Verdade nas Sombras
Verdade nas Sombras
Por: Lia Alonso
Prólogo: As Sombras do Passado

O som abafado dos saltos de Elena ecoava pelo corredor vazio, ressoando contra as paredes frias e mal iluminadas de seu prédio. Era tarde, e como de costume, o ambiente sombrio sempre a deixava com uma sensação desconfortável, como se estivesse sendo observada. Não era paranoia — ela sabia que havia algo de errado, também não era o cansaço depois de ter uma prova pela manhã e uma apresentação pela tarde, mas não conseguia identificar o quê. Os corredores do edifício pareciam compridos demais à noite, as sombras dançavam de maneira estranha, e o barulho do vento que passava pelas janelas abertas gerava um sussurro constante, quase como uma voz longínqua. Era inquietante.

Ela apertou o casaco ao redor de seu corpo enquanto avançava, sentindo um calafrio subir pela espinha. "Sempre alerta", pensou consigo mesma. Essa frase havia se tornado seu mantra desde que se mudara para aquele apartamento. A vida parecia ter tomado um rumo estranho desde então. Não era apenas o prédio escuro e decadente, nem a sensação de solidão. Era algo mais profundo, uma sensação de que sua própria história estava se revelando de forma lenta e dolorosa.

Ao entrar no apartamento, o som da porta fechando ecoou mais alto do que o habitual, e Elena rapidamente trancou todas as trancas. O silêncio a envolveu como um manto pesado. Deixando a bolsa na mesa, ela se jogou no sofá, exausta. O dia tinha sido longo, mas os pensamentos de Elena estavam muito distantes para que ela pudesse realmente descansar.

Fechou os olhos, mas as memórias começaram a emergir.

Três anos haviam se passado desde que recebeu aquela carta. A carta que mudara tudo. Ela ainda se lembrava claramente do momento em que encontrou o envelope misterioso, enfiado no meio das páginas de um caderno que usava na faculdade. Na época, aos 21 anos, ela não deu muita importância — a vida estava cheia de pequenos mistérios, mas aquilo parecia inofensivo. "Talvez um erro", pensou inicialmente.

Mas, quando abriu o envelope, uma única frase a marcou de maneira indelével:

"Mesmo que diga que estou morto, bambina, sempre estive vivo."

A caligrafia era firme, quase familiar, e aquelas palavras imediatamente fizeram sua mente correr para o passado. Ela foi criada por sua mãe, uma mulher forte e solitária, que sempre lhe dissera que seu pai havia morrido antes de ela nascer. Elena aceitara essa história por anos, sem questionar. Mas agora, com aquelas poucas palavras, toda a estrutura de sua vida parecia vacilar.

— "Sempre estive vivo?" — sussurrou para si mesma naquela noite, segurando a carta com as mãos trêmulas.

Ela não sabia o que pensar. O envelope não tinha remetente, e não havia nenhum indício claro de quem poderia ter enviado aquilo. No entanto, o tom da mensagem era pessoal demais para ser um engano. Quem mais chamaria Elena de bambina? Era um apelido carinhoso, que ela apenas ouvira nos sussurros da infância, em raras memórias que pareciam borradas pelo tempo.

Durante anos, a carta ficou guardada em uma gaveta, ignorada, mas nunca esquecida. Ela continuou sua vida — mudou de cidade, ingressou em outro curso universitário, fez novos amigos, mas aquela sombra do passado nunca a deixou completamente. O que a carta realmente significava? Era mesmo uma mensagem de seu pai? Se ele estava vivo, por que nunca a procurara antes? O silêncio sobre sua vida parecia ainda mais profundo e misterioso após aquelas palavras.

E agora, com 24 anos, morando sozinha em uma cidade distante, ela sentia que estava cada vez mais próxima de respostas que não sabia se queria ouvir.

Elena suspirou pesadamente no sofá, relembrando as mudanças dos últimos meses. O prédio onde vivia parecia estranho, quase como se escondesse segredos em cada canto. Os vizinhos raramente se falavam, e os poucos que ela conhecia pareciam sempre distantes. Havia os três irmãos italianos no andar abaixo — Mateo, Felipo e Theo. Eles se mantinham discretos, mas Elena não pôde deixar de notar como seus olhares a seguiam pelos corredores. Ela não sabia o que pensar sobre eles. Algo em sua presença a deixava inquieta.

— Preciso relaxar — murmurou, passando a mão pelos cabelos soltos. A pressão de suas responsabilidades, misturada ao peso daquela carta ainda não resolvida, parecia sufocá-la.

Subitamente, o som de passos no corredor do lado de fora interrompeu seus pensamentos. Eram passos firmes, ecoando pelo piso. Alguém estava caminhando lentamente, quase de forma deliberada. O som parou bem na porta de seu apartamento. Elena sentou-se ereta, sua respiração acelerando involuntariamente.

"Quem está aí?" pensou. O prédio raramente tinha movimentação naquela hora. Quem estaria parado ali?

Por um momento, tudo ficou em silêncio. Ouvia apenas o som de seu coração batendo forte no peito. Ela se levantou e foi até a porta, colando o ouvido à madeira para ouvir melhor. O silêncio persistia. Talvez estivesse apenas imaginando coisas. Porém, antes que pudesse se afastar, algo deslizou por baixo da porta. Um novo envelope.

Ela congelou, encarando o papel amarelado à sua frente. A visão do envelope fez seu estômago revirar. Tremendo, ela se agachou e pegou o objeto, sentindo o peso das memórias que a invadiam mais uma vez. Era idêntico ao primeiro envelope que havia recebido anos atrás.

Ela sabia que deveria abrir. Mas o que poderia estar escrito dessa vez? Seria mais uma mensagem enigmática? Ou talvez, finalmente, alguma resposta?

Respirando fundo, ela rasgou a borda do envelope e puxou o pedaço de papel lá dentro. As palavras, novamente escritas na mesma caligrafia firme, fizeram seu coração parar por um instante:

"As sombras estão mais próximas do que você pensa. Cuidado em quem confia."

Ela sentiu um arrepio correr por todo o seu corpo. Olhou ao redor, sentindo-se ainda mais isolada naquele apartamento sombrio. O que tudo aquilo significava? Quem estava enviando essas cartas? E por que agora, depois de tantos anos, o mistério parecia estar se intensificando?

Antes que pudesse processar, o som de passos novamente ecoou pelo corredor, mas dessa vez, se afastando.

Elena sabia que algo grande estava prestes a acontecer. As sombras de seu passado finalmente estavam começando a se revelar, e ela não tinha ideia de quem era amigo ou inimigo. Mas uma coisa era certa: ela precisava de respostas. E estava disposta a ir até o fim para encontrá-las, mesmo que isso a levasse direto ao coração de um mistério que poderia mudar sua vida para sempre.

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