Capítulo 4

Kiara Raffaello

— Kiara, me perdoa eu…— Vladimir vai falando assim que me vê saindo da sala de jantar, ergo minha mão em um sinal para que ele se cale.

— Não! Eu não quero falar com você, não agora, quando estou tão brava. Meu pai e minha mãe nunca me bateram,eles nunca encostaram um dedo em mim. — Falo com seriedade. — Imagina depois dos meus vinte anos, eu viver apanhando dos meus pais que diziam me amar e depois que conseguiram alguém para o trono deles, me abandonaram na primeira oportunidade.

— Você está sendo injusta conosco, fizemos isso para o seu bem. — Olívia fala e só então eu percebo que ela está logo atrás dele.

— Que estavam correndo risco de vida todo mundo sabe, inclusive eu fui sequestrada, torturada e passei por situações que somente eu e Deus sabemos. Mas eu nunca pedi para cair fora e estava honrando a minha promessa, que eu fiz com sangue. — Questiono com ironia.

— O que fizemos foi o melhor e mais seguro, tudo o que fizemos foi para a sua segurança. — Ela fala danado desculpa e mais desculpas esfarrapada.

— Ok, me manter longe para a minha segurança. Mas não tinha já celular? Para ao menos me ligar, explicar tudo e manter contato ao invés de me abandonar, eu fiquei me humilhando durante meses pedindo para que vocês respondessem as minhas mensagens. — Falo e vejo ela engolir em seco. — Nada do que vocês falem ou faça, irá remendar isso. Por isso eu digo e repito, vocês não me amam! Vocês não merecem estar na minha vida e não estarão! Eu não voltarei atrás.

— Não faça isso, Kiara! — Vladimir fala. — Você está sendo injusta, fizemos o que achamos certo.

— Por Deus, quanta ignorância! — Falo desacreditada que eles ainda estão batendo nessa tecla. — Sabem quantas vezes eu tive que ver fotos de vocês ao lado do Vittorio e de alguma amante dele sorrindo em jantares da alta sociedade e beneficente? Com os tabloides me ligando, mandando e-mail perguntando o motivo que os meus próprios pais apoiar o meu noivos me trair. Eu literalmente virei chacota, para várias pessoas e vocês ao menos pensaram nisso.

— Foi por um bem maior. — Ele fala novamente e eu sinto vontade de gritar.

— E por um bem maior, eu quero vocês longe de mim. — Falo e olho para o lado vendo Giulia nos encarando. — Irei voltar para a Itália, essa é a última vez que eu venho para a Rússia.

Antes que eles digam algo eu me viro, vou até Giulia, pego sua bolsa e seguro em suas mãos, entrego a bagagem para os seguranças que organizam tudo, saímos de casa e entramos no carro.

— Você está bem? — Ela pergunta pela primeira vez e eu assinto.

— Estou ótima! — Falo e lembro do tablet que eu tenho na minha bolsa.

Tiro da bolsa e lhe estendo, ela pega o tablet e me olha confusa, o choque me tomou quando percebo que ela nem sabe ligar o aparelho.

— Você não sabe mexer? — Questiono e ela nega.

— Mamãe ganhava o suficiente, somente para pagar aluguel e nos manter alimentadas. — Ela fala e eu assinto.

Eu sempre tive uma vida boa, papai e mamãe sempre me deram de tudo e antes dos negócios dos pais da Afrodite crescer, ela tinha uma vida um pouco difícil.

Eu sempre tive noção de que nem toda criança tinha uma vida boa como a minha, depois já adulta criei consciência de classe.

Eu nunca fui uma filha da puta mimada e sem noção. Sempre dava um jeito de ajudar Afrodite com dinheiro, eu costumava comprar roupa e lhe dá de presente fora de época, mamãe já tinha se apaixonado por ela, então também a ajudava e ajudava os pais da Afrodite.

Mas graças a Deus um dia titio se Deus bem em sua fábrica e eles tiveram boas condições.

Nos últimos anos eu tenho vivido no puro luxo, festa de glamour, sempre lidando com pe posso ter esquecido que outras pessoas não têm a vida fácil que nós temos.

— Agora você poderá ter essas coisas. — Falo. — Irei te ensinar como que se mexe, ok?

