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— Genocídio!? — pasmou Sigmund, sentindo uma dor lancinante espalhando-se do ponto onde o filo tocava sua mão para o resto do braço. — Sim. Matar a vida que tudo sustenta é genocídio — respondeu Aldous, nitidamente satisfeito pela dor do rapaz. — As imundas almas que lá embaixo pisam são uma parcela dos responsáveis. Sigmund engoliu seco, incapaz de tecer um comentário. — Você sofreu muito, garoto. Teve sua liberdade usurpada, vitimado por um homem controlador. Sobreviver com tamanha lucidez é louvável! — Não… me sinto… lúcido! — disse, devagar, estasiado. Aldous tirou o braço de Sigmund do contato com o sangue. — Está, acredite! — Ele riu, trêmulo. — Fui criado, primariamente, numa tentativa desesperada de sobreviver a abusos. Quando Esmond nos encontrou, estávamos levemente tomados por Loucura. Do momento em que aceitamos ajuda até acordarmos, com a lucidez reparada, são dias de um borrão que nunca preenchemos com algo. Esmond teve trabalho com nossa falta de controle constante
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— Estamos melhores? — Althea questionou ao fim da refeição. — Sim. Sobrou-me disposição para trabalhar. O herdeiro tem o que pensar. Ficamos estressados, mas passou! Foi um dia satisfatório. — Estou bem, mas cansado. Posso deitar? — pediu Sigmund, tonto. — Após tanto, deve descansar. Provavelmente, o monge despertará… — disse Aldous, sentando próximo ao menino. — Deite! Quero ver como será preso. Pode narrar o processo de emergir e imergir? — Emergir é simples. Quando o monge está consciente, qualquer estresse ao corpo me permite interagir. Aumentar os níveis de estresse aplica pressão contra as trancas. Após a primeira, o resto fragiliza, é só seguir forçando contra — explicou, tentando ser claro. — Imergir dói. Como ser lançado e rolar montanha abaixo… tortuoso! Consigo senti-las moverem-se, isto me causa enjoo. No combate não senti, mas o cansaço e o resto, devem ajudar, não sei… o raciocínio está turvo! Sigmund deitou, cansado. Aldous o observou atentamente. A grande festa de
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Mais um dia se passou e Sigmund despertou aéreo. Lentamente, pegou um quíton no armário. O caminho ao banheiro foi ainda mais devagar, dada a incômoda sensação vertiginosa, que o obrigava a apoiar-se na parede enquanto aguardava seu senso de equilíbrio restaurar-se. Uma intensa dor na cabeça o assolou. “Não estamos bem, monge… é sério. Peça ajuda!”, disse seu revoltado eu, perturbado, causando-o uma leve hemorragia nasal. Sigmund foi ao salão principal, zigue-zagando — afinal, já não haviam paredes onde apoiar. Althea já estava ao salão tomando vinho, absorta em suas anotações, mas ao vê-lo, correu. — Criança, está bem? — perguntou, ajoelhando-se e apoiando-o. — Não. — Ele pôs a mão no rosto. — Estou lento… tudo está embaralhado. Estava indo ao banho… ele disse para chamar ajuda. — Vamos ao banho. Althea o lavou e vestiu, levando-o ao salão principal, em seguida. — Falta algum tempo para a refeição, quer descansar mais um pouco? — Não sei… não estou bem — respondeu, deitando
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Após a partida de Chase, Aldous manteve-se de pé. O sangue vazava do convés, manchando o mar. Estava trêmulo e o contato com o sangue o deixava mais irascível. Com a dificuldade para respirar, Aldous tirou uma das muitas agulhas de seu quíton e virou-se de costas para o mar, observando o sangue. Ele fechou os olhos e perfurou, abaixo da unha do dedo mínimo. O prazer da dor arrepiou seu corpo, dando-o uma ereção. O gemido desafogou seus pulmões. “Isto precisa acabar!”, pensou, impaciente para a morte começar. Haviam alguns fios de vida, abaixo da popa, de idades variadas. Um único estava a ponto de arrebentar e este era o aguardado. O fio vibrava, intenso, mas não suficiente… Faltava… e Aldous não queria ver o que este fazia com os donos dos dois fios próximos. Ele aguardou enquanto brincava com a agulha para conseguir respirar. Seus olhos, levemente enegrecidos, evidenciavam o quanto o controle lhe escapara, mas o forte senso de dever não o permitiria partir. “Finalmente!”
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— Como ele está? — Chase arguiu, pondo o morin khuur ao seu lado. — O artifício começa a falhar. Os mecanismos dependem da renovação do autor, sem isto, começam a afetá-lo — disse Althea, preocupada. — Se demorarmos é impossível mensurar os danos. — O pai deve estar destruído — compadeceu-se. — Sou necessário? — Só volte para casa. Infelizmente, trabalhar com o pequeno será complicado e com o surto recente, não é sábio estar aqui. Quer ajudar? — Do que precisa? — perguntou, levantando-se prontamente. — Eles ainda não tiveram uma refeição, pode nutri-los, por favor. Estou cansada e não posso me desgastar tão cedo. — Sim, senhora — assentiu Chase, nutrindo-os com sua energia. — Este herdeiro terá tanta dificuldade quanto o pai? — Não sei. É um ótimo rapaz, muito machucado. Sua emancipação da vida foi violenta… matou a mãe e alguns homens de fé. Ele fala de uma moça que cuidou dele, eu acho! Seria interessante encontrarmos, talvez ajude na reabilitação. Claro, se Aldous permitir!
