Ivy Calleya
Tudo à minha volta havia ficado escuro novamente, e a única coisa que mantinha minha consciência ainda desperta, eram os gritos dos serviçais que vinham preocupados até meu corpo caído ao chão, e a voz com timbre abalado de Helena.
Fui levada até meu quarto, mas diferente das outras vezes, levaram apenas 2 dias para que eu me recuperasse, e levantasse da cama sozinha, sem nenhum apoio.
Eu tentei não pensar muito, não me estressar para que a saúde daquele corpo não fosse afetada, más era impossível. Toda vez que eu lembrava de Alexandre, meu pequeno filhote, nos braços da víbora que era Lindsey Ingraf, sentia minha carne tremer, e o gosto de ferro brotava em minha boca.
Aquele corpo tinha pouco tempo, e eu sabia disso, e precisava de um plano, um que me desse livre acesso ao palácio de Adiel, que me fizesse ter controle sobre aqueles nobres corruptos e mentirosos, pois somente daquela forma, eu conseguiria colocar meus planos em prática.
Eu precisava de poder, precisava de influência para destruir completamente aquele lugar.
Respirei fundo, e com calma, naquela manhã branca e fria, iniciei meu primeiro movimento.
Chamei um dos serviçais, e pedi para que informassem aos meus “pais”, que eu iria participar do almoço junto a eles, e assim, me preparei para o encontro com o imperador e a imperatriz daquele reino.
Como anteriormente, me foi colocado uma roupa de acordo a ocasião, um belo vestido vaporoso, e depois de pronta, deslumbrante e completamente enfeitada, desci aqueles degraus que estavam cobertos por um belo e enorme tapete violeta, bordado e costurado com fios tão dourados quanto o próprio ouro.
Adentrando aquele enorme salão, vi os dois sentados como estátuas, seus pratos ainda sequer haviam sido tocados, pois aguardavam minha presença para que prosseguissem com sua refeição.
Estava silencioso, quieto.
Não era possível ouvir nem mesmo os pássaros cantarem, talvez fosse por conta do frio, ou talvez, eles premeditavam o motivo de meu comparecimento.
Me aproximei, me acomodando em uma das numerosas cadeiras daquela imensa e farta mesa, e no momento em que me sentei, aquele silêncio perturbador foi quebrado pela voz de Helena, ela ainda parecia preocupada, assustada, e aquilo me deixou confusa, pois nenhum deles havia ido até meu quarto depois daquele terrível susto.
— Você está melhor? — Ela perguntou, pegando delicadamente no talher prateado, aguardando minha resposta para prosseguir, até sua atenção ser chamada pelo homem de cabelos perolados, ele parecia desconfortável, atribulado.
— Querida, não vamos incomodá-la com isso agora.. Deixe Ivy se alimentar com calma, deixamos a conversa para depois. — Victor a interrompeu, e pude ver a forma com que ela o olhou, naquele instante tive certeza de quem era dominante, quem realmente mandava ali, quem era a Alpha.
— Não me interrompa novamente, querido.. Eu não suporto ser cortada.. Sabe mais que todos como aguardo esse momento com minha filha, o tempo que aguardei para vê-la acordada.. — Seus olhos eram como flechas afiadas apontadas para ele, e quando percebi que o clima poderia piorar, eu simplesmente intervi.
— Está tudo bem, eu vim aqui exatamente para isso.. — Eu falei, sentindo a tensão a meu redor sobre minha pele, e receosa, continuei.
— Eu queria vê-los… — Suspirei, vendo que havia conseguido toda atenção, seus olhares fixos em mim — Na verdade… gostaria de fazer um pedido.. — Eu terminei, vendo a expressão de estranheza surgindo no rosto do imperador.
— Que inusitado.. — Ele falou enquanto me encarava confuso. — E oque seria de tão importante? Para você vir nos encontrar pessoalmente… deveria estar descansando.. — Ele terminou virando a taça, e pude ver que em seus olhos havia preocupação, não sei qual tipo de relação Ivy e seu pai tinham, mas ele realmente se importava com a filha.
Helena permaneceu calada, prestando atenção em cada palavra que saia de minha boca, mantendo sua pose poderosa, superior.
Eu não sabia como eles iriam reagir, mas eu precisava tentar, cada segundo era crucial, e eu não suportava mais permanecer para naquele quarto, vegetando, enquanto a pessoa que arruinou minha vida, vivia de forma feliz e vitoriosa, com meu filho em seus braços.
Bufei, sentindo novamente a ira percorrer sobre meu corpo.
— Eu quero ir ao baile… a cerimônia que irá reunir a nobreza de todos os reinos vizinhos no palácio principal, em Lyra. — Eu falei com a postura firme, transmitindo o quão serio eram minhas palavras, e no momento em que Victor entendeu oque eu insinua, se levantou abruptamente, tossindo o vinho que bebia, com qual quase havia se engasgado.