Os olhos de Giulia brilham, então eu começo a ensinar tudo pra ela, mostro a minha pasta de jogos e mais uma vez os olhos da menina reluzem.

Lhe dou o meu fone e deixo ela escolher a música e o jogo, deixo ela quietinha e me concentro nos emails que estão no meu celular, quando a porta se abre eu vejo Vittorio entrando.

Ele entra e se senta na minha frente, o motorista acelera e logo estamos andando, continuo respondendo e-mails e quando canso deixo o celular de lado e fecho meus olhos relaxando.

— Vejo que se deu bem com ela. — Escuto a voz de Vittorio, abro meus olhos e vejo ele me olhando fixamente.

— Olha, eu espero do fundo do meu coração que você não abandone essa criança, ela merece muito ser feliz. — Falo e ele nega.

— Eu não sei lidar com crianças, porra! Não convivo com elas e meu mundo é perigoso para elas. — Vittorio fala e eu assinto.

— Eu sei, então o que você está querendo dizer? Ela já cresceu sem pai, perdeu a mãe que foi a unica pessoa que cuidou e amou, agora você quer a abandonar na porra de um convento. — Falo baixinho, para ela não escutar.

— Internato, seria isso até ela completar vinte anos e está pronta para casar. — Fala e eu nego. — É fácil você falar isso, sabe lidar com criança.

— Você também saberia se convivesse com os seus sobrinhos e afilhado. — Falo com ironia.

— Eu não tenho tempo, minha vida é corrida! — Desculpas e mais desculpas.

— A realidade é que quem quer, faz dá certo Vittorio.— Falo me aconchegando no banco macio. — Quando chegamos lá, me acorde.

*******

Abro os meus olhos escutando vozes, olho ao redor e me sento na cama rapidamente, eu já estou no avião, quer dizer que alguém me colocou aqui e com toda certeza foi o Vittorio.

Saiu do quarto e travo ao ver a cena na minha frente, Giulia está dormindo no colo do pai profundamente, ela encara a menina com carinho, seus pensamentos parecem estar longe.

Imagina você levar a vida que leva, sair de casa todos os dias na incerteza da volta e agora da noite para o dia saber que tem uma criança que depende de você.

Que espera pela sua volta ansiosamente, que já perdeu alguém que ama então você faz de tudo para que essa criança não sinta novamente essa dor.

— Quer colocar ela na cama? — Questiono fazendo com que ele note a minha presença pela primeira vez.

Então sem muito esforço ele se levanta com ela em seu colo e vai com ela até o quarto, a porta fica aberta então eu consigo ver quando ele cobre ela com cuidado e sai do quarto deixando a porta encostada.

— Viu só? No final, você sabe lidar muito bem com criança. — Falo e ele respira fundo.

— Não a mandarei para um internato. — Ele fala e eu assinto, dentro de mim eu estou querendo jogar em sua cara que já sabia disso, mas não quero cutucar a onça com vara curta. — Mas, eu não acho que ela deva ficar comigo.

Arqueio a minha sobrancelha vendo a sua cara de cachorro sem dono, nego já sabendo onde isso irá dar.

— Não! — Falo negando com firmeza. — Não mil e uma vezes! Se eu aceitar ficar responsável por ela, darei brecha para você ficar na minha porta enchendo a porra do meu saco. Já foi loucura eu ter vindo pra Rússia feito uma doida para te ajudar quando você está cagando pra mim a dois anos.

— Mesmo estando longe, eu nunca deixei de cuidar de você meu amor. — Ele fala e eu arqueio a minha sobrancelha e cruzo os meus braços. — E você não tem muita escolha!

— A filha é sua e não minha! — Digo com firmeza. — É você que deve cuidar dela e não eu.

— Eu não tenho tempo nem para mim porra, imagina de algo, que precisa de cem por cento de atenção. — Reviro os meus olhos.

— Não é algo, é uma criança! — Falo com seriedade. — Criança! Que foi gerada com a sua porra e isso significa que você deve cuidar dela, Giulia precisa de você e eu não irei permitir que você a decepcione.

Vittorio fica me encarando por um tempo, então ele se levanta e vai até onde ficam as bebidas, ai eu sei que a nossa conversa acabou.

