Franco, Sebastian e eu, juntos, adentramos a Estação 22:22 da Ilha da Coroa. Quero dizer, quase juntos. Enquanto a fada, em sua forma maior, me segue esperando alguma ordem e Sebastian caminha na frente, eu estou controlando-me para não roer minhas unhas de tanta ansiedade.
Pensei que pegaríamos armas, armaduras, equipamentos, suprimentos, mas Sebastian disse que nada disso serviria e mais uma vez ressaltou que tudo que eu preciso estaria disponível para mim em cada Estado.
Como será que eles são? Os Estados. Como será que as pessoas se comportam? Todas iguais ou diferentes? São tantas perguntas e não encontro nenhuma resposta ou alguém para responder. Na verdade, tem, mas as vezes acho que posso acabar incomodando. Talvez seja meu direito saber, afinal, eles querem me coroar e sinto-me na obrigação de conhecer os “súditos”.
Aurora, para mim, era apenas
Olho para o saco de feijão e a quantidade de caroços que há dentro. São tão pequenos. O silêncio do lugar me deixa nervoso. Ergo o olhar e me deparo com centenas de olhos me fitando. Olho para Sebastian e depois para Franco, que faz um gesto contando os seus dedos.Sério? Terei que contar os caroços? Não tenho paciência para isso.Sério? Agora faz sentido. É um teste de paciência e, por essa razão, todos estão me assistindo.Respiro fundo e começo. É aquele ditado: de grão em grão, a galinha enche o papo. Nesse caso, é: de caroço em caroço, o Herdeiro enche o balde.– Novecentos e quarenta e sete. – Sussurro.Já estou me sentindo cansado e, à medida que o tempo passa, só tenho medo de me perder e ter que contar tudo novamente. Meus olhos estão pesados, afinal,
O banquete foi delicioso. Pelo menos as comidas, porque as conversas estavam chatas. Os convidados, em sua grande maioria, só queriam me paparicar e me encher de elogios. Um retrato bizarro da minha vida no mundo real. O que mais me deixou feliz foi seu final. Não quero ser ingrato, mas a minha necessidade de descansar era enorme, então me despedi de todos e busquei meu aposento, sendo guiado por Franco, que também estava de barriga cheia e pesada.A fada me deixou sozinho no quarto e seguiu para outro aposento. Eu me perguntei a noite toda como ele dormia, mas acabei esquecendo a pergunta quando me troquei e me deitei na cama redonda do chique quarto de mármore do Palácio da Tartaruga. Meus olhos se fecharam e, quando se abriram outra vez...É manhã! Talvez, uma linda manhã.Estou sentado de pijama defronte ao grande espelho da penteadeira, encarando-me e arrumando meu cabelo enquanto divago em meus
O Expresso 03:03 já está voando, fazendo algumas curvas perigosas, porém seguras... pelo menos foi o que Franco me disse. A viagem está silenciosa. Sebastian está de olhos fechados e eu tenho certeza de que ele não está dormindo. Eu, como sempre, estou olhando para o lado de fora pela janela da cabine. Franco está cantarolando algo.– Temos mais surpresas pela frente? – Questiono quase em um sussurro.– Felizmente acabaram as surpresas. – Franco responde com certo alívio.– E o que posso esperar, então? – Ainda tenho um pouco de receio do que pode estar por vir.– Relaxe... sinta o tempo passar! – Sebastian sussurra ainda de olhos fechados.– Vamos aproveitar para ensaiarmos algumas coisinhas para sua coroação. – Franco sugere.– Tipo? Não é só eu me sentar e ser coroado? &
Já se passaram 23 dias desde que comecei a fazer a Prova da Gratidão e hoje voltamos para a Ilha da Coroa, pois amanhã é o Canto das Sereias, minha coroação. Se eu disser que não estou nervoso, com certeza é mentira. Minha barriga dói, minhas pernas tremem só de pensar nesse evento sagrado, não só para mim, mas para todos que vivem em Aurora.Preciso agradecer mais vezes a Franco por não ser meu criado, e sim meu grande amigo, que sempre me conforta e me acalma quando estou aos nervos.Sento-me defronte à penteadeira e fito-me no espelho. Meu cabelo está maior, preciso cortar e ficar mais apresentável para a coroação.Ouço batidas na porta.– Entre!Sei quem é.Franco é o único que bate na porta do meu aposento e fala comigo, os demais funcionários do castelo não consegu
