Alberto Almeida
Eu entrei no hotel sem hesitação, apenas com o peso da responsabilidade nos ombros. Minhas mãos não suavam, meu coração não vacilava. Eu já havia tomado minha decisão. O que vinha a seguir era apenas uma consequência lógica. Elas estavam ali, esperando por mim, e não me importava se aceitariam ou não. Eu nunca precisei da aprovação de Lara para nada, e não seria agora que isso mudaria. Minhas filhas sempre tiveram seus papéis muito bem definidos na minha vida. Natália e Bianca eram exemplos de filhas. Entendiam seu lugar, compreendiam as regras do jogo, sabiam o que era importante. Lara... Lara era um erro. Um fardo. Uma lembrança viva da maior perda que eu sofri. Desde que nasceu, tirou de mim o que eu mais amava. Como eu poderia olhá-la e ver algo diferente disso? Nunca consegui, nunca tentei. Agora, finalmente, ela serviria para algo. Fitei as três quando entrei na sala. Natália sentada com postura impecável, Bianca de pé, com os braços cruzados e olhar inquisitivo. Lara, como sempre, deslocada. Parecia saber que algo estava por vir. Talvez fosse a primeira vez na vida que ela prestava atenção ao que realmente importava. — Temos um assunto para resolver. Minha voz foi firme, sem rodeios. Não havia necessidade de rodeios. Olhei diretamente para Lara. — Fechei um acordo com Khaled. A empresa está salva, e em troca, você vai se casar com ele. Silêncio. O tipo de silêncio que antecede uma tempestade, mas eu já sabia como essa tempestade terminava. Lara arregalou os olhos, demorando alguns segundos para processar. Quase me fez rir. Sempre foi lenta para entender as coisas. — O quê? — Sua voz era um sussurro trêmulo. — Você fez o quê? Suspirei, sem paciência para dramas. — O que precisava ser feito. A empresa não podia mais continuar assim, e você era a moeda de troca mais valiosa. Khaled quis você, e eu aceitei. O impacto foi exatamente o esperado. Ela arregalou os olhos, como se a própria terra tivesse desaparecido sob seus pés. — Você me vendeu? — Sua voz saiu embargada, mas não havia dor suficiente nela para me comover. — Não exagere, Lara. — Revirei os olhos. — Eu fiz um acordo. Um acordo que garante seu futuro e o de todos nós. Ela se levantou bruscamente, os punhos cerrados. Seu olhar estava cheio de fúria, mas isso não me afetava. — Você nunca foi um bom pai! — Ela gritou, a voz carregada de ódio. — Nunca me deu nada, nunca me quis! E agora simplesmente me entrega para um desconhecido?! Minha expressão permaneceu impassível. — Finalmente você entendeu. — Cruzei os braços. — Não é sobre querer, Lara. É sobre necessidade. E sua existência finalmente serviu para algo útil. Ela pareceu levar um soco invisível com minhas palavras. Sua respiração acelerou, e ela deu um passo para trás, atônita. — Pai... — A voz dela era um fiapo. — Como você pode fazer isso comigo? Me aproximei lentamente, e sem qualquer hesitação, ergui a mão e lhe dei um tapa no rosto. O som ecoou pela sala. Ela cambaleou, levando a mão à bochecha avermelhada, os olhos arregalados em choque absoluto. — Pare de agir como uma criança mimada. — Minha voz foi baixa, letal. — Eu cansei das suas lamentações. Você vai se casar com Khaled, e vai fazer isso com a cabeça erguida. Porque eu mandei. Ela tremia. Pela primeira vez, parecia entender sua posição. Natália suspirou, entediada. — Você devia estar agradecendo, Lara. — Ela disse, ajeitando uma mecha de cabelo. — Vai ter uma vida de princesa. Bianca riu, balançando a cabeça. — Se fosse uma de nós, estaríamos comemorando. Mas claro, você tem que fazer drama. Lara olhou para elas, buscando apoio, mas encontrou apenas desprezo. — Por que ele te escolheu? — Bianca perguntou, como se estivesse tentando resolver um enigma. — Você é sem graça, insignificante. De todas nós, você é a que menos tem a oferecer. Eu ri baixo. Não podia negar que pensava o mesmo. — O