Me sento na poltrona, pego o meu notebook e o abro decidida a me concentrar no meu trabalho e tentando esquecer a merda que está acontecendo.

*****

— GATINHO! — Grito animada e pulo no sofá me jogando em cima do Lucas, ele rir e me abraça com força me sufocando em seus braços fortes. — Eu estava com saudades de você!

— Porra, onde caralhos você tinha ido mulher? — Ele pergunta. — E porque você não respondeu às minhas mensagens, eu já estava indo falar com o Alessandro

— Ela estava comigo! — Vittorio fala.

Sorrio ao ver Lucas engolir em seco, o medo que ele tem do Vittorio é engraçado se não fosse trágico.

— Vittorio, como você está? — Lucas perguntou virando o rosto para o lado e eu continuo em cima dele, sem ligar para a cara do Vittorio.

— Estaria melhor, se você não estivesse tocando na minha mulher. — Reviro os meus olhos.

— Ex-mulher! — Falo com seriedade e me levanto indo até ele novamente. — Agora é o seguinte, você vai para a casa dos seus irmãos ou pra um puteiro e deixa a Giu aqui.

— Gostei do apelido, tia. — Giulia fala e eu pisco para ela.

— Podemos ver filme, comer pipoca e brigadeiro.

— Briga… o que? — Giulia pergunta eu sorrio.

— Eu irei dormir, onde minha filha dormir! — Ele fala com seriedade.

— Licença, que eu tô entrando! — Escuto a voz da Afrodite.

Quando olho para a porta a vejo entrando sorridente com o Rocco logo atrás dela com aquela cara de quem está sempre pronto para matar alguém. Isso porque ele deu uma boa melhorada, imagina antes.

— Pronto, vai começar o escândalo. — Lucas fala.

— Eu não acredito no que eu estou vendo, será que é o fantasma do Vittorio?! — Afrodite fala com ironia, passando por ele e me abraçando com força.

Sorrio e retribuo o seu abraço vendo o olhar mortal que os dois irmãos lançam um para o outro.

— E quem é essa lindinha? — Afrodite pergunta e eu olho para Vittorio esperando uma resposta sua.

— Essa é a Giulia, ela é minha filha! — Vittorio fala com firmeza, os olhos da menina brilham vendo ele a chama de “minha filha”

Vejo o choque nos olhos dos três à nossa volta, mas eu sei que eles não teriam a reação esperada na frente da menina.

Sorrio quando Afrodite se abaixa na frente da menina e então abre um sorriso de doida me fazendo rir, a cara da Giulia olhando para a Afrodite é hilária. Do tipo “ Socorro, quem é essa maluca”

— Meu Deus, você é bonita demais para ser filha desse horroroso! — Afrodite fala fazendo um sorriso pequeno escapar dos lábios da menina. — Meu nome é Afrodite e eu sou sua tia!

— Tia? — Giulia perguntou olhando para mim e eu assinto, ela volta a olhar para Afrodite.

— E eu sou o Rocco, marido da Afrodite, irmão do seu pai e sou seu tio.— Rocco fala chamando atenção da menina, que j**a a cabeça para trás, somente para olhar para o homem gigante.

— Vamos levar sua mala lá para cima, podemos escolher um quarto para você, aí você pode tomar banho, descansar e ver desenho! — Afrodite a chama estendo a mão para ela que vai meio relutante caminhando até às escadas, quando chega na escada ela para e se vira me olha como se me chamasse.

— Estou indo, eu realmente só preciso conversar com o seu pai rapidinho. — Falo e ela sorri assentindo, quando elas sobem escada e somem no corredor, eu me viro olhando para os dois homens na minha frente.

— Eu espero uma boa explicação. — Rocco fala e eu suspiro.

— Eu irei deixar vocês a sós, sinto que tem muito a conversar! — Falo e me viro voltando para onde meu amigo está. — Lucas, precisamos conversar!

— Ok, gata! — Ele fala no automático e no mesmo momento eu vejo arregalar os olhos.

De canto de olho eu vejo o olhar mortal do Vittorio sobre o Lucas, mas eu nem ligo e quando meu amigo se aproxima eu entrelaço os nossos dedos e o puxo para subimos as escadas.

Leia este capítulo gratuitamente no aplicativo >

Capítulos relacionados

Último capítulo