Início / Fantasía / Endlessland: Rainha das Cinzas / Capítulo 1 - Capítulo 10
Todos os capítulos do Endlessland: Rainha das Cinzas: Capítulo 1 - Capítulo 10
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Prólogo
Dedicatória   Para todos aqueles que, assim como eu, não sabem por onde começar, apenas comecem.     6 anos antes...   — Amara Fleurwind, seus crimes serão punidos como manda a lei de Illinea! A rainha das fadas grita, a voz carregada pelo vento chega aos ouvidos de todos, exceto aos meus. Talvez, lá no fundo eu estivesse ouvindo algo que se assemelhasse a palavras engolidas pela água, mas eu sequer consigo distinguir o tom feroz e sádico dela dos vários em minha própria cabeça. Vozes agressivas e depois suaves, vorazes e suplicantes que vão e vem junto a cada passo que me obrigam a caminhar. — Que sua sentença sane o senso de justiça requisitado por todos. – A coroa dourada reluziu sob a luz do sol poente. Os cabelos negros como as trevas barram qualquer faísca solar que tenta penetrá-los e o escarlate do vestido fere a vis
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O1
Atualmente...   Guardo as chaves na bolsa depois de verificar a tranca da porta duas vezes. Fechar a floricultura nas sextas-feiras é meu trabalho e verificar que continue fechada até o sábado de manhã para que ninguém entre “por acidente” e roube algumas flores ou notas do caixa faz parte das minhas obrigações. Dáhlia – a doce e gentil senhora, dona da loja – acena para mim da janela acima e sorri em forma de adeus, a mão enrugada de veias saltadas sacode as pulseiras no pulso direito. A aliança do falecido marido ainda no dedo. Ela vive em um apartamento sobre a floricultura e tira os fins de semana para descansar e jogar bingo com outras senhoras amigas, algum tipo de retiro sabático aos fins de semana e por isso, eu trabalho no dia seguinte por meio período. É quando os turistas apaixonados chegam em Nova Orleans e compram flores para suas amadas. Ela vive dizendo. Não que eu me importe em fazer buquês aos sábados, na verdad
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02
Repreendo a mim mesma e simplesmente ignoro o fato de ter pensado nas luas de Illinea. As entidades mágicas, pilares de um reino que já não faço parte. Deveria ter parado de fazer preces a elas há seis anos. A carruagem. A torre. A morte. Um carro guiado por cavalos carregando seu soberano, uma torre única de pedras desmoronando e levando junto os moradores e um ser cadavérico ceifando com sua foice afiada a vida dos que o cercam. — Três dos arcanos maiores que representam uma mudança drástica. – A mulher suspira de pesar. — Detesto a torre. A lembrança do calabouço do castelo, da cela pequena, escura e suja em que fiquei presa por dois séculos, antes da rainha decidir me levar a julgamento arrepia todos os pelinhos presentes em meu corpo, gelando a alma e somando mais duzentos anos aos meus quatrocentos. Foi nessa época que parei de contar, mas os anos passaram igual. Abaixo os olhos para o baralho revelado. Péssimo! — Você amava o
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03
— Mais um pouco, vamos! Estamos quase chegando! O peso dele sobre meu corpo pequeno está indo além do que posso aguentar por muito tempo. Se demorarmos mais um pouco nós dois desabaremos e então estaremos perdidos e cheios de explicações para dar. Nunca soube mentir, no máximo omitir alguns detalhes da verdade, detalhes como, por exemplo, a mordida humana no pulso de um garoto ter sido causada porque um dos amigos dele surtou e o atacou, após usarem drogas. Sério? É tudo que tem, Amara? Como explicaria aos médicos – ou a qualquer um – a quantidade significativa de sangue faltando no corpo dele? Quando finalmente chegamos na floricultura, o apoio contra o vidro quadrado da vitrine para procurar as chaves na bolsa, também manchada de vermelho. Eu o tinha limpado naquela manhã e cinco minutos depois já haviam palmas de mãos sujas que indicavam adornos, flores e vasos de clientes interessados. Alguns entraram e outros apenas almejaram receber flores ou poder com
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04
Devolvo ambos os copos de cristal onde estavam antes, vou para as gavetas da mesa novamente tiro de lá um isqueiro. Abro a cristaleira para tirar de dentro um dos incensos de alecrim e arruda, o apoio no incensário estreito de madeira com pequenos sóis pintados em amarelo e o acendo. Assopro a singela chama na ponta do palito, ciente de que o mortal me observa. O aroma começa a purificar o ar quando guardo o isqueiro na gaveta. Antigamente, o acenderia com apenas um desejo de acendê-lo, um olhar, um pensamento e agora preciso de fogo de verdade, algo que crie as chamas para mim. — Eu senti você. – Apoio as mãos na mesa, inclinando o corpo um pouco para frente. — Na praça. Em um minuto tudo estava limpo e eufórico, mas para uma sexta a tarde é normal. No minuto seguinte foi como se todas as energias boas fossem sugadas de dentro de mim, uma esponja. Soube que havia algo errado quando vi uma vadia loira conduzindo um pobre garoto para um beco nojento o bastante para n
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05
