notícia.Veja bem, descobri ontem, no consultório do médico da família, que estou grávida. Guardei a notícia para