Todos os capítulos do Jornada de Dois Corações: Capítulo 31 - Capítulo 40
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Capítulo 31
CillianQuando o sol iluminou o quarto, eu saí da cama. Não havia dormido e não conseguiria. Estava sentido uma enorme pressão dentro de mim. Parecia que eu explodiria a qualquer instante. Precisava sair. Caminhei para o closet e, ao entrar, logo vi ao canto algumas roupas dela, dobradas na prateleira. Tentei ignorar a dor que isso me causou e vesti-me apressadamente. Desci pelo elevador social direto para a recepção. Na calçada, marquei o tempo no relógio do punho, coloquei os fones de ouvido e atravessei a rua para o Central Park. Alonguei-me rapidamente e então comecei a correr. Correria até a exaustão se isso fosse tirar essa pressão de dentro do meu peito. Foram quarenta e três minutos de corrida sem interrupções. Em casa, ao entrar, a minha mãe preparava o café da manhã. — Fiz panquecas! — cantarolou. — Sem fome! — Foi tudo o que disse indo para o quarto. Entrei no banheiro e tranquei a porta. Tirei os tênis, o relógio, os fones e comecei a me despir. Observei as tatuagens
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Capítulo 32
CillianO fim de semana em Pasadena estava sendo mais longo do que eu conseguia suportar. A casa estava cheia de pessoas com olhares críticos, fofoquinhas ao pé do ouvido e sorrisos forçados para mim. Entornei em um só gole uma dose de uísque e entrei na casa, escondendo-me no corredor que levava para o escritório. Caroline apareceu e escorou-se no outro lado do corredor, diante de mim. Ela sorriu e chutou a ponta do meu sapato com o bico do seu. — Como me achou aqui? — perguntei. — Me lembro da gente se esconder aqui quando os nossos pais brigavam. Não tem briga agora. Por que está se escondendo? — Essa gente toda é irritante. — Você parece triste. — É porque estou. — O que aconteceu? — Levei um pé na bunda. — Ah, droga! Outra vez por aquele mesmo motivo? — Não. Dessa vez, porque fui um babaca. — O que você fez? — Menti dizendo estar indo a um congresso, quando, na verdade, estaria bem aqui. — Nossa! — Ela riu. — Você foi mesmo um babaca. — É. E não quero falar disso.
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Capítulo 33
Cillian O táxi estacionou em frente ao prédio. Desci após pagar pela corrida e subi os degraus que levavam até a porta. Estava frio, muito frio. Nevaria a qualquer momento, mas eu só sairia dali após falar com ela. Toquei o botão do seu apartamento e logo alguém atendeu: — Quem é? — A voz se parecia com a da Anna. — É o Cillian. — O que está fazendo aqui? — Quero falar com ela. — Mas ela não quer falar com você! — Por favor. A gente precisa conversar, eu não aguento mais isso! — Fui persistente. — Vá para casa, Cillian. A Cris está mesmo tentando esquecer você. Seria bom se ajudasse com isso. — Diz para ela que eu só saio daqui depois que a gente conversar, mesmo que eu congele aqui fora. O silêncio foi a minha resposta. — Alô?! Anna! — O silêncio perdurou. Apertei novamente o interfone e ninguém atendeu. Apertei de novo, determinado a só retirar o meu dedo dali, quando Cristina falasse comigo. Através do vidro da porta, eu vi uma silhueta feminina se aproximar. Eu me
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Capítulo 34
Cillian Mais alguns dias se foram. E com eles, a esperança de poder me aproximar da Cristina novamente. Quanto mais noites se iam, mais eu começava a crer que de fato estava tudo acabado. Às vezes, me questionava se importaria ou mudaria algo eu conseguir contar a ela sobre mim e explicar a minha mentira. — Não tem mais nada que eu pudesse fazer para que ela fale comigo, para que me ouça — disse para o meu terapeuta. — Meu número está bloqueado, não sei onde ela está trabalhando agora, na sua casa não sou recebido e no campus ela é como fumaça, desaparece fácil. — E como você entende isso? — Que está na hora de desistir? Ela está machucada e eu também estou. Talvez, está na hora apenas de nos curarmos. Mas não sei se sou capaz de me curar sem uma última conversa. — Certo. Digamos que ela não esteja aberta a um último diálogo. Como pretende se curar? — Evitá-la o máximo que puder e deixar Nova Iorque quando acabar o ano letivo. — Por quê, Cillian? — Encarou-me curioso. — Nov
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Capítulo 35
CillianEstacionei em frente ao bar, do outro lado da rua, e descei, parando por um minuto. Então, eu a vi pela vitrine. Um pequeno alívio surgiu em mim, junto a um sorriso. Atravessei a rua a passos largos, sentindo-me pronto para falar, finalmente. Mas antes que eu pudesse nem sequer entrar, a porta foi aberta e Anna apareceu com uma feição zangada. Ela segurou-me pela gola do casaco e me empurrou para trás, afastando-me do bar. — O que você quer aqui? Está perseguindo-a? — perguntou alto, furiosa. — Vim falar com ela. — Não, você não veio. Está aqui para estragar a noite dela! — Sabe que eu não faria isso! — Acho que faria, sim. Afinal, estragou o coração dela! Cristina não quer falar com você. Ela não quer lhe ver. Não percebeu ainda? Supera, já faz mais de dois meses! — disse alto, empurrando-me. Eu a olhei irritado. Anna estava indo longe demais. — Por que ela não vem aqui e diz isso na minha cara? Por que está sempre falando por ela? — Usei do mesmo tom irritada. — Eu n
