"Paciente voluntária n°3:" - dizia o papel.
"Alicia de Camargo Ferreira, 19 anos.
Exames de sangue:Tipo sanguíneo: B+HIVs: Negativo.Baixa quantidade de ferro.Obs.: Paciente precisa passar por um tratamento de uma semana para anemia leve."Ao lado disso havia uma foto dela.
Minha mãe tinha os mesmos olhos verdes e cabelos escuros que eu tinha, mas ela estava um tanto bagunçada e me parecia muito com algumas mulheres que eu havia visto na rua uma vez, vestidas com poucas roupas e se oferecendo para todos os homens que passavam perto delas. Talvez esse fosse o tipo de vida que minha mãe levava antes de ir parar naquele laboratório.
As anotações continuavam...
"Uma semana depois:
Cobaia 3 pronta para o experimento....Cobaia 3 recebeu injeção do vComo eu temia, minha gravidez me fez ficar fraca e instável. Algo estava acontecendo dentro de mim e eu estava com medo disso.William não sabia que eu estava grávida até o dia em que eu desmaiei e depois disso passou a me observar a noite inteira, todas as noites, junto com Carlos ou as vezes com outro cientista chamado Dênis.Os dias foram se passando e eu mal conseguia pensar nas coisas direito, muito menos planejar algo. Tudo o que eu sentia era medo e fraqueza, cada vez mais.Esse mal estar foi piorando com o tempo e eu comecei a achar que realmente iria morrer, então eles aumentaram a frequência da minha alimentação, me dando bolsas de sangue todos os dias, três vezes ao dia. Isso ajudou bastante.Um dia, no meio da noite, enquanto Carlos cochilava em uma cadeira, William se aproximou da minha cela.- Cinco. - ele chamou num cochicho - Está acordada?- Estou. - r
Acordei com o barulho de choro e abri meus olhos.Parecia que eu estava em uma sala diferente, mas estava em uma maca ainda, com um tubo preso em meu pulso.Vi William ao meu lado, segurando um pacote de cobertas. Era o bebê. Finalmente aquilo havia acabado e aquela coisa havia saído de dentro de mim.William a levou para um lugar que não consegui ver e então voltou para perto de mim.- Está se sentindo bem? - ele perguntou.Acenei que sim, apesar de ainda estar meio tonta e de sentir o meu corpo todo dolorido.- Onde está Melissa? - eu perguntei.- Está presa em uma das celas. - ele respondeu.Gostei daquilo. Agora ela sentiria o que era estar presa, como eu havia estado a minha vida toda.- Preciso te falar algumas coisas... - William começou - Você desmaiou depois do parto e perdeu muito sangue... Eu tive que fazer algumas escolhas por você.- D
Tomei coragem e entrei na sala de laboratório.Era uma sala como outra qualquer por ali, mas com a diferença de que, na pequena cela no canto havia uma mulher.Me aproximei devagar, vendo Melissa encolhida no chão.William havia mantido ela viva durante os últimos três dias que ficamos ali apenas com água, por isso ela parecia fraca e desanimada.Uma parte minha ficou satisfeita em vê-la daquele jeito, na mesma situação em que eu estive a minha vida inteira, mas outra parte de mim teve pena.Mesmo depois de tudo o que aquela mulher havia feito, e mesmo sabendo que ela era uma das responsáveis por tudo o que havia acontecido naquele lugar nos últimos anos, eu não tive coragem de fazer o que pretendia.A minha intenção ao ir até ali era zombar dela e logo depois incendiar tudo, deixando-a ali para morrer sufocada, faminta e sozinha, mas n&ati
Abri os meus olhos.A sede e a fome queimavam minha garganta e faziam doer o meu estômago enquanto eu tentava me distrair.Minha cela estava mais fria e vazia do que nunca e eu não conseguia pensar em mais nada a não ser a fome.Olhei para o outro lado do vidro tentando encontrar alguém, mas eu estava sozinha.Aquela cela era tudo o que eu conhecia do mundo. Era uma cela pequena e branca com uma parede de vidro e apenas um colchão e alguns livros amontoados no canto.Quando eu era mais nova os livros eram infantis e havia al
Eu estava caçando mais uma vez. Fazia isso quase todas as noites e estava cada vez mais difícil manter a fome sob controle.Ouvi risos em algum lugar próximo e fui bem devagar até lá. Três pessoas estavam andando no meio da rua, com latas de cerveja nas mãos e rindo como loucos.Bêbados! - bufei. Eu simplesmente odiava esses bêbados. O sabor deles não era muito bom e f
Minha vida inteira eu passei em uma pequena cela, dentro de um laboratório, que ficava em uma ilha.Se não fosse pelos livros que eu havia lido lá eu não teria a mínima ideia de como era o mundo do lado de fora.Depois que fugi da ilha, eu corri por dias, me escondi em vários becos e ruas e caminhei por entre florestas, até estar longe o suficiente.Eu me lembrava de estar com fome e com
William dormia tranquilamente ao meu lado enquanto eu acariciava seu cabelo, reparando pela primeira vez no quanto suas orelhas eram grandes e pontudas.Admirei o seu corpo, vendo como sua barriga subia e descia suavemente enquanto ele respirava. Pousei minha mão em seu peito e senti seu coração bater num ritmo constante, fazendo minha boca salivar mais uma vez.Ele não era exatamente bonito, sua beleza era selvagem, máscula e pouco comum, mas seu sangue era realmente bom e despertava minha fome ainda mais.
Se passaram três dias sem que William aparecesse de novo e eu aproveitei a sua ausência para voltar à minha rotina.Me aventurei em lugares um pouco mais distantes da minha casa e me alimentei de uma ou duas pessoas desafortunadas que encontrei.Com o passar desses dias minhas unhas, dentes e todos os outros resquícios do DNA de William sumiram e eu comecei até a sentir falta dele.Eu estava bem ciente