que importa é que ele escolheu. — Disse, friamente. — E você não vai decepcionar. Lara me encarou, os olhos brilhando de lágrimas, mas não havia mais nada a ser dito. Ela sabia que sua opinião nunca teve importância. E nunca teria.Lara O relógio marcava três da madrugada. O hotel estava silencioso, e o medo pulsava no meu peito. Cada passo meu era calculado, cada respiração era controlada. Eu não podia errar. Se me pegassem agora, eu nunca mais teria outra chance. Passei pelo corredor do hotel, o coração batendo tão forte que parecia ecoar nas paredes. Minhas mãos tremiam enquanto eu segurava firme a alça da mochila, onde coloquei o pouco que consegui pegar às pressas. Um casaco, um pouco de dinheiro que tinha escondido, o passaporte que roubei do escritório do meu pai. Nada mais importava. Eu precisava sair dali. Quando cheguei ao saguão, meu corpo ficou tenso. O recepcionista estava de cabeça baixa, mexendo no celular. Segurei a respiração e passei rápido. Minhas pernas doíam de tanta tensão, mas não parei até sentir o vento quente da madrugada tocar meu rosto. Eu estava na rua. Sozinha. Dubai à noite era uma cidade vibrante, mas eu não via luzes ou beleza. Apenas medo. Andei rápido pelas ruas, sem rumo.
Khaled Desde o começo, eu não confiei totalmente em Alberto. Um homem que vende a própria filha sem hesitar não merece confiança. Então, fiz o que sempre faço: garanti que teria o controle da situação. Coloquei um dos meus homens para vigiar aquela família. E foi uma decisão sábia. Ela tentou fugir. Lara, tão ingênua, acreditou que poderia simplesmente sair pelas ruas de Dubai sem ser notada, sem ser pega. Se não fosse por mim, ela estaria morta ou pior. Não importa o quanto ela me odeie agora—eu a salvei. Enquanto a observava, sentada no sofá da minha sala, os olhos vermelhos de chorar, eu não conseguia evitar o pensamento que me veio à mente. Ela era linda. Mesmo no meio da sua raiva, do seu desespero, sua beleza era quase hipnotizante. Os cabelos bagunçados caíam sobre o rosto delicado, os lábios trêmulos, o peito subindo e descendo rápido por conta da respiração acelerada. Ela era minha.
Alberto Estava sentado na poltrona do hotel, apreciando um copo de uísque quando a porta do quarto foi aberta com brutalidade. Meu coração disparou por um momento, mas logo percebi que se tratava de um dos homens de Khaled. O olhar dele estava sério, e eu soube que não eram boas notícias. — O que houve? — perguntei, pousando o copo na mesa de vidro ao meu lado. O homem me olhou sem nenhuma pressa, como se estivesse se deliciando com o que ia dizer. — Lara tentou fugir. Minha expressão se fechou no mesmo instante. — O quê? — Mas não se preocupe, Sr. Alberto. Meu chefe já cuidou da situação. Levantei-me bruscamente, meu sangue ferveu de raiva. — Onde ela está? — Na residência de Khaled, onde permanecerá até o casamento. Minhas mãos se fecharam em punhos. Lara sempre foi um estorvo, mas dessa vez, ela passou dos limites. Eu lhe dei uma chance de ser útil para a família, e ela a desperdiçou como a ingrata que sempre foi. Antes que eu pudesse dizer qualquer coisa, minhas outras
AlbertoDesde que recebi a notícia de que Lara estava na casa de Khaled, não consegui dormir direito. Parte de mim ainda não acreditava que minha própria filha teve a audácia de tentar fugir. Eu sempre soube que ela era ingrata, sempre soube que ela carregava um ressentimento infantil dentro dela, mas tentar arruinar um casamento como esse? Tentar prejudicar a própria família? Isso ultrapassava qualquer limite.Eu não podia permitir que ela continuasse com essa rebeldia. Se Khaled perdesse a paciência, tudo o que construíria desmoronaria.Na manhã seguinte, me arrumei e fui pessoalmente até a residência de Khaled. O caminho foi longo, e quanto mais me aproximava da propriedade luxuosa, mais a raiva se acumulava dentro de mim.Ao chegar, fui recebido por empregados educados, mas distantes. Não demorou para que uma mulher vestida de forma tradicional se aproximasse, com um olhar respeitoso, mas sem pressa alguma.— Senhor Alberto, em que posso ajudá-lo?— Vim falar com minha filha — re
