O ar no cativeiro era pesado, impregnado pelo cheiro de mofo e suor. O colchão fino onde Isabele estava jogada parecia um ninho de angústia e desespero. Seus pulsos doíam devido às amarras apertadas, e seus lábios estavam ressecados pela mordaça que a impedia de gritar por socorro. Ela se sentia fraca, vulnerável, e seu corpo inteiro tremia de frio e medo.
A porta rangeu, arrancando-a de seus pensamentos sombrios. Seu coração acelerou ao ver mais um sequestrador entrar. Ele usava roupas escuras e uma máscara, assim como os outros, mas havia algo diferente nele. Seus movimentos eram mais hesitantes, sua postura menos ameaçadora. O homem caminhou até ela e, para sua surpresa, ajoelhou-se ao seu lado. Com gestos rápidos, desamarrou suas mãos e retirou a mordaça que sufocava sua boca. O alívio imediato da liberdade foi ofuscado pela incerteza. — Por favor… — sua voz saiu rouca e trêmula. — Me deixa ir embora…O tempo avançava cruelmente, e cada dia que passava sem notícias de Isabele era uma ferida aberta na alma de Álvaro. Ele e Dario haviam exaurido todas as pistas, cada possível rastro do paradeiro dela se dissolvendo no vazio. Lucas continuava sendo um fantasma – não havia como provar que estava vivo, e sem essa prova, qualquer acusação contra ele parecia um delírio paranoico. A frustração corroía Álvaro por dentro. Ele se sentia impotente, esmagado pela angústia de não conseguir encontrar a mulher que amava e de ver Davi cada vez mais triste, perguntando pela mãe. Para piorar, era forçado a participar da farsa de Luana. Ela arquitetara tudo com perfeição: fingira uma gravidez inexistente e, em seguida, encenara um aborto para justificar o casamento apressado. Agora, os pais dela se mostravam radiantes com a cerimônia que se aproximava, enquanto Álvaro sufocava sob o peso de sua revolta. Mas ninguém parecia
Longe dali, em um cativeiro no meio do nada, Isabele sabia que aquele era seu único momento. Durante semanas, estivera vigiada por homens brutais, mas agora, apenas um jovem rapaz fazia sua segurança. E ele era vulnerável. Ela usou o que tinha. O olhar, a voz, a postura. Um jogo de sedução que a fez ganhar sua confiança pouco a pouco. Quando o rapaz se aproximou demais, Isabele não hesitou. Pegou um pesado jarro de barro e o estilhaçou contra sua cabeça. O homem caiu desacordado no chão. O coração de Isabele martelava no peito. Ela precisava sair dali. Abriu a porta e saiu em disparada pelo matagal. O terreno era desconhecido, a vegetação alta dificultava sua visão, mas a adrenalina a impulsionava. Seus pés descalços cortavam na terra áspera, mas a dor não importava. Então, avistou um carro. Provavelmente do sequestrador. As chaves estavam na ignição. Sem pen
Os convidados correram para ver o desfecho, incapazes de acreditar no escândalo que se desenrolava diante deles. — Solta-me! Sua desgraçada! — Luana se debatia, mas Isabele não a soltava. — Você mandou que me sequestrar! Você me separou do meu filho! E agora acha que vai se dar bem, sua cobra! Sem deixar que Luana lhe desse uma resposta ela lhe acertou outro tapa e dessa vez Luana revidou . As duas rolaram pelo chão como duas gladiadoras, as unhas cravando-se, os vestidos sendo rasgados no embate. Enquanto isso, Álvaro não conseguia conter o sorriso de felicidade. Durante meses, Dario e a própria polícia lhe disseram que seria um milagre se Isabele estivesse viva. Essa era a razão pela qual ele estava se casando com Luana – para fazê-la pagar por tê-lo privado de Isabele, se aquilo fosse realmente verdade. Seu plano era t
— Tudo isso é culpa de vocês! Eu vou me vingar, custe o que custar! Estão ouvindo? Vou acabar com vocês! Esbravejou Luana antes de ser conduzida pelo o policial para a viatura. Mas Álvaro não tirou os olhos de Isabele. Não havia mais nada em Luana que lhe importasse. Ela berrou, praguejou, tentou se soltar, mas foi conduzida para dentro da viatura ,diante dos olhares curiosos e chocados dos convidados. Álvaro apenas abraçou Isabele com mais força, sentindo-a real contra seu peito, o perfume dela, o calor de sua pele. E naquele momento, soube que nada mais no mundo importava. Ela estava de volta. E ele nunca mais a deixaria partir. Enquanto isso, os pais de Luana assistiam à filha ser levada pela polícia, ainda sem acreditar que ela era uma criminosa. No entanto, embarcaram em seu car
Davi chorava em seus braços, as mãozinhas apertando seus ombros, como se tivesse medo de que ela sumisse de novo. — Eu senti tanto a sua falta, mamãe... Por que demorou tanto? Isabele soluçou, afagando os cabelos do filho. — Me perdoa, meu anjo... Me perdoa... Mas eu prometo, nunca mais vou sair do seu lado. Nunca mais! Davi afastou-se um pouco, os olhinhos brilhando de lágrimas e esperança. — Você promete? — Com todo o meu coração, meu amor. Ele sorriu, e aquele sorriso foi como um raio de sol dissipando a escuridão que tomara a vida de Isabele por tanto tempo. Foi então que Davi olhou para o pai, como se quisesse confirmar que tudo estava bem agora. Álvaro sorriu, aproximando-se dos dois. — Agora estamos juntos de novo, filho. Para sempre. Davi soltou um riso baixinho e limpou as lágrimas com as mãozinhas.
