Sebastian JaegerO som das minhas botas ecoava pelos corredores do palácio, cada passo mais rápido e mais furioso do que o anterior. Minha respiração estava pesada, o peito apertado em uma mistura corrosiva de raiva e preocupação. Ivy não estava mais no meu quarto, e isso não fazia sentido.“Onde diabos ela foi?”Eu não podia perguntar a ninguém. Cada rosto que cruzava comigo era o rosto de um inimigo em potencial, se oque Adiel havia dito fosse verdade, havia assassinos disfarçados em todas as partes, e eu, não podia me dar o luxo de deslizar.Durante o dia, passei por serviçais que limpavam o chão, por nobres que cochichavam em voz baixa e desviavam os olhos assim que me viam. Cada olhar evitado, cada respiração contida, apenas me irritava mais.Ela podia estar sozinha em algum lugar de Lyra.O meu lobo rugia dentro de mim, inquieto, querendo correr pelos corredores à procura dela.“Calma. Controle-se.”Não podia perder a cabeça. Ainda não.Virei mais um corredor, a raiva borbulhan
Ivy CalleyaA viagem até o palácio pareceu durar uma eternidade, embora a carruagem seguisse em um ritmo constante. Meus dedos tamborilavam sem parar contra o estofado enquanto minha mente girava ao redor de um único pensamento: Lindsey.Por que ela havia me chamado? Seu pedido de desculpas não me convencia nem um pouco. Ela queria algo. Sempre queria algo. A carta estava impregnada com o mesmo veneno que sua voz carregava, mesmo sob a fina camada de educação e boas maneiras.“Conhecer melhor”, ela disse. Como se alguém como Lindsey quisesse amizade.— O que você está tramando agora? — murmurei para mim mesma.Ao meu lado, sentado com uma postura firme, estava Leroy. Seu rosto estoico e olhar atento me davam uma única sensação de segurança. Leroy era o único em quem eu podia confiar para entrar comigo em território inimigo. Ele sabia o peso daquela viagem tanto quanto eu.— Tudo está bem, princesa? — ele perguntou baixo, sem desviar os olhos da janela.Eu suspirei, respondendo com um
Sebastian JaegerO sol já estava alto quando me encaminhei para o salão onde o chá aconteceria. Cada passo parecia ecoar mais alto do que o normal, um lembrete constante de que eu não deveria estar ali.Aquilo não deveria ser problema meu, muito pelo contrário, deveria ser eu a pessoa que estava colocando a vida de Ivy em risco, não a protegendo. E ainda assim, ali estava eu, guiado por algo que não conseguia controlar.Atravessar o palácio sem ser questionado era um jogo perigoso. Eu sabia que podia surgir especulações, perguntas sobre oque eu fazia ali, mas não importava.Guardas me viam, mas desviavam o olhar rapidamente, intimidados pela presença que eu carregava. Nenhum deles ousava perguntar o que eu estava fazendo ali, ou se eu havia sido convidado.“ Cães de guarda inúteis.” Pensei, vendo como era simples passar por eles.Enquanto dobrava um corredor mais afastado, um som abafado chamou minha atenção. Parecia um soluço. Meus passos diminuíram, e virei para ver uma pequena cr
Lindsey IngrafA cena diante de mim era, no mínimo, inesperada. Eu não sabia o que esperar ao seguir Ivy apressadamente pelo corredor — talvez um confronto exagerado ou um novo capítulo em nossa disputa silenciosa. Mas o que encontrei fez meu sangue congelar por um instante.Sebastian Jaeger. O cavaleiro bastardo.Ele estava ali, ajoelhado diante de Alexandre, rindo como se fosse um homem comum. Como se tivesse um coração.Eu pisquei, tentando absorver a cena. O cavaleiro mascarado que carregava consigo a reputação de ser um dos homens mais cruéis e letais do império estava brincando com uma criança. Era quase cômico, mas também profundamente intrigante. Como algo assim podia ser real?Alexandre segurava um brinquedo de madeira, rindo alto, e por um momento, parecia que o tempo tinha parado. Eu observei o rosto de Sebastian, que geralmente era tão inexpressivo, suavizar-se em algo que quase poderia ser descrito como ternura. Foi uma cena tão desconcertante que precisei de alguns segun
