Ivy Calleya
Eu me alimentei, descansei e tomei os diversos chás de ervas que aqueles sacerdotes do templo de Urc me deram, eram muitas xícaras por dia, e minha boca permanecia com o gosto amargo quase o tempo todo, mas mesmo assim continuei os tomando.
Já haviam se passado algumas semanas, e eu sentia que estava ficando cada vez mais revigorada.
Até que em uma daquelas manhãs frias uma das serviçais do palácio veio até mim, eles eram diferentes dos criados de Lyra, seus cabelos tinham sempre o mesmo tom claro, como se fossem realmente iguais nas histórias que me foram contadas, como se todos tivessem sido banhados pela luz da lua.
— Princesa.. Vossa Majestade, Helena Calleya, chegou de viagem.. Ela deseja vê-la, e pediu para que você comparecesse ao salão para acompanhá-la no café da manhã. — Como sempre, a serviçal evitou contato visual, e após ouvir minha resposta, me auxiliou a vestir algo adequado.
— Como ela é? — Perguntei despreocupada, todos estavam cientes da minha total perda de memória, e eu não podia negar, que aquela desculpa era perfeita, e estava me fazendo passar bem pela quieta e delicada Ivy.
A imperatriz não havia aparecido desde o meu despertar, Victor havia me informado que ela não estava presente, que estava resolvendo alguns detalhes políticos em Opacham, um reino próximo, rico em agropecuária e repleto de solo fértil, eles faziam muitas negociações, e por isso, mantinham contato e faziam visitas frequentes.
— Vossa Majestade e uma dama muito séria, direta e refinada — ela dizia terminando os detalhes da minha maquiagem, acrescentando um batom de tom rosado em minha boca que ainda estava com a cor sem vida, pálida, e continuou — Por isso, princesa, não pense que ela não se importa com você, apenas por não falar muito, ou não demonstrar.. Acredito que logo irá se lembrar do quanto ela te ama, e entenderá que aquela é apenas a forma dela de ser. — A serviçal terminou, prendendo meu longo cabelo em um penteado que caia como cascata do lado direito de meu ombro.
Respirei fundo, e saí do quarto, fui guiada até o salão, onde encontrei uma enorme mesa decorada com flores importadas e peças de cristais que eram tão brilhantes quanto as estrelas. Havia um banquete invejável disponível, um que alimentaria facilmente 20 soldados famintos após retornarem da guerra, aquilo tudo, apenas para o meu tão esperado encontro com minha “mãe”.
No momento em que pisei dentro do salão, uma presença avassaladora me aterrorizou, meu corpo gelou e quando olhei a minha volta, percebi que todos os serviçais permaneciam de cabeça baixa, aquela presença, aquela força invisível que pairava no ar, era dela, Helena Calleya e eu soube na hora, quem era o Alpha daquele lugar.
— Sente-se — sua voz soou fria como uma lâmina, e imediatamente, meu corpo obedeceu, eu sentei e assim como todos presentes naquele cômodo, olhei para o chão, o lobo que aquela mulher carregava, era diferente de tudo que eu já havia visto.
Eu estava curiosa, algo em mim queria ver quem ela era, e mesmo com medo, ousei olhar para frente, e quando meus olhos se levantaram, pude ver que ela nem mesmo se dirigia a mim enquanto falava, aquela autoridade que ela exalava, era apenas um pequeno fragmento de sua essência, e aquilo me amedrontou, pois, se aquela era a mãe de Ivy quando estava calma e feliz por ter finalmente encontrado com sua filha, eu não queria estar perto para vê la irada.
— Seu pai me informou de tudo, assim que recebi sua carta em Opacham, vim o mais rápido que pude. — Ela olhava para algo em suas mãos, parecia estar a ler uma carta, havia vários pergaminhos e papéis ao seu lado na mesa.
Quando ela terminou de falar, levantou seu olhar, e me pegou de surpresa enquanto eu a examinava.
— É bom ver que você está bem — Quando ela disse aquilo, pude ver um breve sorriso em seu rosto, mas da mesma velocidade que ele surgiu, desapareceu, e ela continuou. — Foi a primeira vez que você ficou tanto tempo desacordada, estávamos preocupados…— Ela falou se levantando, e eu percebi o quanto ela era alta, como seu corpo era perfeito, um verdadeiro exemplo de beleza pura.
Ela caminhou até mim, e estendeu sua mão, me entregando os papéis que tanto encarava anteriormente, e eu fiquei confusa, completamente perdida no meio de suas ações.
— Quando pequena, você sempre me pedia para ver as notícias dos reinos vizinhos, você sempre quis viajar, conhecer o mundo, e como faz muito tempo desde que você esteve acordada, pensei que gostaria de saber como anda o mundo. — Ela me encarava com atenção, seus olhos eram como de um predador, mas diferente de antes, o medo que eu sentia se dissipou, aquela força, aquela autoridade, não era hostil, muito pelo contrário, me senti protegida, me senti segura, pois só de vê-la tão próxima a mim, senti que ela faria qualquer coisa para me proteger, para me salvar.
