Todos os capítulos do Jornada de Dois Corações: Capítulo 41 - Capítulo 50
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Capítulo 41
Parecia um sonho estranho. Estava tudo escuro e sons de estalo viajam ao meu ouvido, se aproximando um tanto rápido demais. Os meus olhos então se abriram e uma claridade imensa os invadiu, segando momentaneamente. Pisquei algumas vezes, rápido, tentando me acostumar com a luz. — Beba isso! — A voz rude de Alfred invadiu os meus ouvidos, despertando-me de vez. Olhei-o com olhos arregalados de medo. O meu corpo estremeceu com o pavor. A respiração ofegou e o coração bateu muito forte. Um copo foi coloca na minha boca, ao mesmo que a sua mão agarrou o meu queixo, apertando-o. Um líquido de gosto péssimo, nem doce ou salgado, foi derramado na minha língua. Eu engoli um pouco daquilo, apressado. Estava com muito sede. A bebida desceu embolada pela minha garganta, causando um certo desconforto. Mas, ao mesmo tempo que aquilo chegou ao meu estômago, o enjoo que senti foi terrível. Sem que eu pudesse evitar, vomitei, sujando-me todo. — Os meus sapatos! — falou ele irritado, afastando-se
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Capítulo 42
Acordei com barulhos ritmados ecoando dentro do meu cérebro. Abri os meus olhos e a primeira coisa que vi foi um imenso teto branco. Lentamente, virei o rosto para o lado. Persianas cobriam uma janela. Nenhuma luz escapava à sua volta. Talvez já fosse noite. Ergui um pouco a cabeça e lá estava um monte fios e aparelhos. Olhei para o outro lado e então vi a minha mãe, adormecendo sentada em uma poltrona. — Mamãe… — chamei por ela e a minha voz saiu mais forte. Eu já não me sentia tão mal como antes, ou à beira da morte. — Mãe! — chamei-a novamente, um pouco mais alto. Ela sobressaltou assustada e olhou para os lados, procurando por quem a chamava, até que os seus olhos em encontraram. — Cillian. Levantou-se depressa e veio até mim. — Você acordou. — A voz soou embargada. — E você veio me salvar. Ela segurou a minha mão e beijou o dorso, chorando. — Sim, meu amor. — Tentou sorrir. — Onde ele está? Sheryl desviou o seu olhar do meu. — Ele foi à polícia e disse que a casa
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Capítulo 43
Eu estava cheio de pavor. Começava a não sentir o ar entrar nos pulmões. Uma crise de ansiedade se aproximava. Eu não podia ficar mais vulnerável para eles do que já estava. Só precisava me lembrar que o ar estava, sim, entrando, eu apenas não estava o sentindo. Respirar fundo e devagar. — O que você tem embaixo dessa roupa, coisinha esquisita? Tirem a roupa dela — mandou um deles e os outros rapidamente abriram a camisa do uniforme, e puxaram a calça até o tornozelo, fazendo o mesmo com a cueca em seguida. — O que são essas perebas em você? — Tocou as marcas das queimaduras, fazendo o meu abdome se retrair ao seu toque. Isso os fizeram gargalhar. — Ela é bem rosadinha — disse o mais feio deles, olhando para entre as minhas pernas. — O que vocês acham? — Olhou para os outros, com um sorriso maligno. — Vou primeiro! — disse um rapidamente. Estremeci de pavor. Eu sabia do que eles estavam falando. — Não! Não foderemos com o pecado. Seja lá o que essa coisa tem, pode passar para
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Capítulo 44
CillianDiante do espelho, eu fazia caprichosamente o nó na gravata borboleta, quando alguém bateu na porta. Caminhei até ela, acreditando que fosse Sheryl, mas ao abri-la, lá estava um funcionário do hotel. — Boa noite, senhor Ballard. Isso foi deixado na recepção para o senhor. Estendeu-me uma sacola preta, lustrosa, sem nenhum logo aparente. Ela estava fechada com uma fita de cetim branca, em um laço grande e bem-feito. Apanhei-a e agradeci a ele, fechando a porta após dá-lo cinco dólares como gorjeta. Coloquei a sacola sobre a mesa do bar ao canto do quarto e puxei uma das pontas do laçarote. Ao abrir, vi um pedaço de tecido rosado e florido. Puxei-o lá de dentro, desdobrando-o. Não era um pedaço de tecido qualquer. E um vestido infantil e feminino. Um maldito vestido muito parecido com o qual Alfred obrigou-me a vestir. O sangue no meu corpo se esquentou e as mãos apertaram o tecido com tamanha força, causando um estalo nos punhos. Os dentes rangeram ao contrair da mandíbula.