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Ao abrir os olhos, Sigmund viu-se às margens de um rio. Trêmulo, extremamente dolorido, ele suspirou. A enegrecida e amarga água do rio o trouxe enjoo, sem forças, ele apenas se virou de lado e pôs para fora toda a água que ingerira. Ofegante, estressado, ele deitou com a barriga para cima, tentando recuperar-se. A dor já não era intensa, o que era razoável. Ele tentou levantar, sem sucesso, afinal não havia mínima força em suas pernas para tal. Ele não insistiu, arrastou-se até o monge que, apesar de desacordado, não mais parecia profundamente dormente. — É hora de acordar, monge! — chamou, concentrando-se e usando sua sinfonia para estimular seu despertar. O monge acordou, expelindo a água do rio. — Seu desgraçado preguiçoso! — comemorou, ainda irado. — Desgraçado preguiçoso? — perguntou o monge, tonto, fazendo careta pela amargura que impregnava seu paladar. — Odeio-te, já disse isso, monge? — indagou, tentando levantar-se, sem sucesso. — Ótimo, agora eu sou o inútil! — iro
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“Sempre que um, dentre eles, nos amar será o amor d’Ela pulsando no íntimo de nossos irmãos!”, ressoou o voto de Algos, na alma de Sigmund. Sigmund despertou dentro de si, olhou ao redor e tudo estava igual, excetuando uma grande lua púrpura, banhando o local onde as mandalas não mais estavam. O monge estava deitado ao seu lado. — Monge? — chamou, desatando o nó de seu cabelo. — Hm… — O monge suspirou. — Morremos? — arguiu, sonolento. — Que fixação com a morte, nossa! Como se sente? — Sonolento, estranho — respondeu, olhando ao redor, com a visão embaçada —, estamos de volta em casa? — Sim, as marcas das mandalas foram substituídas por uma lua — respondeu, apontando para o céu. — Uau! Isto é normal? — Sim, é onde vive Algos. — Ele sorriu, saudoso. — Deixe-me ver o que o aflige… — Sentou, esparramando os cabelos no chão. — É como seus olhos. — O monge riu. — Por quê de tanto cabelo? — perguntou, letárgico. — Por que nenhum? — Sigmund riu, começando a verificá-lo. *** Aldous
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Aldous despertou com o choro de Sigmund. Ao levantar, viu o menino com o rosto enterrado no peito de Althea. — O que houve? — perguntou, sentando ao lado da mulher. — Amnésia. Isto deveria ocorrer? — perguntou, preocupada. — Não é efeito colateral. As memórias fictícias foram removidas! Aldous a beijou na testa e foi ao banheiro, incapaz de observar o pranto do menino e manter a própria estabilidade. Althea apoiou a cabeça na cabeça do menino. Após muito chorar, Sigmund dormiu. Ela o deitou e, incapaz de conter as lágrimas, foi ao altar buscar conforto nos braços de sua mãe divina. Aldous, após o banho, juntou-se. — Preciso ir, senhora — disse, quando ambos encerraram suas preces. — Não se preocupe, voltarei! — Ele sorriu, enxugando as lágrimas do rosto de Althea. — Meus lindos olhos choram. — Momentâneo… — Ela sorriu, suspirando. — Se cuida! Que a mãe o guie pelos caminhos da renovação e seu perfume lhe aponte o caminho de casa — bem-disse Althea, em tom de oração. — Amém,
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Com Sigmund no colo, Althea fechou a porta do salão e serviu vinho. — Há oito meses, Epidotes relatou a inconstância de Ketu, sem detalhes. Poucos sabiam haver civilização em Aakash — disse Agniprava, bebendo o vinho. — Os irmãos de Burma sugeriram buscar os Nats em Popa. Fomos parte à Popa, parte à Aakash. Recebemos um documento dos Nats para termos com a vila e soubemos de sua relação distante dada a natureza reclusa de Aakash. Na vila, notamos a proteção num vasto território. Dada a atribulação no caminho dos mortos, não o usamos. Esperamos para tentar falar com alguém, mas ninguém deixou o perímetro da proteção por todo o tempo que ficamos. — Os vegetais que a floresta não provê são plantados sobre o lago. Ir até lá é desnecessário, um luxo! As crianças o fazem mais que os adultos ou jovens — disse Sigmund, tentando colaborar, mesmo desconfortável. — Guardamos o documento e observamos, tivemos contato com o sétimo general, mas não arguimos. A ocorrência se deu… agora, estamos aj
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— As coisas com o pequeno Sigmund, atualmente, estão razoáveis. As incidências com a Loucura são constantes… mas, sua grande compreensão de si ajuda com o bom fluir dos eventos — explicou Althea. — O que vi, abaixo da máscara, é Bodhi? — arguiu Ianos, curioso. — Não se ele puder evitar, segundo o próprio — respondeu Althea. — Ele teve problemas com theravadas, logo é uma aversão generalizada. — Meu aprendiz terá trabalho com o vizinho! — Ianos riu. — Tenho fé que o próximo Algos será ajuizado — bem-disse Alexa. — Eles terão problemas. Seu aprendiz terá mais dificuldades do que você teve com Aldous, provavelmente… — Althea riu, nostálgica. — Não foi difícil. É um grande homem, me orgulho de conhecê-lo e chamá-lo irmão. Mesmo tendo suas forças sugadas pela guerra, resiste de pé! É um exemplo. Gosta de me hostilizar, mas não incomoda. Não pode fugir de sua natureza e esta não muda sua grandeza. — Ianos, pode me ajudar? — pediu Althea. — Há uma mulher, nativa de Aakash, de quem prec
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