Helena estava no trabalho desde às seis da manhã. Sua filha, Sofia, também trabalhava com ela na limpeza. No entanto, enquanto Sofia saía às onze, Helena só terminava o expediente às três da tarde.
— Mãe, vou limpar os banheiros do lado esquerdo, e a senhora limpa os do lado direito, tudo bem? — disse Sofia. — Claro, filha. Pegue seu carrinho de limpeza. Eu já completei com o que estava faltando. — Obrigada, mãe. Te amo muito. — Também te amo, minha filha. De repente, Helena sentiu uma dor no peito e, ao mesmo tempo, um frio congelante no coração. Segurou-se no carrinho de limpeza e pensou em chamar Sofia, mas ela já estava um pouco distante. Pegou sua garrafinha de água, tomou um gole e seguiu em direção aos banheiros que precisava limpar. Pouco tempo depois, Sofia retornou. — Mãe, vou para o segundo piso. Já terminou ou precisa de ajuda? — Ao olhar para Helena, percebeu seu semblante pálido. — Mãe, está se sentindo bem? — Claro, minha filha. É só um mal-estar. Vamos para o segundo piso, sim — tentou disfarçar, mas a verdade era que não estava bem. Sentia-se angustiada e com vontade de chorar. — "Fique firme, sua filha vai ficar triste se te ver assim" — pensou. Deu algumas palmadinhas no rosto e seguiu para o segundo andar. — Mãe, seu celular está vibrando. — Como você sabe? — Está iluminado no seu bolso. — Vou atender... Ao atender, ouviu uma voz desconhecida do outro lado da linha: — Esse telefone pertence a um senhor que coleta recicláveis. Pelo contato salvo como "Amor", imagino que você seja a esposa dele... A menos que seja a amante. — Por favor, por que está com o celular do meu marido? — Senhora, ele foi atropelado aqui próximo ao cruzamento. Levaram-no para o hospital no Centro e esqueceram o celular dele aqui. Onde posso deixá-lo para a senhora pegar? — Vou te passar o endereço por mensagem. Deixe lá, por favor, e obrigada. O desespero tomou conta de Helena. Precisava ir para o hospital imediatamente. Chamou Sofia e, juntas, saíram às pressas. Ao chegarem, foram recebidas por uma senhora simpática na recepção. Ao perceber a aflição de Heloísa, a atendente logo perguntou: — O nome do paciente, por favor? — Isaac Lennon. Por favor, me diga que ele está bem! A expressão da recepcionista mudou instantaneamente. Sofia apertou a mão da mãe, sentindo o nervosismo dela crescer. — Senhora, por favor, diga algo... — implorou Helena. A recepcionista pegou o telefone e falou rapidamente com alguém. Alguns minutos depois, uma enfermeira apareceu. — Familiares de Isaac Lennon? — Aqui! Sou a esposa dele, e esta é a filha. — Por favor, me acompanhem. A enfermeira as guiou por um corredor do hospital que Helena não conhecia. Quando chegaram a uma sala, ela apontou para uma janela. Do outro lado, era possível ver um corpo deitado, coberto por um lençol branco. Com um gesto discreto, indicou que elas deveriam entrar. O coração de Helena acelerou. — Espera... O que significa isso? — Mamãe, não... Por favor, não... — suplicou Sofia, segurando a mãe pelo braço. O corpo de Helena agiu no automático. Caminhou até a maca e, com as mãos trêmulas, puxou o lençol que cobria o rosto do homem deitado ali. Seu coração parou. — Deus, não... Meu Isaac, não! Eu o amo tanto... Por que ele, Deus? Por quê?! — gritou, desesperada. Caindo de joelhos, chorava sem controle, enquanto Sofia fazia o mesmo ao seu lado. Ambas entraram em choque, ficaram histéricas e, ao mesmo tempo, catatônicas. O mundo de Helena desabou, como se estivesse sendo empurrada para um precipício sem fim. — Alguém me salva, por favor? Uma enfermeira se aproximou com um copo de água e um comprimido. — O médico já está vindo. Tome isto, vai ajudá-las. Por favor, tomem. Heloísa pegou o celular e, com os dedos trêmulos, ligou para sua irmã, Ellen. Logo depois, entregou o aparelho para a enfermeira. — Alô? A senhora é parente do senhor Isaac ou da esposa dele? — Sou cunhada dele e irmã da Helena. Por quê? — Senhora, venha até o hospital do Centro, por favor. É urgente! — Estarei aí em cinco minutos. Sofia ainda não conseguia acreditar que estava se