Noto uma claridade bem lá na frente, acelero meus passos e começo a sentir um aroma diferente, um que nunca senti antes. Lembra-me de peixe, só que sem todos os temperos que a Cristal coloca para ficar delicioso. Será que é o mar? Tento ouvir algum som, mas não há nenhum, apenas silêncio. Aproximo-me mais, até que vejo, iluminando um pouco a escuridão da floresta, algo com pequeninas asas que batem velozmente.
Paro e o observo, tentando decifrá-lo. Isso é um peixe... com asas? Cautelosamente, para não o espantar, me aproximo. Recordo-me, ao vê-lo de mais perto, de um peixe dourado, só que prateado, com pequeninas pedrinhas cristalizadas dando seu brilho intenso.
O peixe bate suas miúdas asas e voa em direção ao céu azul. Sigo-o maravilhado e, ao me aproximar mais, piso em uma areia branquinha como neve, ligada a um mar cri
Quando o Expresso 23:23 buzina e dá partida, percebo que a Estação é uma verdadeira barafunda. Vejo mulheres vestidas de homens e vice-versa, usando roupas comuns e outras com vestidos exóticos, feitos com lonas coloridas que me lembram da Lady Gaga, com penteados engraçados.Noto que alguns homens e mulheres são misturas com animais. Vejo um com focinho de porco, uma com bigodinho de gato e outra com cauda de algum animal que não consigo identificar.Filipe, em um pulo sai, da Estação. Fico ainda dentro dela, estático, admirando as pessoas que passam. Isso é muito maravilhoso. Meu amigo pavão fica me olhando, sorrindo, se divertindo com minha reação, até que percebo alguns olhares censuradores para mim das pessoas que caminham.Fico desatinado, mas consigo compreender. Eles estão olhando para meu corpo quase despido, devido a minha única
A mansão parece ter, mais ou menos, 1 mil m², com uns três andares repletos de janelas. No último, há uma grande varanda. Filipe se aproxima do grande portão, toca-o com a mão direita e, com um estampido, ele se abre. Com muita empolgação, ele gesticula, apresentando a entrada para mim. Dou um sorriso de lado e atravesso, muito devagar.Com pressa de me mostrar tudo, Filipe começa a me empurrar com as duas mãos em minhas costas. O jardim é enorme, repleto de árvores pequenas e plantas. Do lado direito, há uma grande piscina, algumas cadeiras de praia e estátuas de gnomos. Continuo sendo empurrado até ouvirmos um grito de felicidade vindo do lado esquerdo do jardim. Paramos e olhamos.São Dan e Dani, irmãos gêmeos. Eles se levantam de um banco de madeira e correm em nossa direção. Filipe saltita de alegria. Dou apen
Bruum!Tudo estremece violentamente, nos derrubando, e uma fumaça densa domina a sala de estar, fazendo-nos tossir. Com cautela e preocupado com o que está acontecendo, levanto-me e olho para todos os lados. Os Guardiões fazem o mesmo.– O que foi isso? – Pergunto e, antes de qualquer resposta, ouvimos gritos aterrorizantes de moradores que estão na praça defronte à mansão.– Ataque! – Sebastian murmura e nos deixa. – Estão nos atacando! – Ele brada do átrio.O chão está todo coberto por destroços e o teto do grande átrio fora derrubado por alguma bomba. Olho para cima e vejo que está noite e criaturas estranhas voam na direção da cidade.Os Guardiões apressam-se para o lado de fora e eu os sigo, desorientado, porém, antes de sair, aproveito para ver o pergaminho jog
