Vermelho
Vermelho
Por: Myllena Raysnan
Prólogo

Pela estrada afora eu vou tão sozinha levar esses doces para a vovozinha, ela mora longe e o caminho é deserto e o lobo mal passeia ai por perto.

Era um dia de festa, todos estavam sentados em volta da pequena fogueira que simbolizava a chama em seus corações. Os dez homens da alcatéia destemidos e fortes, prontos para enfrentar qualquer batalha. Juntos eles começavam a construir o que sempre procuravam em outros lugares, um lar, uma alcatéia forte. A chama dançava em sua frente enquanto suas companheiras dançavam por trás liberando seus deliciosos cheiros que eram irresistíveis para eles. Pobres almas.

A noite se estendeu tendo por companhia apenas as estrelas notaram que a lua não ousou em aparecer hoje, um mal presságio. As horas pareciam ter regressado deixando tudo tenebroso, a ponto de fazer os valentes homens tremerem de medo e angústia. O vento apagou o fogo e uma chuva fraca começou a apagar a fuligem impedindo que o fogo retornasse, já de pé eles recuaram dando passos cautelosos até suas casas.

- Alfa, o que esta havendo? - perguntou o Tal pela primeira vez tremendo de medo.

- O demônio nos alcançou. Fuja! - gritou ele mas já era tarde de mais.

A capa vermelha se aproximava a espreita deslisando pelas árvores molhadas, a quem diga que dentro da capa vivem as almas sugadas por ela. A natureza reconhecia seu poder e chorava enquanto ela agia. Era sempre nas noites sem lua e chuvosas, sempre na escuridão, na surdina. Passos rápidos e delicados que dificilmente tocam o chão, embora muitos afirmem que a capa voe pelo topo das árvores.

Sibilando como o vento ela anda ao redor das casas, sente o sabor de seu medo na ponta da língua e o degusta. Ela gosta de assustar suas presas ao máximo, ela gosta de faze-las tremerem desesperadas, quanto mais medo elas tiverem melhor será o seu banquete.

O Tal abraçava sua companheira com força temendo que o pior acontecesse com ela, ele a amava com todo o seu ser e prometeu a ela que a protegeria de tudo, ele só não contava com o demônio da capa vermelha ansiando pelo sabor do seu desespero.  Fazia anos que não se ouvia falar mais em um ataque assim, sorrateiro. O último fora em Nova York a cinco anos atrás, o massacre foi de tamanha extensão que nem Dzetas sobraram para contar história.

Tão silencioso quanto chegou ela entrou na casa do Tal segurando em suas pequenas e delicadas mãos a cabeça do Alfa, ele gritou em agonia e pos sua companheira atrás de si enfrentando o demônio frente a frente. Por vezes ela admirava isso, a audácia e coragem deles em enfrenta-la deixava as coisas menos monótonas.

- Para trás!  Não ouse se aproximar de mim! - bradou ele com a voz carregada de dor e medo.

- Vai ser rápido se você quiser, ou pode ser devagar e doloroso. - a voz era uma mistura de timbres diferentes. As almas, pensou ele. Essas eram as vozes das almas que ela ja ceifou.

Carregado de ódio ele correu em sua direção e não tinha como errar o seu alvo ele era muito bom no que fazia, mas ele errou. A capa se movimentou tão rápido para o lado oposto ao seu ataque que ele acabou semdo jogado mo chão pela força do seu próprio impulso. Tremeu, sabia que agora tinha deixado sua companheira sem proteção e foi questão de segundos até ouvi o inconfundível estalo de ossos se quebrando. O corpo caiu no chão em um som mudo e afado levando com ele toda a coragem e ousadia do jobem Tal.

- Devagar e doloroso então. - ele preferiu morrer como um covarde, implorou pela morte mas ela não veio.

Osso por osso foi quebrado de seu corpo e a medida que se curava rápido ela o quebrava novamente, ele pediu que tivesse misericórdia mas ela não teve. O sangue dele escorria pelo chão dos cortes profundos que ela abria lentamente, e o sabor do desespero dele enchia seu apetite. Cada um deve viver com suas escolhas e ele fez a que o daria uma chance, uma única chance de ter algum tempo há mais de vida mesmo não sendo a melhor vida.

- O que é você?  Porque faz isso? - a voz estava tão distante que se não tivesse uma boa audição nunca teria ouvido as indagações dele.

- Sou seu pior pesadelo. - foi a única pergunta que ela respondeu e pela primeira vez ela deixou a sua vítima agonizar e morrer enquanto observava com empolgação.

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