Camille LarsenAinda consigo me lembrar vividamente do dia em que tudo começou, do momento em que pisei naquele palacete, no início da minha ruína.As mãos delicadas de Helen Wills apertavam as minhas, e eu sentia o medo pulsando em minhas veias. Helen, a irmã mais velha de minha falecida mãe, era uma das últimas pessoas vivas de minha família, de nossa linhagem.— Eu estou com medo, tia Helen… — sussurrei, a voz trêmula. E ela me lançou um olhar severo.— Deixe de frescuras, Camille — retrucou ela, com firmeza. — Não temos escolhas. Não há mais lugar para você em nossa casa. Seus pais morreram, e você sabe qual é o seu dever como ômega, como a última herdeira dos Larsen.Eu era apenas uma criança, mas compreendia as palavras que saíam da boca de Helen, era como se fossem um feitiço, ela as repetia todas as noites, antes de eu dormir, como se quisesse gravá-las em minha mente. A sobrevivência de nossa linhagem dependia de procriação, mas não com qualquer pessoa. Apenas com aquele que
Ivy CalleyaA dor havia cessado, assim como as vozes das pessoas à minha volta, e tudo que me restava eram as memórias, elas iam e vinham como ondas, me fazendo lembrar de cada acontecimento, de cada erro que eu havia cometido.Estava frio, meu corpo parecia ter sido abraçado pela neve do inverno, pelo gelo… Era como se eu estivesse adormecida por muito tempo, presa em um pesadelo.— Pela Deusa!… Chame o sacerdote… a princesa está despertando!.. — Pude ouvir uma voz rouca e grave falar, o som estava distante, mas mesmo assim era audível o suficiente para chamar minha atenção.Meus olhos se abriram de repente, e toda aquela escuridão que me cercava, resplandeceu, era como se eu olhasse diretamente para o sol, como se fosse a primeira vez que eu enxergasse a luz.— Princesa!? Você está bem? Consegue me ouvir?! Virei assustada, ainda confusa, até que aquele borrão a minha frente ficou nítido, e eu pude enxergar um velho de cabelos grisalhos, que usava uma túnica esverdeada, à minha frent
Ivy CalleyaEu me alimentei, descansei e tomei os diversos chás de ervas que aqueles sacerdotes do templo de Urc me deram, eram muitas xícaras por dia, e minha boca permanecia com o gosto amargo quase o tempo todo, mas mesmo assim continuei os tomando.Já haviam se passado algumas semanas, e eu sentia que estava ficando cada vez mais revigorada. Até que em uma daquelas manhãs frias uma das serviçais do palácio veio até mim, eles eram diferentes dos criados de Lyra, seus cabelos tinham sempre o mesmo tom claro, como se fossem realmente iguais nas histórias que me foram contadas, como se todos tivessem sido banhados pela luz da lua.— Princesa.. Vossa Majestade, Helena Calleya, chegou de viagem.. Ela deseja vê-la, e pediu para que você comparecesse ao salão para acompanhá-la no café da manhã. — Como sempre, a serviçal evitou contato visual, e após ouvir minha resposta, me auxiliou a vestir algo adequado.— Como ela é? — Perguntei despreocupada, todos estavam cientes da minha total perd
Ivy CalleyaTudo à minha volta havia ficado escuro novamente, e a única coisa que mantinha minha consciência ainda desperta, eram os gritos dos serviçais que vinham preocupados até meu corpo caído ao chão, e a voz com timbre abalado de Helena.Fui levada até meu quarto, mas diferente das outras vezes, levaram apenas 2 dias para que eu me recuperasse, e levantasse da cama sozinha, sem nenhum apoio.Eu tentei não pensar muito, não me estressar para que a saúde daquele corpo não fosse afetada, más era impossível. Toda vez que eu lembrava de Alexandre, meu pequeno filhote, nos braços da víbora que era Lindsey Ingraf, sentia minha carne tremer, e o gosto de ferro brotava em minha boca.Aquele corpo tinha pouco tempo, e eu sabia disso, e precisava de um plano, um que me desse livre acesso ao palácio de Adiel, que me fizesse ter controle sobre aqueles nobres corruptos e mentirosos, pois somente daquela forma, eu conseguiria colocar meus planos em prática.Eu precisava de poder, precisava de i