Como Tudo Começou

POV Taylor

– É aqui? – perguntei, olhando ao redor do ambiente.

– Deixa de ser idiota, Taylor – respondeu Zacchi com um olhar irritado enquanto ajustava a câmera que carregava.

– Idiota eu? – balancei a cabeça, cruzando os braços. – Para que mesmo você tá fazendo isso?

– Para a posteridade – disse ele, do outro lado da lente. – Agora apenas conte sua versão da história.

– Ok – suspirei. – Relaxa aí, mano.

Olhei para a câmera e ajeitei o boné, tentando parecer mais sério do que realmente era.

– E aí, galera? Eu sou o Taylor e, como todos já devem saber, faço parte do Team OHB. Eu sou tipo os braços da equipe – eu e o Deric, claro. Mas não tô aqui pra falar do Deric. É sobre a minha versão da nossa história. Então lá vai. Tudo começou na virada de 2023 pra 2024.

Era véspera de Ano-Novo e estávamos todos na casa do Clarck. Depois daquele escândalo envolvendo a MZT, a cidade foi meio que obrigada a nos dar uma casa e uma boa quantia em dinheiro.

– Boa quantia? – murmurei, rindo sozinho ao lembrar. – Foram 10 milhões de dólares pra cada membro da equipe e uma mansão no bairro de El Portal.

Olhei ao redor enquanto continuava narrando. O lugar era espaçoso, cheio de sofás de couro preto, luzes LED que iluminavam a sala e uma enorme mesa de sinuca no canto. A vista da varanda dava para uma rua que agora estava silenciosa, mas que já havia sido palco de muitas brigas.

– El Portal – continuei. – Uma aldeia incorporada na Flórida em 1937, parte do condado de Miami City. Por que fomos pra lá? Bom, além das mansões que nos deram, o lugar era conhecido por ser um dos mais perigosos de Miami. Eles nos mandaram pra lá pra estabelecer a ordem, e em troca, a gente ganhava 1 milhão por mês.

Me recostei na cadeira, lembrando dos primeiros meses.

– Quando nos mudamos, Clarck ainda tava com a Thayla. Ele falava muito em se aposentar, mas ela não aguentou a pressão de viver num bairro tão perigoso e acabou indo embora. Isso deixou ele na fossa, o que, por outro lado, o fez se focar totalmente no trabalho.

Os primeiros seis meses foram intensos. Clarck estava determinado, e nós seguimos o ritmo dele. Cada missão era como entrar num campo de batalha. Era noite após noite de perseguições, confrontos e negociações.

O bairro tinha um ar pesado: ruas estreitas, casas com grades enferrujadas, grafites cobrindo os muros, e carros estacionados de forma caótica. O cheiro de óleo queimado misturado com o som de música alta e vozes ao longe criava o cenário típico de El Portal antes de nossa chegada.

– Foram seis meses chutando traseiros – continuei, gesticulando para reforçar o que dizia. – Até que conseguimos um acordo com os moradores. A gente prometeu que, se eles nos ajudassem a acabar com os bandidos, transformaríamos a reputação do bairro. E funcionou.

Aos poucos, o caos deu lugar a ruas mais tranquilas. Pessoas voltavam a sair de casa, crianças brincavam nos quintais e até os grafites começaram a ser substituídos por murais artísticos.

– Hoje em dia, o El Portal não é mais um dos piores lugares – falei, sorrindo com orgulho.

Ajustei o boné novamente e me inclinei para frente.

– A polícia não vem aqui porque nós somos a lei. Clarck assumiu o controle e tudo está em ordem desde então. A gente tem um acordo com a prefeitura: eles nos deixam em paz, e nós ficamos fora do radar deles.

Me levantei, pegando um copo de água na mesa ao lado.

– Depois desses seis meses insanos, tivemos seis meses de paz... ou quase isso.

Zacchi desligou a câmera e deu um sorriso satisfeito.

– Bom trabalho, mano – disse ele, enquanto ajustava a lente.

– Valeu – respondi, jogando o copo vazio na pia. – Agora é sua vez.

A história estava apenas começando, mas cada peça já estava no lugar.

31 de Dezembro de 2023

A festa estava em pleno vapor, a música pulsava pelas paredes da casa, e as luzes brilhantes refletiam nas faces animadas dos convidados. O ambiente era uma mistura de sofisticação e descontração, com sofás de veludo dispostos em um elegante lounge e uma mesa repleta de iguarias festivas, desde canapés requintados até uma fonte de chocolate que atraía os olhares curiosos.

