A mansão parece ter, mais ou menos, 1 mil m², com uns três andares repletos de janelas. No último, há uma grande varanda. Filipe se aproxima do grande portão, toca-o com a mão direita e, com um estampido, ele se abre. Com muita empolgação, ele gesticula, apresentando a entrada para mim. Dou um sorriso de lado e atravesso, muito devagar.
Com pressa de me mostrar tudo, Filipe começa a me empurrar com as duas mãos em minhas costas. O jardim é enorme, repleto de árvores pequenas e plantas. Do lado direito, há uma grande piscina, algumas cadeiras de praia e estátuas de gnomos. Continuo sendo empurrado até ouvirmos um grito de felicidade vindo do lado esquerdo do jardim. Paramos e olhamos.
São Dan e Dani, irmãos gêmeos. Eles se levantam de um banco de madeira e correm em nossa direção. Filipe saltita de alegria. Dou apen
Bruum!Tudo estremece violentamente, nos derrubando, e uma fumaça densa domina a sala de estar, fazendo-nos tossir. Com cautela e preocupado com o que está acontecendo, levanto-me e olho para todos os lados. Os Guardiões fazem o mesmo.– O que foi isso? – Pergunto e, antes de qualquer resposta, ouvimos gritos aterrorizantes de moradores que estão na praça defronte à mansão.– Ataque! – Sebastian murmura e nos deixa. – Estão nos atacando! – Ele brada do átrio.O chão está todo coberto por destroços e o teto do grande átrio fora derrubado por alguma bomba. Olho para cima e vejo que está noite e criaturas estranhas voam na direção da cidade.Os Guardiões apressam-se para o lado de fora e eu os sigo, desorientado, porém, antes de sair, aproveito para ver o pergaminho jog
Não estamos mais na floresta. Agora estamos em uma outra cidade, diferente da Ilha Vilar. O chão é feito de ladrilhos amarelos. O cheiro é gostoso, não sei descrever, mas é uma sensação boa, assim como a iluminação. As casas, os prédios e as lojas são normais, porém todas são de tons amarelos, assim como as vestes das pessoas que transitam pelas ruas.Algumas gritam e comemoram, formando uma multidão pela chegada das carruagens do Guardiões, o que me faz ter certeza de que são celebridades por aqui. Quando minha carruagem passa, eles estranham, ficam curiosos querendo ver quem está dentro, mas eu me escondo com vergonha, então ouço palmas, gritos, assobios... o que eles estão fazendo? Eles não sabem do ataque?As carruagens param e são cercadas por guardas. Sebastian desce e faz um gesto para que eu faça
Minhas pernas bambeiam.Cautelosamente, caminho na direção do portal que fora aberto. O Cervo e o Unicórnio continuam parados, desta vez focam apenas em mim. Não consigo tirar meus olhos deles. São lindos e enormes, maiores que Sebastian em forma de lobo.– Venha, querido! – Ouço uma voz feminina aveludada e muito doce.É do Unicórnio. Meus batimentos cardíacos aceleram. Eles são animais falantes.De relance, noto que Sebastian se levanta e fica me observando.– Se você puder andar mais rápido, vamos agradecer muito. – O Cervo, com uma voz de trovão, brada, e o Unicórnio dá um suave riso.Acelero e chego bem próximo ao portal. Os animais divinos, do outro lado, dão passos para trás. Não conheço o efeito colateral disso... apesar de que atravessei algum tipo de portal do meu quarto
O tempo é precioso. Literalmente. É o que mais ouço após sair da Sala de Reuniões do Conselho. Vislumbro o trono enquanto os Guardiões discutem algo. Franco, a fada, está um pouco afastado e às vezes me pego o olhando de relance.É tão engraçado ter uma fada, é tão engraçado olhar para uma e saber que realmente existe. Agora sinto-me culpado por inúmeras vezes não acreditar na existência das fadas... o quanto de sangue delas eu tenho em minhas mãos e descrenças?Nossa, agora entendo o Peter Pan, que sofreu muito quando a Sininho estava morrendo por não acreditarem nela.– Não tenha medo de se aproximar. – Digo.Me recordo de como eu tratava todos os funcionários que recebiam dinheiro da minha família, ou como eu tratava as pessoas que eu julgava inferiores ou ridículas em seus mo