Jogo as chaves sobre o aparador assim que entro em casa. É estranho como qualquer lugar pode vir a ser o seu lar dependendo da situação em que nos encontramos. Seis anos atrás eu despenquei do reino das fadas e, supostamente, deveria ter morrido afogada. Por alguma razão desconhecida, eu sobrevivi e um homem de quase setenta anos, médico e gentil me encontrou flutuando dentro do lado em seu quintal. Ele decidiu que não me deixaria morrer ali. Os meses voaram desde então, imperceptíveis, anos vivendo e confiando em um mortal que, de certa forma, me tratava como um membro da família que não possuía. Sem esposa, sem filhos, sem parentes vivos para lhe fazer companhia, apenas a mim, a jovem estranha com cicatrizes nas costas e cabelo azul que nunca respondeu nenhuma das perguntas pessoais vindas dele. Encaro o quadro pregado na parede de pedras rústicas acima da lareira. A moldura de madeira marrom escura e grossa entorno da foto de um senhor sorridente de feições serena
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06
Acordo incomodada. A raposa me observa sentada em minha barriga e me cutuca com a pata fofa entre os seios. Acorde! Parece dizer. Ela pisca os olhinhos marrons fixos aos meus e inclina levemente a cabecinha para o lado. Pisco para ela também, desnorteada com o despertar e ainda me sinto cansada, como se não tivesse dormido uma hora sequer essa noite. Talvez, não tenha dormido. Cortesia do pesadelo horrível que venho tendo há algumas noites. Jogo as cobertas de lado e coço entre as orelhas de Pandora, que acata o carinho abanando a ponta do rabo foto. Meus pés tocam o chão e mesmo por cima do tapete felpudo o frio irradia pelos dedos. Abro uma pequena fresta da cortina e está escuro lá fora. A floresta dorme profundamente e as nuvens pesadas ameaçam uma tempestade a qualquer minuto. Faço uma careta para o sol que se recusa a esquentar a terra e pela ideia de que preciso sair para trabalhar. Gosto do que faço, mas ninguém merece ter que sair da cama com esse tempo ins
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07
— De jeito nenhum! – Ryan nega balançando a cabeça e a puxa pelo pulso para longe do enfeite. — Por favor, Ryan! Tem um ursinho! A mamãe adora ursinhos! – Ela implora e ele persiste na decisão lançando a ela um olhar amedrontador para uma criança tão pequena e inocente. — Não, Chloe. Você adora ursinhos. As lagrimas brotam nos cílios loiros dela e tenho vontade de abraça-la e confortá-la, de dizer que o irmão dela é um babaca de merda que não sabe como cuidar de uma criança. Porém, por outro lado, ele não tem o dever de saber como cuidar de uma criança se ele não é o pai dela. E, por um terceiro lado, talvez, ele seja obrigado a tomar conta da irmã, porque os próprios pais lavaram as mãos. Fico imaginando cenários para a vida deles e nenhum deles é bom. Ryan percebe que estou presa em pensamentos enquanto os encaro e engole em seco coçando a garganta em voz alta. — Quanto custa? – Pergunta desviando os olhos para qualquer lugar exceto os meus
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08
Deslumbrante. Fico deslumbrante dentro do vestido de franjas finas e douradas, esvoaçantes até metade das minhas coxas. É quase obsceno e curto demais se o tema da festa não fosse os sete pecados capitais escondidos por trás das máscaras. Uma simulação da realidade na Terra, sinceramente. Afinal, todos temos dentro de nós, ao menos um desses pecados, se não mais de um. Sendo franca com meu reflexo no espelho, a luxúria me cai bem. Ajeito as alças finas acima das clavículas graciosamente ressaltadas e iluminadas com o brilho suave de um pó luminoso que passei nos ombros e colo. Meus olhos estão opacos em sombra dourada suave, enquanto o batom marrom queimado chama toda a atenção para meus lábios cheios e contornados. O rosado demarca as bochechas coradas e os cílios alongados as sombreiam, junto a algumas mechas do cabelo, que caem em ondas naturais nas têmporas e nas laterais para esconder as pontas das orelhas. O restante delas estão presas no topo
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09
Mesmo com os pés reclamando dentro do salto alto, começo a caminhas sobre as estrelas que ainda permanecem no céu, em direção à praça Jackson, na esperança de ter algum táxi passando por lá a essa hora. São seis quadras, virando a segunda à direita e depois reto até o fim. A cidade dorme e as ruas estão solitárias, apenas um ou dois carros nos semáforos. Um terceiro parece diminuir a velocidade ao se aproximar e acompanhar meus passos. O vidro do Sedan preto se abaixa revelando a inveja. Ele sorri abaixando a visão para conseguir me ver. — Quer carona? – Pergunta e sigo andando. Sorrio negando com a cabeça, surpresa pela abordagem, mas não tanto assim. — Sabe, é perigoso para uma dama indefesa andar sozinha por essas bandas a essa hora. — Quem te disse que sou uma dama indefesa? – Retruco olhando para o horizonte, para o meu destino final e para a lua que paira nas nuvens entre a arquitetura velha e francesa dos cortiços. — O carro não é bom o bastan
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