Clarck, boquiaberto, fixou os olhos em Kylie. Eu não pude deixar de concordar com ele; a presença dela era, de fato, hipnotizante. A jaqueta de couro preta, com seus detalhes metálicos que refletiam a luz de maneira intrigante, aumentava ainda mais sua aura. Por baixo, a blusa de malha branca suavizava o look ousado, enquanto a saia justa moldava suas curvas de forma sutil e marcante. Era impossível não se impressionar.

— Uau — disse Clarck, seu olhar perdido na beleza dela. — Arrasou

— Obrigada — respondeu Kylie, com um sorriso que iluminava o ambiente.

Ele nos fez sinal para entrar, dando espaço para que passássemos. Assim que cruzamos a porta, fui recebido pelo fabuloso sorriso de Rhany Olegário, que sempre tinha um jeito especial de acolher a todos.

— Oi, Talor! Oi, Jenner! — exclamou Rhany, os braços abertos em um gesto caloroso.

— Oi, Rhany! — respondemos em uníssono, retribuindo o abraço.

Kylie logo se afastou para conversar com Rhany, e eu me vi sozinho no meio da sala. Com um suspiro, dirigi-me até um canto onde estavam Selena e Justin, ambos com expressões que balanceavam entre a diversão e a exasperação.

— É, parece que eu não fui o último a chegar — comentei, tentando quebrar o gelo.

— Nem o primeiro — respondeu Selena, com um sorrisinho antes de se afastar.

— O que houve? — perguntei, percebendo a tensão no ar.

— Nada não — disse Justin, mas eu podia notar a frustração em sua voz. — Ela só está zangada porque fomos os primeiros a chegar.

— Só por isso? — debochei, rindo. — E isso era motivo para se zangar?

— Mulheres, meu parceiro — Justin deu de ombros, um sorriso maroto no rosto. — Não as entendemos, só as amamos.

Concordei com a cabeça, rindo da sabedoria dele. A atmosfera descontraída prevalecia, e alguns minutos depois, Deric chegou acompanhado de Demi. Tudo parecia perfeito para a virada do ano, cercados de amigos que considerávamos família. A felicidade era palpável, e por um instante, deixamos de lado as preocupações e os medos que nos assombravam.

A contagem regressiva começou, e a música desacelerou, criando um clima de expectativa. Clarck pegou uma garrafa de champanhe, enquanto Kylie se preparava ao lado de Rhany.

— Dez! — começou Kylie, sua voz cheia de energia.

— Nove! — continuou Rhany, pulando de alegria.

— Oito! — Demi se juntou à contagem.

— Sete! — Justin entrou na brincadeira, contagiando todos ao redor.

— Cinco! — eu disse, erguendo meu copo, a emoção crescendo.

— Quatro! — Deric sorriu, segurando a mão de Demi.

— Três! — a contagem estava quase no fim.

— Dois! — Rhany se virou para Clarck, prontos para o beijo de Ano Novo.

— Um! — Clarck gritou, mas ao invés de fogos de artifício, o que ecoou foi o som aterrorizante de balas disparadas de uma submetralhadora MP5. O caos tomou conta do ambiente.

— PRO CHÃO, PRO CHÃO! — gritou alguém, enquanto puxei Kylie para perto de mim, deitando-a no chão atrás do sofá. O instinto de proteção falou mais alto, e me joguei sobre ela, tentando ser o escudo.

A cena se transformou em um verdadeiro pesadelo. O que antes era uma festa cheia de risos se tornou um cenário de desespero. O zumbido ensurdecedor dos tiros foi seguido por um silêncio opressivo. Ninguém se moveu, todos estavam congelados em seus lugares, paralisados pelo medo. Não havia como sair; estávamos desarmados e as possibilidades de sobrevivência se tornaram sombrias.

Aguardamos, cada segundo se arrastando como se fosse uma eternidade. O que parecia ser apenas 20 minutos se transformou nos piores momentos da minha vida, a ansiedade crescendo a cada batida do meu coração. O silêncio gritou em nossos ouvidos, e a incerteza pairava no ar, como uma sombra ameaçadora.

A festa, que deveria ser um momento de celebração e renovação, agora se tornara um lembrete do quão frágil a vida poderia ser.

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