Lara Vasconcellos
Sempre soube que era diferente das minhas irmãs. Desde pequena, eu sentia isso. Enquanto Natália e Bianca eram o orgulho do meu pai, sempre ganhando presentes caros, viagens de luxo e tudo o que desejavam, eu era a sombra. A filha esquecida. Não sei exatamente quando percebi que meu lugar na família era esse. Talvez tenha sido nos aniversários, quando minhas irmãs recebiam joias caras e vestidos importados, e eu ganhava um "parabéns" dito às pressas. Ou talvez tenha sido nos natais, quando elas desembrulhavam presentes luxuosos enquanto eu, muitas vezes, sequer era lembrada. A verdade é que, por mais que eu tentasse, nunca fui suficiente para ele. E o pior de tudo? Eu nunca soube o que fiz para merecer esse tratamento. Até entender. Minha mãe morreu no meu parto. Ela morreu para que eu vivesse, e isso me transformou na inimiga do meu pai desde o momento em que nasci. Eu não lembro dela. Não sei se seu cabelo era liso ou cacheado, se sua risada era alta ou suave, se sua voz era doce. Sei apenas o que me disseram – e me disseram muito pouco. Mas uma coisa sempre esteve clara para mim: se minha mãe não tivesse morrido, talvez meu pai tivesse me amado. Ele nunca disse isso em voz alta, mas eu vi nos olhos dele a vida inteira. O desprezo, a frieza. Enquanto Natália e Bianca eram mimadas, tratadas como princesas, eu cresci invisível. Minhas irmãs sempre tiveram tudo o que quiseram. Cartões de crédito sem limite, viagens, roupas de grife. Eu nunca tive nada disso. Nem um cartão, nem mesada, nem sequer um presente de aniversário decente. E o pior é que elas sabiam disso – e adoravam esfregar na minha cara. — Pai, comprei aquele vestido novo da coleção da Prada. Você precisa ver, é maravilhoso! — Bianca comentava, sorrindo, enquanto mexia no celular, sem nem me olhar. — O papai disse que vamos para Dubai! Vamos poder comprar o que quisermos lá! — Natália completava, animada. Eu sempre fui excluída. Quando viajavam, era porque elas queriam ir. Quando decidiam algo em família, eu sequer era consultada. E agora, estavam simplesmente me obrigando a embarcar nessa viagem sem ao menos me perguntar se eu queria. Eu não queria. Eu não entendia o motivo dessa viagem, mas conhecia meu pai. Ele não fazia nada sem um propósito. — Eu não quero ir. — Disse, sem rodeios. As duas olharam para mim como se eu tivesse dito a coisa mais absurda do mundo. — Como assim, não quer ir? Você tá louca? — Bianca riu com desdém. — Ai, Lara, para de querer chamar atenção. Isso é a nossa chance de sairmos dessa situação horrível. — Natália revirou os olhos, claramente irritada. Eu ia responder, mas meu pai entrou na sala antes que eu pudesse. — Você não tem escolha. — A voz dele foi dura, cortante. — Se não quiser ir, pode começar a procurar um novo lugar para morar. Engoli em seco. — O quê? — Isso mesmo que você ouviu. Eu estou tentando salvar essa família e garantir um futuro para vocês. Você deveria estar agradecendo, em vez de agir como uma ingrata. Engoli a raiva. Era sempre assim. Eu nunca podia questionar nada. Nunca podia discordar. Eu não queria ir. Eu não queria estar ali. Mas, mais uma vez, eu não tinha escolha. Então, contra minha vontade, tive que aceitar.Lara VasconcellosAs horas seguintes foram uma correria. Eu não queria estar ali, e nada fazia sentido para mim, mas de alguma forma eu me vi arrumando a mala, colocando roupas no mínimo desconfortáveis, e me preparando para embarcar em um avião para um lugar tão distante quanto Dubai. Meu pai nunca teve consideração por mim, e agora ele estava me forçando a ir com ele para que eu fosse parte de algo que nem ao menos entendia. Tudo o que eu sabia era que a empresa dele estava à beira da falência, e ele via essa viagem como a última chance de salvar tudo o que ele havia construído.Eu ainda não entendia como tudo tinha virado um turbilhão tão rápido. A ideia de viajar com meu pai e minhas irmãs para o outro lado do mundo, onde ele teria que negociar com um sheik árabe para salvar a nossa vida de luxo, me parecia uma piada cruel. Mas as palavras de meu pai ainda ecoavam na minha cabeça. Eu não tinha escolha.Arrumei minha mala com a cara fechada, o peso de todas as minhas frustrações s
