Capítulo 3: A Verdade Oculta

O silêncio pairava pesado no ar. Elena sentia cada batida do seu coração ressoando em seus ouvidos, enquanto Mateo a observava do outro lado da sala. O mistério envolvendo os irmãos italianos parecia, de repente, estar prestes a se desdobrar. E, embora quisesse respostas, o medo de ouvir a verdade a fazia hesitar.

— O que você quer dizer com "algo muito maior"? — Elena perguntou, sua voz carregada de incerteza.

Mateo se inclinou para frente, seus cotovelos apoiados nos joelhos, como se estivesse escolhendo cuidadosamente as palavras que diria a seguir.

— Há muito tempo, sua..quer dizer a nossa, família foi envolvida em algo perigoso — começou ele, sua voz baixa e grave. — Mais especificamente, seu pai. E quando ele desapareceu da sua vida, não foi por acaso.

Elena se endireitou no sofá, sentindo uma onda de adrenalina percorrer seu corpo. O que Mateo sabia sobre seu pai? Ela tinha sido criada pela mãe, que sempre lhe dissera que ele estava morto. Contudo, a carta misteriosa que recebera aos 21 anos parecia desmentir essa história, insinuando que ele ainda estava vivo. E agora, aos olhos de Elena, Mateo e seus irmãos sabiam mais do que ela jamais imaginara, as resposta sobre cada pergunta que fez sobre seu pai.

— Como você sabe disso? — Elena perguntou, tentando manter a voz firme. — Quem é você, Mateo? Como sabe quem é meu pai?

Mateo a observou por um momento, seus olhos escurecendo.

— Nosso pai... — ele começou, suas palavras saindo lentamente, como se tivessem um peso enorme, e tinham. —Você é, tecnicamente, nossa meia-irmã.

Elena piscou várias vezes, sem acreditar no que acabara de ouvir. As palavras de Mateo ecoavam em sua mente, mas pareciam impossíveis de aceitar.

— O quê? — ela sussurrou, sentindo o chão fugir debaixo de seus pés. — Isso... Isso não faz sentido!

Mateo balançou a cabeça, compreensivo com sua reação.

— Eu sei que é muita coisa para absorver, mas essa é a verdade. Nossa mãe se casou com nosso pai muitos anos atrás, na Itália. Eles tiveram três filhos: eu, Felipo e Theo. Você foi a única filha que ele teve fora desse casamento. Sua mãe era amante dele.

Elena sentiu uma onda de náusea a envolver. A história de sua vida, aquilo que ela acreditava ser a verdade, estava se despedaçando diante de seus olhos. Sua mãe tinha sido a amante de um homem casado? E agora, ela estava frente a frente com seus meios-irmãos? Isso era insano!

— Mas... minha mãe nunca mencionou nada sobre isso. Ela sempre disse que meu pai estava morto! — Elena estava confusa, sua mente girando com todas as novas informações.

Mateo assentiu lentamente.

— Isso foi o que ela achou melhor contar para você. — Ele fez uma pausa, parecendo escolher cuidadosamente suas próximas palavras. — Nosso pai, no entanto, nunca morreu. Ele... desapareceu. E agora, você está sendo envolvida em algo que ele deixou para trás.

— Desapareceu? — Elena repetiu, a palavra soando estranha em sua boca. — O que você quer dizer com isso?

Mateo se levantou e começou a andar pela sala, com as mãos enfiadas nos bolsos.

— Nosso pai estava envolvido com pessoas poderosas e perigosas na Itália. Ele tinha negócios com pessoas que você não vai querer cruzar. Quando as coisas começaram a ficar complicadas, ele foi forçado a fugir. Desapareceu sem deixar rastro, e desde então, todos acreditam que ele esteja morto. Todos, exceto nós.

Elena olhou para Mateo para os outros dois, Felipo estava encostado em uma parede com os braços cruzados e uma expressão que Elena nem tentava decifrar, com a cabeça girando com as novas informações, seus olhos encontraram a calmaria enigmática dos olhos de Theo, que estava com o ombro escorado no batente da porta. A ideia de que seu pai estava vivo, que ele fugiu por estar envolvido com criminosos, era algo que ela jamais poderia ter imaginado, ter três irmãos que pareciam saber de sua existência a tempo suficiente sem que ela nem desconfiasse de nada, eram muitas informações. Elena sentia como se tivesse sido empurrada para dentro de um thriller mafioso, onde nada era o que parecia.

— E o que isso tem a ver comigo? — ela perguntou, sua voz soando mais desesperada do que pretendia.— Por que eu me sinto vigiada a todo momento? Por que motivo estariam atrás de mim?

Mateo parou de andar e se virou para ela.

— Você está envolvida porque nosso pai deixou algo para trás. Algo que ele acreditava que apenas você poderia encontrar. Ele sabia que o passado eventualmente alcançaria você em algum momento de sua vida.

Elena piscou, sem entender.

— O que você quer dizer?

Mateo se aproximou, seus olhos fixos nos dela.

— Quando ele desapareceu, deixou pistas, algumas para mim, outras para Felipo e outras para Theo. E essas pistas levaram a algo que muitos ainda procuram. Algo que pode mudar tudo. E em nossas pistas ele deixou claro que uma pista específica estava com você.