Não estamos mais na floresta. Agora estamos em uma outra cidade, diferente da Ilha Vilar. O chão é feito de ladrilhos amarelos. O cheiro é gostoso, não sei descrever, mas é uma sensação boa, assim como a iluminação. As casas, os prédios e as lojas são normais, porém todas são de tons amarelos, assim como as vestes das pessoas que transitam pelas ruas.Algumas gritam e comemoram, formando uma multidão pela chegada das carruagens do Guardiões, o que me faz ter certeza de que são celebridades por aqui. Quando minha carruagem passa, eles estranham, ficam curiosos querendo ver quem está dentro, mas eu me escondo com vergonha, então ouço palmas, gritos, assobios... o que eles estão fazendo? Eles não sabem do ataque?As carruagens param e são cercadas por guardas. Sebastian desce e faz um gesto para que eu faça
Minhas pernas bambeiam.Cautelosamente, caminho na direção do portal que fora aberto. O Cervo e o Unicórnio continuam parados, desta vez focam apenas em mim. Não consigo tirar meus olhos deles. São lindos e enormes, maiores que Sebastian em forma de lobo.– Venha, querido! – Ouço uma voz feminina aveludada e muito doce.É do Unicórnio. Meus batimentos cardíacos aceleram. Eles são animais falantes.De relance, noto que Sebastian se levanta e fica me observando.– Se você puder andar mais rápido, vamos agradecer muito. – O Cervo, com uma voz de trovão, brada, e o Unicórnio dá um suave riso.Acelero e chego bem próximo ao portal. Os animais divinos, do outro lado, dão passos para trás. Não conheço o efeito colateral disso... apesar de que atravessei algum tipo de portal do meu quarto
O tempo é precioso. Literalmente. É o que mais ouço após sair da Sala de Reuniões do Conselho. Vislumbro o trono enquanto os Guardiões discutem algo. Franco, a fada, está um pouco afastado e às vezes me pego o olhando de relance.É tão engraçado ter uma fada, é tão engraçado olhar para uma e saber que realmente existe. Agora sinto-me culpado por inúmeras vezes não acreditar na existência das fadas... o quanto de sangue delas eu tenho em minhas mãos e descrenças?Nossa, agora entendo o Peter Pan, que sofreu muito quando a Sininho estava morrendo por não acreditarem nela.– Não tenha medo de se aproximar. – Digo.Me recordo de como eu tratava todos os funcionários que recebiam dinheiro da minha família, ou como eu tratava as pessoas que eu julgava inferiores ou ridículas em seus mo
Franco, Sebastian e eu, juntos, adentramos a Estação 22:22 da Ilha da Coroa. Quero dizer, quase juntos. Enquanto a fada, em sua forma maior, me segue esperando alguma ordem e Sebastian caminha na frente, eu estou controlando-me para não roer minhas unhas de tanta ansiedade.Pensei que pegaríamos armas, armaduras, equipamentos, suprimentos, mas Sebastian disse que nada disso serviria e mais uma vez ressaltou que tudo que eu preciso estaria disponível para mim em cada Estado.Como será que eles são? Os Estados. Como será que as pessoas se comportam? Todas iguais ou diferentes? São tantas perguntas e não encontro nenhuma resposta ou alguém para responder. Na verdade, tem, mas as vezes acho que posso acabar incomodando. Talvez seja meu direito saber, afinal, eles querem me coroar e sinto-me na obrigação de conhecer os “súditos”.Aurora, para mim, era apenas
Olho para o saco de feijão e a quantidade de caroços que há dentro. São tão pequenos. O silêncio do lugar me deixa nervoso. Ergo o olhar e me deparo com centenas de olhos me fitando. Olho para Sebastian e depois para Franco, que faz um gesto contando os seus dedos.Sério? Terei que contar os caroços? Não tenho paciência para isso.Sério? Agora faz sentido. É um teste de paciência e, por essa razão, todos estão me assistindo.Respiro fundo e começo. É aquele ditado: de grão em grão, a galinha enche o papo. Nesse caso, é: de caroço em caroço, o Herdeiro enche o balde.– Novecentos e quarenta e sete. – Sussurro.Já estou me sentindo cansado e, à medida que o tempo passa, só tenho medo de me perder e ter que contar tudo novamente. Meus olhos estão pesados, afinal,