arrumando para enterrar seu amado pai. As lágrimas a afogavam sem pedir licença, mas ela precisava ser forte por sua mãe. — Minha filha, este mês vai ser bem apertado, mas quero dar ao seu pai o funeral que ele merece — disse Helena, tentando conter a emoção. — Tudo bem, mãe, vai ser do jeito que a senhora quiser, tá bom — respondeu Sofia, deitando-se ao lado dela e envolvendo-a em um abraço. Foi então que percebeu que sua mãe estava mais magra do que o normal. — Mãe, o que está acontecendo? A senhora não está se alimentando direito... E quando chego da escola, percebo que está mais cansada do que o normal. — Não, amor, é impressão sua. Estou bem... — tentou disfarçar Helena. — É melhor irmos. Sua tia vai nos buscar, já que não temos carro. Agora, eu só tenho vocês duas, minha filha. Minha vida sem seu pai vai ser tão... — Calma, mãe, estou aqui. Vai ficar tudo bem — disse Sofia, tentando tranquilizá-la. Mas, por dentro, sentia-se impotente. — "Papai, cadê você para aliviar o coração da mamãe?" — pensou, enquanto a abraçava mais forte. Já fazia um mês que o grande amor da vida de Helena, seu primeiro amor, havia se tornado uma estrela no céu. Ela sonhava com ele todas as noites, sentia sua falta a cada instante. Mas a vida não lhe dava tempo para luto — precisava trabalhar, seguir em frente, mesmo carregando um peso que ninguém podia ver. Chegando ao hospital para mais uma consulta, sentou-se à espera da médica, sentindo o coração acelerar. Quando a doutora Lisa entrou, a expressão em seu rosto já dizia tudo. — Senhora Lennon, as notícias não são boas... Infelizmente, sua quimioterapia não está surtindo efeito. Com a última ressonância, pudemos ver que seus órgãos estão todos comprometidos. Eu sinto muito, mas a realidade é que a senhora tem poucos dias de vida. Fizemos tudo que podíamos nesses dois anos de tratamento, mas seu corpo rejeitou todos os procedimentos. Helena sentiu o chão desaparecer sob seus pés. — O que vou dizer para minha filha? Ela só tem dezessete anos, acabou de perder o pai... E agora vai perder a mãe? O que eu faço, doutora Lisa? A médica respirou fundo antes de responder: — Você tem algum parente de confiança para ficar com a guarda dela? — Tenho, sim. Minha irmã caçula... Ela nunca teve filhos porque diz que ainda não encontrou o amor certo. Vou pedir para ela cuidar da Sofia para mim. Seu coração apertou. Como poderia deixar sua filha assim, tão jovem, sem ninguém? Quando chegou em casa, Sofia encontrou um bilhete da mãe dizendo que suas coisas haviam sido enviadas para a casa da tia. — Mas por que ela fez isso? —pensou, sentindo um aperto no peito. Antes que pudesse refletir mais sobre a situação, ouviu batidas na porta. Ao abrir, encontrou a tia Ellen parada à sua frente. — Tia Ellen? O que está fazendo aqui? Ellen abriu um sorriso, analisando a sobrinha com atenção. — Amor da titia... Nossa, eu não tinha percebido o quanto você é linda. Você lembra muito seu pai e sua avó, a mãe dele. Enfim, estou aqui para levar você para minha casa. Já vendi essa casa imunda e você não vai precisar mais dela. Sofia franziu a testa, confusa. — Como assim vendeu essa casa? Ela é minha e da minha mãe! Onde está minha mãe, tia? Ellen suspirou, ajeitando os cabelos antes de responder: — Sua mãe está em um SPA. Eu a mandei para lá por minha conta. Ela disse que não aguentava mais ficar aqui, porque tudo a fazia lembrar do seu pai. Então, vocês vão morar comigo... Mas é só até sua mãe comprar outra casa para vocês. Agora, vamos logo, porque tenho trabalho mais tarde. Sofia sentiu uma sensação estranha no peito. Algo estava errado. Depois de muito refletir, Helena tomou a decisão de se internar no hospital. A doutora Lisa havia explicado que, com os medicamentos, seu fim seria menos doloroso fisicamente. Mas a dor que sentia em sua alma era algo que nenhum remédio poderia amenizar. Não gostava de mentir para sua filha, mas sabia que Sofia não aguentaria a verdade naquele momento. Já havia pedido para Ellen trazê-la ao hospital no dia de sua partida. Queria se despedir, pedir perdão por esconder tudo... Seu coração doía. A saudade de Isaac a consumia, e a ideia de deixar sua bebê sozinha no mundo a rasgava por dentro. — Meu amor, me espere. Minha bebê... Me perdoe. — foram as últimas palavras de Helena.Ao sair do trabalho, Sofia se deparou com sua tia Ellen esperando por ela.