Elena sentiu um calafrio percorrer sua espinha.

— O que ele deixou?

Mateo hesitou por um momento.

— Um segredo. Um segredo que pessoas perigosas fariam qualquer coisa para encontrar. E agora, você é a chave para isso.— respondeu Felipo no lugar do irmão.

— E também a chave para encontrá-lo.— acrescentou Theo em um sussurro — Tire um tempo para pensar. E se mantenha atenta.

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Nos dias seguintes, Elena seguiu o conselho, até porque não conseguia tirar as palavras dos irmãos da cabeça. Ela era a chave para algum tipo de segredo que seu pai havia deixado para trás. Mas o que isso significava? E por que pessoas perigosas estariam atrás dela?

A vida de Elena, que já parecia complicada, havia se tornado um caos completo. As perguntas que a atormentavam eram muitas, e as respostas pareciam estar fora de seu alcance. E agora, sabia que não estava apenas sendo observada — estava sendo caçada.

Foi em um desses dias, enquanto tentava se concentrar em uma das aulas da faculdade, que algo inusitado aconteceu. Ao sair do campus, notou um carro parado do outro lado da rua. Era um carro preto, com vidros escuros, e o motorista parecia estar observando-a.

Elena sentiu um arrepio na nuca, mas tentou ignorar. Continuou caminhando em direção ao ponto de ônibus, mas sua mente estava agora em alerta máximo. Estava sendo seguida? Será que era uma coincidência? Seus passos ficaram mais rápidos, e quando chegou ao ponto, olhou discretamente para trás. O carro ainda estava lá.

Respirando fundo, agradeceu mentalmente que o ônibus já estava no ponto, entrou e se sentou na parte de trás, tentando manter a calma. Seu coração estava acelerado, e cada vez mais, tinha a sensação de que seu mundo estava se fechando. Ao chegar no seu ponto de descida, olhou novamente pela janela do ônibus e viu que o carro preto não estava mais seguindo. Talvez fosse apenas paranoia, mas Elena sabia que não poderia se dar ao luxo de ser ingênua.

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Ao chegar em casa naquela noite, encontrou Theo no corredor do prédio, encostado na parede como se a estivesse esperando.

— Precisamos conversar — disse ele, antes que ela pudesse passar por ele.

Elena parou, sentindo a nostalgia da mesma frase dita pelo outro irmão a poucos dias e o peso de todas as revelações que foram feitas, fazendo o nervosismo crescer em seu estômago.

— Sobre o quê? — perguntou ela, tentando manter a voz firme.

— Sobre você. E o que está por vir.

Ela hesitou por um momento, antes de finalmente concordar. Precisava de respostas, e os irmãos pareciam ser a única fonte de informações que ela tinha, por mais desconfiada que ainda estivesse deles.

Theo a conduziu até o apartamento dos três, e eles se sentaram na mesma sala de antes. Desta vez, porém, Felipo não estava presente. Os dois irmãos que estavam ali reunidos, tinham expressões sérias.

— Elena — começou Theo, olhando diretamente para ela. — Sabemos que você tem dúvidas. E você merece saber a verdade completa.

Ela engoliu em seco, sentindo o peso das palavras. Eles tinham dado tempo para ela se acostumar com as informações, mas agora a porta já estava aberta.

— O que eu realmente preciso saber?

Theo trocou um olhar com o irmão mais velho antes de continuar.

— Há pessoas que acreditam que você sabe onde está o que nosso pai escondeu. Elas acham que, de alguma forma, você tem as respostas que estão procurando.

— Mas eu não sei de nada! — Elena protestou, sua voz cheia de frustração. — Eu não sei onde ele está, e certamente não sei o que ele deixou para trás!

— Sabemos disso — disse Felipo, entrando na sala. Sua voz era mais suave do que a de seus irmãos, mas havia uma firmeza em seu tom que Elena não pôde ignorar. — Mas essas pessoas não acreditam nisso. Para elas, você é a última peça do quebra-cabeça— O carro preto lá fora é prova disso.

— E quem são essas pessoas? — Elena perguntou, completamente em choque, sentindo um arrepio na espinha, suas suspeitas eram reais.

— Elas são parte de uma organização muito poderosa na Itália, por assim dizer — explicou Theo. — E, por muito tempo, nosso pai trabalhou para elas. Mas ele as traiu, e agora elas querem vingança. O problema é que elas acham que ele deixou algo muito valioso para trás, algo que poderia desmantelar toda a operação delas.

Elena mal conseguia processar o que estava ouvindo. O pai que ela nunca conheceu estava envolvido com uma organização criminosa? E agora ela estava sendo arrastada para o meio disso?

— Nós estamos aqui para protegê-la — disse Mateo, sua voz firme. — Mas você precisa confiar em nós. Sabemos que isso tudo é assustador, mas estamos do seu lado.

Elena olhou para os três irmãos, sentindo uma mistura de medo e confusão. Poderia confiar neles? E, mais importante, o que aconteceria se ela não conseguisse encontrar o que todos estavam procurando?

O destino de Elena estava agora completamente ligado ao passado de seu pai, e as sombras ao seu redor estavam se tornando cada vez mais perigosas.

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