Isabele acordou lentamente, sentindo o calor de um corpo firme sob o seu. Por um momento, temeu abrir os olhos, com medo de que tudo não passasse de um sonho. Mas o perfume masculino e envolvente que preenchia o ar era inconfundível. Era ele, Álvaro, ali ao seu lado. Seu coração disparou quando ela abriu os olhos e viu a beleza do rosto dele, seus traços marcantes e serenos enquanto dormia. Uma onda de felicidade a invadiu, tão intensa que parecia preencher cada centímetro do quarto. Ela espalhou beijos suaves pelo peito dele, sentindo o calor da pele sob seus lábios. Sua mão deslizou sob o lençol, encontrando a rigidez de seu desejo, e o toque foi o suficiente para despertar uma chama ardente dentro dela. Álvaro soltou um gemido rouco, ainda que seus olhos estivessem fechados, e Isabele soube que ele não estava dormindo. Ou, talvez, seu corpo reagia a ela mesmo no sono. Com um suspiro, ela se levantou cuidadosamente da cama, tentando não despertá-lo. Foi até o banheiro, onde se p
Quando saíram do banho, eles se vestiram em silêncio, os olhares evitando-se. Isabele caminhou até a porta, mas antes que pudesse abri-la, Álvaro a segurou pelo braço, puxando-a de volta para si. — Eu fui desgraçado mentiroso, Isa. Sim, eu fui. Eu menti para você no começo , eu fiz coisas horríveis, e eu sei que você não pode simplesmente esquecer disso. — Sua voz estava rouca, cheia de culpa e desespero. — Mas eu te amo. E eu faria qualquer coisa para que você me perdoasse de verdade. Ela o olhou, suas lágrimas se misturando com a água que ainda escorria de seus cabelos. — Eu quero acreditar em você, mas... — Sua voz falhou. — Então acredite, Isa. Por favor. — Ele a puxou para mais perto, sua testa encostando na dela. —Me dê uma chance para mostrar a você o quanto eu mudei . Eu quero ser tudo para você. Seu homem, seu amante, seu amigo. Seu marido. Quero colocar uma aliança no seu dedo e quero que carregue meu sobrenome para sempre. E um dia, eu vou provar que sou inocen
Os meses passaram rapidamente. A cada dia que se aproximava do casamento, Álvaro e Isabele pareciam mais unidos, apaixonados e ansiosos pelo grande dia. No entanto, para Isabele, havia uma sombra perturbadora pairando sobre sua felicidade: Otávio. Desde o retorno dele, a presença constante do "amigo" de Álvaro a incomodava. Ela sentia-se observada, perseguida, e sempre que Álvaro não estava por perto, Otávio aproveitava a oportunidade para se aproximar de maneira indesejada. Os comentários dúbios, os olhares lascivos, os sorrisos maliciosos... tudo nela gritava perigo. Ela queria contar a Álvaro, mas o medo a consumia. E se ele não acreditasse? E se achasse que era apenas implicância dela com Otávio? Álvaro sempre o considerou um irmão, um amigo leal que o ajudou nos momentos mais difíceis. Como ela poderia convencê-lo de que o homem a quem ele tanto confiava era, na verdade, um predador disfarçado? Mas Isabele sabia. Ela sentia o olhar de Otávio a despir, sentia o peso da sua o