— Oi, tia, veio buscar minha mãe?— Sofia, entra no carro! — respondeu Ellen, de forma fria.Sofia a olhou, mas a tia evitou encará-la. Percebendo o tom ríspido, obedeceu e entrou no carro. O silêncio as acompanhou durante todo o trajeto.Quando chegaram ao hospital, Sofia franziu a testa, sentindo o coração acelerar.— Por que estamos aqui, tia?Mais uma vez, não obteve resposta. Apenas seguiu Ellen pelos corredores, até que pararam diante da mesma sala onde, um mês antes, havia visto seu pai pela última vez. Seu peito apertou.— O que está acontecendo? — perguntou, sentindo o medo crescer dentro de si.Ellen suspirou antes de falar:— Sua mãe me pediu para cuidar de você. Ela estava com câncer há dois anos e, em vez de melhorar com a quimioterapia, só piorou. Sua mãe faleceu há uma hora... Eu sinto muito. Não pude trazê-la a tempo para uma última conversa.Sofia começou a rir de forma histérica, incapaz de pr
Ellen está ansiosa para colocar seu plano em prática. Então chama Soraya.— Soraya, vá até minha casa e prepare minha sobrinha para esta noite. Diga a ela que haverá uma festa importante aqui na Oásis e que precisarei da ajuda dela. Ela é tão ingênua que nem imagina que será leiloada.— Pode deixar, Ellen. Ela acha que sou sua melhor amiga, acredita em tudo o que digo quando faço cara de inocente... Tonta.— Ótimo. Ah, você não vai acreditar em quem virá hoje... Convidei o Dwayne, e você sabe, né? Se ele vem, o Luca com certeza aparece. Quanto mais homens ricos, melhor. Uma virgem é uma raridade hoje em dia.Longe dali os melhores amigos, chefe e subchefe da máfia Moretti conversam.— Dwayne, você sabe que não gosto de pagar mulheres para essas coisas. Até porque nem preciso. — Ele apontou para si mesmo, sorrindo.— Irmão, sei que você não curte, mas a boate é boa, e esta semana foi um inferno. Precisamos relaxar um pouco, né?— Certo, irmão. Vou ir para beber e dançar um pouco. Porqu
Ao chegar em casa, Luca desceu do carro e pegou Sofia nos braços. Dwayne parou logo atrás dele, observando com preocupação.— Irmão, ela está fria... E o olhar dela está vazio, sem emoção. Melhor chamar um médico.— Concordo. Vou ligar para o doutor Lewis agora mesmo.Sem perder tempo, Luca levou Sofia para um quarto em frente ao seu. Achou mais seguro mantê-la por perto, caso ela precisasse dele.— O médico chegará em vinte minutos — informou Dwayne. — E agora? Como vai ser? Você pagou caro por ela... Ela vai ser sua mulher ou o quê?Luca suspirou, passando a mão pelo rosto.— A garota é virgem. E não, ela não vai ser minha mulher. Pelo que percebi, não tem pai nem mãe. A única parente de sangue quis prostitui-la. Eu... Eu não sei o que deu em mim, mas algo mais forte do que eu não me deixou ficar ali parado, assistindo o terror nos olhos dela. Cara, não sei explicar.— Então ela está livre para ir embora?— Não! — Luca respondeu de imediato. — Não dá, irmão. Não posso deixá-la ir. E
De repente, mais uma garota chegou, dizendo ser amiga de Sofia. Mas Luca não se deixou enganar. Diferente de Emi, que tinha um olhar doce e sofrido, essa nova garota transbordava ambição e desejo.Ainda assim, ele se manteve em silêncio. Se Sofia ficava feliz ao vê-la, não era hora de intervir. Mas manteria os olhos bem abertos.— Emi, você sabia o que minha tia ia fazer comigo? E você, Soraya, sabia? — Sofia perguntou, sua voz carregada de incerteza.— Não, amiga! Ela não é de contar nada para ninguém! — Emi respondeu prontamente.— V-verdade... Ela nunca fala o que pensa ou o que vai fazer. — Soraya acrescentou, hesitante.Sofia suspirou, confusa.— E agora, o que eu vou fazer? Ela me vendeu para ele, disse que agora ele é meu representante legal... E eu nem o conheço. Estou nessa casa enorme e não conheço ninguém.Um brilho surgiu nos olhos de Soraya quando ela se aproximou.— Eu tive uma ideia... E se você pedisse para ele deixar eu vir morar aqui? Assim, te faço companhia e você