Uma bela manhã, mas não deixo de estar muito nervoso e com dor de barriga. Se ela estivesse cheia, com certeza estaria, neste exato momento, sentado no vaso sanitário colocando tudo para fora. O que me deixa um pouco confortável e mais tranquilo é saber que os Guardiões estão aqui no castelo e o barulho que fazem é muito notório e divertido.Sento-me defronte à penteadeira, vestindo a roupa de dormir, e começo a praticar o discurso que ensaiei com o Franco... falando nele, ele poderia aparecer para me tranquilizar mais, porém, com Sebastian aqui pegando em seu pé, ele fica afastado e só aparece quando eu o solicito...Levanto-me, vou até o lado da cama e puxo a corda que toca o sino na sala dos serviçais.Não demora muito para que eu ouça batidas na porta. Aproximo-me dela e a abro. Franco olha-me com os olhos brilhando. Com certeza, esta
– Se eu disser que não estou nervoso, com certeza estarei mentindo. – Todos riem. – Confesso que pensei inúmeras vezes em fugir, em voltar para meu mundo. Não por causa de vocês, mas por causa de mim mesmo, que sempre fui causador de problemas e meu principal talento era ser grosso com todos. – Umedeço meus lábios. Levanto-me. – Mas tudo isso mudou quando conheci de verdade este lugar fantástico. Quando o tornei a minha realidade e principal família. Não estou aqui em Aurora para ser centro das atenções, e sim dá-la a vocês. Não estou aqui para usufruir da realeza, e sim presenteá-la a vocês.“Eu sempre me senti sozinho, isolado de tudo, sem lugar para ir, sem um mundo que eu pudesse chamar de meu, sem um lugar para chamar de lar. Meu único amigo era meu gato e até ele às vezes ia embora. Tinha a Elisa tamb&eacut
Depois que a Rainha Soraia deixa o castelo, o clima no ambiente muda completamente. Ficamos em silêncio. Sento-me no trono e encaro os Guardiões, que retribuem o olhar. De verdade? Não faço a mínima ideia do que fazer ou falar.Estou eu sozinho ou estão ao meu lado? Fico perguntando-me isso, já que a pessoa que estava ao meu lado me respaldando sempre, tornando-se meu amigo engraçadinho, resolveu me usar e me trair, mostrando-me que sou apenas um mimado solitário.A Rainha Soraia está ao meu lado, isso me conforta um pouco, mas não estou conformado, preciso saber como ele foi capaz de fazer isso comigo. Preciso saber o que lhe fiz para guardar tamanha indiferença, abrir a boca para falar coisas sentimentais e depois me apunhalar pelas costas.Se o que ele sentia por mim fosse correspondido, eu estaria realmente fodido, por retribuir um sentimento falso. A fa
Sebastian tem me evitado. Costuma ir agora à biblioteca fazer suas pesquisas sem mim. Diz que sou muita distração para qualquer um que estiver com foco e concentração, mas eu sei bem o que está acontecendo. Ele está vendo que também sou uma pessoa legal para se fazer amizade e não quer que isso venha a acontecer, então dá as costas como um covarde.Ele fez muito isso durante a Prova da Gratidão.Não vou correr atrás de alguém assim, vou continuar minhas buscas com ou sem ele.Vou até a biblioteca já à noite, enrolado em um hobby azul. O castelo é iluminado por vários lampiões. Abro a grande porta do mar de livros e encontro a solidão. Dou um breve suspiro desapontado. Por mais que eu diga que não ligo, sinto um pouco a falta de Sebastian ao meu lado, fazendo essas pesquisas cansativas.