Capítulo 05

Ivy Calleya 

O dia da viagem havia chegado, e usando um casaco de pele que cobria quase meu corpo inteiro, eu segui até a carruagem que estava à minha espera.

Enquanto caminhava sobre a neve que afundava a cada passo, minhas mãos ficaram vermelhas por conta do frio, e por um momento pensei que iriam congelar.

Quando me aproximei da carruagem pude ver uma fila extensa de cavaleiros que me aguardavam para a escolta, e no fim daquele corredor formado por homens de armadura, estavam Helena e Victor Calleya.

Apressei meus passos, e Victor, vendo minha dificuldade de caminhar, por conta do peso da roupa e também pela da fraqueza que ainda me causava tonturas, veio até mim, pegando em meu braço com carinho, e me ajudando a chegar até a carruagem.

— Filha… Você tem certeza que quer ir a esse baile? — Ele perguntou, e pude ver em seu rosto uma expressão de preocupação, ele apertou mais meu braço e eu senti que ele tinha medo que algo de ruim acontecesse.

— Sim… — Respondi de forma direta, e continuei, me aproximando de Helena, que me aguardava com uma caixa dourada em suas mãos.

— Prometo que irei tomar cuidado, não precisa se preocupar e não sou mais uma criança… — terminei, e vi ele abaixar seu olhar, ficando cabisbaixo.

— Eu sei, Ivy. — Ele soltou meu braço, e foi para o lado de Helena, abrindo a porta da carruagem.

Era a primeira vez que via uma carruagem tão grande e uma bandeira com um brasão tão brilhante, pude ver o estofado na cor violeta, e também os detalhes prateados que adornavam seu interior, ela era tão bela que faziam as carruagens reais do reino de Lyra parecerem caixas de sapato.

Quando cheguei a frente de Helena, ela estendeu aquela a caixa dourada até mim, e com um sorriso que eu não sabia ao certo se era felicidade ou nervoso, ela a me entregou.

— É um presente… como é o seu primeiro baile precisa estar tudo perfeito, encomendei. — Helena falou, e após eu pegar a caixa em minhas mãos, ela se aproximou ainda mais, me dando um abraço apertado.

— Irei para Lyra daqui a alguns dias para resolver algumas questões politicas, já deixei todos informados sobre sua chegada, e também, pedi a um de nossos amigos da família Corse para que lhe emprestasse uma de suas propriedades para que você ficasse até minha chegada.

 — Obrigada mãe…— Senti meu coração se aquecer.

— Agora você precisa ir… O navio irá sair daqui a algumas horas, e você não pode se atrasar. — Ela terminou, desfazendo o abraço, e com o coração apertado eu me despedi, entrando na carruagem. 

Suspirei, vendo a imagem de Helena e Victor ficando para trás através da janela, e junto aos cavaleiros, viajei por algumas horas, até chegar ao porto Colosso, o maior e mais bem equipado porto do reino de Oracalia. 

Meus olhos brilharam quando vi o barco que me aguardava, era primeira vez que eu faria uma viagem pelo mar, e em meu peito, a ansiedade e o medo se misturavam. 

Quando ainda era Camille Larsen, sonhava com viagens assim, mas infelizmente, vivi toda minha vida medíocre servindo a Adiel, a seu reino, e nunca fiz nada para mim mesma. 

Bufei, me lembrando de tudo que havia jogado fora, meus sonhos, minhas vontades, e apertado as mangas do casaco com força, eu segui em direção à entrada do navio. 

Fui recebida pelo capitão, que assim como seus subordinados, me cumprimentaram com reverência, e enquanto me contavam histórias e aventuras de suas viagens pelos mares, meus pertences foram colocados em meu quarto. 

Quando finalmente partimos, vi o porto se afastar, e a costa ficar distante até sumir de minha vista. 

Senti meu estômago revirando, e me segurando para não vomitar, eu permaneci firme na janela, sentindo o vento frio em bater em meu rosto, o ar gélido em meus pulmões.

— Logo estarei em casa… Alexandre. — Sussurrei, olhando para o céu claro repleto de nuvens, a lua brilhava com certa intensidade, então eu sorrio.

Estava a noite, e eu peguei a caixa que havia sido me dada de presente por Helena, e ao abri-la, vi que se tratava de um belo vestido usado pelas pessoas de reinos onde o sol reinava, totalmente diferente dos vestidos longos e fechados que eram frequentemente usados em Oracalia.

Ele era branco, lindo com alguns detalhes prateados, tinha alças finas e pequenos diamantes o decorando, era aparentemente simples, mas ao olhar para ele com atenção era possível ver o seu valor, o quanto era caro e consequentemente chamativo.

— Obrigada.. Mãe… — Eu agradeci novamente, olhando carinhosamente para o vestido em minhas mãos.

A viagem levaria alguns dias, mas isso não me assustava. Acabei me acostumando com o balançar das ondas, e quando pensei que estava habituada à rotina, com toda aquela movimentação e o barulho, um som ensurdecedor ecoou pelo navio, me fazendo dar um pulo por conta do susto, senti o chão e as paredes vibrarem, e um forte cheiro de fumaça inundar o quarto.

— Uma explosão? — Eu me perguntei, cobrindo meus ouvidos de forma instintiva.

Eu estava em meu quarto, e ouvi os gritos de desespero de todos que corriam desnorteados pelo deck, e sem pensar duas vezes, sai para ver oque acontecia.

No caminho, em um dos corredores, um dos cavaleiros que servia Helena veio preocupado até mim, ele estava ofegante, e carregava algumas de minhas malas em seus braços.

— Princesa… você está bem? — Ele perguntou olhando para mim com cuidado, procurando qualquer ferimento ou arranhão. — Precisamos partir… ouve uma explosão no casco, e não vai demorar muito para o navio começar a afundar.

— Oque? Uma explosão? Mas como? Navios não explodem do nada... — Eu questionei confusa, enquanto aquele velho cavaleiro pegava firme em minha mão, me arrastando pelo corredor até o convés, onde já preparavam um barco para que eu pudesse escapar dali.

“ Isso não tem sentido… uma explosão no navio que transporta a filha de uma grande imperatriz.. Isso tem cheiro de sabotagem… Traição… “ Pensei, sentindo o navio ceder, afundando lentamente enquanto todos gritavam e tentavam consertar as coisas antes que fosse tarde demais.

— Rápido, precisamos ir… — O cavaleiro gritou, e quando olhei para seus olhos, pude ver que ele também desconfiava de algo. — Mandem um corvo para Oracalia… Informe a sua majestade Helena oque aconteceu… e também, mande um corvo para Lyra, diga a eles que precisamos de ajuda.— Ele ordenou, e vi o próprio capitão do navio correr até sua sala para preparar a carta.

— Rápido princesa… precisamos sair daqui — Ele me puxou para perto, e enquanto me ajudava a entrar no pequeno barco, colocando o pouco de minhas coisas que ele havia conseguido pegar, falou baixo, próximo a meu ouvido. — Tem um inimigo infiltrado no navio. 

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