Aliviada, dou um sorriso como resposta, enquanto pegava os papéis daquela mão elegante repleta de anéis incrustados de pedras preciosas, e quando meus olhos encontraram as palavras da carta que estava à frente das demais, congelei.
Não sabia se era brincadeira do destino, ou se a Deusa estava brincando comigo, mas aquela carta, aquele selo, era do reino de Lyra, minha casa.
Eu não consegui esperar, e mesmo na presença marcante de Helena eu desdobrei aquele papel com pressa, e quando li o conteúdo que aquela carta carregava, me segurei para não a amassar, pois meu sangue ferveu, e meus dentes rangeram de raiva.
Era uma carta sobre minha morte, sobre o sacrifício que a Imperatriz Camille Larsen havia feito há 3 anos atrás ao dar um herdeiro a seu reino, um anúncio Real sobre a perda de alguém que havia sido importante, mas não era apenas aquilo, não, seria bom demais se fosse.
“ Se passaram 3 anos…“ Pensei, apertando o pergaminho com forma, quase o rasgando.
Logo após o curto parágrafo que dizia mentiras, de como Camille era amada e com deixava saudades, havia outro prenúncio, aquele maldito, aquele desgraçado de Adiel Viegas, não poderia ficar sem uma esposa, o reino não poderia ficar mais sem uma imperatriz, e na mesma carta em que ele lamentava de forma mentirosa a minha morte, ele também convidou a todos a um baile, uma cerimônia feita especialmente para que ele buscasse uma nova companheira e novos aliados.
Senti minhas mãos tremerem, senti minha pressão baixar, e senti que morreria novamente.
Ivy CalleyaTudo à minha volta havia ficado escuro novamente, e a única coisa que mantinha minha consciência ainda desperta, eram os gritos dos serviçais que vinham preocupados até meu corpo caído ao chão, e a voz com timbre abalado de Helena.Fui levada até meu quarto, mas diferente das outras vezes, levaram apenas 2 dias para que eu me recuperasse, e levantasse da cama sozinha, sem nenhum apoio.Eu tentei não pensar muito, não me estressar para que a saúde daquele corpo não fosse afetada, más era impossível. Toda vez que eu lembrava de Alexandre, meu pequeno filhote, nos braços da víbora que era Lindsey Ingraf, sentia minha carne tremer, e o gosto de ferro brotava em minha boca.Aquele corpo tinha pouco tempo, e eu sabia disso, e precisava de um plano, um que me desse livre acesso ao palácio de Adiel, que me fizesse ter controle sobre aqueles nobres corruptos e mentirosos, pois somente daquela forma, eu conseguiria colocar meus planos em prática.Eu precisava de poder, precisava de i
Ivy Calleya— Você se refere ao baile que irá acontecer em Lyra? — Helena perguntou para mim, levantando a sobrancelha de forma confusa, e os servos que estavam à nossa volta olharam um para os outros com expressões surpresas, fazendo sussurros começarem a ecoar pelo salão.Respirei fundo, apertando com apreensão o talher prateado em minha mão, e a respondi.— Sim.. Eu quero ir à cerimônia de noivado do Imperador Adiel Viegas… — Meus olhos permaneceram fixos nos de Helena, e eu pude vê-la dar um passo para trás, incrédula com o meu pedido.— Ivy.. Você sabe que aquele baile irá reunir a nobreza de todo o continente, certo? E que sua finalidade não passa de acordos políticos.. Casamentos arranjados, apenas para questões econômicas.. — Victor falou, vindo até mim, me olhando com atenção, como se me visse ainda como uma criança.Sei que Ivy nunca havia saído de seu reino, cresceu presa no castelo rodeada de curandeiros e sacerdotes, tudo para que pudesse ter sua curta vida prolongada. El
Ivy Calleya O dia da viagem havia chegado, e usando um casaco de pele que cobria quase meu corpo inteiro, eu segui até a carruagem que estava à minha espera.Enquanto caminhava sobre a neve que afundava a cada passo, minhas mãos ficaram vermelhas por conta do frio, e por um momento pensei que iriam congelar.Quando me aproximei da carruagem pude ver uma fila extensa de cavaleiros que me aguardavam para a escolta, e no fim daquele corredor formado por homens de armadura, estavam Helena e Victor Calleya.Apressei meus passos, e Victor, vendo minha dificuldade de caminhar, por conta do peso da roupa e também pela da fraqueza que ainda me causava tonturas, veio até mim, pegando em meu braço com carinho, e me ajudando a chegar até a carruagem.— Filha… Você tem certeza que quer ir a esse baile? — Ele perguntou, e pude ver em seu rosto uma expressão de preocupação, ele apertou mais meu braço e eu senti que ele tinha medo que algo de ruim acontecesse.— Sim… — Respondi de forma direta, e con