Sofia voltou para a sala um pouco mais animada com a notícia boa, mas na sua mente o beijo de Luca não a deixava em paz.— Meninas, ele deixou, mas, por favor, não podemos abusar. Ele é um homem bem sério.Soraya sorriu animada e puxou Emi pelo braço.— Vamos, Emi, buscar nossas coisas! Amiga, tem algum motorista que possa nos levar e trazer de volta?Sofia hesitou.— Eu não sei...Antes que ela pudesse responder, Luca interveio:— Tem sim, o Eron. Mas, a partir de hoje, ele é motorista da Sofia. Então, ela decide se vocês podem usar o carro.Sofia assentiu.— Tudo bem. Peça para ele levá-las, por favor.Luca chamou o funcionário.— Eron, venha aqui, por favor.— Sim, senhor Moretti. O que deseja?— A partir de hoje, você será o motorista da Sofia. O que ela pedir, faça.— Ok, senhor Moretti. E a senhora, algum pedido?Sofia sorriu gentilmente.— Sim, por favor, leve-as onde precisarem e as traga de volta. Ah, e pode me chamar de Sofia.As meninas partiram, e, logo depois, Dwayne tamb
Luca estava irritado.— Essa Soraya me tira do sério, mas Sofia precisa enxergar com os próprios olhos que essa garota não presta.Dwayne cruzou os braços, pensativo.— Só que a Sofia tem uma essência muito boa, irmão. Vai ser difícil, hein.— Está tudo certo para a festa no sábado? — Luca perguntou, mudando de assunto. — Não quero que nada saia errado. A ONG Novo Florescer precisa dessa arrecadação para expandir e receber mais crianças.— Sim, irmão. Está tudo organizado. Repórteres, buffet, associados... tudo certo.Luca assentiu, satisfeito.— Vou falar com Sofia para comprar um vestido longo para ela e para as amigas. Quero que minha dama seja a mais linda da festa.Dwayne sorriu.— Manda elas para o ateliê Montserrat. O Antuane vai cuidar bem delas. Diz pra ele caprichar na Sofia e na Emi. Aliás, vou convidar a Emi para ser minha acompanhante.Noite da Festa…Dwayne olhou para a escada impaciente.— Nossa, como elas estão demorando.Draco bufou.— Nem me fala. Ainda vou ter que f
Luca acordou com a cabeça a mil e o corpo estranho, formigando. Olhou ao redor e viu Draco e Dwayne dormindo no sofá. Quando olhou para si mesmo, percebeu que estava coberto apenas por um lençol e completamente nu. Franziu a testa, confuso, e virou o rosto para a cama, onde viu uma pequena mancha de sangue misturada a outros fluidos. Ele sabia bem o que aquilo significava.Seu peito se apertou.— Vocês podem me dizer o que aconteceu aqui? — perguntou, alto o suficiente para acordá-los no susto.Dwayne piscou algumas vezes antes de responder.— Irmão, que susto, cara. Vai com calma.Draco coçou a nuca.— É, cara... A noite não foi fácil.Luca sentiu um peso no peito.— Onde está Sofia? E por que estou nu?Draco e Dwayne se entreolharam antes de responder.— Você foi drogado por alguém. Ainda não descobrimos quem foi porque ficamos aqui cuidando de você. Encontramos você nesse estado.Luca passou o dedo pela mancha de sangue na cama, sentindo uma angústia crescente.— Então vocês não s
Soraya passou o dia fora e, quando chegou no meio da madrugada, Irina comentou que ela estava andando de maneira estranha.Sofia tomou um banho e seguiu para o closet, onde escolheu um vestido preto com um decote pequeno e justo no busto, mas soltinho na parte de baixo. Pegou um tênis e uma jaqueta de couro preta. Depois de se arrumar, penteou o cabelo e fez um rabo de cavalo, deixando algumas mechas soltas próximas às têmporas. Finalizou com uma maquiagem leve, pegou o celular e a mochila.Antes de descer, deu algumas batidinhas na porta do quarto de Sofia, mas não recebeu resposta. Então, seguiu para o café, pois não queria se atrasar.— Bom dia, amiga! Boa sorte no primeiro dia — disse Emi, ao abraçá-la.— Bom dia! E onde você vai toda arrumada desse jeito?Emi sorriu animada.— Agora que sou namorada do Dwayne, não posso mais trabalhar na Oásis. Então saí de lá e consegui um emprego em uma loja no Shopping StarRed. Começo hoje. Dwayne me ajudou.Sofia arqueou as sobrancelhas.— Im