Ele se virou para mim incrédulo, parecia nervoso.
— Me desculpe.. Eu, não entendi direito.. Você quer oque? — Ele questionou, e eu percebi que seria mais complicado do que imaginava.
Eu não poderia deixar aquela oportunidade passar, Adiel buscava uma nova esposa, uma nova mãe para seu filho e reino, e aquela seria EU.
Eu iria seduzi-lo, conquistaria a confiança de todos, e quando tudo estivesse calmo, sereno como o mar após uma tempestade, eu os assolaria por completo.
Suspirei, me mantendo firme em meu plano, resistindo a tensão no ar que se intensificava, e continuei.
— Eu quero ir ao baile… eu vi aquele convite que foi enviado há alguns dias, minha mãe sabe sobre oque estou falando — Eu olhei para ela, para a imperatriz, seu olhar estava cravado em mim, de uma forma que eu sequer sabia descrever, era impossível imaginar oque passava em sua cabeça.
Victor se virou para ela, quase bufando, aguardando que ela o explicasse, que desse detalhe sobre oque se tratava, e eu, permaneci calada, pois mesmo que precisasse ir contra eles, contra o império de Oracalia, eu iria até aquele baile.
Ivy Calleya— Você se refere ao baile que irá acontecer em Lyra? — Helena perguntou para mim, levantando a sobrancelha de forma confusa, e os servos que estavam à nossa volta olharam um para os outros com expressões surpresas, fazendo sussurros começarem a ecoar pelo salão.Respirei fundo, apertando com apreensão o talher prateado em minha mão, e a respondi.— Sim.. Eu quero ir à cerimônia de noivado do Imperador Adiel Viegas… — Meus olhos permaneceram fixos nos de Helena, e eu pude vê-la dar um passo para trás, incrédula com o meu pedido.— Ivy.. Você sabe que aquele baile irá reunir a nobreza de todo o continente, certo? E que sua finalidade não passa de acordos políticos.. Casamentos arranjados, apenas para questões econômicas.. — Victor falou, vindo até mim, me olhando com atenção, como se me visse ainda como uma criança.Sei que Ivy nunca havia saído de seu reino, cresceu presa no castelo rodeada de curandeiros e sacerdotes, tudo para que pudesse ter sua curta vida prolongada. El
Ivy Calleya O dia da viagem havia chegado, e usando um casaco de pele que cobria quase meu corpo inteiro, eu segui até a carruagem que estava à minha espera.Enquanto caminhava sobre a neve que afundava a cada passo, minhas mãos ficaram vermelhas por conta do frio, e por um momento pensei que iriam congelar.Quando me aproximei da carruagem pude ver uma fila extensa de cavaleiros que me aguardavam para a escolta, e no fim daquele corredor formado por homens de armadura, estavam Helena e Victor Calleya.Apressei meus passos, e Victor, vendo minha dificuldade de caminhar, por conta do peso da roupa e também pela da fraqueza que ainda me causava tonturas, veio até mim, pegando em meu braço com carinho, e me ajudando a chegar até a carruagem.— Filha… Você tem certeza que quer ir a esse baile? — Ele perguntou, e pude ver em seu rosto uma expressão de preocupação, ele apertou mais meu braço e eu senti que ele tinha medo que algo de ruim acontecesse.— Sim… — Respondi de forma direta, e con
Ivy CalleyaSenti meu corpo enrijecer quando ouvi aquelas palavras.— Um inimigo? Do reino de Oracalia? — Eu perguntei, olhando para o cavaleiro assustada, apertando com força. o vestido que ainda estava em minhas mãos.Eu sabia que Helena Calleya não tinha uma boa relação com os reinos vizinhos, e saber que havia um inimigo a bordo, só podia significar uma coisa: alguém queria a filha da imperatriz morta, e provavelmente era alguém próximo, pois eram poucos que sabiam da minha ida até o baile em Lyra.Me movi rapidamente, e de forma desajeitada pulei dentro do pequeno barco, e em seguida o cavaleiro fez o mesmo.Vi os outros homens que haviam ido fazer minha escolta formar uma parede de proteção, impedindo que os trabalhadores do navio que estavam fora do controle invadissem o bote.— Se mais pessoas entrarem, o bote irá afundar.. — Ouvi outro cavaleiro falar enquanto segurava um dos homens que estava fora de si. — Vão logo.. Não vamos aguentar por muito tempo. — Ele gritou cansado, e