Khaled Rashid Eu sou Khaled Rashid. Aos 26 anos, sou um dos homens mais poderosos de Dubai e do mundo. Um magnata que controla vastas fortunas e negócios que se estendem por todo o globo. Sou Sheik e dono de uma das famílias mais influentes dos Emirados Árabes Unidos. O que eu digo, se torna lei. O que eu quero, eu tenho. Nada e ninguém pode me impedir de conquistar o que desejo, e sou implacável nesse objetivo. Já estive casado duas vezes. Ambas as mulheres falharam em entender a verdadeira natureza do meu controle. Elas não conseguiram seguir as regras. A desobediência é algo que eu simplesmente não tolero. O preço foi alto, mas cada uma delas pagou com a vida. Quando você é como eu, ninguém pode desafiar o poder. As duas morreram por não se submeterem, e para mim, isso não significou nada além de uma necessidade de reafirmar minha autoridade. Eu não sou um homem de sentimentos. Não creio no amor, mas em algo muito mais forte: o poder sobre os outros. Sempre que vejo algo ou algu
Alberto AlmeidaEu entrei no hotel sem hesitação, apenas com o peso da responsabilidade nos ombros. Minhas mãos não suavam, meu coração não vacilava. Eu já havia tomado minha decisão. O que vinha a seguir era apenas uma consequência lógica. Elas estavam ali, esperando por mim, e não me importava se aceitariam ou não. Eu nunca precisei da aprovação de Lara para nada, e não seria agora que isso mudaria.Minhas filhas sempre tiveram seus papéis muito bem definidos na minha vida. Natália e Bianca eram exemplos de filhas. Entendiam seu lugar, compreendiam as regras do jogo, sabiam o que era importante. Lara... Lara era um erro. Um fardo. Uma lembrança viva da maior perda que eu sofri. Desde que nasceu, tirou de mim o que eu mais amava. Como eu poderia olhá-la e ver algo diferente disso? Nunca consegui, nunca tentei. Agora, finalmente, ela serviria para algo.Fitei as três quando entrei na sala. Natália sentada com postura impecável, Bianca de pé, com os braços cruzados e olhar inquisitivo
Alberto VasconcellosA ruína não chega de uma vez. Ela se insinua aos poucos, como uma praga silenciosa, destruindo tudo o que construí ao longo dos anos. Eu a vi se aproximar, tentei resistir, mas era como segurar areia entre os dedos. A Vasconcellos Import & Export, a empresa que levei uma vida inteira para erguer, estava falida.Foram anos de glória. Eu dominava o mercado de commodities, transportando produtos valiosos pelo mundo inteiro. Meu nome era respeitado, meus contratos eram disputados e meu império parecia inabalável. Mas o mundo dos negócios é cruel. Com a ascensão de novas potências econômicas, a concorrência ficou impossível. Empresas chinesas e árabes começaram a dominar o setor, oferecendo preços com os quais eu simplesmente não podia competir.Os contratos começaram a cair. Clientes antigos romperam acordos que existiam há anos. Investidores se afastaram. Fiz de tudo para segurar minha posição: peguei empréstimos, cortei custos, apostei em novas estratégias. Mas foi
Alberto VasconcellosEntro em casa e, como sempre, sou recebido pelo silêncio pesado que habita este lugar. Antes, minha casa era um reflexo da minha posição: móveis importados, quadros de artistas renomados, tapetes persas. Agora, tudo perdeu o brilho. Parece um cenário prestes a desmoronar.Subo as escadas, sentindo a tensão no ar. Minhas filhas estão todas em casa. Posso ouvir as vozes delas no andar de cima. Natália e Bianca, as mais velhas, conversam animadamente sobre alguma besteira fútil. Lara, como sempre, está quieta.Abro a porta do escritório e me sirvo de uma dose de uísque antes de encará-las. Minha paciência anda curta, e eu sei que não vou gostar das reações que estão por vir.— Reúnam-se na sala — digo alto o suficiente para que todas me ouçam.Natália e Bianca descem primeiro, com ares de tédio. São exatamente o que a sociedade esperava que fossem: filhas mimadas de um empresário rico. Sempre tiveram tudo do bom e do melhor, e mesmo agora, com a falência batendo à p