Ele já havia sido chamado por muitos nomes. Antes de ser Ônix, ele tinha sido Dáverus. E depois voltou a ser o deus, sem deixar de ser o pirata. Estava acampado naquela planície próxima a um riacho, com seus dois companheiros de viagem: Einnie e Gillig, a gata e o gato dotados da capacidade de falar. Se é que poderia se dizer que eles estavam em viagem.
Gillig havia se afastado um tanto e, ao regressar, resmungou, por finalmente encontrar o pirata de olhos abertos.
– Já faz vários dias que estamos aqui e a maior parte deles você passou meditando, Onda, meu querido. Achei que iríamos até Phemba. Ou alguma delas, pelo menos, depois que saltamos daquele precipício para cima do dragão negro gigante, que você guardou outra vez nessa poke-pedra que carrega no pescoço.
– Onda? – perguntou o único com corpo humano ali.
Onda respirou fundo. Era o momento. Com muita serenidade, falou:– Cheguei à conclusão de que talvez Holdur não tenha me enviado para o passado no século XXI, no qual eu teria sido um escritor. Claro que ele achou que estava fazendo isso, mas mesmo o saber dele não era absoluto. Considero que ele pode ter me enviado para fora desta nossa realidade construída dentro de uma realidade maior que existe agora, neste instante, na qual o tal escritor e criador da nossa realidade existe e ainda vive na era dele, o tal século XXI. E se eu não fui o escritor, mas sim me conectei a ele a ponto de ver através dos seus olhos?O silêncio foi constrangedor, por um instante. Gillig o quebrou, comentando:– Que brisa louca sopraram na cara dele?Einnie concordou e disse:– Me lembre de nunca passar dias meditando. Tinha o Quê naqueles chás que ele bebeu?&ndas
Phemba de cabelo azul perguntou, após um breve instante de silêncio de todos ali, como se ela considerasse considerar a possibilidade, embora pudesse ser apenas crueldade refinada, ao alimentar falsa esperança no coração do homem:– Você se lembra de ter escrito essa conversa quando estava no passado, ou na mente do tal escritor?– Me lembrava de mais coisas da vida lá, no instante que fui despertado pelos gatos. Mas foi como se eu tivesse trazido um baú muito grande com muitas moedas de muitas faces diferentes e precisasse dar uma última olhada antes de enterrar o baú em algum lugar da minha mente e só tivesse tempo de olhar bem para a face de algumas delas. Passei dias cavando, enquanto meditava aqui, e considero ter chegado perto. Sinto que me lembrarei com certeza se nos tornarmos apenas um.Ele não se importava em oferecer tudo o que podia, embo
O homem no centro do círculo não hesitou e disse:– Não vim aqui para ser perdoado. Vim fazer uma última aposta na qual a minha vitória, caso exista, será também a sua e só por isso me importo. A vida deve ser isso. Uma partida de xadrez, na qual tudo se converge no inevitável desfecho anunciado e nos resta a escolha de considerar apenas o fim ou toda a jornada e acho que está certa. Toda a minha jornada foi toda. Aceito sua condição.– Últimas palavras? – Phemba do fogo quis saber.Onda se virou para os gatos e falou:– Acho que agora é uma despedida de fato. Como entenderam, eu não volto, seja como for.– E como vamos saber se sua teoria estava certa ou não? – Einnie perguntou, dando um passinho à frente.– É provável que não tenham certeza – Onda respond
Phemba retirou a pedra do pescoço e a arremessou no ar. Ela se desdobrou num imenso dragão negro feito a ônix da qual se originou e os gatos tiveram de cravar suas garras no chão por causa do vento gerado pelo bater de asas dele, até o imenso ser pousar diante deles.A deusa caminhou na direção da criatura e se virou para os felinos. Ela estava diante do peito do dragão. O anel de cristal no dedo dela brilhou até ser absorvido e desaparecer.– É o momento de eu aceitar meu poder pleno e fazer o que precisa ser feito – ela falou.A deusa deu um passo para trás e desapareceu dentro do dragônix que brilhou em pura luz até mudar de forma e deixar se apagar. O corpo que resultou disso foi o de uma criatura draconiana, embora humanoide. Não tinha uma cabeça de dragão e nem de humana e sim um aspecto que lembrava quase uma leoa de escamas.&nbs
Todos os direitos reservados e protegidos pela lei nº 9.610, de 19 de fevereiro de 1998. É proibida a reprodução total ou parcial, por quaisquer meios existentes ou que venham a ser criados no futuro, sem a autorização prévia, por escrito, do autor.Contato com o autor: portalwillmor@gmail.comNota do autor:Ônix é uma obra oriunda de uma possibilidade. Recorre a um possível futuro. Uma única linha entre infinitas, num mar de universos paralelos.Tal futuro, em tal universo, no entanto, nasceu a partir desse tempo presente, neste universo.Cada livro da Saga do Novo Tempo é um relato sobre alguns personagens desse futuro. Cada livro é independente, embora se complementem. Ônix é um deles.O livro Ônix, entret
Prelúdio I - Rabiscos numa mesa.Aquela escolha determinaria meu futuro e tive plena consciência disso. Lembro de ter pensado: “Hoje vou cometer o maior erro da minha vida. E já não era sem tempo.”Era julho de 2002 do calendário cristão e o tédio me consumia. Estava no escritório de contabilidade no qual trabalhava. Tinha uma sala só minha. Um ano como office-boy e fui promovido para trabalhos internos no setor fiscal. Perdi o hífen. Ganhei um espetacular aumento salarial. Graças a isso, me estabilizei. Podia cuidar da minha família. E minha alma morria em silêncio...Era o segundo escritório de contabilidade no qual trabalhava. Depois do primeiro, havia prometido nunca mais trabalhar nesse ramo novamente. Quebrei uma promessa para estar ali e logo completariam três anos.O telefone não t
Capítulo II – O príncipeEra uma noite de cerimônias e o rei Ulysses de Valdrick tinha muitos visitantes importantes em seu castelo. Muitos espetáculos seriam apresentados, em comemoração ao tratado assinado. O mais esperado deles era o enforcamento de um pirata, devidamente aprisionado numa das celas. Tal morte estava marcada para a manhã seguinte.O ano era 523 do Novo Tempo. Um ano antes do encontro de Ônix com o mestre das apostas.O Rei Valdrick estava sentado em seu trono, no salão real, lotado de nobres. Ele tinha cabelo longo e grisalho. A barba, bem aparada, também era cinza, em concordância com a prata da armadura e coroa; escolhidas para a ocasião. A única cor estava em sua capa, de um azul escuro.No trono, à esquerda do rei, estava a rainha. Tra
– Má qualéseu jogo mais favorito, pirata? Um breve sorriso despontou novamente no canto esquerdo da boca de Ônix. Ele sentia a expectativa refletida em todos os olhares ao seu redor. Sabia o quanto era admirado pelos bêbados ali. Isso, no entanto, não o deixava nervoso; pelo contrário. Ele tinha um nome pelo qual zelar e não decepcionaria seus admiradores. Atéaquele dia, brindavam ao maior feito do pirata Pedra-Negra: a morte do príncipe Aleck de Valdrick.– Ah! Sim, meu jogo! – exclamou Ônix Pedra-Negra, fechando e pendurando, cuidadosamente, sua garrafa de rum no cinto. Depois, em passos cambaleantes, tirou seu chapéu de três pontas e o colocou bem afastado, virado de cabeça para baixo. Só depois voltou para o lado do mestre das apostas e do homem prometido de morte, ainda de joelhos no chão.– Arremessarei uma carta.