Capítulo 5: Segredos Revelados

Elena não conseguia tirar os olhos dos irmãos enquanto eles examinavam a carta. Era como se o papel amarelado guardasse segredos que somente eles pudessem desvendar. A sensação de estar à mercê de algo maior do que podia compreender era esmagadora. Por mais que tentasse, não conseguia entender como sua vida havia se tornado esse emaranhado de mistérios e perigos. Tudo o que sabia era que nada mais seria como antes.

Mateo, Felipo e Theo trocavam palavras rápidas em italiano, suas vozes baixas, mas carregadas de tensão e urgência. O que quer que tivessem descoberto, não seria simples.

Elena se levantou e começou a andar pela sala, a ansiedade pulsando em seu corpo. Ela olhava para a janela, observando a noite cair lá fora, o silêncio do prédio só aumentando sua inquietação. Tudo parecia tão normal, tão calmo. Mas dentro de si, ela sabia que estava mergulhada em um abismo desconhecido.

— Vocês já conseguiram descobrir alguma coisa? — Ela quebrou o silêncio com a voz tensa.

Felipo olhou para ela por cima do ombro, seus olhos ligeiramente estreitos em concentração.

— Não é tão simples, Elena — disse ele, voltando a atenção para o papel. — Seu pai usou uma codificação complexa. Estamos tentando identificar o padrão, mas vai demorar.

— E quanto tempo vocês acham que isso pode levar? — Elena perguntou, tentando controlar a irritação que começava a borbulhar.

Mateo se endireitou e olhou diretamente para ela.

— Pode levar horas, dias, talvez mais. O importante é não forçar o processo. A última coisa que queremos é cometer um erro e perder uma pista importante.

Elena suspirou, jogando-se no sofá. Ela sabia que não havia pressa, mas a sensação de urgência estava corroendo sua paciência. A cada minuto que passava, sentia-se mais vulnerável. E o pior de tudo era que sabia que estava sendo seguida. O carro preto que tinha visto mais cedo não saía de sua mente. Quem estava atrás dela? E o que eles fariam se a pegassem?

Theo percebeu sua inquietação e se aproximou.

— Sei que é difícil — ele disse, sua voz mais suave. — Mas você está segura aqui. Estamos todos envolvidos nisso agora, e não vamos deixar que nada aconteça com você.

Elena o olhou, incerta se deveria acreditar ou não. Theo parecia sincero, e havia uma gentileza em seus olhos que a confortava de alguma forma. Mas uma parte de si ainda resistia. Ela havia sido enganada a vida inteira, e confiar em alguém agora parecia mais perigoso do que qualquer outra coisa.

— Eu sei — ela respondeu, finalmente. — Mas ainda não consigo entender como isso tudo aconteceu. Eu não pedi para estar envolvida nesse mundo. Tudo o que eu queria era uma vida normal.

Theo se sentou ao lado dela, mantendo uma distância respeitosa.

— Às vezes, a vida nos arrasta para direções que não podemos controlar. Nosso pai, por mais que tenha tentado mantê-la afastada desse caos, sabia que eventualmente o passado iria alcançá-la. Ele só não sabia que seria tão cedo.

Elena abaixou a cabeça, mordendo o lábio. A menção de seu pai sempre trazia uma dor incômoda. Um homem que nunca conheceu, mas cuja ausência moldou toda a sua vida. Agora, ele parecia estar em cada sombra, cada escolha que ela tinha que fazer.

— O que você sabe sobre ele? — Ela perguntou, virando-se para Theo.

Theo hesitou por um momento, como se ponderasse o quanto deveria contar.

— Nosso pai... — ele começou devagar —, era um homem complicado. Para muitos, ele era um traidor, um inimigo. Para outros, ele era um gênio que jogava com o perigo. Ele fez muitos inimigos na Itália, em parte por causa das escolhas que fez com quem se associar. Ele estava envolvido com a máfia, mas nunca foi completamente um deles. Ele os manipulou completamente, tirou proveito da influência deles para seus próprios fins. Mas quando eles perceberam, já era tarde demais.

