Minha vida inteira eu passei em uma pequena cela, dentro de um laboratório, que ficava em uma ilha.
Se não fosse pelos livros que eu havia lido lá eu não teria a mínima ideia de como era o mundo do lado de fora.
Depois que fugi da ilha, eu corri por dias, me escondi em vários becos e ruas e caminhei por entre florestas, até estar longe o suficiente.
Eu me lembrava de estar com fome e com medo, quando avistei um homem regando umas flores que cresciam em volta de sua casa. Eu o matei, sem pensar duas vezes, para matar a fome que sentia.
Não havia mais ninguém na casa além daquele homem, então eu me considerei com sorte. Enterrei o corpo ali perto e passei a morar na casa desde então.
Não havia outras casas por perto. Havia apenas uma estrada de terra, um terreno gigantesco, um pasto, plantações e florestas. Se eu seguisse pela estrada poderia encontrar uma casa ou outra um pouco mais distantes e só depois de um bom tempo eu chegaria ao lugar onde normalmente caçava. Onde as casas eram mais próximas e onde sempre havia alguma festa acontecendo.
Aquelas casas eram chácaras grandes e bonitas, e eu sempre encontrava alguém andando por ali sozinho para ser o meu jantar.
Decidi caminhar, mas dessa vez eu fui para o outro lado, em direção à uma plantação de cana e dei a volta por ela para chegar num campo de areia. A areia era tão macia e fina que meus pés até afundavam nela.
Eu gostava de andar por ali. Era relaxante e normalmente não havia ninguém, então eu tinha toda a paz e silêncio de que precisava para poder pensar, e eu precisava pensar.
Meu encontro inesperado com William no dia anterior me deixou com algumas dúvidas.
Eu não confiava nele, nem tinha essa intenção, mas numa coisa ele podia estar certo.
Havia semanas que eu estava matando pessoas daquela região, e isso poderia chamar a atenção. Talvez até fosse por isso que a movimentação de pessoas ali durante a noite estava diminuindo.
Isso me fez pensar que talvez estivesse na hora de me mudar para outro lugar, mas antes eu precisava me alimentar, pois estava fraca e com fome demais para sair andando por aí.
O problema era que eu gostava daquele lugar e seria difícil achar outro que fosse tão... Perfeito.
...
Quando anoiteceu eu resolvi que sairia para caçar uma ultima vez antes de planejar a minha mudança.
Eu estava faminta e, não sabia o porquê, mas a cada semana que se passava eu precisava me alimentar com uma frequência ainda maior, porém sempre que me alimentava eu também me sentia cada vez mais forte.
Logo encontrei um rapaz andando sozinho na rua e o observei por um momento.
Ele estava segurando uma vara de pescar e uma mochila, o que era incomum de se ver tão tarde da noite.
O segui até o riacho, onde ele provavelmente pretendia pescar, e ajeitei a minha roupa antes de sair de trás da árvore onde estava escondida.
Eu estava usando um short jeans super curto e uma camisa social xadrez vermelha e de manga comprida, que estava totalmente aberta, deixando o meu sutiã preto à mostra.
Puxei o ar com força e logo percebi um cheiro já conhecido. Soltei um suspiro.
- Está me seguindo? - perguntei irritada.
William pulou de cima de uma árvore e sorriu para mim como se isso fosse super normal.
- Achei que tínhamos um acordo.
- Eu também achei que tínhamos. - retruquei - O que está fazendo aqui ao invés de estar cumprindo a sua parte do combinado.
- Eu estou cumprindo a minha parte. Mas parece que você não pretende colaborar.
Cruzei os braços e o encarei.
- Não precisa se preocupar comigo. - garanti - Eu vou embora depois disso.
- Mas... A sua refeição também já foi embora.
Olhei para trás e percebi que ele estava certo. O rapaz não estava mais ali, talvez tivesse apenas ido para o outro lado do riacho, mas de qualquer forma eu já havia perdido a vontade de caçar.
William se aproximou ameaçadoramente e eu fiquei com medo.
- Você não vai matar mais ninguém aqui. - disse ele, próximo ao meu rosto. - E não vai ir embora também.
Engoli em seco e dei um passo para trás, ficando encurralada entre ele e uma árvore mais uma vez.
William se aproximou ainda mais, até que seu rosto quase tocou o meu.
- Eu vou conseguir outra forma de te alimentar. - ele garantiu - Mas você precisa fazer sua parte ou eu não terei outra escolha. Eu não quero te matar.
Senti seu hálito quente em meu rosto e seu cheiro invadiu minhas narinas, fazendo minha boca salivar.
Naquele momento o medo deu lugar à outra coisa. Um instinto.
William me olhava profundamente nos olhos e eu senti que havia sinceridade em suas palavras. Ele não queria me matar. Mas naquele momento talvez eu quisesse mata-lo.
Pude sentir quando a respiração dele se tornou mais pesada e seu olhar mais profundo.
- Tudo bem. - concordei - Eu posso fazer a minha parte... Se você me der uma coisa primeiro.
Aproximei minha boca da dele, tendo completa ciência da minha habilidade de persuasão com a maioria dos homens.
Ele estremeceu.
Nesse momento eu usei toda a minha agilidade e agi antes que ele pudesse tentar me impedir.
Puxei ele pela camiseta e cravei meus dentes com toda a força em seu pescoço.
Seu sangue jorrou e tinha um sabor incrível.
Ele se debateu, tentando me afastar, mas eu o empurrei contra a árvore e consegui segura-lo.
Para a minha surpresa William aos poucos parou de lutar e me puxou para si, me incentivando a continuar.
