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Nota do autor:
Ônix é uma obra oriunda de uma possibilidade. Recorre a um possível futuro. Uma única linha entre infinitas, num mar de universos paralelos.
Tal futuro, em tal universo, no entanto, nasceu a partir desse tempo presente, neste universo.
Cada livro da Saga do Novo Tempo é um relato sobre alguns personagens desse futuro. Cada livro é independente, embora se complementem. Ônix é um deles.
O livro Ônix, entretanto, difere significativamente dos outros, por traçar uma ponte entre esse possível futuro e o nosso tempo e ter a ousadia de atravessá-la.
A ponte é alta. O livro Ônix é uma vertiginosa e filosófica aventura pirata a se desdobrar na diversão. É um ponto de partida numa jornada atemporal pelo universo do Novo Tempo. Entrelaça o cotidiano com o fantástico na esperança de transformar os dois num só.
Não é para muitos. É para mim e para quem há de ser...
Importante: Esta é a versão estendida do meu primeiro livro lançado em 2009 e foi concluída em 2016. A demora em publicá-lo é justificada pelo fato de eu me dedicar a outras artes, como esculturas e teatros. Também por isso, o lançamento desta versão só aconteceria no primeiro mês de 2018.
Quem conhece minha história sabe que no quarto dia de tal ano, meu mundo desabou numa perda indescritível. Uma provação para a qual eu não estava e nunca estaria preparado. Verdade seja dita, este livro ganhou um novo significado e talvez eu tivesse vontade de atualizá-lo ainda mais para acentuar cada momento importante além das páginas, embora através delas. Não o farei, porém.
Este livro é um registro mais puro do amor que encontrei neste mundo, da forma como está escrito. Sem o peso da perda, talvez ele seja uma lembrança constante de um amor que não terá fim e de que a morte é uma separação temporária.
Assim sendo, leve em consideração que tudo o que será lido daqui em diante, foi escrito quando eu ainda tinha o amor da minha vida ao meu lado. A minha dedicatória continua a mesma e mesmo sendo uma prece que por algum tempo não poderá ser atendida, continuará sendo meu eterno desejo.À minha amada;
Que os ventos soprem forte minhas velas em direção a seus braços; para cada novo momento, nos quais, me refaço. Aceito minhas verdades; das mentiras, me desfaço. Seu sorriso me desarma, sua respiração, tão perto, me acalma. Que cada gota caída do céu até hoje represente muitos beijos, com os quais ainda me contemplará. Presentes. Que me contem seus desejos e que eles sejam meu mar...
Prelúdio I - Rabiscos numa mesa.Aquela escolha determinaria meu futuro e tive plena consciência disso. Lembro de ter pensado: “Hoje vou cometer o maior erro da minha vida. E já não era sem tempo.”Era julho de 2002 do calendário cristão e o tédio me consumia. Estava no escritório de contabilidade no qual trabalhava. Tinha uma sala só minha. Um ano como office-boy e fui promovido para trabalhos internos no setor fiscal. Perdi o hífen. Ganhei um espetacular aumento salarial. Graças a isso, me estabilizei. Podia cuidar da minha família. E minha alma morria em silêncio...Era o segundo escritório de contabilidade no qual trabalhava. Depois do primeiro, havia prometido nunca mais trabalhar nesse ramo novamente. Quebrei uma promessa para estar ali e logo completariam três anos.O telefone não t
Capítulo II – O príncipeEra uma noite de cerimônias e o rei Ulysses de Valdrick tinha muitos visitantes importantes em seu castelo. Muitos espetáculos seriam apresentados, em comemoração ao tratado assinado. O mais esperado deles era o enforcamento de um pirata, devidamente aprisionado numa das celas. Tal morte estava marcada para a manhã seguinte.O ano era 523 do Novo Tempo. Um ano antes do encontro de Ônix com o mestre das apostas.O Rei Valdrick estava sentado em seu trono, no salão real, lotado de nobres. Ele tinha cabelo longo e grisalho. A barba, bem aparada, também era cinza, em concordância com a prata da armadura e coroa; escolhidas para a ocasião. A única cor estava em sua capa, de um azul escuro.No trono, à esquerda do rei, estava a rainha. Tra
– Má qualéseu jogo mais favorito, pirata? Um breve sorriso despontou novamente no canto esquerdo da boca de Ônix. Ele sentia a expectativa refletida em todos os olhares ao seu redor. Sabia o quanto era admirado pelos bêbados ali. Isso, no entanto, não o deixava nervoso; pelo contrário. Ele tinha um nome pelo qual zelar e não decepcionaria seus admiradores. Atéaquele dia, brindavam ao maior feito do pirata Pedra-Negra: a morte do príncipe Aleck de Valdrick.– Ah! Sim, meu jogo! – exclamou Ônix Pedra-Negra, fechando e pendurando, cuidadosamente, sua garrafa de rum no cinto. Depois, em passos cambaleantes, tirou seu chapéu de três pontas e o colocou bem afastado, virado de cabeça para baixo. Só depois voltou para o lado do mestre das apostas e do homem prometido de morte, ainda de joelhos no chão.– Arremessarei uma carta.