Khaled O dia foi longo. Negociações exaustivas, reuniões sem fim e decisões que exigiam precisão. Quando finalmente pisei em casa, esperava encontrar um pouco de tranquilidade, mas, assim que vi um dos empregados se aproximando com expressão hesitante, soube que algo havia acontecido. — Senhor, o pai da senhorita Lara esteve aqui hoje — disse ele, mantendo a postura respeitosa. Parei de tirar o casaco e olhei para ele com interesse. — E ela o recebeu? O homem desviou o olhar por um breve instante. — Não, senhor. Isso me pegou de surpresa. — E por quê? Antes que ele pudesse responder, uma das empregadas se adiantou e, com a voz baixa, disse: — Ela afirmou que o pai dela morreu no dia em que a vendeu. Fiquei em silêncio por um momento. N
Lara A manhã começou como qualquer outra desde que fui forçada a essa prisão de luxo. Eu não tinha saído do quarto desde a noite anterior, quando Khaled tentou me convencer a aceitar meu destino. Como se fosse simples. Como se eu pudesse aceitar ser vendida como um objeto e enjaulada em uma gaiola de ouro. O barulho de saltos no mármore ecoou no corredor, e segundos depois, uma batida na porta anunciou a chegada de alguém. — Entre — disse, sem muito entusiasmo. A porta se abriu, e uma mulher alta, de aparência impecável, entrou. Ela era deslumbrante. Cabelos negros presos em um coque elegante, maquiagem discreta que ressaltava seus traços refinados, e um vestido ajustado que exalava sofisticação. Ela parecia pertencer a esse mundo de riqueza e poder sem esforço algum. — Senhorita Lara, é um prazer conhecê-la. Meu nome é Amira, e fui designada para ser sua assistente pessoal. Assistente pessoal? Eu soltei um riso baixo e sarcástico. — Então agora eu também tenho uma assistente?
Lara O dia tinha sido exaustivo. Minhas pernas doíam, minha cabeça latejava, e tudo o que eu queria era um momento de paz. Desde as compras intermináveis até a aula de etiqueta, eu senti como se tivesse sido moldada e esculpida à força para caber em um papel que eu nunca pedi para interpretar. Quando entrei no meu quarto, fechei a porta com um suspiro e comecei a tirar as roupas que me sufocavam. Os vestidos luxuosos, as joias pesadas, tudo aquilo me fazia lembrar da minha nova realidade. Eu só queria me livrar de tudo, esquecer por um momento que estava presa em uma gaiola de ouro. Caminhei até o banheiro e deixei a água quente encher a banheira. O vapor subia, trazendo um pouco de alívio para meus músculos tensos. Assim que a água chegou ao nível certo, entrei e me afundei até os ombros, sentindo o calor envolver minha pele. Fechei os olhos e respirei fundo. Pela primeira vez naquele dia, eu me permiti relaxar. Comecei a cantar baixinho, apenas para mim mesma. "Is it too lat
Khaled A água quente tinha relaxado meus músculos, mas minha mente continuava presa na cena de minutos atrás. Lara naquela banheira, os olhos fechados, cantando suavemente, alheia à minha presença... Ela era irritante, teimosa, mas absolutamente deslumbrante. Saí do banheiro com a toalha enrolada na cintura, esfregando o cabelo úmido. O quarto estava silencioso, mas um movimento dentro do closet chamou minha atenção. Caminhei até lá e encontrei Lara de costas para mim, vestindo uma camisola leve, quase translúcida. O tecido se moldava ao corpo dela, revelando mais do que escondendo. Me aproximei sem fazer barulho e, antes que ela pudesse notar minha presença, envolvi sua cintura com meus braços, puxando-a contra mim. O corpo dela ficou tenso de imediato. Senti seu arrepio atravessar a fina barreira de tecido que nos separava. — Me solta — ela exigiu, a vo