Franco, Sebastian e eu, juntos, adentramos a Estação 22:22 da Ilha da Coroa. Quero dizer, quase juntos. Enquanto a fada, em sua forma maior, me segue esperando alguma ordem e Sebastian caminha na frente, eu estou controlando-me para não roer minhas unhas de tanta ansiedade.Pensei que pegaríamos armas, armaduras, equipamentos, suprimentos, mas Sebastian disse que nada disso serviria e mais uma vez ressaltou que tudo que eu preciso estaria disponível para mim em cada Estado.Como será que eles são? Os Estados. Como será que as pessoas se comportam? Todas iguais ou diferentes? São tantas perguntas e não encontro nenhuma resposta ou alguém para responder. Na verdade, tem, mas as vezes acho que posso acabar incomodando. Talvez seja meu direito saber, afinal, eles querem me coroar e sinto-me na obrigação de conhecer os “súditos”.Aurora, para mim, era apenas
Olho para o saco de feijão e a quantidade de caroços que há dentro. São tão pequenos. O silêncio do lugar me deixa nervoso. Ergo o olhar e me deparo com centenas de olhos me fitando. Olho para Sebastian e depois para Franco, que faz um gesto contando os seus dedos.Sério? Terei que contar os caroços? Não tenho paciência para isso.Sério? Agora faz sentido. É um teste de paciência e, por essa razão, todos estão me assistindo.Respiro fundo e começo. É aquele ditado: de grão em grão, a galinha enche o papo. Nesse caso, é: de caroço em caroço, o Herdeiro enche o balde.– Novecentos e quarenta e sete. – Sussurro.Já estou me sentindo cansado e, à medida que o tempo passa, só tenho medo de me perder e ter que contar tudo novamente. Meus olhos estão pesados, afinal,
O banquete foi delicioso. Pelo menos as comidas, porque as conversas estavam chatas. Os convidados, em sua grande maioria, só queriam me paparicar e me encher de elogios. Um retrato bizarro da minha vida no mundo real. O que mais me deixou feliz foi seu final. Não quero ser ingrato, mas a minha necessidade de descansar era enorme, então me despedi de todos e busquei meu aposento, sendo guiado por Franco, que também estava de barriga cheia e pesada.A fada me deixou sozinho no quarto e seguiu para outro aposento. Eu me perguntei a noite toda como ele dormia, mas acabei esquecendo a pergunta quando me troquei e me deitei na cama redonda do chique quarto de mármore do Palácio da Tartaruga. Meus olhos se fecharam e, quando se abriram outra vez...É manhã! Talvez, uma linda manhã.Estou sentado de pijama defronte ao grande espelho da penteadeira, encarando-me e arrumando meu cabelo enquanto divago em meus
O Expresso 03:03 já está voando, fazendo algumas curvas perigosas, porém seguras... pelo menos foi o que Franco me disse. A viagem está silenciosa. Sebastian está de olhos fechados e eu tenho certeza de que ele não está dormindo. Eu, como sempre, estou olhando para o lado de fora pela janela da cabine. Franco está cantarolando algo.– Temos mais surpresas pela frente? – Questiono quase em um sussurro.– Felizmente acabaram as surpresas. – Franco responde com certo alívio.– E o que posso esperar, então? – Ainda tenho um pouco de receio do que pode estar por vir.– Relaxe... sinta o tempo passar! – Sebastian sussurra ainda de olhos fechados.– Vamos aproveitar para ensaiarmos algumas coisinhas para sua coroação. – Franco sugere.– Tipo? Não é só eu me sentar e ser coroado? &