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Capítulo 36
Cillian — Causei um grande mal a ela. Algo que claramente Cristina não merecia — disse ao terapeuta. — Ela realmente não quer me ver. Entra e sai das aulas sem me olhar no rosto. Acho que… só deveria deixá-la ir. Me esquecer. Saí da sessão de uma hora, decidido que não mais a procuraria. Eu havia entendido que a minha proximidade era desnecessária, somente a machucaria mais. E eu precisava respeitar a sua vontade. Ela não mais queria ter contato comigo. Então deixei que fosse. Peguei as suas roupas que estavam no meu closet, coloquei-as em uma bolsa e entreguei para Anna. Guardei a pulseira ao fundo de uma gaveta e segui os meus dias a amando em silêncio e segredo, e vivendo e engolindo todos os dias o meu arrependimento por não dizer a verdade. Eu quis tanto me proteger, que a feri com todo o meu egoísmo. Tentei guardar o meu coração das mágoas, mas destruí o seu. Fui um grande estúpido. Cristina continuou indo às aulas. Continuei lecionando para a sua turma e segui o seu exemp
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Capítulo 37
CillianChicago me trazia péssimas lembranças. Foi aqui que nasci e vivi verdadeiros pesadelos até os quatorze anos, quando a minha mãe se divorciou e se mudou para Pasadena comigo e Carol. O ar ainda parecia o mesmo de vinte anos atrás: pesado e cheio de ódio. Ao sair do aeroporto, aluguei um carro e segui para o hotel. No quarto, coloquei a mala ao canto e caminhei até a janela. Observei a cidade do décimo nono andar e um pouco de enjoo surgiu. Na mesa de cabeceira, apanhei o telefone e liguei para o quarto da minha mãe que está um andar abaixo do meu. — Alô. — Oi. Eu já cheguei. — Oi, filho. O jantar de ensaio é em duas horas. — Vou tomar banho e desço aí em uma hora. — Como foi a viagem? — Tranquila. — E como é estar aqui após vinte anos? — Gostaria de não estar. Mas faço pela Caroline. — Respire fundo. — Até daqui a pouco. Coloquei o telefone de volta no gancho. Sentado na cama, retirei os sapatos e comecei a me despir. Segui para o banheiro e retirei a calça junt
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Capítulo 38
Cillian— Achou que eu não viria no casamento da minha própria filha? — Achei, sim. Afinal, uma de vocês foi convidado por mera educação da noiva. — Senti o seu olhar queimar em mim. Ele ainda se referia a mim no feminino. — É melhor que nos deixe em paz, psicopata — disse Sheryl, fazendo-o rir de um jeito debochado. — Cuidado para que vocês duas não transformem esse casamento em um verdadeiro circo dos horrores. Cerrei o meu punho com tamanha força, fazendo-o estalar. Ele afastou indo em direção à mesa. — Nós não precisamos ficar — disse Sheryl. — Mas nós vamos. Se sairmos, estaremos fazendo tudo exatamente do jeito que ele quer. Estaremos jogando conforme as regras dele. E eu me recuso a isso. Durante todo o jantar pude senti-lo me encarar. A ira exalava dele, irradiando pela mesa. Era quase tóxico. Por algumas vezes senti vontade de encará-lo de volta, mas não estava seguro com isso e de como ele me afetaria com um contato tão direto. Se eu era resistente o bastante para pa
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Capítulo 39
O dia se foi e a noite chegou. Alfred não mais apareceu ali. Eu estava com fome, sede e vontade de fazer xixi. Caminhei até a porta e bati contra a madeira, chamando por alguém. Mas ninguém veio. Sentei-me no chão escorado a ela e novamente chorei um pouco mais, desesperado. Mais horas se passaram e pela janela vi quando as luzes do jardim foram desligadas, o que me dizia ser dez horas da noite. Ao fundo da sala, diante da mesa dele, havia um sofá de dois lugares revestido em couro. Eu me deitei ali, encolhido, sentindo a bexiga doer. Eu precisava ir ao banheiro. Depois de um tempo, o cansaço ocupou o meu corpo e acabou vencendo-me. Quando acordei pela manhã com a tamanha claridade do sol, senti algo entranho na calça, parecia úmida. Olhei para baixo e vi que estava todo molhado. Entrei em desespero. Se Alfred entrasse ali e visse aquilo, seria capaz de me bater novamente. Levantei-me do sofá e olhei ao meu arredor procurando por algo que pudesse usar para limpar o couro. A port
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Capítulo 40
Quando a noite chegou, a porta foi aberta e eu olhei sobre o ombro. Alfred entrou com um DVD nas mãos. Em silêncio, caminhou até a TV que ficava na estante, à minha frente. Ele agachou-se e ligou-a, inserindo o CD no aparelho. Então, apanhou o controle remoto e se levantou, virando-se para mim. — Acho que você precisa entender como é o corpo de um homem para saber que você não pode ser um. Também vou lhe mostrar para que serve o seu corpo, um corpo feminino. — O seu tom era assustadoramente brando. Ele sorriu e ligou a TV. Então imagens de filme pornográfico começaram a rolar na tela. Os meus olhos se arregalaram e eu fiquei tenso e assustado. Era nojento e esquisito. Alfred parou logo atrás de mim e segurou o encosto da cadeira, curvando-se para frente. — Veja o que ele tem entre as pernas — falou baixo no meu ouvido. — Isso é o que torna um ser humano em homem. Não tem um pênis… Kate — pronunciou o meu nome lentamente. Os meus olhos se encheram de lágrimas. Um doloroso nó se fo
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