Gemidos de prazer escaparam de sua boca e eu me perguntei se a sensação era tão boa para ele como era para mim.
Parei, com medo de que ele fosse desmaiar. Eu não queria mata-lo ainda. Eu queria outra coisa.
Nossos olhares se cruzaram e ele me puxou para si, num beijo desesperado e cheio de desejo.
Rapidamente retirei sua camiseta e voltei a beija-lo enquanto abria o zíper de sua calça.
Ali mesmo, em frente ao riacho, nós dois nos deixamos guiar pelo instinto animal que nos dominava. Sendo repentinamente tomados pelo ápice do prazer mais intenso que alguém poderia sentir.
Cheguei à conclusão de que deixá-lo vivo poderia valer a pena.
Era arriscado, mas naquele momento era um risco que eu estava disposta a correr.
William dormia tranquilamente ao meu lado enquanto eu acariciava seu cabelo, reparando pela primeira vez no quanto suas orelhas eram grandes e pontudas.Admirei o seu corpo, vendo como sua barriga subia e descia suavemente enquanto ele respirava. Pousei minha mão em seu peito e senti seu coração bater num ritmo constante, fazendo minha boca salivar mais uma vez.Ele não era exatamente bonito, sua beleza era selvagem, máscula e pouco comum, mas seu sangue era realmente bom e despertava minha fome ainda mais.
Se passaram três dias sem que William aparecesse de novo e eu aproveitei a sua ausência para voltar à minha rotina.Me aventurei em lugares um pouco mais distantes da minha casa e me alimentei de uma ou duas pessoas desafortunadas que encontrei.Com o passar desses dias minhas unhas, dentes e todos os outros resquícios do DNA de William sumiram e eu comecei até a sentir falta dele.Eu estava bem ciente
No fim acabei concordando em deixar William vivo até eu poder analisar melhor a situação.Talvez não fosse muito inteligente da minha parte, mas ele poderia ser a minha melhor chance de continuar livre. Eu poderia usá-lo e depois descarta-lo quando não precisasse mais dele.Me sentei em sua cama e encarei o chão, pensando em qual seria meu próximo passo.- Tem mais uma coisa que e
Acordei de manhã totalmente sozinha.Estranhei o frio da cama ao perceber que William não estava lá, mas notei um pedaço de papel deixado em cima do travesseiro."Volto logo." - era tudo o que dizia.Me levantei e tomei um banho rápido para me preparar. Provavelmente iríamos embora assim que ele voltasse. Nós continuamos a viagem de carro até escurecer, então William entrou numa estrada de terra e estacionou o carro entre as árvores de uma pequena mata, num lugar bem escondido, para podermos dormir um pouco.Não era muito seguro, mas naquele momento nenhum lugar era.William não queria chamar a atenção dos humanos ou da polícia, o que significava que teríamos de trocar de carro mais uma vez, evitar sermos vistos, e talvez até fazer algumas mudanças na aparência antes de andarmos em publicCapítulo 7
William acordou parecendo um zumbi. Ele estava tremendo e suando frio, e seus olhos estavam fundos.Comecei a ficar preocupada com ele.- Você esta bem? - perguntei mais uma vez ao vê-lo se sentar no sofá pesadamente.- Estou. - respondeu ele com a respiração pesada. - Só preciso descansar um pouco.Acenei com a cabeça mesmo sabendo que aquilo não era totalmente verdade.V-Seis deu um sorriso torto e se levantou indo em direção ao banheiro.- Onde você vai? - perguntei desconfiada.- Tomar um banho.Ela sorriu ainda mais e continuou andando.Bufei e cruzei os braços e decidi que eu também deveria ir. Havia dois banheiros na casa e eu precisava aproveitar que ela estava ocupada, pois não queria deixá-la sozinha com William, não quando ele estava tão debilitado.Entreguei a arma na mão dele e fu
Abri os olhos assustada.Eu não sabia onde estava, mas William estava deitado ao meu lado, dormindo.O sol brilhava lá fora, incomodando meu olhos, e eu me perguntei há quanto tempo eu estaria desmaiada.Assim que me sentei na cama senti uma ânsia horrível e corri para o banheiro, vomitando um líquido azul estranho que deixou um gosto amargo na minha boca.Lavei a boca com abundância de água, depois resolvi escovar os dentes para tirar aquele gosto horrível. Onde eu estava com a cabeça para beber aquela porcaria?Saí do banheiro e vi William se remexer na cama. Ele se virou e abriu os olhos, percebendo que eu não estava ali, e então se sentou e seus olhos encontraram os meus.Eu não sabia se continuava com raiva dele e o enchia de socos ou se fingia que não me importava.- Cinco... - ele sussurrou.Fiquei parada encar
Nossa viagem de carro não demorou tanto daquela vez. Logo nós entramos em uma cidade e passeamos por ela até encontrarmos um hospital, que era um prédio branco e azul com uma escada e uma rampa que levavam a uma única porta dupla.- Então... Qual é o plano? - perguntei.William baixou os olhos pensativo.- Teremos que entrar lá e... fingir estar doente.- Acho que será mais realista se um de nós realmente estiver doente. - comentou V-Seis ao olhar para mim. - ou machucada.Eu a encarei sorrindo.- Concordo. O que acha de quebrarmos a sua perna? Ou podemos arrancar a sua língua.Ela me lançou um olhar de raiva, mas não falou mais nada.- Ótimo. - resmungou William - Vamos apenas dizer que a V-Seis está doente e que é nossa filha. - decidiu ele - Entramos lá, vamos até a sala de raio-x e lá veremos