Ivy Calleya Encarar o fato de que aquele homem a minha frente era o companheiro destinado de Ivy, foi como encarar tudo que eu sonhei em minha vida anterior. Tudo que aquela versão minha de 16-17 anos, tinha desejado para sua vida. Um amor, um romance com alguém que verdadeiramente me entendesse, que me aceitasse.Droga.Eu não tinha tempo para pensar nesse tipo de coisa, não depois de tudo que havia acontecido comigo, não depois de tentarem me matar, de novo…Não. Eu tinha que focar no que importava, na minha vingança e claro: no meu filho, que eu iria recuperar, custasse o que viesse a custar.— Obrigada pelo convite para dançar, — acabei por dizer, tentando quebrar o silêncio que embora não fosse constrangedor ou desconfortável, ainda era um silêncio, e isso era o oposto do que eu desejava para aquele momento.— É a primeira vez que uma dama me agradece por um convite para dançar, — ele praticamente sussurrou, de forma abafada, muito provavelmente pela voz vir de dentro daquela ca
Ivy CalleyaNo momento em que minha mão tocou seu rosto, sua máscara, senti minha pele arrepiar, e no mesmo instante, ele a segurou, mas diferente do que imaginei, seu toque não era bruto, nem exagerado, era gentil.— Não deveria brincar com estranhos — Foi tudo que ele disse, ainda com sua enorme mão sobre a minha, e eu sorri.— Está com medo de mostrar seu rosto? — Perguntei, na tentativa de provocá-lo, e ouvi uma risada abafada sair daquela máscara que era quase completamente fechada.— Medo?! — ele perguntou, apertando minha mão de forma delicada, a tirando de seu rosto. — Eu desconheço essa palavra. — Ele terminou, me puxando pelo braço, me fazendo ficar confusa com seu movimento repentino.— Se quer tanto ver meu rosto assim, irei lhe mostrar — ele falou, me guiando para dentro do palácio novamente, mas dessa vez, entramos pelo corredor lateral, indo em direção às escadas que levavam aos quartos de hóspedes, (onde os visitantes de reinos distantes ficavam quando faziam visitas).
Sebastian Jaeger Eu estava na guerra há meses, preso em um cerco, esperando mais uma vez a ordem do imperador para que as tropas avançassem, mas isso não aconteceu.Quando finalmente recebi uma carta de Adiel, esperava tudo menos o verdadeiro conteúdo que ela continha. Ele não falava sobre a guerra, sobre os sacrifícios dos soldados e cavaleiros e das vidas inocentes perdidas, mas sim sobre um baile real, um que minha presença era necessária, — como se nada mais em todo o universo pudesse ser mais importante que toda aquela droga.“Desgraçado…” Eu pensei, apertando a carta em minhas mãos, sujando com o sangue ainda fresco em minhas mãos, o papel branco e perfumado, — e com um rosnado, gritei por meu escudeiro para passar as informações adiante e avisar a todas as tropas que estaríamos recuando.Adiel queria uma breve trégua na guerra, tudo para acalmar os ânimos dos nobres que iriam até sua “festinha” na capital de Lyra, uma cerimônia idiota feita apenas para amaciar o ego da nobreza
Ivy CalleyaO quarto estava em completo silêncio, exceto pelo som da minha própria respiração acelerada. As velas, que antes iluminavam o ambiente com uma luz suave, agora pareciam projetar sombras que me engoliam.Eu estava sentada na beira da cama, com os lençóis ainda bagunçados e meu corpo envolto em um robe fino. Minhas mãos tremiam, apertando o tecido com tanta força que meus nós dos dedos estavam brancos. Ele... Sebastian. O homem com quem eu havia me deitado naquela noite, não era apenas um cavaleiro mascarado. Ele era o irmão bastardo de Adiel.O fato de ele estar mascarado fazia sentido agora. Não era apenas para esconder cicatrizes ou intimidar — era para ocultar sua verdadeira identidade. Meus pensamentos giravam em espiral. Como eu não percebi antes? Sua postura, sua presença... havia algo em comum entre os dois irmãos, mesmo que um fosse a encarnação da frieza e o outro carregasse um ar de mistério e raiva reprimida. Eu havia me entregado a um homem que, de certa forma,
Ivy CalleyaAs primeiras luzes da manhã entravam pelas janelas do meu quarto, mas eu mal conseguia relaxar. A noite havia sido longa, e meu corpo estava exausto, mas minha mente parecia presa em um amaranhado de pensamentos que não me deixavam descansar.“Sebastian…”O nome dele ecoava em minha cabeça como uma melodia perigosa.Eu ainda podia sentir o calor de suas mãos em minha pele, ouvir sua voz rouca em meu ouvido, era como se cada toque seu tivesse sido gravado em meu corpo, de uma maneira que eu não conseguia mais escapar, esquecer.O vínculo que havíamos compartilhado durante o baile me assustava tanto quanto me atraía. Havia algo nele — algo cru, indomável e completamente diferente de qualquer coisa que eu já havia sentido.O corpo de Ivy… ou melhor, o meu novo corpo, havia esperado anos por aquele momento, pelo dia que encontraria seu par destinado, sua alma gêmea, e aquilo estava queimando de uma forma tão intensa dentro de mim, que chegava a ser incontrolável.Os lobos têm