Prelúdio II - HeróisPoucos meses depois de ter completado dezoito anos de vida, meu mundo mudava drasticamente e eu mudava junto.Era outubro do ano de 1997 do calendário cristão e logo me tornaria um contador. O ensino médio de curso técnico estava quase no fim. Teria um diploma.Havia acabado de pedir demissão na academia de Taekwon-do na qual havia trabalhado por um ano. O proprietário era também o professor e o melhor no ramo. Havia poucos dedos numa mão, onde eu podia contar quantos mestres de verdade encontrei nessa vida. Ele era um deles. Ele tinha meu respeito. Além de trabalhar na academia dele, eu era seu aluno. Adorava aquele lugar. Era, porém, uma questão de pouco tempo até ele desistir da academia. Ante tal perspectiva, considerei outra proposta de trabalho; sem deixar de lamentar.Como muita coisa na vida, aquela
A luz do sol vazava entre as frestas da madeira da taverna do Coelho Caolho, clareando o final daquela festa. A música alegre se esvaía. Momentos de celebração naquela taverna vinham tão rápido quanto iam. Os Bardos Barbados se sentaram e apenas dedilhavam notas descompromissadas em seus bandolins. Os outros bêbados voltaram aos assentos e deram boas tragadas em suas bebidas. Essas explosões comemorativas traziam mais sede e garantiam um bom consumo. Os Bardos agradeceram quando Gertrudes recarregou suas canecas. Tinham um acordo.Pierre já não era prisioneiro do mestre das apostas e estava feliz como nunca.– Ah, meu amigo! – exclamou o maltrapilho, ao se sentar àmesa de Ônix. Esfregava o lado direito do rosto, ainda quente e vermelho. Sim, Gertrudes era canhota. O mundo voltou ao foco para Ônix. A paralisia momentânea se foi e ele p&oci
– Você se tornou mesmo um pirata de verdade, nãoé? Este mundo não tem mais um herói... – Pierre lamentou. Sorriu sem graça e desviou os olhos para contemplar a imunda taverna do Coelho Caolho, onde quase foi morto.Os olhos de Ônix miraram o fundo de seu copo e, mesmo se esforçando para parecer indiferente, ele não esquecia o passado, e o rum nunca aquecia seu peito o suficiente. O vazio nele era maior e nem todo rum do mundo seria o bastante para preenchê-lo. Mas Ônix nunca desistiria de cumprir sua promessa. Por sua princesa, ele se obrigava a sobreviver a todo o custo. Ele sequer temia a morte, como descobriu na prisão do castelo do rei Ulysses de Valdrick, no dia da morte do príncipe Aleck.Uma certeza inabalável e inexplicável de sobreviver até cumprir seu papel no grande palco da vida, concedia a Ônix ousadia suficiente para se
Prelúdio III - A verdadeira cor da areiaMinha vida desmoronava e, em busca de um lugar seguro, encontrei uma armadilha.Era janeiro de 2000 do calendário cristão. Estava numa sala imensa, diante do meu gerente. Assim como meus companheiros de treinamento.Havia passado no teste da empresa para ocupar um cargo de coordenador. Os gerentes eram responsáveis por alguns coordenadores, assim como os coordenadores seriam responsáveis por muitos vendedores. A empresa vendia cartões e eles garantiam descontos nas mais variadas áreas aos seus associados.O primeiro mês de treinamento de nós, coordenadores, era aprender as dificuldades dos vendedores. Assim disseram. Por isso, precisávamos vender os cartões, nos mais variados planos, em nome da empresa.Eu era um fracasso como vendedor. A gravata apertada me sufocava. Havia algo errado co
A algazarra cotidiana da Taverna do Coelho Caolho havia voltado. Ônix conseguiu ouvir. Recuperava o foco.O breve torpor no corpo do pirata havia passado e o capitão Hawk estava diante dele.O dia recém-começado já havia sido bastante agitado, para os bêbados ao redor, com a humilhação do mestre das apostas. Não podiam imaginar que a trama espetacular apenas começava; sobre a qual muito teriam a contar depois.O pirata calculou ter passado poucos segundos imersos no torpor a privá-lo temporariamente daquele mundo; a julgar pela cara do capitão Hawk. Numa luta, teria sido tempo suficiente para ser morto. Fora de uma, porém, era curto demais para ter sido notado por mais alguém.– Obrigado, capitão! – Ônix falou, em resposta ao brinde.– Não vai me desejar um feliz aniversário tam