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Capítulo 45
CillianDurante duas horas, fiquei pelos cantos, contando cada segundo para ir embora dali. Sheryl estava um pouco entretida, conversando com velhos conhecidos. Eu já havia bebido quatro doses de uísque e a minha cabeça rodava um pouco. — Você não vem dançar comigo? — perguntou Caroline. — Deveria dançar com o seu marido, aproveitar cada segundo da noite de hoje. — Forcei um sorriso. — Eu não sei onde ele está. Deve estar com alguém do trabalho, conversando sobre coisas de trabalho. — Riu. Eu a olhei com cautela e um pouco de pena. A sua ingenuidade ainda destruiria o seu coração. — Acho que você devia ir procurá-lo. Ela assentiu e se foi. Ao longe, vi quando Alfred se afastou do seu grupinho de machos com masculinidade frágil e andou em direção ao salão coberto. Coloquei o copo sobre uma mesa qualquer e o segui com certa distância. Ele parou pelo caminho e cumprimentou uma mulher, beijando-a na mão. Mas logo andou em direção ao corredor que levava aos banheiros. As solas
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Capítulo 46
CillianA bancada por onde passaria os formandos do mestrado, havia sido montada ao livre no campus da faculdade. O céu estava lindo, cheio de nuvens branquinhas que flautavam acima de nós com a sua calmaria. O vento calmo soprava as folhas nas copas das árvores, mas o calor estava um tanto insuportável naquela manhã. Pouco a pouco, os estudantes foram chamados no pequeno palco. Quando o nome da Cristina foi pronunciado, o meu coração palpitou e eu engoli em seco o nervosismo entalado na garganta. Pela primeira vez em meses eu a olharia nos olhos e tocaria a sua mão ao cumprimentá-la. Imaginar isso me deixava imensamente nervoso. Ela estava radiante. Tinha um enorme sorriso e olhos brilhantes. A energia que emanava dela, era vibrante. Após pegar o canudo e fazer uma pausa breve para uma foto, ela passou pelos professores na bancada, apertando a mão de cada um deles. Quando ela parou à minha frente, o seu sorriso amenizou, mas não vi mágoa ou raiva neles, como pensei que veria. Fui
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Capítulo 47
CillianSentado relaxadamente no sofá, deitei cabeça no encosto e encarei o teto um tanto pensativo. Levei o copo com o uísque até a boca e tomei um gole. Mas antes que eu tivesse tempo de engoli-lo, o arrepio familiar subiu as pernas, alojando-se nas minhas entranhas. Engoli o líquido ardente e fechei as pálpebras. Levei a mão livre até os cabelos de Yvana e então gozei em um gemido alto, puxando firmemente os seus fios ruivos. Ela se ergueu e sentou-se no meu colo, de frente para mim. Segurou o meu rosto entre as suas mãos e aproximou a sua face da minha, pronta para me beijar, mas não permiti. Deitei a cabeça novamente no encosto do sofá, voltando a encarar o teto. — Por que você nunca me beija? — Porque eu não quero. — Tomei o restante do uísque. Ela riu com escárnio. — Sabe o que eu acho? — Não quero saber. — Forcei um sorriso. — Acho que está guardando os seus lábios para alguém que claramente não te quer. Encarei-a feio. — E por que pensa isso? — Faz quatro meses qu
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Capítulo 48
CillianAs minhas mãos estremeceram e eu a ansiedade invadiu-me subitamente, junto a muita preocupação. Os meus olhos passearam por sua roupa, e eu observei como ela estava vestindo preto dos pés à cabeça. — Fala logo! — O meu tom saiu desesperados e um tanto rude. Anna engoliu em seco e olhou-me com muita tristeza. — O Pedro faleceu na tarde de sexta-feira. Aquela notícia havia pegando-me completamente desprevenido. O meu coração palpitou ainda mais forte e rápido. Uma leve tontura abalou o meu cérebro. Olhei para cima e respirei fundo algumas vezes. — Como isso aconteceu? — Foi um ataque cardíaco. A Cristina estava com ele. Ed está me levando para lá agora. O velório será logo mais tarde. Acho que devia ir. Olhei-a com um nós na garganta e olhos molhados. Não conseguia crer que isso havia acontecido. — Acredito que a última pessoa que a Cristina queira ver agora, sou eu. Ela negou com a cabeça. — Não. Embora ela negue, sei que ainda ama você. — Você é quem mais me quis l
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Capítulo 49
CillianCristina chorou ressentida por longos minutos. Quando afastou o seu rosto, ele estava completamente molhado e as bochechas tão vermelhas quanto o nariz. As suas pálpebras estavam um pouco inchadas. Nós nos olhamos, olho no olho, enquanto eu delicadamente em secava a sua face. — Obrigada por estar aqui — disse ela, baixinho. — Estou aqui desde a igreja, mas… estava com medo de chegar perto demais. — Cristina… — Uma senhora a chamou, nos interrompendo. Cristina me soltou e foi até ela, abraçando-a rapidamente. Elas começaram a conversar e eu as deixei sozinhas. As gêmeas estavam sentadas nos degraus da escada, desoladas. O meu coração se apertou cheio de pena. — Olá, meninas. — Oi — responderam em uníssono, cabisbaixas. — Vocês estão com fome? Elas negaram com a cabeça. — Querem me contar uma história lá em cima? Novamente, negaram com a cabeça, após hesitarem por alguns segundos. — Estamos cansadas — disse Bela. — Então acho deverem ir se deitar. — Não queremos
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Capítulo 50
CillianCaminhei até a recepção e pedi por uma chave. Ao sair, Cristina estava escorada ao carro, esperando por mim. Acompanhados de um clima tenso, subimos a escada para o piso de cima. Parei diante do quarto e destranquei a porta, dando passagem para ela. Cristina andou até mais adiante, retirou o sobretudo e colocou-o sobre o encosto da cadeira ao canto. Liguei o aquecedor e me aproximei, porém, mantendo um metro de distância entre nós. Ela se virou para mim e me olhou nos olhos. O silêncio começava a se tornar insuportável. — Precisa dizer alguma coisa — eu disse. Ela deu um passo na minha direção e parou. — Não ter me contato isso antes foi de um tremendo egoísmo. — falou, e outro passo foi dado. — Estou brava. E quero gritar com você, mas não tenho energia para isso. — Sinto muito. — Por isso não queria que eu conhecesse a sua família? Tinha medo de que eu descobrisse. — Muito medo. Todas as vezes que contei para uma mulher com quem estava me envolvendo a reação foi… pés
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