Ivy CalleyaSenti meu corpo enrijecer quando ouvi aquelas palavras.— Um inimigo? Do reino de Oracalia? — Eu perguntei, olhando para o cavaleiro assustada, apertando com força. o vestido que ainda estava em minhas mãos.Eu sabia que Helena Calleya não tinha uma boa relação com os reinos vizinhos, e saber que havia um inimigo a bordo, só podia significar uma coisa: alguém queria a filha da imperatriz morta, e provavelmente era alguém próximo, pois eram poucos que sabiam da minha ida até o baile em Lyra.Me movi rapidamente, e de forma desajeitada pulei dentro do pequeno barco, e em seguida o cavaleiro fez o mesmo.Vi os outros homens que haviam ido fazer minha escolta formar uma parede de proteção, impedindo que os trabalhadores do navio que estavam fora do controle invadissem o bote.— Se mais pessoas entrarem, o bote irá afundar.. — Ouvi outro cavaleiro falar enquanto segurava um dos homens que estava fora de si. — Vão logo.. Não vamos aguentar por muito tempo. — Ele gritou cansado, e
Ivy Calleya Encarar o fato de que aquele homem a minha frente era o companheiro destinado de Ivy, foi como encarar tudo que eu sonhei em minha vida anterior. Tudo que aquela versão minha de 16-17 anos, tinha desejado para sua vida. Um amor, um romance com alguém que verdadeiramente me entendesse, que me aceitasse.Droga.Eu não tinha tempo para pensar nesse tipo de coisa, não depois de tudo que havia acontecido comigo, não depois de tentarem me matar, de novo…Não. Eu tinha que focar no que importava, na minha vingança e claro: no meu filho, que eu iria recuperar, custasse o que viesse a custar.— Obrigada pelo convite para dançar, — acabei por dizer, tentando quebrar o silêncio que embora não fosse constrangedor ou desconfortável, ainda era um silêncio, e isso era o oposto do que eu desejava para aquele momento.— É a primeira vez que uma dama me agradece por um convite para dançar, — ele praticamente sussurrou, de forma abafada, muito provavelmente pela voz vir de dentro daquela ca
Ivy CalleyaNo momento em que minha mão tocou seu rosto, sua máscara, senti minha pele arrepiar, e no mesmo instante, ele a segurou, mas diferente do que imaginei, seu toque não era bruto, nem exagerado, era gentil.— Não deveria brincar com estranhos — Foi tudo que ele disse, ainda com sua enorme mão sobre a minha, e eu sorri.— Está com medo de mostrar seu rosto? — Perguntei, na tentativa de provocá-lo, e ouvi uma risada abafada sair daquela máscara que era quase completamente fechada.— Medo?! — ele perguntou, apertando minha mão de forma delicada, a tirando de seu rosto. — Eu desconheço essa palavra. — Ele terminou, me puxando pelo braço, me fazendo ficar confusa com seu movimento repentino.— Se quer tanto ver meu rosto assim, irei lhe mostrar — ele falou, me guiando para dentro do palácio novamente, mas dessa vez, entramos pelo corredor lateral, indo em direção às escadas que levavam aos quartos de hóspedes, (onde os visitantes de reinos distantes ficavam quando faziam visitas).
Sebastian Jaeger Eu estava na guerra há meses, preso em um cerco, esperando mais uma vez a ordem do imperador para que as tropas avançassem, mas isso não aconteceu.Quando finalmente recebi uma carta de Adiel, esperava tudo menos o verdadeiro conteúdo que ela continha. Ele não falava sobre a guerra, sobre os sacrifícios dos soldados e cavaleiros e das vidas inocentes perdidas, mas sim sobre um baile real, um que minha presença era necessária, — como se nada mais em todo o universo pudesse ser mais importante que toda aquela droga.“Desgraçado…” Eu pensei, apertando a carta em minhas mãos, sujando com o sangue ainda fresco em minhas mãos, o papel branco e perfumado, — e com um rosnado, gritei por meu escudeiro para passar as informações adiante e avisar a todas as tropas que estaríamos recuando.Adiel queria uma breve trégua na guerra, tudo para acalmar os ânimos dos nobres que iriam até sua “festinha” na capital de Lyra, uma cerimônia idiota feita apenas para amaciar o ego da nobreza
Ivy CalleyaO quarto estava em completo silêncio, exceto pelo som da minha própria respiração acelerada. As velas, que antes iluminavam o ambiente com uma luz suave, agora pareciam projetar sombras que me engoliam.Eu estava sentada na beira da cama, com os lençóis ainda bagunçados e meu corpo envolto em um robe fino. Minhas mãos tremiam, apertando o tecido com tanta força que meus nós dos dedos estavam brancos. Ele... Sebastian. O homem com quem eu havia me deitado naquela noite, não era apenas um cavaleiro mascarado. Ele era o irmão bastardo de Adiel.O fato de ele estar mascarado fazia sentido agora. Não era apenas para esconder cicatrizes ou intimidar — era para ocultar sua verdadeira identidade. Meus pensamentos giravam em espiral. Como eu não percebi antes? Sua postura, sua presença... havia algo em comum entre os dois irmãos, mesmo que um fosse a encarnação da frieza e o outro carregasse um ar de mistério e raiva reprimida. Eu havia me entregado a um homem que, de certa forma,