Elena franziu o cenho.

— Manipulou como?

Theo suspirou, passando a mão pelos cabelos escuros.

— Ele sabia segredos. Informações que podiam destruir famílias poderosas. Informações que eles pagariam caro para manter ocultas. E ele usou isso contra eles. Era uma espécie de jogo de poder. Só que, em algum ponto, o jogo saiu do controle, e ele teve que desaparecer. Foi quando ele deixou a Itália e cortou contato com todos, inclusive com você e sua mãe.

Elena sentiu uma pontada no peito. Mesmo que tivesse ouvido isso antes, o peso da verdade ainda a atingia com força. Não que

— Então ele nos abandonou por medo?

Theo assentiu.

— De certa forma, sim. Mas também foi para protegê-las. Ele sabia que, se continuasse por perto, você e sua mãe, e claro a minha também e nós três, seriamos os alvos mais fáceis. Ele queria garantir que vocês pudessem viver em paz, longe da sombra que o perseguia.

Ela olhou para Theo, tentando encontrar algum consolo nessa explicação, mas tudo o que sentia era vazio. A ideia de que seu pai a deixara para trás, mesmo que fosse para protegê-la, não diminuía o sentimento de abandono que a havia acompanhado por toda a vida.

Antes que ela pudesse dizer mais alguma coisa, Mateo se aproximou com a carta na mão, um olhar decidido no rosto.

— Acho que encontramos algo. Não sei exatamente o que pode significar.

Elena se levantou imediatamente, sua curiosidade e apreensão crescendo.

— O que é?

Mateo entregou a carta para ela, apontando para uma parte específica do texto. Era uma das frases desconexas que ela lembrava de ter lido tantas vezes, mas agora, com a ajuda deles, parecia fazer mais sentido.

— Veja isso — ele disse, apontando. — "O som da noite se esconde nas entrelinhas da verdade." Parece uma frase sem sentido, mas quando olhamos mais de perto, percebemos que as primeiras letras de cada palavra formam uma sequência.

Elena observou com atenção e, de repente, percebeu o que ele estava dizendo.

— "O-S-N-S-E-N-L-T" — ela murmurou. — Isso forma uma sigla?

— Exatamente — disse Mateo, animado. — É uma sequência. E quando a organizamos teremos a resposta que procuramos.

Mateo entregou os rascunhos para Theo, ele era o mais experiente e calmo em decifrar esses códigos, ele puxou uma cadeira para si e passou a ordenar as letras, e quando escreveu a resposta e a circulou afastou a folha para que os outros vissem.

— Onset? — Elena franziu o cenho. — O que isso significa?

— Onset é um termo técnico usado em comunicação cifrada — explicou Felipo, que se juntou à conversa. — Ele indica o início de algo, o ponto de partida. Nosso pai está nos dizendo que essa carta é apenas o começo. Há mais.

Elena olhou para os três irmãos, sua mente girando com as novas informações.

— Mais? — ela perguntou, sentindo um misto de medo e excitação. — Como assim, mais?

Mateo assentiu.

— Esta carta é apenas a primeira pista. Agora sabemos que estamos no caminho certo, mas ainda não chegamos ao ponto principal. Precisamos continuar procurando. Papai nos deixou um quebra-cabeça para resolver, Elena, e estamos apenas começando.

O estômago de Elena se revirou. Por um lado, estava aliviada por finalmente ter alguma direção. Por outro, sabia que isso a colocava ainda mais profundamente nesse jogo perigoso. Mas agora não havia mais como voltar atrás.

— Então, qual é o próximo passo? — ela perguntou, sua voz firme, mas com um tremor subjacente.

Theo sorriu levemente.

— O próximo passo é continuar seguindo as pistas. E dessa vez, não estará sozinha. Você tem a nós.

Elena olhou para ele, absorvendo suas palavras. Pela primeira vez, sentiu uma leve centelha de esperança. Mas ao mesmo tempo, o medo do desconhecido ainda a envolvia como uma sombra, lembrando-a de que o que estava por vir poderia ser mais sombrio e perigoso do que ela jamais imaginara.

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